23/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

O incrível mundo de fantasia do bolsonarismo

Publicado em 25/11/2020 12:00 - Victor Barone

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No país do presidente Jair Bolsonaro, os pobres e desempregados podem esperar. Sem qualquer plano factível para enfrentar a inevitável redução da renda de milhões de seus compatriotas em razão do fim do auxílio emergencial, Bolsonaro escolheu a negação: comporta-se ora como se o problema não fosse dele, ora como se os pobres afinal não existissem.

Não se pode dizer que o presidente seja incoerente. Para quem jura que em 1970 participou da repressão à luta armada durante a ditadura militar – mesmo que se possa comprovar facilmente que, na época, ele tinha apenas 15 anos de idade – não é difícil inventar que governa o País das Maravilhas.

Movido por devaneios desse tipo desde que tomou posse, Bolsonaro é uma inesgotável fonte de fantasias a respeito dos feitos de sua administração e do país que preside. Não fossem os “inimigos” do Brasil – a oposição, a imprensa, os governadores, o Congresso, o Supremo Tribunal Federal, a OMS, a ONU, os países europeus, a China, o coronavírus, a libertinagem no carnaval e o que mais aparecer –, estaríamos gozando a glória do pleno desenvolvimento econômico, social e moral.

No Brasil de Bolsonaro, por exemplo, não há racismo. Sem dedicar uma única palavra de conforto à família de um homem negro brutalmente assassinado por seguranças brancos num supermercado de Porto Alegre, crime que chocou o País, o presidente preferiu dizer que vivemos em harmonia racial e que o lugar de quem denuncia o racismo é o “lixo”.

Também no Brasil de Bolsonaro, não há devastação da Amazônia e do Pantanal e nunca se protegeu tanto o meio ambiente como em seu governo. Todas as críticas de governos estrangeiros e da imprensa a respeito do inegável avanço do desmatamento, diz o presidente, são fruto de uma campanha internacional destinada a manchar a imagem do País e prejudicar sua economia.

Na Shangri-lá exuberante de Bolsonaro, só “moleques” e “maricas” têm medo da pandemia de covid-19, pois afinal bastam algumas doses de cloroquina, o elixir bolsonarista, para derrotar o coronavírus. No começo, Bolsonaro qualificou a doença como “gripezinha”; agora, a ameaça de recrudescimento da pandemia é tratada pelo presidente como “conversinha”. De diminutivo em diminutivo, Bolsonaro – que trocou de ministro da Saúde até que encontrasse um que lhe fizesse todas as vontades, que faz campanha descarada contras as medidas de prevenção e que agora se empenha em desestimular a vacinação – esquiva-se da responsabilidade pela tragédia dos 170 mil mortos e de uma economia em frangalhos.

No mundo encantado de Bolsonaro, ao contrário, a economia do Brasil está sempre prestes a “decolar” e “voltou com muita força”, nas palavras de seu auxiliar Paulo Guedes. A esta altura, porém, quem lida com dinheiro e não gosta nem um pouco de perdê-lo tem demonstrado enorme dificuldade em acreditar nos prognósticos panglossianos do ministro da Economia e de seu chefe a respeito da recuperação do País e do encaminhamento de reformas e privatizações. Os terríveis números sobre inflação, escalada da dívida e desemprego deveriam bastar para desautorizar o otimismo não raro delirante do Palácio do Planalto.

Assim, aparentemente incapaz de encarar o mundo real em toda a sua aspereza, Bolsonaro nada tem a oferecer ao País para mitigar a crise que ele, ao contrário, ajuda a alimentar. Rejeitando todas as soluções que implicam algum grau de desgaste político e eleitoral, pois não pensa em outra coisa a não ser em sua sobrevivência no cargo e em sua reeleição, o presidente parece convencido de que, para resolver os problemas, basta fingir que eles não existem.

Esse estado de negação pode funcionar para os fanáticos que acreditam que Bolsonaro é o taumaturgo cujo toque haverá de curar a escrófula moral do País. Para todos os outros brasileiros, em especial os que não têm como compartilhar da ilusão bolsonarista porque estão concentrados demais em obter a próxima refeição, resta esperar que os demais Poderes, bem como as forças organizadas da sociedade, trabalhem o mais rápido possível para restabelecer a razão.

