20/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

CPI da Covid complica ainda mais situação do genocida

Publicado em 08/04/2021 12:00 - Victor Barone

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No dia em que o Brasil registrou 4.249 mortes, atingindo um novo recorde na pandemia, o ministro do STF Luís Roberto Barroso determinou a instauração da CPI da Covid no Senado. A decisão atende ao pedido dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO) que conseguiram coletar 31 assinaturas a favor da comissão –quatro a mais do que o necessário para sua abertura – mas, no meio do caminho, encontraram Rodrigo Pacheco (DEM-MG). 

Então recém-eleito, com apoio do governo, o presidente do Senado resolveu segurar o início da investigação que mira exatamente as omissões e sabotagens de Jair Bolsonaro e sua equipe ao longo da crise sanitária. Ontem, o pedido completou 63 dias dormitando na sua gaveta.  

Acontece que, como explicou Barroso, a CPI é um direito das minorias parlamentares garantido pela Constituição brasileira. Para ser instaurada, precisa de apoio de pelo menos um terço dos membros da casa legislativa; indicação de um fato determinado a ser apurado; e prazo certo de duração. Cumpridos os três requisitos, não cabe ao presidente da casa legislativa travar a CPI.

Mas foi exatamente este o caminho trilhado por Pacheco – que tentou se justificar dizendo que adotou um “juízo de conveniência e oportunidade” para não instalar a CPI. Para ele, o momento é “inapropriado” e a investigação pode representar “o coroamento do insucesso nacional do enfrentamento da pandemia”. Em documento enviado a Barroso, ele chegou a recorrer a filigranas burocráticos (disse que não havia a cópia deste documento e a certificação da assinatura daquele outro entre os papéis apresentados ao Supremo). Ontem, prometeu cumprir a decisão. 

“Os requisitos da Constituição são claros, e foram preenchidos. O presidente Pacheco infelizmente se recusava a fazer a leitura e a instalação fazendo um juízo de valor que não cabe a ele fazer, dizer se é conveniente ou não”, disse Alessandro Vieira, um dos autores do pedido ao STF, ao Estadão.

Em nota, o líder da minoria, senador Jean Paul Prates (PT-RN), afirmou: “É lamentável que o Congresso dependa de uma decisão do Judiciário para garantir o direito da minoria. É urgente que se apurem as ações e omissões do governo no enfrentamento da pandemia.”

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AM) foi na mesma linha: “Esperamos com urgência o início dos trabalhos para apurar os responsáveis pelo genocídio em curso no Brasil e por este atoleiro sanitário. Temos pressa! Há vidas em risco!”

Jair Bolsonaro recebeu a notícia com cinismo e ameaças. O presidente, que dias antes havia ironizado a primeira vez que o país ultrapassou a marca das quatro mil mortes (“Agora eu sou genocida”) e acusado governadores de falta de humanidade por adotarem medidas de isolamento social, disse que “o Brasil está sofrendo demais e o que menos precisamos é de conflitos” à CNN Brasil

Na mesma entrevista, ele afirmou que “seria bom se todo mundo jogasse dentro das quatro linhas” da Constituição e que a “população está cada vez mais se conscientizando”. Não por acaso, a expressão foi usada horas antes, em uma cerimônia do Exército em que foi mais explícito: “Nós atuamos dentro das quatro linhas da nossa Constituição. Devemos e sempre agiremos assim. Por outro lado, não podemos admitir quem porventura procura sair deste balizamento”. Na cerimônia, ele voltou a dizer “meu Exército”, mentiu que “ainda” integra a força, disse que o país vive uma “fase imprecisa” e que as Forças Armadas seguirão em “perfeita sintonia com os desejos da nossa população”. 

A decisão de Luís Roberto Barroso tem precedente. Em 2005, o então ministro Celso de Mello determinou que o Senado instalasse a CPI dos Bingos. 

