25/04/2024 - Edição 540

True Colors

HIV e o estigma que transpôs três décadas

Publicado em 02/05/2015 12:00 - Guilherme Cavalcante

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Um grande amigo meu me disse uma vez que só quem convive com o HIV dentro de si sabe a dor que é. Naquele dia, eu tentei me colocar em seu lugar. Não deu. Eu não sei o que é sentir o chão desaparecer sob os pés quando o amor parece não conseguir chegar até nós por conta de uma determinada condição que carregamos. Infelizmente, o estigma do HIV transpôs três décadas e parece que ninguém liga para isso.

A indiferença e a discriminação irracional contra HIV positivos são dois dos maiores problemas das pessoas que convivem com o vírus desde o surgimento da síndrome. Hoje, a gente já sabe que a qualidade de vida de soropositivos é incomparável com trinta anos atrás. Mas o preconceito continua, e mesmo nos tempos de potencial informação livre e não mediada na Internet, esse sentimento parece não parar de crescer.

Desde que meu amigo me confidenciou seu status sorológico (uma história que já abordei na coluna e que você pode conferir clicando AQUI) fiquei muito conectado aos problemas em torno do HIV. A partir daí, resolvi problematizar a forma como o assunto é vivenciado nas mais diversas esferas, sobretudo pela imprensa. E não demorou muito mais que cinco minutos para compreender que nós, jornalistas, fomos vencidos por uma espécie de sensacionalismo científico em detrimento da desconstrução do preconceito por meio de reportagens de cunho social sobre Aids e HIV. Acredito, portanto, que esta indiferença é uma constante na fórmula maléfica do preconceito. Não existe isenção e imparcialidade quando existe um dever de promover o melhor, o tal do bem comum. A indiferença é um posicionamento.


Enquanto as pessoas, todas as pessoas, não forem expostas aos próprios medos infundados, o preconceito por desinformação e por moralismo barato continuarão a existir. E pessoas vão continuar a morrer por falta de amor. E meio que todo mundo tem culpa nisso, até você. Esta reflexão pode ser ampliada não só para a questão do HIV, mas para toda forma de discriminação, julgamento e de maldade que vemos diariamente (e sobre as quais sistematicamente nos omitimos). Já profetizou Bauman, em Tempos Líquidos, que nada é para durar. Somos individualistas e estamos desconectados, insensíveis, impenetráveis, mas de forma alguma blindados. Quem garante que não seja você, amanhã, vítima do preconceito? Precisamos nos posicionar e nem que seja tentar experimentar a dor do outro.

Na última semana, este mesmo grande amigo chegou para mim com o link do vídeo acima, que me emocionou profundamente. É de uma campanha publicitária do Grupo de Incentivo à Vida (GIV), que trata com muita sensibilidade esta situação bem da forma como eu defendo. O objetivo é muito claro: tocar o dedo na ferida e conectar pessoas comuns à discriminação que existe contra positivos de uma maneira mais sinestésica. E a forma que a campanha foi conduzida é sensacional, pois expõe às pessoas o próprio preconceito por meio de uma mensagem informativa e repleta de amor, que dá possibilidade de desconstruir o preconceito logo ali. Fundamental assisti-lo para fazer a diferença.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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