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Combatentes do Estado Islâmico destroem antiguidades no Iraque

Publicado em 27/02/2015 12:00 -

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As vítimas da barbárie jihadista não são apenas humanas. Um pedaço da História da civilização foi destroçado pelo Estado Islâmico (EI) em Mossul, a segunda maior cidade iraquiana. Estátuas e artefatos milenares foram destruídos a golpes de marreta, furadeiras e brocas elétricas, causando um incalculável prejuízo à humanidade, para a revolta de especialistas e estudiosos. Em um vídeo divulgado nesta quinta-feira pelo grupo fundamentalista, é possível ver militantes atirando esculturas datadas do século VII a.C. ao chão, reduzindo-as a pedaços.

“É certamente uma tragédia para o Iraque e para o mundo. São objetos insubstituíveis”, disse o professor Hugh Kennedy, da Escola de Estudos Orientais e Africanos (Soas), da University of London.

Em outro trecho dos cinco minutos de gravação, os extremistas demoliram uma gigantesca estátua de Lamasu, uma divindade protetora assíria representada por um touro alado, que ainda hoje é reproduzida na moeda do Iraque, o dinar. A destruição foi realizada no Museu Ninevah, em Mossul, tomado pelo EI em junho do ano passado, pouco antes do grupo anunciar a criação de um califado que abrange uma vasta região iraquiana e síria.

“Muçulmanos, estas estátuas atrás de mim eram ídolos e deuses para povos que viveram séculos atrás, que as adoravam em vez de adorar a Alá”, diz no vídeo um homem barbado, diante do touro alado, parcialmente demolido. “O profeta ordenou que nos livrássemos de estátuas e relíquias, e seus companheiros fizeram o mesmo quando conquistaram países depois dele. O profeta enterrou os ídolos em Meca, com suas benditas mãos”.

Assim como imagens assírias de Nínive e Nimrud, os radicais aparentemente aniquilaram estátuas de Hatra, uma cidade helenística que existiu há dois mil anos, no Norte do Iraque. Eleanor Robson, professora de História Antiga do Oriente Médio da University College London, confirma que as esculturas foram destruídas, mas acrescenta que alguns objetos no vídeo eram réplicas modernas.

Barbárie cultural em mossul

No domingo, o grupo queimou pelo menos 8 mil livros e manuscritos raros da biblioteca pública de Mossul. Eles fizeram ainda uma fogueira com livros culturais e científicos, e ainda levaram embora livros infantis e religiosos, segundo testemunhas. O EI também destruiu, no domingo, uma igreja e o teatro da universidade local.

O biblioteca foi fundada em 1921, após o nascimento do Estado iraquiano moderno. Em seu conteúdo, estavam manuscritos que datavam de até 5000 a.C., livros sírios impressos na primeira gráfica do país, títulos que datam do Império Otomano, jornais locais de décadas anteriores e antiguidades como astrolábios. Grande parte era considerada patrimônio raro pela Unesco. O acervo de famílias da alta sociedade da região também era hospedado na biblioteca.

Uma outra biblioteca foi queimada em janeiro na cidade, com 2 mil livros destruídos.

Mossul concentra 1.791 sítios arqueológicos, entre eles quatro capitais do antigo Império Assírio. O EI já havia destruído outros santuários — incluindo alguns muçulmanos —, vistos como hereges ou idólatras. Kennedy destacou que a cidade sempre teve uma vida intelectual vibrante, com a presença de uma universidade importante. De acordo com o professor, a biblioteca onde foram destruídos oito mil livros pelo EI tinha um acervo importante sobre a independência do Iraque, desde os seus primeiros movimentos, na década de 1920, além de material dos séculos XVIII e XIX.

Ainda nesta quinta-feira, no Nordeste da Síria, o EI continuou os ataques a comunidades cristãs assírias. Foram relatados sequestros de mais pessoas, com algumas entidades elevando o número total de reféns para mais de 350, levados de 12 vilarejos. Negociações estão em curso para tentar a libertação dos sequestrados em troca de jihadistas do EI capturados por milícias curdas e árabes.


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