Barroso liberou o processo da CPI da Covid para julgamento no plenário virtual do STF. A análise do caso começará na sexta-feira de semana que vem, e os ministros terão até a sexta seguinte para votar. Até lá, a decisão tomada ontem fica valendo.

A CPI tem o poder de convocar autoridades para prestar depoimentos, quebrar sigilos telefônico e bancário de alvos da investigação, indiciar culpados e encaminhar ao Ministério Público pedido de abertura de inquérito. 

SINAIS DE 2022

Pela primeira vez, Lula ultrapassou Bolsonaro na corrida presidencial de 2022. O resultado é da pesquisa XP-Ipespe, com entrevistas feitas nos dias 29, 30 e 31 de março. De acordo com o levantamento, o petista tem 29% das intenções de voto. E Bolsonaro vem logo atrás, com 28%. Na pesquisa anterior, Bolsonaro aparecia à frente com 27%, e Lula com 25%. 

Numa eventual disputa de segundo turno, Lula aparece fora da margem de erro, que é de 3,2 pontos: tem 42% contra 38% de Bolsonaro. Na pesquisa anterior, o resultado tinha ficado 41% para Bolsonaro e 40% para Lula.

Sergio Moro e Ciro Gomes aparecem empatados no terceiro lugar, cada um com 9%. Numa disputa de segundo turno de Bolsonaro com Moro ou Ciro, haveria empate em ambos os casos: 30% e 38%, respectivamente. 

Diante de resultados que apontam maiores chances do petista, Ciro defendeu ontem que Lula deveria seguir o exemplo de Cristina Kirchner, que aceitou ser vice-presidente, em nome de uma aliança partidária mais ampla contra Bolsonaro.

A propósito: saíram novos dados que apontam correlação entre apoio a Jair Bolsonaro e pior desempenho na pandemia. Segundo estudo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), municípios com maior proporção de votos em Bolsonaro apresentam maiores taxas de aceleração de óbitos em 2021 frente à média de 2020. O fenômeno se aplica também aos estados. No Piauí, estado com menor percentual de votos em Bolsonaro no primeiro turno (18,8%), a taxa de aceleração de óbitos é uma das mais baixas (34,6%). Em Santa Catarina, onde Bolsonaro recebeu o maior apoio proporcional no primeiro turno (65,8% dos votos válidos), a taxa de aceleração de óbitos superou 200% em 2021. Os autores mostram que quanto maior o apoio a Bolsonaro, menor o índice de distanciamento social no estado frente à média de fevereiro de 2020, anterior à pandemia.

Por Outra Saúde

VOCÊ É E NÃO SABE

Se você, sem nenhuma necessidade, circula por aí indiferente à ação do vírus que já matou mais de 300 mil brasileiros até agora; se acha que pessoalmente nada tem a ver com isso; se quer mais é dar-se bem na vida extraindo vantagens de tudo e de qualquer coisa; e se pouco lhe importa que tipo de regime político o país adote; você pode até não saber nem se incomodar, mas no fundo, no fundo, você é um bolsonarista de raiz. Ou já votou no ex-capitão só para derrotar a esquerda ou poderá votar no ano que vem.

Por Ricardo Noblat

ANTIRRÁBICA

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), se pronunciou no twitter após ter sido chamado de "vagabundo" pelo presidente Jair Bolsonaro. De acordo com a colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de São Paulo, o xingamento do presidente a Doria aconteceu no jantar de Bolsonaro com empresários na capital paulista, na noite de quarta-feira (07).

"O governador de vocês é um vagabundo, caralho", disse o presidente várias vezes durante o jantar. Após uma carta de banqueiros com críticas a gestão de Bolsonaro na pandemia, o encontro com os empresários foi uma tentativa de limpar a imagem do presidente com o mercado financeiro.

Ao se referir ao comentário de Bolsonaro, Doria também mencionou a vacina antirrábica, imunizante utilizado para prevenir o vírus da raiva em humanos e em animais domésticos. A frase "vou te vacinar também" foi utilizada pelo governador paulista para responder a internautas no twitter que cobraram Doria pela vacina contra a covid-19 na semana retrasada.

