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Artigo da Semana

Construtivismo e a desconstrução do Brasil

Publicado em 21/05/2015 12:00 -

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Assim como a República está acima do exército, a educação está acima do professor. A República é o propósito de um povo, um destino comum, um constructo social repleto de valores que, para além de mero abstratismo, faz com que soldados morram no campo de batalha quando o objetivo é a defesa de sua nação e de seu território.

Da mesma forma, a educação é um propósito. É a alta cultura de uma nação. Um conduto pelo qual os indivíduos se transformam em seres autônomos, pertencentes e produtivos na sociedade. A prática da educação é o ensino, o estudo, o trabalho intelectual, a disciplina mental.

Na escola ideal, poderíamos encontrar o serviço de democratização do saber, no entanto, infelizmente, o exército mais importante de uma nação que se propõe moderna e civilizada, o nosso batalhão de professores, de forma crescente e constante, tem renegado sua missão e abandonado milhões de crianças e jovens nos guetos escuros da ignorância.

É claro que são muitos os fatores que respondem à falência do sistema de ensino brasileiro, mas se faz necessário dizer que, dentre tantas razões para este flagelo nacional, o maior culpado pelo descalabro de nossa educação é o professor em seu processo letivo! Repito: no cotidiano escolar, o professor é o grande responsável pela institucionalização do emburrecimento nacional.

Esta culpa, salvo exceções, não é resultado de uma atitude deliberadamente sabotadora. É praticamente inconsciente. Serve a uma ideologia pedagógica e política cujos seus seguidores a interpretam como a suprema verdade: o sócio construtivismo.

Grande parte dos pedagogos brasileiros segue cegamente o profeta nacional que, apesar de apenas ser capaz de propalar bravatas em vácuo que nunca se provam, ganhou o status de sábio irrefutável: o patrono da educação brasileira, amálgama pseudoestético de Karl Marx com Mahatma Gandhi, o senhor Paulo Freire.

O Brasil sofre do vício de premiar a incompetência e desqualificar o merecimento.

Para esta moda quase religiosa que assola o Brasil há quarenta anos, entende-se que o conhecimento apenas se constrói a partir de processos centrados nas interações sociais. Dito desta forma, pode até parecer palatável. Porém, o problema está naquilo que as tais "interações sociais" escondem: a democratização da mediocridade.

O Brasil sofre do vício de premiar a incompetência e desqualificar o merecimento. Dessa forma, a "pratica pedagógica construtivista" resume-se na supervalorização dos "trabalhos em grupo" em detrimento das aulas expositivas e dos estudos individuais para a prova (sem consulta, diga-se).

Uma sala de aula dividida em grupos de alunos intelectualmente heterogêneos serve, de modo perverso, como um dissipador de diferenças cujo intuito é dar a falsa percepção de que grande parte dos estudantes possui o mesmo nível de conhecimento, esforço e comprometimento com os estudos.

Sem dúvidas, o meio social também integra o contexto de aprendizado. Nenhuma criança inicia seu gosto pelos estudos motivado pelo amor ao conhecimento em si. No fundo, o elemento alicerçador da vida de um bom estudante é, antes de tudo, o convívio social.

No entanto, sem um professor que ensine, ninguém poderá aprender. O raciocínio é muito simples: a soma de muitos ignorantes não é capaz de construir um conhecimento culto e relevante.

Educação é o trabalho intelectual, é o desafio da mente focada, da atenção. Requer esforço, exige comprometimento. Pode ser instigante, mas não necessariamente prazeroso.

É urgente a conscientização da sociedade e a deflagração de políticas públicas que resgatem a autoestima do professor que hoje se encontra na escola vendo-se obrigado a macaquear humorista, palhaço, papai e mamãe de aluno com o objetivo de entregar uma aula construtivista e prazerosa. Uma pena.

Talvez seja este o construtivismo real dos ideólogos da mediocridade: a construção de um método pedagógico que ensine o professor a trabalhar sem vergonha, sem salário, sem respeito e sem autoridade.

Martiniano Borges – Cientista político e diretor do Instituto Brasileiro de Transformação pela Educação (IBTE)


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