25/04/2024 - Edição 540

Poder

Uma mão lava a outra

Publicado em 11/12/2020 12:00 -

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O deputado Marcelo Álvaro Antônio (PL), demitido do Ministério do Turismo pelo presidente Jair Bolsonaro, prometeu a ele que não sairia atirando no governo ao qual serviu com tanta dedicação e pouco talento. Bolsonaro, ao se referir a ele depois de demiti-lo, prometeu que o seguirá apoiando no que for preciso.

O presidente é grato ao ex-ministro por tê-lo carregado ensanguentado junto com outras pessoas depois da facada que levou em Juiz de Fora no dia 6 de setembro de 2018 quando estava em campanha. Marcelo confia que Bolsonaro não lhe faltará nas dificuldades que terá de enfrentar na justiça.

Nas eleições daquele ano, por indicação do PSL de Minas, à época presidido por Marcelo, o comando nacional do partido destinou R$ 279 mil a quatro candidatas. A soma correspondia ao percentual mínimo de 30% exigido pela justiça para candidaturas femininas. Juntas, elas tiveram pouco mais de dois mil votos.

A Polícia Federal indiciou Marcelo sob a suspeita dos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita e associação criminosa, delitos com penas de até cinco, seis e três anos de reclusão, respectivamente. Depois ele se tornou alvo de denúncia por parte do Ministério Público de Minas Gerais.

Mantendo-o no ministério, Bolsonaro preferiu ignorar o indiciamento e a denúncia em agradecimento ao que Marcelo fez por ele. Marcelo, que na véspera de sua demissão teceu loas a Bolsonaro sobre quem paira “a mão de Deus”, espera jamais ser esquecido pelo presidente. Sempre juntos. Vida que segue.

Demissão do ministro do Turismo vira striptease

A demissão de Marcelo Álvaro Antônio veio bem, mas chegou tarde. Sobreviveu no cargo por mais um ano. Foi enviado agora para o olho da rua por ter acusado o general Luiz Eduardo Ramos, ministro palaciano responsável pela coordenação política, de oferecer a sua cabeça num leilão para obter apoio político à candidatura do réu Arthur Lira à presidência da Câmara.

Resumindo: enquanto ostentava a condição de denunciado por formar uma organização criminosa que desviou verbas destinadas a candidaturas femininas, Marcelo Álvaro Antônio não incomodava Bolsonaro. Tornou-se insustentável porque escancarou numa mensagem de WhatsApp o troca-troca promovido pelo Planalto para acomodar um réu, Arthur Lira, na poltrona de presidente da Câmara.

Bolsonaro foi eleito em 2018 surfando a onda da Lava Jato e xingando o centrão. Fazia na época uma pose de candidato antissistema. Depois da prisão de Fabrício Queiroz, operador de rachadinhas da família Bolsonaro, o presidente passou a exibir novas e insinuantes poses. A demissão do ministro do Turismo vale como uma espécie de striptease da virtude. Expõe uma nudez que ninguém pediu, que ninguém quer ver, que já não espanta ninguém.

A parte da anatomia de Bolsonaro que se revela mais sedutora no mercado da baixa política é o calcanhar de vidro, assediado por múltiplos e contraditórios interesses. Marcelo Álvaro Antônio seria ejetado da poltrona de ministro numa reforma ministerial programada para o início de 2021. O Turismo foi prometido ao centrão. Até lá, enquanto Bolsonaro tenta se recompor no palco, o atual presidente da Embratur, Gilson Machado, deve esquentar a cadeira.

Aos pouquinhos, a nudez presidencial vai perdendo o suspense e o mistério. O governo Bolsonaro vive uma de suas fases mais despidas.


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