PROMESSA E OVAÇÃO

O principal assunto do jantar entre Jair Bolsonaro e empresários brasileiros foi a vacinação. Nesse sentido, Marcelo Queiroga foi levado pelo presidente ao encontro – o que antes não estava previsto. Segundo vários relatos da imprensa, os executivos cobraram que o atraso na vacinação seja corrigido. “Segundo um empresário presente à reunião desta quarta-feira, Bolsonaro foi o último a falar. E, segundo ele, foi ‘ovacionado’ ao se comprometer com a imunização da população, para que ela ocorra da maneira mais rápida possível. Ele destacou que o país tem duas fábricas próprias de vacina – uma da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e outra do Instituto Butantan, em São Paulo – e afirmou que vai fazer de tudo para acelerar o processo de vacinação”, descreve o Estadão

O presidente ovacionado pelos empresários voltou a falar contra medidas de isolamento social e a defender o inexistente tratamento precoce no seu giro ao Sul do país ontem, antes do jantar… E enquanto os convivas conversavam, saíram os números de mortes por covid-19 no país: 3.733. Foi a terceira maior marca da pandemia. O total de óbitos chegou a 341.097. 

IGREJAS E TEMPLOS

O Supremo decidiu, por nove votos a dois, manter os decretos estaduais e municipais que proibiram temporariamente cultos e missas com o objetivo de evitar a disseminação do coronavírus e um maior colapso do sistema de saúde. 

Dias Toffoli surpreendeu, e votou junto com Kassio Nunes Marques sem apresentar nenhum argumento próprio

Os demais ministros votaram com o relator do caso, Gilmar Mendes, e foram duros – já que ao decidir monocraticamente pela abertura de igrejas e templos em todo o país na véspera da Páscoa, Nunes Marques desrespeitou a jurisprudência da Corte, que já tinha resolvido que governadores e prefeitos podem adotar medidas restritivas no contexto da crise sanitária e que a associação de juristas evangélicos que apresentou a ação não está na lista das entidades com prerrogativa para fazê-lo.

Bolsonaro, é claro,criticou a decisão do plenário afirmando que diante das dificuldades da pandemia muitas pessoas têm procurado espaços religiosos em busca de apoio.

CENSO VAZIO

Ainda sob a batuta de Luiz Henrique Mandetta, há exatamente um ano o Ministério da Saúde criou o ‘Censo Hospitalar’ – todos os estabelecimentos de saúde do país são obrigados a preencher diariamente um sistema com informações sobre a ocupação de leitos, tanto aqueles reservados para pacientes com covid-19, como os demais. A ideia era ter uma fonte de informação mais atualizada do que o CNES (o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), que servisse para a União definir sua estratégia de apoio em relação a estados e municípios. Mas uma investigação do Open Knowledge Brasil mostra que o Censo, afinal, não tem serventia: 68% dos  dados computados no sistema têm problemas

Entre as falhas, foram identificadas inconsistências no preenchimento de leitos e desatualização. Quase 90% dos estabelecimentos com UTI do país apresentam taxas de ocupação exorbitantes, acima de 120%. Em alguns estados, a taxa geral ficou acima de 200% ou até 300%. Em cenários de colapso, como o que vivemos, é possível verificar realmente ocupações acima de 100%, mas, segundo o estudo, uma prevalência grande de taxas tão altas assim é indicativo de problemas de registro. Além disso, 31% dos hospitais não atualizam seus dados há pelo menos duas semanas, e 24% não fazem isso há mais de 90 dias. “Se esses forem os únicos dados disponíveis, podemos considerar que o país está se planejando no escuro”, resume Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da OKBR.

