26/04/2024 - Edição 540

Entrevista

Não sou autoritário, mas também não sou frouxo

Publicado em 18/06/2015 12:00 -

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O ex-governador André Puccinelli recebeu nesta semana a equipe da revista Semana On para uma conversa em seu escritório na Rua 15 de novembro, onde será instalada a sua Fundação e, segundo ele próprio, alguns livros sobre gestão e política em Mato Grosso do Sul serão gestados. Confortável na posição de observador dos acontecimentos políticos do município e do Estado, Puccinelli apresentou documentos contradizendo as afirmações do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) de que teria herdado uma herança maldita do governo peemedebista. Fez, também, críticas à administração municipal em Campo Grande, que classificou como “incompetente”. Além de observar, o “italiano” também tem articulado. Homem forte do PMDB e dono de uma capilaridade política ainda robusta, ele se prepara para conduzir o partido no embate pela Prefeitura da capital em 2016, batalha decisiva para o enfrentamento de 2018, quando o Governo do Estado estará, novamente, em disputa.

 

O governador Reinaldo Azambuja disse que herdou de seu governo uma “herança maldita”. O que o senhor diz sobre estas questões?

A herança que existe é a que ele publicou no dia 2 de abril de 2015, o balanço de 2014, que comprova que ficaram saldos bancários disponíveis em cada unidade gestora, R$ 571 milhões em caixa. Isso é documento oficial do governo dele. Publicado o balanço. Não tem herança maldita, tem herança positiva. R$ 571 milhões em caixa.

O governador fala em obras sem recursos assegurados como as do Hospital de Dourados e a UEMS em Campo Grande. Procede?

Remeto ao mesmo balanço, ao relatório de gestão fiscal, ao relatório de execução orçamentária, relatórios produzidos no ano de 2015 pelo governo dele (Azambuja) e que desmentem essas falácias. São todas obras em continuidade com provisão de recursos para terminarem no final do ano. Volto a repetir, basta que procurem os relatórios de execução orçamentária e de gestão fiscal, o balanço do ano de 2014, publicados em 2015, que desmentem toda essa inexperiência, todo esse “boquirrotismo”.

O senhor sempre disse que a diminuição do ICMS sobre o diesel causaria graves danos à economia do Estado. Ainda pensa assim?

Outra falácia… Ele (Azambuja) subiu 30% o valor da pauta e baixou 30% o valor da alíquota. Ficou o imposto do mesmo jeito. E se pode comprovar. Eu deixei a pauta para ele no dia 1º de janeiro de 2015 no valor de R$ 2,43 o diesel. Isso, com a alíquota de 17%, igual os tributos. Ele subiu a pauta para R$ 3,16… vezes 12, dá a mesma coisa! Seis por meia dúzia.

Herança maldita? Mentira! Herança bendita de R$ 571 milhões em caixa, com R$ 520 milhões vinculados e quase R$ 51 milhões livres para qualquer aplicação.

O senhor tem sido criticado pelo atraso da obra do Aquário, especialmente agora, com a morte de peixes. O que houve neste processo?

Quando eu entreguei o aquário, no dia 31 de dezembro de 2014, entreguei também uma lei que fiava a provisão financeira pelas compensações ambientais. Tinha todo o dinheiro para terminar a obra se ela fosse concluída até final de abril de 2015. Quando estávamos em dezembro (2014) perguntamos à empresa quanto tempo levaria para terminar a obra e eles responderam: “Dois meses”. Por segurança, deixamos até abril o aditivo feito, com dinheiro provido, em caixa, para terminar a obra. Se tivessem mantido os 420 homens trabalhando, como no clímax da obra no ano de 2014, eles teriam terminado em fevereiro ou março. Deixei mais um mês, por precaução. Mortandade de peixe? Não estão pagando a empresa que tem de cuidar dos peixes desde abril. Não pagaram abril, não pagaram maio e provavelmente não vão pagar junho. Está faltando ração para os peixes, está faltando pagar energia elétrica para manter a temperatura adequada. Está faltando ração, está faltando pagamento dos funcionários que cuidam. Eles têm de parar de reclamar do governo passado. Ele (Azambuja) tem que começar a trabalhar, mostrar que tem capacidade.

