24/04/2024 - Edição 540

Poder

Lula ultrapassa Bolsonaro na corrida para 2022, mostra XP-Ipespe

Publicado em 09/04/2021 12:00 -

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Poucos dias após ter suas condenações anuladas e de o juiz Sergio Moro ser considerado suspeito para julgar os processos da Operação Lava Jato em que era réu, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já aparece ligeiramente à frente, mas em empate técnico com Jair Bolsonaro (sem partido), em pesquisa XP/Ipespe de intenções de voto para 2022.

Segundo o levantamento divulgado no último dia 5, na simulação estimulada do primeiro turno, em que o eleitor escolhe seu candidato entre opções apresentadas pelo entrevistadores, as intenções de voto no ex-presidente no primeiro turno saltaram de 17%, em maio de 2020, para atuais 29%. Com isso, Lula surge tecnicamente empatado com Bolsonaro, que aparece com 28% das intenções de voto. A margem de erro da pesquisa é de 3,2% para mais ou para menos. Ciro Gomes aparece com 9%, mesmo percentual alcançado por Sergio Moro.

Já na simulação espontânea, quando o entrevistado responde o nome que quiser, Lula aparece com 21% das intenções de voto e Bolsonaro, com 24%. Ambos estão empatados tecnicamente também nesse índice, dentro da margem de erro. No entanto, o salto de Lula é relevante: saiu de 5% em 21 fevereiro de 2021 e foi para 17% em 11 de março, data da última pesquisa XP/Ipespe, chegando em abril a 21%. Bolsonaro, por sua vez, tinha 25% em março e está entre a queda e a estagnação.

Governo errado

O levantamento também aponta que a avaliação negativa (ruim/péssimo) do governo Jair Bolsonaro subiu três pontos percentuais e agora soma 48%, em comparação à última rodada da pesquisa divulgada em março passado. Ao mesmo tempo, a avaliação positiva do governo Bolsonaro (ótimo/bom) caiu três pontos e está em 27%. A porcentagem dos que consideram o governo regular manteve-se em 24%.

Segundo a sondagem, 60% dos entrevistados passaram a desaprovar a maneira como Jair Bolsonaro administra o país, frente a 56% em março e em oposição a 33% que ainda afirmam aprovar a administração atual. Não souberam ou não responderam a essa questão 7% dos pesquisados.

Economia e coronavírus

Além de apontar o derretimento político do governo Bolsonaro, a nova pesquisa XP/Ipespe mostra que cresceu também a percepção dos eleitores que desaprovam a política econômica sob o comando de Paulo Guedes. Ao todo, 65% dos entrevistados afirmaram que a economia está no caminho errado – foram 63% em março. Já quem considera que o Brasil está no caminho certo em relação à sua economia caiu de 27% para 23%.

Outro dado importante é que diminui rapidamente o número de entrevistados que afirma confiar conseguir manter o emprego nos próximos seis meses: apenas 47%. Em pesquisa de fevereiro, 60% disseram que mantinham a expectativa. No mês passado eram 52%.

O levantamento informa também que aumenta entre os brasileiros o temor pelo agravamento constante da pandemida de covid, com 55% das pessoas afirmando estar com muito medo em relação ao surto. Outras 28% dizem estar com um pouco de medo. No auge da pandemia no ano passado, em setembro, a pesquisa indicava 40% dos entrevistados com muito medo de morrer por covid-19.

Vacina já

A intenção de se vacinar para se prevenir contra o coronavírus é compartilhada por 80% dos entrevistados pela XP/Ipespe, o que também demonstra o desastre da gestão negacionista da pandemia pelo governo Bolsonaro. Apenas 8% responderam que com certeza não irão se vacinar.

O levantamento XP/Ipespe foi realizado entre os dias 29 e 31 de março.

Ciro Gomes passa recibo do seu incômodo

Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará, aspirante a candidato a presidente da República pela quarta vez, pediu a Lula “generosidade” de não disputar as eleições presidenciais do ano que vem. Que tal?

A fazê-lo, Ciro defendeu que Lula se inspirasse no “passo para trás” da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner que concordou em ser vice de Alberto Fernández, ajudando assim a elegê-lo. Segundo Ciro, se Lula for candidato, Bolsonaro se aproveitará do antipetismo para tentar emplacar um segundo mandato.