R$ 80 BILHÕES SEM DESTINAÇÃO

O governo deixou de gastar R$ 80,7 bilhões (13,3%) dos R$ 604,7 bilhões autorizados para o enfrentamento da pandemia em 2020. A informação é do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que aponta que a maior parcela desse valor corresponde ao auxílio emergencial. O orçamento autorizado para o programa era de R$ 322 bilhões, mas R$ 28,9 bilhões deixaram de ser usados. Na sequência, vêm os repasses da União a estados e municípios. Dos 79,19 bilhões autorizados, R$ 890 milhões não foram gastos.

APÓS A VACINAÇÃO

Por mais que estejamos confiantes nos efeitos coletivos da vacinação, fomos sempre muito cuidadosas por aqui ao falar sobre os resultados dos testes clínicos de cada imunizante, assim como os impactos já identificados na “vida real”. É um desafio muito grande passar duas mensagens ao mesmo tempo: a primeira, de que qualquer vacina segura será importante para reduzir o impacto da covid-19 na comunidade; e, a segunda, de que a vacina não deve ser vista como garantia de proteção individual até que haja a chamada imunidade coletiva, ou de rebanho. 

A revista Piauí publicou uma reportagem e um relato sobre brasileiros que adoeceram e morreram por covid-19 mesmo após tomarem duas doses de vacina. Agnaldo Timóteo, morto pela doença no último sábado, também tinha sido imunizado. No caso do cantor, acredita-se que a infecção tenha ocorrido antes da aplicação da segunda dose, quando ele ainda estaria apenas parcialmente protegido.

Mas é realmente possível desenvolver formas graves da doença e morrer mesmo após o tempo necessário para a geração da resposta imune esperada, e uma reportagem d’O Globo traz esse importante alerta. Vai ser comum? Não. O esperado é que a maior parte dos casos seja leve, e é por isso que os sistemas de saúde tendem se desafogar conforme a imunização avança. Mas os organismos não reagem à vacina da mesma forma, e algumas pessoas ainda estarão vulneráveis. Por isso é importante ter muita gente vacinada, diminuindo a chance de os vulneráveis se infectarem (ainda não está bem estabelecido o impacto de cada vacina na transmissão, mas há certo consenso de que elas devem promover alguma redução nesse sentido).

A ideia de que as vacinas irão certamente proteger contra casos graves, que se tornou corrente, é muito perigosa: pode tanto gerar um aumento do comportamento de risco das pessoas antes que seja seguro fazê-lo, como dar munição para quem joga ao lado dos “antivacina”, à medida que os casos de adoecimento e morte começam a pipocar. Recomendamos a leitura deste artigo de Hilda Bastian, especialista em análise de dados de ensaios clínicos, que fala sobre o que realmente podemos ou não esperar das vacinas e de por que é preciso melhorar essa comunicação.

Ela lembra, por exemplo, que nenhum ensaio clínico até agora foi desenhado para verificar a eficácia dos imunizantes na proteção contra hospitalizações. Esse tipo de evento é incomum em meio às infecções – se os pesquisadores tivessem que esperar até que eles ocorressem nos testes em número suficiente para que os resultados fossem estatisticamente significativos, os ensaios demorariam muito mais. Em relação às mortes, os dados são ainda mais frágeis: até agora, só dois ensaios de vacinas tiveram qualquer episódio de morte (entre os grupos não-vacinados). O que se vê nos estudos que analisam as vacinas na “vida real” é que há uma grande redução nos adoecimentos, hospitalizações e mortes. Mesmo assim, ainda não há nada indicando que as vacinas aprovadas até agora ofereçam o mesmo grau de proteção contra esse tipo de evento.

EXEMPLO FORÇADO

Jair Bolsonaro anunciou que irá a Chapecó, em Santa Catarina, para conhecer o “trabalho excepcional” do prefeito João Rodrigues (PSD) na pandemia. “Para exatamente não só ver, mas para mostrar a todo o Brasil que o vírus é grave e que seus efeitos têm como ser combatidos”, disse ele.