Qual sua avaliação deste primeiro período do Governo Azambuja?

Eu não faço avaliação de mérito. Eu só dou documentos de constatação. Herança maldita? Mentira! Herança bendita de R$ 571 milhões em caixa, com R$ 520 milhões vinculados e quase R$ 51 milhões livres para qualquer aplicação. Obras paralisadas? Mentira, quem paralisou foi eles. Obras em continuidade, com dinheiro em caixa para terminar. Basta ter competência e continuar no ritmo do André: ritmo rápido, eficiente, competente, corretor, fiscalizador, para que as coisas aconteçam. Para esclarecer essa do Aquário, há documentos que mostram que até 31 de abril ele custaria R$ 176 milhões. Pegue o detalhamento maior para ver item por item e a lei que foi aprovada com compensação ambiental. Quando disseram que não havia dinheiro em caixa, veja, deixei quase R$ 51 milhões.

Na Prefeitura de Campo Grande também se atribui parte da culpa pela crise financeira a uma mudança nos índices do ICMS no apagar das luzes de seu governo. Isso de fato ocorreu?

Incompetência da atual gestão. Tenho aqui documentos, desde 1985, com o índice do ICMS. Na gestão do André teve como melhor índice, 22%. Quando o Nelson Trad Filho governou teve melhor índice de 25%. Os atuais gestores não apresentaram recursos (questionando o valor do repasse), como todas as prefeituras apresentam… Incompetência. Deixaram passar o prazo de interpor recursos e por incompetência o índice abaixou. É muito fácil prometer antes e não ter capacidade para fazer o que prometeu. As vezes as promessas são mentirosas demais e, as vezes, não podem ser cumpridas por incompetência do gestor que está à frente.

Não sou autoritário, defendo as minhas posições. Mas, também não sou frouxo. Sempre respeitei o voto dentro do PMDB, mas defendi meu ponto de vista com convicção.

Que avaliação o senhor faz das administrações pós-PMDB em Campo Grande?

Em 2004, quando entregamos (a Prefeitura) para o Nelson Trad Filho, o índice de ICMS era 22,97% e 45 obras em andamento e com dinheiro em caixa, R$ 56 milhões para fazer. O Nelson entregou com o índice de ICMS em 25,34% para o (prefeito cassado Alcides) Bernal. E hoje (o índice do ICMS) está em 21,40%, sem obras, paralisado, não consegue ter dinheiro para pagar as questões. Isso se chama incompetência.

Depois de mais de duas décadas de parceria política o ex-prefeito Nelson Trad Filho deixou o seu grupo político alegando ter sido traído pelo senhor e por parte do PMDB durante a disputa do ano passado pelo governo do Estado. Qual a sua posição?

Nós apoiamos Nelson Trad Filho como candidato a vereador em 1992, quando eu era deputado estadual. Ele foi reeleito vereador mais duas vezes. (1996 e 2000). Eu, André Puccinelli, o fiz presidente da Câmara Municipal em disputa renhida: 11 votos Nelson Trad Filho e 10 votos para o outro (Youssif Domingos). Foi deputado estadual com nosso total apoio, foi prefeito de Campo Grande disputando (internamente no PMDB) com Celina Jallad, Moka e Giroto. Quis ser candidato a governador e eu o nomeei secretário no meu governo, secretário das relações interinstitucionais para com os municípios, para que ele conhecesse os municípios do interior, para que andasse pelos municípios do interior. Vou repetir: “Ele andou pouco, não visitou todos os municípios, mas mesmo assim, foi nosso candidato, teve total apoio e do PMDB”. Pergunte a todos os prefeitos, por onde ele andou, pergunte a todos os deputados estaduais, por onde ele andou, pergunte a todos deputados federais, por onde ele andou, qual é o pensamento que têm da atividade dele. Ele foi nosso candidato. Eu fico triste, como pai político da filha Campo Grande, que eu dizia em palanque ao lado dele: “Eu quero entregar a um bom genro, escolhi o genro Nelson Trad Filho”. Eu fico triste com a ingratidão. Não houve falta de apoio. Dinheiro, vamos falar o português claro: basta pegar no PMDB quanto o partido deu de recursos financeiros aos Trad nesta campanha política. Então… Eu prefiro lembrar os bons momentos do ex-filho político que diz que agora o “pai” não serve mais. Eu fico triste com a ingratidão.

