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Obama admite revés em tomada de Ramadi

Publicado em 22/05/2015 12:00 -

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O presidente Barack Obama afirmou que a tomada da cidade iraquiana de Ramadi, pelo Estado Islâmico foi um “retrocesso tático”, mas que a “guerra contra o grupo extremista não está perdida”. O Estado Islâmico avançou sobre Ramadi e anunciou ter conquistado também a cidade histórica síria de Palmira.

“Não acho que estamos perdendo”, disse ontem (21) o presidente em uma entrevista à revista The Atlantic, amplamente repercutida por outros veículos de comunicação nos Estados Unidos.

Ele admitiu que houve um revés das forças militares que atuam contra o Estado Islâmico na região, mas ponderou que a cidade de Ramadi era um ponto vulnerável da região. Desde agosto de 2014, a coligação liderada pelos Estados Unidos conseguiu atingir mais de 6 mil alvos do grupo extremista no Iraque e na Síria.

O Presidente norte-americano não enviou tropas para o Iraque, mas a queda de Ramadi levou alguns setores de oposição, especialmente Republicanos, e a imprensa a questionar a estratégia adotada por Obama.

Na entrevista, ele afirmou que as forças de segurança iraquianas necessitam de mais formação. "O treinamento das forças de segurança no Iraque, os prédios militares e o sistema de comando e controle não estão sendo suficientemente rápidos na região”, acrescentou Obama.

A presença militar dos norte-americanos em momentos anteriores foi bastante criticada, mas as declarações de Obama e o retorno do debate sobre a decisão do presidente de não enviar tropas ocorrem no mesmo dia em que as Forças Armadas dos Estados Unidos reconheceram, pela primeira vez, a existência de vítimas civis dos bombardeamentos que fizeram no Iraque e na Síria.

Em comunicado divulgado nessa quinta-feira, o general norte-americano James Terry reconheceu que um ataque lançado em Harim,Síria, em novembro de 2014, acabou atingindo e matando duas crianças sírias. "Lamentamos essas mortes, apesar de não terem sido intencionais", afirmou o comunicado.

O Estado Islâmico está ganhando a guerra?
Há avanços e ganhos estratégicos. Palmira, por exemplo, conecta Damasco à cidade de Deir Ezzor. Mas o Estado Islâmico continua sendo uma organização terrorista com a inimizade de toda a região –essa milícia propõe, afinal, um modelo político que não respeita fronteiras ou Estados modernos, o que dificilmente agrada aos governos vizinhos. Há, além disso, oposição de uma coalizão internacional que inclui os EUA.

Mas por que eles continuam se expandindo?
O cálculo era, há um ano, que os ataques aéreos afetariam a moral do Estado Islâmico e deteriam suas conquistas territoriais. Nesta semana ficou evidente, porém, que a estratégia precisa ser revista. Mas há um sério problema, que é a resistência da coalizão em envolver soldados no corpo a corpo contra a organização terrorista, principalmente diante do desastre político que foi a invasão americana do Iraque em 2003.

De onde vem a força do Estado Islâmico?
De uma série de fatores. Por exemplo, de seu apelo a jovens ao redor do mundo, que veem nessa organização terrorista uma oportunidade para aventurar-se em um projeto ideológico. Não à toa as propagandas do Estado Islâmico se parecem com batalhas de jogos eletrônicos. Além disso, com o controle da extração de petróleo na Síria e no Iraque e de campos de gás natural, o Estado Islâmico consegue financiar seu aparato nesse extenso território.

Mas como os Exércitos da Síria e do Iraque não conseguem resistir?
Uma reportagem do jornal britânico “Guardian” cita um militar iraquiano dizendo que o problema, nesse caso, não é a força do Estado Islâmico. É a fraqueza dos Exércitos regionais. No Iraque, por exemplo, há um grave problema conhecido por “astronautas” –soldados que subornam seus comandantes para não ter de lutar. Essa foi uma das razões pelas quais terroristas não encontraram resistência para tomar a cidade de Mossul, em 2014. Além disso, diante de uma organização que se promove por meio de vídeos em que decapitam e queimam seus inimigos vivos, há uma alta taxa de deserção na Síria e no Iraque.

Quão preocupante é o fato de que eles controlam metade da Síria?
Bastante. Mas essa informação precisa ser atenuada pelo fato, nem sempre citado, de que grande parte desse território é um imenso e inóspito deserto. A noção de “controle territorial” ali é discutida por analistas, porque o fator principal não é a extensão no mapa, e sim a possibilidade ou não de utilizar estradas para locomover armamentos. Há institutos que propõem, por exemplo, a ideia de territórios “sob influência” do Estado Islâmico, mais do que “sob controle”.


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