Rodrigues assumiu em janeiro, é um entusiasta do tratamento precoce contra o coronavírus e, logo no começo do mandato, montou um ambulatório específico para isso. No domingo, publicou um vídeo nas redes sociais afirmando ter conseguido dessa forma reduzir casos e mortes no município, que o número de internações estava “próximo de zero” e que outros gestores deveriam seguir seu exemplo. O presidente, claro, compartilhou a postagem.

Só que o prefeito omitiu alguns detalhes. Ainda em janeiro, ele liberou eventos antes restritos (como grandes festas), ampliou o funcionamento de bares e permitiu shows de música ao vivo. Houve uma explosão de casos e mortes. Em fevereiro, com a saúde em colapso, Rodrigues decretou o fechamento do comércio, bares e restaurantes, além de um toque de recolher durante duas semanas – restrições mais duras do que no resto do estado. Somente depois disso, os casos começaram a cair.

Em entrevista ao NCS Total, ele reconheceu que o “lockdown parcial” contribuiu para a melhora… Mas disse que estão “sobrando leitos à vontade”, o que é mentira – o quadro segue preocupante. Segundo os boletins da própria prefeitura, 100% dos leitos públicos e privados para covid-19 estão ocupados. Quando Rodrigues assumiu a prefeitura, a cidade tinha 123 óbitos. Hoje, são 537. Mesmo com a redução nas internações em relação a fevereiro, elas ainda estão muito acima do patamar de janeiro (193 pacientes internados ontem, contra 69 no começo do ano). 

DISPARADA

O uso disseminado dos remédios do “kit covid” não melhora em nada o curso da pandemia, mas teve um efeito bem palpável: a notificação de efeitos adversos relacionados a eles disparou, como constataram os repórteres d’O Globo Leandro Prazeres e Paula Ferreira, com dados levantados junto à Anvisa.

No caso da cloroquina, xodó do presidente Bolsonaro, o aumento foi de espantosos 558% – em 2019 houve 139 notificações, e no ano passado foram 916. Do total, 96% vieram do Amazonas. Entre os efeitos, estão distúrbios dos sistemas nervoso, gastrointestinal, psíquico e cardíaco. Em 2019, a cloroquina estava em sétimo lugar na lista dos medicamentos responsáveis por notificações de efeitos adversos; no ano passado, ficou em primeiro.

Outros remédios tiveram crescimento expressivo. Para hidroxicloroquina e o sulfato de hidroxicloroquina, não houve notificação nenhuma em 2019, mas 168 no ano passado. Oito pessoas morreram após o uso. No caso da azitromicina, o país passou de 25 notificações para 82 – números absolutos pequenos, mas que representam um aumento de 228%. 

Em tempo: mais uma pessoa morreu após ser submetida à nebulização com hidroxicloroquina. Foi um homem de 69 anos, do Rio Grande do Sul, cuja família não havia autorizado o procedimento. O Ministério Público do estado abriu uma investigação.

MEIO MILHÃO DE MORTES

Segundo a Universidade de Washington, o cenário mais provável da pandemia no Brasil é trágico. O Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) prevê que, até 1º de julho, o país deve chegar à marca de 562,8 mil mortes em decorrência da covid-19. Isso acontece em um contexto no qual as vacinas são distribuídas sem atrasos e governos determinam novas medidas restritivas com duração de seis semanas toda vez que o número de mortes diárias ultrapassar 8 casos por milhão de habitantes (hoje, esse índice chega a 13). Segundo a projeção, o pico deve acontecer em 24 de abril, quando o número de mortes em 24 horas pode chegar a 4 mil. 

O Brasil registrou 1.233 mortes por covid-19 em 24 horas, elevando para 331.530 o total de óbitos. Foi a pior semana da pandemia no país, com 19.231 mortes no total. A média móvel da semana ficou em 2.747 mortes por dia, 20% mais que na anterior. 