Nós andamos em todos os municípios. Ainda estamos pagando multas relativas a inadequada prestação de conta que ele (Nelsinho) fez. Eu, particularmente, estou pagando multas da prestação de contas dele, vou lhe mostrar os documentos, lhe dou fotografias dos canhotos. Multas eleitorais de Nelson Trad Filho… estou pagando. Ele não quis pagar e eu estou pagando.

Não houve acordo político de sua parte com o senador Delcídio do Amaral?

Não houve. O PT nos ofereceu a vice candidatura no final, no frigir dos ovos, e uma vaga ao Senado. Levei a proposta à apreciação do PMDB e os companheiros, sabiamente, disseram: “Não! Teremos nosso candidato”, que foi o Nelson Trad Filho. Ele andou pouco no Estado, tem município que ele sequer visitou, mas foi nosso candidato. Levamos chumbo. Levamos, mas, disputamos com nosso candidato. Não é o Nelson que levou chumbo, nós levamos chumbo. Assumo.

Há chances de uma reaproximação?

O ser político, tendo ouvido de vários expoentes da política, diz que você não deve, não pode, não deve criar inimizades. Se deve ter adversários políticos. Em termos pessoais nos respeitamos. Ao Fabio Trad, ao Otávio Trad, Marquinhos Trad, Nelson Trad Filho, temos respeito. Não houve traição. Eu fiquei magoado com a palavra traição. Houve, eu reputo, ingratidão da parte dele, que me pareceu procurar uma desculpa para querer sair do partido, coisa sobra a qual ele está falando desde o ano passado, desde a derrota. Ele foi meu secretário para ter contato com os municípios. Secretário de Estado… então?  Eu nunca fui “mandão” dentro do partido. Eu sou um voto dentro do partido, ai me chamam de “mandão”. Basta que participem das reuniões, todos, inclusive, eu vou sugerir ao partido, que deixe repórteres participarem das reuniões internas do PMDB para ver como é o André: é voto! Não imponho minha vontade.

O senhor tem essa fama de autoritário…

Porque eu defendo com convicção as minhas posições. Todas as vezes que fui voto vencido, eu segui as diretrizes do partido. Eu imponho autoridade! É diferente de autoritário. Impor autoridade é não ser frouxo. frouxo eu não sou. Autoritário também não sou. Só não admito roubalheira, não admito xingamentos pessoais… isso é impor autoridade na gestão pública. Eu determino que seja seguido à risca a legislação, isso é impor autoridade. Autoritarismo, não! Quando sou voto vencido, acato as decisões do partido, mas, defendo minhas convicções.

A disputa do ano que vem será o primeiro desafio do PMDB depois que o partido perdeu o controle do governo do Estado. O senhor crê na viabilidade de uma candidatura própria em Campo Grande?

