25/04/2024 - Edição 540

Brasil

Preconceito

Publicado em 19/02/2015 12:00 -

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Pesquisa do Instituto Data Popular mostra o preconceito em relação aos moradores de favelas. A pesquisa consultou 3.050 pessoas em 150 cidades de todo o país entre os dias 15 e 19 de janeiro apontou que 47% dos cidadãos nunca contratariam, para trabalhar em sua casa, uma pessoa que morasse em favela.

O presidente do Data Popular, Renato Meirelles, destacou que o Rio de Janeiro é exceção, porque um terço da mão de obra feminina das favelas é formada por empregadas domésticas. “E o Rio de Janeiro tem um fenômeno que não ocorre em outras regiões metropolitanas, que é uma presença maior de favelas nas áreas nobres da cidade”, destacou. Isso explica a maior interação entre moradores do asfalto e de favelas no Rio de Janeiro.

Meirelles chamou a atenção para outro fato significativo nessa relação. “No Rio, encontramos muita gente que não disse explicitamente que morava em favela a seu patrão. É muito comum a gente encontrar casos de pessoas que dão uma enroladinha sobre o local onde realmente moram”.

Estigma

A pesquisa constata a existência de preconceito relacionado à violência: 69% dos entrevistados  disseram que têm medo quando passam em frente a uma favela e 51% afirmaram que  as primeiras palavras que lhes vêm à mente quando ouvem falar de favela são droga e violência.

“Eles têm medo de que, ao contratar um morador de favela, se tornem mais uma vítima de roubos ou assaltos, como se os moradores de favela fossem efetivamente ladrões quando, na verdade, a gente sabe que a criminalidade é a menor parte da favela”, afirma Meirelles, para quem a violência está presente hoje em dia tanto no asfalto quanto na favela.

Para o presidente do Data Popular, criou-se um estigma que associa a favela à criminalidade. Para ele, esta associação é uma visão estereotipada que, muitas vezes, se alimenta de um conjunto de noticiários negativos vinculados às comunidades. Segundo Meirelles, o retrato que os moradores do asfalto têm dos habitantes de favelas mostra um aspecto cultural.

Debate

Há hoje, acentuou Meirelles, uma discussão mais aprofundada sobre a realidade da favela. “Isso é bom”. Lembrou que o empreendedorismo não para de crescer nas favelas, onde dois terços dos moradores que há dez anos pertenciam às classes sociais D e E, hoje estão na classe C. O preconceito ainda é, entretanto, uma barreira que os moradores da favela encontram para conseguir, na prática, superar dificuldades da ausência do Estado, da falta de acesso à educação nessas localidades.

Até conseguir um emprego é mais difícil, observa Meirelles, porque a maioria dos moradores de favelas é negra, há uma participação maior de mulheres como chefes de família e as mulheres ganham menos do que os homens. A escolaridade na favela também é menor. “Ou seja, a favela tem muito menos oportunidades do que o asfalto para conseguir abrir o seu negócio, para conseguir um emprego de boa qualidade ou melhorar economicamente”.


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