TROCAS

Marquinhos Show, o marqueteiro de Pazuello, está de saída do Ministério da Saúde. Será substituído por Priscila Mesiano, que atualmente comanda a assessoria de imprensa do Ministério das Comunicações. Outro membro da equipe do general foi exonerado: Jorge Luiz Kormann, tenente-coronel da reserva, que estava como secretário-executivo adjunto da pasta.

Por Outra Saúde

NAZISTAS

O vereador Leonel Radde (PT-RS) é alvo de um processo de cassação de mandato representado pelos colegas de casa Fernanda Barth (PRTB-RS) e Pablo Melo (MDB-RS), que é filho do prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB). Em uma série de tuítes, Radde explica que o processo é movido após ele ter denunciado a participação dos parlamentares em ato organizado por uma militante neonazista.

Radde atenta para o fato de que sim, o seu mandato está em risco, pois, na Câmara a oposição é “infinita maioria”. “Ao invés dos parlamentares se pronunciarem contrários a fala nazista dessa liderança do grupo do qual eles fazem parte, eles optaram por fazer essa representação contra o nosso mandato”, disse Radde.

A advogada Doris Neumann, que lidera o grupo denunciado por Radde, utilizou uma frase nazista para atacar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). Em vídeo, ela usou a expressão em alemão “Arbeit macht frei”, que significa “o trabalho liberta”. Essa frase foi fixada nos campos de concentração durante o período nazista.

A manifestação nazista de Neumann se deu no começo de março durante uma manifestação contrária ao fechamento do comércio por conta da pandemia. À época, Radde fez um boletim de ocorrência contra a advogada por apologia ao nazismo e xenofobia.

GENTE DE BEM

O Twitter removeu neste domingo (4) um vídeo publicado pelo presidente nacional do PTB, ex-deputado Roberto Jefferson, em que ele aparecia convidando a população a agredir o “Satanás que quer fechar igreja”. A gravação, publicada na sexta-feira da paixão, foi vista como incitação à tortura contra Guardas Municipais que realizam ações de fiscalização em igrejas das medidas de isolamento social.

“Monta uma cena pra eles chegarem, aí quando chegar fecha a rua com pneu, bota fogo, deixa assim duas viaturas … isola os caras. Dá um pau neles de cacete … bate no joelho, no cotovelo, no ombro, pra quebrar a articulação, bate pra quebrar, e eles não vão voltar mais”, diz Jefferson no vídeo.

Na publicação, o ex-deputado também apresentava o que chamou de “kit anti-Satanás”. “Tem um Satanás armado? Esse imediatamente um irmão patriota bota fora de combate”, disse, enquanto empunhava uma arma.

O presidente do PDT exibia ainda um cabo de enxada, um taco de baseball e um chicote. O vídeo era acompanhado pela mensagem: “Kit anti-Satanás. Os comunistas que querem fechar as igrejas. Devem ser exorcizados (sic)”.

O vídeo chegou a ser denunciado ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro por incitação à tortura. A notícia-crime foi protocolada pelo secretário de Ordem Pública do município do Rio, Brenno Carnevale, que relata que o vídeo de Jefferson incita tortura e confrontamento de Guardas Municipais, que realizam ações de fiscalização das medidas de isolamento social.

GENTE DE BEM

O deputado federal e ex-ministro da Cidadania Osmar Terra (MDB-RS) do governo Bolsonaro sempre minimizou os efeitos da pandemia de covid-19 no Brasil. Com a tese de que seria possível conquistar rapidamente a chamada imunidade de rebanho e tendo certa credibilidade conferida pela graduação em Medicina, Terra seduziu o presidente Jair Bolsonaro e virou voz importante sobre a pandemia dentro do Palácio do Planalto. Com as ideias alinhadas às de Bolsonaro, chegou a ser cotado para substituir Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde. A realidade, entretanto, se encarregou de derrubar as previsões feitas pelo deputado, que, diversas vezes, afirmou que o fim da crise sanitária aconteceria em poucas semanas. Um vídeo que circula nas redes sociais deixa clara a incapacidade do deputado de entender a covid-19 e mais clara ainda a sua capacidade de não deixar os fatos abalarem suas opiniões.