O PMDB não tinha prefeito da Capital, fez prefeito da Capital. Agora não tem prefeito da Capital, fará prefeito. Temos nomes! Se o Marquinhos Trad, volto a dizer que ele é do PMDB (enfático), ficar no partido, eu não duvido que o partido todo se una em torno dele. Ele repetidamente diz que quer sair, quer deixar o partido, não somos nós que queremos que ele saia, é o contrário. Alias, o Fabio Trad pediu saída do PMDB em fevereiro, depois pediu para ficar, depois, no dia 15 de junho pediu para sair de novo. Isso não é o André que pediu, eu sou um membro sem mandato eletivo que gosta do PMDB, sempre fui do Manda Brasa (apelido do PMDB durante o governo militar)…

Nelsinho Trad andou pouco nas eleições, não visitou todos os municípios. Mas foi nosso candidato, teve total apoio meu e do PMDB. Não houve traição alguma. Fico triste com ingratidão.

Além do Marquinhos…

Temos muitos nomes para o ano que vem: tem o Mário César (presidente da Câmara), tem Edil Albuquerque (vereador), tem Antonieta (Amorim, deputada estadual), tem Paulo Siufi (vereador), tem Marun (deputado federal), tem Marquinhos Trad, que, volto a repetir, se permanecer no partido, terá meu apoio. Agora, desculpas inventadas nós não aceitamos. As pessoas têm de assumir as suas posições e aí é que tem a diferença do André. Eu assumo minhas posições. O adversário diz: “Autoritário!”. Não! Eu tenho direito de defender minhas posições, como os outros têm direito de defender as posições deles e depois a população julga.

O senhor seria candidato em 2016?

Não serei candidato em 2016.

É definitivo?

Não serei candidato em 2016.

Um nome forte fora do partido, o senhor acha viável apoiar?

O partido tem de dizer. Preferencialmente o PMDB tem de ter – e definimos isso em reunião no começo do mês – candidato em todos os municípios. Se não possível, o diretório se reúne. O André é um em 35 (membros do diretório estadual do PMDB).

Há quem diga que o senhor trabalha para eleger uma base de prefeitos no ano que vem com a intenção de voltar ao governo em 2018.

Eu já disse, quando saí do governo, que não acreditassem que eu seria candidato ao Senado. Disse: “Não gostaria de ser candidato ao Senado, gostaria de terminar o mandato”. Entregar em ordem as contas públicas. Fiquei orgulhoso quando o Jornal Nacional, através das palavras de William Bonner, no dia 20 de dezembro, usou como exemplo o Mato Grosso do Sul dizendo: “Um bom exemplo a ser seguido é o do estado de Mato Grosso do Sul que entrega as contas em dia para o próximo governo não ter dificuldades”. Não fui candidato a senador. Não pretenderia ser candidato a senador, não pretenderia ser candidato a governador e não pretendo ser candidato a prefeito de Campo Grande. Vou ser “vovorista”: vovô e motorista dos meus netos.

Qual é o legado que o senhor considera ter deixado para Mato Grosso do Sul, até o momento?

Dois ou três legados importantíssimos, pela minha ótica: entregar as finanças saneadas de um estado que eu peguei (sucedeu no governo a Zeca do PT, hoje deputado federal) inadimplente em 2007, não tendo sido pago o mês de dezembro, com as contas bloqueadas, multa da Secretária do Tesouro ao Estado, sem pagar prestação da dívida pública, sem ter sido pago salário de dezembro, sem credibilidade e devendo 181% da sua receita liquida. Eu entreguei um estado devendo 89% da sua receita liquida. Estado extremamente solvente, com dinheiro em caixa, como comprovam os documentos, não adianta questionar, os documentos estão aqui. R$ 571 milhões em caixa. E para cumprir obras em andamento, não inacabadas. Segundo legado: Criação do curso de Medicina na UEMS. Com dinheiro em caixa para entregar o campus da UEMS em Campo Grande, que não existia. Doze hectares, na saída para Rochedo, para os cursos de Campo Grande. Legado do André, criar o curso de Medicina na UEMS e ter deixado dinheiro em caixa para terminar. Essa obra, disseram que iam terminar em junho, estão terminando. O Aquário disseram que iam terminar em abril, estão postergando, há de se perguntar por qual motivo isto.


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