Editorial do Estadão

ESQUISO

O governo de Jair Bolsonaro vai se transformando numa espécie de centro terapêutico para tratar a esquizofrenia do presidente e da família dele. A China leva os Bolsonaro para o divã. No seu penúltimo surto, Eduardo Bolsonaro escreveu no Twitter que o Brasil se afasta de tecnologia chinesa para o 5G, e que apoia iniciativa do presidente americano Donald Trump de criar uma aliança global sem espionagem da China para um 5G seguro.

Como disse o vice-presidente Hamilton Mourão num surto anterior, se o personagem se chamasse "Eduardo Bananinha" ninguém daria importância. Mas ele é filho do "Bananão". E o pai também produz polêmicas sobre a China com a mesma naturalidade com que a bananeira dá bananas. Ainda outro dia disse que a "vacina chinesa do João Doria" não é confiável.

A embaixada da China reagiu. Faltaram modos à resposta chinesa. Mas sobrou clareza. Afirmou-se que as manifestações do bananinha "solapam" as relações do Brasil com a China. Mantido o tom, disse a embaixada, os Bananas vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil. Os chineses sabem o que querem. O Brasil, talvez não.

Em maio de 2019, em visita à China, Mourão disse que via com bons olhos a atuação da Huawei, gigante do 5G chinês, no Brasil. Já havia a guerra China-Estados Unidos. O Brasil "não pode se atirar para um lado só de uma hora para a outra", disse o vice-presidente na ocasião, num lampejo de lucidez.

Em outubro do ano passado, após encontrar o presidente chinês Xi Jinping em Pequim, Bolsonaro disse que desejava "fortalecer" o comércio e "ampliar novos horizontes" nas relações com os chineses. Hoje, os Bolsonaro estão maníacos com a China e depressivos com a derrocada de Donald Trump. Seria um equívoco dizer que a primeira-família sofre de insanidade. Na verdade, os Bolsonaro se deliciam com ela. Quem sofre com o caos mental da família é o Brasil.

Por Josias de Souza

TUDO AO CONTRÁRIO

Diante da morte de João Alberto Silveira de Freitas, um homem negro, pelas mãos de um segurança e um policial militar brancos, em uma unidade do Carrefour, em Porto Alegre, na véspera do Dia da Consciência Negra, o presidente Jair Bolsonaro criticou a revolta, não o racismo. E sentenciou quem se revolta: "seu lugar é no lixo!" Em uma série de postagens no Twitter, Bolsonaro diz que "brancos, negros, pardos e índios" vivem em harmonia e que há quem queira plantar "o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão de classes", mascarando isso de "luta por igualdade" e "justiça social". Ignorando que a sociedade restringe direitos de acordo com a cor de pele, disse que "não adianta dividir o sofrimento do povo brasileiro em grupos". E afirmou que "aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história". Ou seja, para ele, quem protesta contra uma sociedade e um Estado racistas é que cria o racismo, atentando contra o país e devendo ser descartado. Um pouco mais de empolgação e seu ghost writer evocaria a Lei de Segurança Nacional.

E, despejando uma betoneira de cinismo, ainda citou a "corrupção política" como um grande mal do país, sem discorrer, claro, sobre o fato de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, ter sido denunciado por desvios de recursos públicos, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Nada disso é exatamente novo. Bolsonaro não cometeu estelionato eleitoral sobre o ódio e a intolerância. Pelo contrário, entrega o que prometeu em campanha.

Em 23 de outubro de 2018, chamou de "coitadismo" as políticas de cotas em entrevista à TV. Na sua opinião, são as ações afirmativas – instituídas para compensar desigualdades estruturais – que reafirmam o preconceito e dividem a sociedade, não o racismo. "Isso não pode continuar existindo. Tudo é coitadismo. Coitado do negro, coitado da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense. Vamos acabar com isso", afirmou. Considerando que, cinco dias depois, foi eleito, coitados de nós.

Em julho daquele ano, questionado no programa Roda Viva, da TV Cultura, sobre a forma que pretendia reparar a dívida histórica da escravidão, respondeu: "Que dívida? Eu nunca escravizei ninguém na minha vida".