GENTE DE BEM 2

Um grupo de quatro homens invadiu a sede da rádio Comunidade FM, localizada em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco, para ameaçar de agressão um locutor que criticou o presidente Jair Bolsonaro durante um programa ao vivo da emissora. Os invasores, que não tiveram a identidade revelada, divulgaram em suas próprias redes sociais vídeos da invasão da rádio. Eles seriam ligados a grupos de direita do município e teriam se revoltado com um comentário feito pelo radialista Júnior Albuquerque sobre a má gestão da pandemia por parte de Bolsonaro.  Segundo o locutor, ele passou a receber diversas ameaças desde que passou a criticar a atuação do governo federal diante da crise sanitária que assola o país. Em entrevista à jornalista Vanessa Moura, do Jornal do Commercio, Albuquerque explicou que a reação agressiva veio após ele apontar que os apoiadores de Bolsonaro também são responsáveis pelo genocídio da Covid-19.

GENTE DE BEM 3

Petistas de Muriaé (MG) têm denunciado um médico da cidade que, segundo relatos, estaria ameaçando simpatizantes do partido. Em um grupo de WhatsApp, o profissional de saúde, que se chama Bernardo Pinto de Oliveira Souza, afirmou que “petista em plantão eu mato”. “Caça um jeito de arrumar um plano de saúde pq petista eu mato em plantão, viu”, diz o médico em uma das mensagens enviadas no grupo. “Quando c tiver morrendo lá, quero que vc grita luladrao e eu enfio o dedo no seu cu pra ver a lágrima escorrendo nos zoi (sic). Petista trata-se assim”, escreveu ainda Souza. Pelas redes sociais, Bernardo mostra ser apoiador de Jair Bolsonaro e antipetista. Ele ostenta fotos com frases como “o Lula tá preso, babaca”, “PT não” e “Bolsonaro 17”.

FRASES DA SEMANA

“Hoje, em nosso país, o presidente, que julga ser um monarca absolutista ou um contraditório monarca presidencial, tornou-se, com justa razão, o Sumo Sacerdote que desconhece tanto o valor da vida quanto seu dever ético de celebrá-la”. (Celso de Mello, ex-ministro do Supremo)

“Estamos passando ainda por uma pandemia que, em parte, é usada politicamente. Não para derrotar o vírus, mas para tentar derrubar um presidente. Todos nós somos responsáveis pelo que acontece no Brasil. Qual país do mundo não morre gente”. (Jair Bolsonaro, presidente do Brasil)

“Eleito presidente da República, o menos interessado que o Brasil vire uma ditadura é o próprio presidente Jair Bolsonaro. E também eu, o deputado federal mais votado da história do país. Porque o poder já está em nossas mãos”. (Eduardo Bolsonaro, um diplomata por vocação)

“Os próximos 15 dias serão muito dramáticos. Cruzamos a casa dos 2 mil [mortos por dia], já passamos da casa dos 3 mil, estamos indo para os 4 mil e vamos chegar a 5 mil mortes por dia”. (Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan) 

“O governo federal pagava R$ 600 de auxílio emergencial. Depois, passou a pagar R$ 300. Em dezembro, parou de pagar. A fome não tirou férias em janeiro, fevereiro e março. As pessoas ficaram com fome e sem dinheiro para comprar remédios”. (Wellington Dias, governador do Piauí)

“Ele me disse: ‘Em 2022, para derrotar o Bolsonaro, eu sento até com o Lula’. Eu falei: vai muito bem por aí, e quando tiver chance vou contar sobre isso para um jornalista. E ele me respondeu: ‘Pode falar’.” (Orlando Silva, deputado, sobre o que ouviu de João Doria, governador)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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