24/04/2024 - Edição 540

Poder

Bolsonaro desautoriza Mourão sobre troca de ministro e diz que governo não precisa de ‘palpiteiro’

Publicado em 29/01/2021 12:00 -

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O presidente Jair Bolsonaro desautorizou o vice Hamilton Mourão que, no último dia 27, tornou pública a expectativa de uma reforma ministerial após as eleições no Congresso marcadas para segunda-feira (1º).  Em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada na quinta-feira (28), Bolsonaro disse que só ele troca ministro e descartou uma ampla mudança no primeiro escalão. Sem esconder o incômodo, o presidente acrescentou ainda que tudo o que o governo não precisa neste momento é de “palpiteiro”. 

“Se alguém quiser escolher ministro, se candidate em 22 e boa sorte em 23”, disse. 

Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Mourão falou de uma possível reorganização do governo e estimou que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pode ser um dos substituídos na reforma ministerial. Na declaração, no entanto, disse que o assunto não foi discutido com ele.

Primeiro, ao ser questionado por um apoiador se tinha informação sobre troca de ministros mencionada Mourão no dia anterior,  Bolsonaro ironizou dizendo que não sabia das alterações no primeiro escalão, que já são discutidas nos bastidores do Planalto e por líderes partidários do Centrão. 

“Não estou sabendo, não. Tem que perguntar pra ele. Mas obrigada pela pergunta aí. Quem troca ministro é presidente da República, certo? Agora é difícil governar o Brasil. Não é fácil, mas tudo bem. Não vou responder essa pergunta não”, afirmou.

Após um apoiador fazer uma oração de cinco minutos, Bolsonaro resolveu voltar ao tema, dizendo que a pergunta sobre troca dos ministros deveria ser levada a sério.  O presidente, então, disse que dos atuais 23 ministros, há a expectativa de apenas uma troca, referindo ao subchefe de Assuntos Jurídicos, Pedro César Nunes, que assumiu interinamente a Secretaria-Geral da Presidência.  

“O vice falou que eu estou para trocar o chefe do Itamaraty. Quero deixar uma coisa bem clara. Tenho 22 ministros efetivos e um que é interino. Aí que nós podemos ter realmente um nome diferente ou a efetivação do atual. Nada mais além disso”, disse. 

O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, é cotado para assumir o posto. Assim, a pasta que controla o Bolsa Família e pagou o auxílio emergencial fica disponível para ser entregue ao centrão. Parlamentares de partidos aliados, incluindo o candidato do Planalto à presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defendem a continuidade do benefício pago durante a pandemia- da Covid-19, o que turbinaria ainda mais a pasta.  O Republicanos, ligado à Igreja Universal, já discute internamente a indicação de um nome para substituir Onyx.

Aos apoiadores, no entanto, o presidente disse que toda a semana recebe informações da mídia sobre mudança de ministro, mas disse que tudo não passa de tentativa de “semear a discórdia no governo.”

“Eu lamento que gente do próprio governo passe a dar palpites no tocante a troca de ministros”, disse o presidente.

Bolsonaro pediu que não acreditem em especulação, que, segundo ele, “só traz inquietações internas e levam incertezas para a população “

“O que nós menos precisamos é de palpiteiro no tocante a formação do meu ministério. Deixo bem claro: todos os 23 ministros eu que escolho e mais ninguém e ponto final”, disse.

Uma análise

Desde a estreia do governo, em janeiro de 2019, Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão percorrem a conjuntura vinculados a conflitos. Nenhuma política pública animou a animosidade. Guerreou-se pela guerra.

No penúltimo arranca-rabo, o capitão desmentiu o general, que falara sobre reforma ministerial. Na previsão de Mourão, entre os escalpos que desceriam à bandeja estaria o do antichanceler Ernesto Araújo.

"O que nós menos precisamos é de palpiteiro no tocante à formação do meu ministério", ralhou Bolsonaro. "Deixo bem claro: todos os 23 ministros eu que escolho e mais ninguém. Ponto final." Caprichou no desprezo: "Se alguém quiser escolher ministro, se candidate em 22. E boa sorte em 23."

Governo sem desavenças não existe. Mas Bolsonaro exagera. Implica com Mourão porque é um ser humano inseguro. Aprendeu com Michel Temer que os vices, como os ciprestes, costumam crescer à beira dos túmulos. Grita para mostrar que, a despeito das seis dezenas de pedidos de impeachment protocolados na Câmara, está vivo.

São duas as afinidades mais notórias do capitão com o general. Ambos elogiam a ditadura militar. E chamam de herói o torturador Brilhante Ustra. No mais, o relacionamento de Bolsonaro com Mourão é 100% feito de divergência.

Mourão oferece diariamente aos gravadores e microfones dos repórteres um punhado de contrapontos sóbrios aos despautérios de Bolsonaro.

Em condições normais, vices são como ciprestes: só crescem à beira dos túmulos. Mas os vices brasileiros costumam desabrochar mesmo sem a emissão do atestado de óbito do titular. Que o digam Itamar Franco e Michel Temer.

Às voltas com a pandemia, o Brasil precisa de vacinas, empregos, reformas e decência. Nada disso será obtido com confusão. Pela lógica, Bolsonaro deveria buscar aliados e evitar brigas. Mas ele não conhece outra lógica senão a lógica do confronto. No caso de Mourão há uma ignição adicional. Bolsonaro receia que seu vice vire versa.


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