Em abril de 2017, deu uma declaração que entrou para os anais fedorentos da história recente: "Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais". Se isso enoja parte da população, excita a outra, que não se indigna diante de uma mulher negra ganhar, em média, muito menos que o homem branco para exercer a mesma função. Indigna-se com quem diz que racismo existe. Nem fica revoltado diante da morte de jovens pobres e negros pelas mãos da polícia. Revolta-se com a filha negra da empregada se sentar no mesmo banco de faculdade que eles. E não acha preconceito espancar o sujeito negro que foi acusado de roubar o próprio carro no estacionamento de um supermercado – um supermercado Carrefour, aliás, em 2009. Para essa parte da sociedade, preconceito são as cotas.

Alinhadíssimo com o chefe, o vice-presidente, Hamilton Mourão, cravou que não existe racismo no Brasil ao comentar a morte de João Alberto. E, mostrando-se adepto do bolsonarismo-raiz, afirmou que "isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil". Disse que racismo existe nos Estados Unidos, não aqui.

Esse é o mesmo Mourão que, em outubro de 2018, afirmou: "Meu neto é um cara bonito, viu ali? Branqueamento da raça". A frase sobre o "branqueamento da raça" ecoa parte dos cientistas, intelectuais e médicos brasileiros do final do século 19 e começo do século 20 que defendiam que a "mistura de raças" levaria ao embranquecimento da nacionalidade, pois a "raça branca" seria superiora e triunfaria ao final. Naquela época, isso era visto como ciência. Hoje, como racismo.

Esse é o mesmo Mourão que havia dito, em agosto daquele mesmo ano: "Temos uma certa herança da indolência [vagabundagem, preguiça], que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem, Edson Rosa [vereador negro, presente na mesa], nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o nosso caldinho cultural". Se a vagabundagem é indígena, a malandragem é negra, o instinto homicida é branco?

Para endossar o presidente e o vice, há quem demonstra mais solidariedade ao vidro quebrado em protestos do que à revolta de pessoas que sabem que podem ser mortas no supermercado por ter a cor de pele "errada". Desenhando: para elas, brancos > vitrines > negros.

Políticos dizem não incitar a violência com suas palavras. Por vezes, não são eles que atacam, mas é a sobreposição de seus discursos violentos ao longo do tempo que distorce o mundo e torna agressões banal. Ou, melhor dizendo, "necessárias'' para garantir que o país se mantenha em ordem.

A harmonia pregada por Bolsonaro entre os diferentes grupos que compõem a sociedade brasileira é uma ficção. O falso equilíbrio acontece na base da porrada, do estupro, da ameaça, da cooptação. Tudo está em paz desde que seja da forma como o poder quer. Quando alguém questiona o lugar que lhe foi pré-determinado, é "educado" com truculência física e simbólica até que seja "convencido" Para os dois líderes do país, não existe racismo no Brasil. O que existe são coincidências. Como aquelas que fazem com que balas de revólveres acertem mais jovens negros e pobres. Ou que faz com que os joelhos de agentes de segurança pousem no pescoço de homens negros até que não possam mais respirar.

O MESMO DE SEMPRE

A entrevista abaixo foi concedida pelo então deputado federal Jair Bolsonaro em 2017. O trecho que segue manteve-se inédito até ontem quando o jornal O Estado de São Paulo o descobriu e revelou. Trata de racismo no Brasil e do constrangimento sofrido por muitos negros quando vão a shoppings e supermercados. Na semana passada, quando João Alberto, 40 anos de idade, negro, foi espancado até à morte no Carrefour da Zona Norte de Porto Alegre, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que não há racismo no Brasil. E Bolsonaro, que costuma discordar de Mourão, concordou com ele. “Esse assunto não deve ser discutido”, recomenda o presidente.

APOIO ÀS RESTRIÇÕES

O Datafolha ouviu eleitores de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife e constatou que a maioria acha que haverá uma piora nas infecções de coronavírus em 2021. Mais pessimistas, 65% dos recifenses preveem aumento dos casos no ano que vem. Esse índice é de 60% entre paulistanos e 58% entre cariocas. Nesse sentido,ações mais restritivas, como a diminuição do horário de funcionamento de comércios e serviços, são apoiadas pela maioria. A vem do Recife (74%), seguido do Rio (71%) e de São Paulo (69%).  A pesquisa foi feita nos dias 17 e 18 de novembro. 

