20/04/2024 - Edição 540

Saúde

Vacina da dengue não tem data para ficar pronta

Publicado em 07/05/2015 12:00 -

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O médico Jorge Kalil, 61, tem pressa. O Instituto Butantan, que dirige desde 2011, corre contra o tempo para começar a terceira fase de testes de uma vacina contra a dengue.

A entidade depende da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para dar continuidade ao projeto, que pode evitar epidemias como a vivida hoje —só na capital, são cerca de 20 mil casos.

No entanto, de acordo com Kalil, o detalhamento e as exigências do processo podem postergar a oferta da vacina à população, que hoje o instituto estima para 2016. Só a aprovação da segunda fase demorou 18 meses.

Para o médico, se começassem agora, em época de muitos casos, os testes mostrariam a eficácia da vacina em três meses. Fora do país, diz, a análise das etapas tem prazos determinados, o que as torna mais rápidas.

Confira a entrevista:

A Anvisa já está analisando o pedido da terceira fase de testes?

A Anvisa acatou a solicitação que nós fizemos e já está analisando o projeto. Fizemos uma reunião informal na sexta (24) para dirimir dúvidas. O processo de análise a gente não sabe [quanto tempo vai demorar]. O último pedido de análise demorou muitos meses. Desta vez, temos a esperança que seja rápido.

Qual a relação entre a vacina do Butantan e a da farmacêutica Sanofi, que pede o registro à Anvisa?

Se eles tiverem o registro e a vacina for utilizada no Brasil, a minha fase de testes terá que ser comparativa com a deles, aí fica supercomplicado. Porque, em vez de testar 17 mil pessoas, vou ter que testar 100 mil. São regras internacionais. Existem problemas com a da Sanofi. O primeiro é a proteção baixa, de 60%. Em alguns casos, ela é muito baixa, menos de 30%. Além disso, tem que ser dada em três doses.

Quando sairá a vacina do Butantan?

Tudo depende de ter a licença, de conseguir vacinar, de ter casos de dengue para mostrar que minha vacina é eficaz, que a Anvisa aceite os resultados e dê o registro. Cada coisinha que eu falei é uma enormidade de trabalho.

O processo é lento no Brasil?

É mais lento aqui do que em outros países porque o Brasil não tem tradição de inovação e saúde. As coisas são criadas, produzidas e testadas nos EUA, na Europa e no Japão. As agências reguladoras aqui são lentas. A pessoa que toma uma decisão positiva [sobre a aprovação da vacina] pode ser responsabilizada, mas se ela disser "não", não acontece nada.

Registramos número recorde de casos. Não aprendemos a lidar com a dengue?

Mesmo com a vacina, sempre vamos ter de controlar o vírus. E fazemos isso controlando os nascedouros do mosquito, o que é difícil. As pessoas não conseguem perceber que podem ter [nascedouros] em casa. Veem vasos de planta, pneus, mas e as calhas? Até que ponto elas se sensibilizam? Antes havia os agentes de saúde. Hoje em dia, muitas famílias nem os recebem porque têm medo de que seja assalto.


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