“Imagine uma campanha: Bolsonaro, querendo se recuperar da impopularidade, lembrar a esculhambação do Palocci, a esculhambação do José Dirceu, a esculhambação de não sei de quem”, argumentou. “E do outro lado, o cabra dizendo que os filhos do Bolsonaro são ladrões. É isto?” Se o eleitor quiser, será.

Lula não respondeu ao pedido de Ciro. E o que Ciro disse inspirou memes que viralizaram na internet. E se países da América Latina pedissem ao Brasil que não disputasse a fase de classificação para a Copa do Mundo no Catar?  E se no carnaval pós-pandemia as demais escolas pedissem à Mangueira para não desfilar?

A proposta de Ciro trai seu desconforto com a situação criada pelo Supremo Tribunal Federal ao suspender as condenações de Lula nos processos do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. Com isso, o ex-presidente recuperou os direitos políticos e tornou-se elegível. Ciro contava em enfrentar Fernando Haddad.

Para aumentar as dificuldades de Ciro, Lula tem dito que pretende primeiro reunificar a esquerda até onde for possível, para depois sair à caça do apoio de partidos do centro e até mesmo da direita. Esse seria um espaço que Ciro imaginava ocupar, e ainda imagina. Só que as coisas ficaram piores para ele, mas não só para ele.

Ultimamente, Ciro chegou a falar que Bolsonaro, desgastado pelo péssimo governo que faz, arrisca-se a não disputar o segundo turno da eleição de 2022. É possível, mas não é provável. E que ele, Ciro, então iria para o segundo turno como alternativa a Lula. Nada mais corriqueiro na política do que o autoengano.

O efeito Lula está produzindo uma limpeza no terreno dos que planejavam disputar a sucessão de Bolsonaro. Isso não é necessariamente ruim, muito pelo contrário, se resultar em candidaturas mais densas e representativas das principais correntes de pensamento político do país. A democracia agradece.

Candidato do centro?

Um dos principais líderes das negociações para organizar uma candidatura presidencial de centro, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que Ciro Gomes “tem condições de liderar esse projeto”.

Apesar de ter um perfil mais alinhado com a esquerda, Ciro tem se aproximado cada vez mais do grupo que tenta construir uma opção eleitoral para 2022 como alternativa a Jair Bolsonaro e a Luiz Inácio Lula da Silva. Ele, inclusive, foi um dos seis presidenciáveis signatários do manifesto pró-democracia e que incluiu também os governadores tucanos João Doria e Eduardo Leite, o apresentador Luciano Huck, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e João Amoêdo (Novo). O documento foi visto como o primeiro movimento do grupo em busca da formação de uma candidatura consensual de Centro.

“Acho que ele tem condições de liderar esse projeto de Centro”, reconheceu Maia. Para o deputado, o ex-governador do Ceará se tornou uma alternativa real entre as opções que estão sendo discutidas pelos participantes dessa discussão. “Acho que as pessoas começam a pensar na hipótese”, acrescentou.

Na eleição de 2018, Maia já defendia que seu partido, o DEM, apoiasse Ciro para a Presidência. Acabou sendo voto vencido e o DEM se aliou ao tucano Geraldo Alckmin, que não decolou – Ciro terminou em terceiro. Agora, o fato de o ex-governador ter um perfil bem mais à esquerda que os demais nomes ainda se torna um complicador para que seu nome seja escolhido. Por outro lado, Ciro tem aparecido em vantagem em relação às outras opções nas pesquisas de intenção de voto.

No último dia 6, Ciro e Maia participaram de uma live organizada pela Fundação Fernando Henrique Cardoso, na qual discutiram as principais questões nacionais. E ambos criticaram fortemente a atuação de Bolsonaro.

“Bolsonaro tem a personalidade dos covardes”, disparou Ciro. “Se ele sentir que o antagonismo a ele é frouxo, ele avança. Se sentir que o antagonismo é forte, ele recua. E recua de forma covarde e vergonhosa como está fazendo agora”, afirmou.

Joaquim Barbosa cogita apoio a Lula

Filiado ao PSB, o ex-ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), que chegou a sinalizar uma candidatura à presidência em 2018, cogita apoiar o ex-presidente Lula para tirar Jair Bolsonaro do poder em 2022. A informação é de Carolina Brígido em sua coluna no portal Uol.

Barbosa, primeiro negro a ocupar uma cadeira no STF, indicado em 2003 pelo próprio Lula, estaria articulando conversas nos bastidores com o intuito de construir uma aliança para derrotar Jair Bolsonaro nas próximas eleições. Mesmo sem ter certeza que o petista sairá candidato, Barbosa já teria sinalizado o apoio.