NÃO AO BOLSONARISMO

O resultado final das eleições para o comando da Fiocruz teve um bolsonarista entre os quatro candidatos à presidência. Mas Florio Polonini naufragou nas urnas: obteve 8,1% dos votos válidos, bem longe dos 30% necessários para constar na lista tríplice. Em primeiro lugar, com 95% dos votos, ficou a atual presidente da fundação, Nísia Trindade, seguida do coordenador de Vigilância em Saúde, Rivaldo Venâncio (90%), e do vice-presidente de gestão, Mário Moreira (89%).

A lista de três nomes foi enviada ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Então, seguirá para o presidente Jair Bolsonaro, que pode nomear qualquer um dos três nomes. Até agora, a preferência dos servidores da Fiocruz sempre valeu – mesmo que, na gestão de Ricardo Barros, ele tenha sugerido a Michel Temer o segundo nome mais votado. A pressão internacional, com centenas de apoios, fez o governo recuar e indicar Nísia Trindade. Quase 92% dos 4.847 servidores da fundação votaram. A contagem dos votos foi acompanhada por representantes da OAB, da Academia Nacional de Medicina e do Conass, conselho que reúne os secretários estaduais de saúde.

GRETA

Eleita a Personalidade do Ano pela revista Time, em 2019, e cotada para o Prêmio Nobel da Paz, a ativista sueca Greta Thunberg, de 17 anos, se tornou um dos principais nomes da luta contra as mudanças climáticas. O movimento “Fridays for Future” (Sextas-feiras pelo Futuro), que começou com sua solitária greve escolar, acabou mobilizando milhões de estudantes em dezenas de países. Por tudo isso, tem sido atacada por muita gente, inclusive aqui. Greta Thunberg deu esta entrevista exclusiva ao colunista do UOL, Leonardo Sakamoto, no momento em que o Brasil é questionado internacionalmente por causa do impacto do desmatamento e das queimadas no clima do planeta.

FASCISTAS EM FÚRIA

O senador Major Olímpio (PSL-SP) foi às ruas de Taubaté fazer campanha pela candidata Loreny (Cidadania-SP). No ato, o senador foi hostilizado por bolsonaristas que o chamaram de traidor. Olímpio respondeu e deu início a um bate-boca. Veja as imagens abaixo.

OLAVO QUE SER PROTEGIDO

O polemista Olavo de Carvalho voltou a sugerir a renúncia do presidente Jair Bolsonaro. O descontentamento do ideólogo bolsonarista, que orienta parte do eleitorado e mesmo do gabinete ministerial do presidente da República, está no fato de que o presidente não teria se esforçado novamente em defender suas bases. "Se você não é capaz nem de defender a liberdade dos seus mais fiéis amigos, renuncie e vá para casa antes de perder o prestígio que em outras épocas soube merecer", escreveu Olavo em seu Facebook, em uma mensagem endereçada ao presidente. Em sua crítica a Bolsonaro, Olavo chegou a invocar Lula para compará-lo ao atual presidente.

 


AH, COITADA

Após criticar o movimento antivacina, que questiona a necessidade de imunização de crianças e adultos, Heloísa Bolsonaro voltou atrás e se desculpou pela manifestação. Em um post no Instagram, a esposa do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), disse que errou ao emitir a opinião sobre o assunto. No último dia 24, ao responder a uma pergunta em sua rede social, Heloísa disse que Geórgia, filha do casal, "toma e tomará todas as vacinas para cada fase". A nora do presidente disse ainda não saber que existia um movimento antivacina, mas "agora sabendo, só pode ser coisa de retardado", disparou. "Depois, quando o filho tiver uma doença, quero ver ele agradecer aos pais por terem poupado ele da dor do 'pic'. Pqp, né? Por essas e outras a gente vê a volta de doenças antes erradicadas."

A opinião de Heloísa contraria a posição de Jair Bolsonaro. O presidente e seus aliados defendem que a vacina contra a covid-19, quando liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e distribuída para a população, não deve ser obrigatória.

Ao se justificar, Heloísa disse que errou ao emitir uma opinião sobre algo que "não conhece", mas que agora que é mãe, só pensa em protegê-la, "de todas as formas".

"E não é coisa de retardado, me desculpem. São apenas pessoas que pensam diferente de mim ou que possuem informações que eu não possuo", disse. A esposa de Eduardo Bolsonaro aproveitou a ocasião para reforçar que o uso do termo "retardado" não teria a ver com pessoas com deficiência intelectual. "Aqui politicamente correto não. E obviamente não estava falando do vírus chinês", finalizou.

SUS EM ALTA

A pandemia fez a confiança da população brasileira no SUS aumentar. O que já era perceptível intuitivamente virou número com o resultado do Índice de Confiança Social (ICS), pesquisa feita pelo Ibope Inteligência. Os dados, divulgados pela Piauí, mostram que o Sistema Único cresceu 11 pontos entre julho de 2019 e setembro de 2020. Chegou a 56, seu patamar mais alto desde que o levantamento começou a ser feito, em 2009. Esse foi o maior crescimento registrado este ano entre as instituições avaliadas pela pesquisa.

Quanto à Presidência da República… O seu índice, que tinha crescido 35 pontos no ano passado, caiu dois este ano. “Se o rumo seguir o mesmo, deve cair mais”, escreve o jornalista José Roberto de Toledo, observando que desde setembro, quando o ICS foi medido, a aprovação do presidente tem caído a cada quinzena, provavelmente por conta do desemprego, da inflação e da redução do auxílio emergencial.

Segundo o ICS, as duas instituições mais confiáveis para a população são o Corpo de Bombeiros (88 pontos), a Polícia Federal (74) e as Igrejas (73). A confiança nas Forças Armadas também continua firme: subiu de 69 para 72.

NEGUE ATÉ MORRER

Em live nas redes sociais na quinta-feira (26), Jair Bolsonaro negou que tenha usado o termo “gripezinha” para se referir à covid-19. “Falei lá atrás que, no meu caso, pelo meu passado de atleta, eu não generalizei, se pegasse o Covid, não sentiria quase nada. Foi o que eu falei. Então, o pessoal da mídia, a grande mídia, falando que eu chamei de ‘gripezinha’ a questão do Covid. Não existe um vídeo ou um áudio meu falando dessa forma. E eu falei pelo meu estado atlético, minha vida pregressa, tá? Que eu sempre cuidei do meu corpo. Sempre gostei de praticar esporte”, disse.

No entanto, o presidente utilizou a expressão em ao menos duas ocasiões: a primeira, em uma coletiva de imprensa no dia 20 de março, ao lado do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, e a segunda, em um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV no dia 24 de março.

Na primeira vez, Bolsonaro relacionou uma eventual infecção por covid-19 à facada que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018. “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar não, tá ok? Se o médico ou o ministro da Saúde me recomendar um novo exame, eu farei. Caso o contrário, me comportarei como qualquer um de vocês aqui presentes”, disse ao final da coletiva.

Dias depois, em pronunciamento gravado, ele minimizou os efeitos que a doença causada pelo novo coronavírus teria nele. “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico daquela conhecida televisão”, ironizou o presidente em referência ao médico Dráuzio Varella.

Não bastasse, o presidente questionou a efetividade das máscaras de proteção facial para prevenção da covid-19. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uso da máscara como uma das principais formas de evitar a transmissão do coronavírus. “Ainda vai ter um estudo sério falando da efetividade da máscara, se ela protege 100%, 80%, 90%, 10%, 4%, 1%. Falta apenas o último tabu a cair", disse Bolsonaro. Ao contrário da afirmação do presidente, entretanto, a comunidade científica e as autoridades de saúde têm comprovações da eficácia das máscaras no combate à pandemia. Em diversos eventos públicos o presidente aparece sem a proteção. Ele também evita usá-la em aglomerações que provoca durante viagens presidenciais. Participaram da live ao lado do presidente o ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o secretário de Alfabetização do MEC, Carlos Nadalim.

SOB SIGILO

O governo pode divulgar dados sobre as vendas dos agrotóxicos autorizados no Brasil, mas, para 72% deles, opta por não o fazer. As contas são da Repórter Brasil e da Agência Pública, que mostram ainda como estes são produtos que vão parar efetivamente na mesa dos brasileiros: eles foram detectados em 28% dos alimentos vendidos em mercados e feiras do país. De todos os agrotóxicos encontrados na comida da população, quase metade está nesse grupo cujos dados não são publicizados. Em comum, há o fato de que seus registros estão concentrados em três multinacionais: Bayer, Syngenta e Basf. 