No último dia 6, Lula teve um encontro virtual com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, e o governador do Espírito Santos, Renato Casagrande (PSB), em que teriam participado ainda a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, e o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

À coluna Painel, da Folha de S.Paulo, Siqueira elogiou a proposta de Lula de construir uma aliança com partidos progressistas para 2022.

“Falou muito no sentido que o PSB tem defendido, de agregação de forças. Não há nada garantido eleitoralmente, porque penso que temos uma grande responsabilidade de juntar o maior número de forças políticas democráticas para superar essa fase trágica”, disse o presidente do PSB.

Lula teria dito que sua candidatura não é indiscutível, o que vai de encontro ao pensamento de Barbosa, que diz que não está disposto a encabeçar uma chapa em 2022 e prefere atuar nos bastidores.

Procurador do Ministério Público Federal entre 1984 e 2003, o ex-ministro foi relator do caso conhecido como “mensalão” no STF e se aposentou em julho de 2014, aos 59 anos.

Uma análise

Trinta dias após o ministro Edson Fachin anular as condenações de Lula na Lava Jato e do STF reconhecer a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, houve uma reviravolta nas redes sociais: o ex-presidente disparou, Bolsonaro ainda lidera com folga, mas diminuiu a diferença, e os candidatos de "centro" registraram desempenho medíocre.

A conclusão é do novo levantamento feito por Manoel Fernandes, diretor do instituto Bites, que acompanha e analisa o desempenho dos presidenciáveis nas redes sociais. Vamos aos números:

* Lula tem agora o triplo de interações (45.108) em relação ao período de janeiro de 2019 até 7 de março deste ano (15.452). O salto foi de 191%. O ex-presidente chegou na quinta-feira (8) com 8,3 milhões de seguidores nas redes sociais. Desde a decisão de Fachin, Lula conquistou 739 mil novos seguidores nos seus perfis oficiais e, a cada dia, adicionou 24.549 aliados digitais contra a média anterior de 5.131.

* Esse contingente ainda é cinco vezes menor do que o ecosssistema de Bolsonaro, hoje com 40 milhões de seguidores em seus perfis sociais, mas desde a decisão de Fachin a média de interações por post na rede do presidente caiu 14%. Saiu de 119.477 de janeiro de 2019 a 7 de março para os atuais 102.302.

* Mesmo com a entrada de Lula no jogo, e apesar da sua queda nas interações, Bolsonaro ainda mantém sua capacidade de utilizar a rede de amigos para amplificar mensagens publicadas nos últimos 30 dias. O presidente não perdeu seguidores e ganhou 280 mil aliados digitais no período.

* Nomes fora da polarização, como Ciro, Doria e Moro, não estão encontrando espaço para chamar a atenção da opinião pública. Nos últimos 30 dias, Ciro ganhou 77.104 seguidores, Doria aumentou sua base para 59.632, e Moro ganhou 9.208.

Estes números vão na mesma linha de outro estudo feito pela consultoria Quaest, publicado hoje pela Folha, em que Bolsonaro e Lula aparecem empatados tecnicamente no início desta semana.

"Os dados de agora mostram uma euforia em torno de Lula em um espaço no qual Bolsonaro sempre foi líder absoluto. Se esse quadro se mantiver, os dois vão polarizar a disputa. Eles alcançam patamares muito altos no levantamento e devem acabar tragando o centro", analisa o cientista político Felipe Nunes, responsável pelo estudo da Quaest.

Contingente de seguidores nas redes sociais não significa, necessariamente, que possa ser traduzido em votos, o que só poderá ser aferido nas próximas pesquisas eleitorais sobre a disputa de 2022.

Nas pesquisas divulgadas até agora (o Datafolha ainda não fez um novo levantamento sobre eleição presidencial após as decisões do STF), Lula já aparece à frente de Bolsonaro nos dois turnos e os demais pré-candidatos não alcançam dois dígitos, o que torna cada vez mais difícil encontrar o nome competitivo da "terceira via".

Como o cenário político continua completamente instável, sujeito a chuvas e trovoadas em Brasília, e tudo pode mudar daqui a meia hora, é arriscado fazer previsões para 2022. Mas os indicadores das redes sociais, que se tornaram o principal palco da disputa política, servem de parâmetro sobre o que pode vir a acontecer.

Vida que segue.


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