“O Ibama recebe as informações de vendas em detalhes e poderia divulgar até qual fazenda comprou qual agrotóxico, permitindo que a informação chegasse ao consumidor e às organizações de controle. Mas o órgão prioriza o sigilo comercial das fabricantes”, diz a matéria. E por que seria importante conhecer o volume de vendas? “O acesso à quantidade de agrotóxicos comercializados por estado de forma individualizada ajudaria no monitoramento de retirada de produtos do mercado brasileiro, além de possibilitar que a sociedade saiba quais são as substâncias mais utilizadas e que consequências que esse uso traz à saúde e ao meio ambiente”, explica a repórter Helen Freitas.

RESPEITO

‘Merecemos respeito’: famílias de indígenas mortos por policiais do Mato Grosso pedem justiça. Familiares afirmam que PM mentiu para justificar tiros em quatro indígenas; Ministério Público deve pedir inquérito federal.

A PALAVRA DO BISPO

Com um uniforme azul e de chinelo preto, o ex-garçom Adélio Bispo de Oliveira, de 42 anos, chega ao depoimento escoltado por três agentes na penitenciária de segurança máxima. Após ter as mãos e os pés algemados em uma cadeira, ele é observado com atenção redobrada, porque é classificado como um detento de alta periculosidade. No dia 6 de setembro de 2018, Adélio tentou matar com uma facada o então candidato a presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral em Juiz de Fora, Minas Gerais. O atentado marcou a história do Brasil – e, até hoje, suscita uma série de teorias da conspiração. Qual foi, afinal, a motivação do crime? Foi um ataque isolado ou a mando de alguém? Como o agressor escolheu o seu alvo?

Após investigar o caso, a Polícia Federal concluiu que Adélio, preso em flagrante, agiu sozinho e tem problemas mentais . O ex-garçom foi diagnosticado como portador de  transtorno delirante. Em função disso, em maio de 2019, ele foi considerado inimputável pela Justiça. Desde então, está internado no presídio federal de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde ele diz sofrer retaliações por ter tentado matar Bolsonaro e onde prestou seus últimos depoimentos gravados em vídeo.

Nas gravações, Adélio conta detalhes de como e por que planejou o atentado contra Bolsonaro e confessa que tinha um desejo íntimo de matar o ex-presidente Michel Temer, o que, segundo ele, já passou . “Isso termina aqui”, diz o agressor.

FRASES DA SEMANA

“[…] o pessoal da mídia, ou da grande mídia, falando que eu chamei de gripezinha a questão da Covid. Não existe um vídeo ou áudio meu falando dessa forma”. (Jair Bolsonaro, o presidente do Brasil que tem horror à mentira)

“Bolsonaro: Se você não é capaz nem de defender a liberdade dos seus mais fiéis amigos, renuncie e vá para casa antes de perder o prestígio que em outras épocas soube merecer.” (Olavo de Carvalho, guru dos Bolsonaros, indignado por não receber ajuda para pagar dívidas)

“Durante toda a República, convivemos bem sem reeleição de presidentes. A ambição de ser reeleito pode turvar a capacidade do dirigente de tomar medidas necessárias para o benefício do país e que contrariem interesses especiais ou aspirações momentâneas”. (Sergio Moro, ex-juiz) 

“Sou contra a reeleição. Mas jogo dentro das regras”. (Bruno Covas, prefeito de São Paulo, candidato à reeleição. Em 2007, reeleito presidente, Lula disse: “Sempre fui contra a reeleição, acontece que ela existe”. Em 2018, Bolsonaro prometeu acabar com a reeleição. Desistiu.)

“Sem cena, tá? A gente te avisou da outra vez”. (Um dos responsáveis pela segurança do Carrefour em Porto Alegre que assistiu ao assassinato de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, negro, espancado até morrer.)

“O Bolsonaro, os filhos, os amiguinhos, essa turma da internet, são um bando de oportunistas que pode acabar criando um sentimento antidireita”. (General Santos Cruz, ex-ministro do governo Jair Bolsonaro) 

“Eu digo para vocês com tranquilidade: não tem racismo no Brasil. Digo isso porque morei nos Estados Unidos. Racismo tem lá. Na minha escola lá, o pessoal de cor andava separado. Eu nunca tinha visto isso no Brasil”. (General Hamilton Mourão, vice-presidente da República)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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