19/04/2024 - Edição 540

Eles em Nós

Não é ‘um supermercado’, Globo News, o nome é Carrefour

Publicado em 18/11/2020 12:00 - Idelber Avelar

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No Carrefour foi torturado Januário Alves de Santana, falsamente acusado de roubar o próprio carro em Osasco, em agosto de 2009. É o mesmo Carrefour onde, em março de 2019, em São Paulo, Luís Carlos Gomes foi perseguido e encurralado, falsamente acusado de furtar uma lata de cerveja. E eu poderia citar outros episódios de violência racista. Tem que tornar impossível a sobrevivência da empresa em que isso acontece. Reagir. Que vergonha e que revolta, na véspera do 20 de novembro.

SOBRE SP

Pediram-me que abrisse um espaço para uma conversa sobre as eleições em São Paulo. Acedo com prazer, está aberto o espaço.

Em São Paulo, me importa menos quem vai vencer e mais o processo como se desenrolará a campanha do 2˚ turno. Nesse sentido, estou contente com as eleições de SP. Elas podem ser determinantes para a civilidade política, que era a forma dominante de se fazer política no Brasil até alguns anos atrás.

Guilherme Boulos nunca foi santo de minha devoção, menos por suas posições políticas — que são as mesmas de Marcelo Freixo, por exemplo, alguém que admiro muito como político — e mais por uma tendência impressionante a circular hoaxes e terraplanismos. Mas reconheço que ele amadureceu muito, fez uma campanha inteligente, e já é indiscutível que ele se firmou como a maior liderança de esquerda da cidade. A presença de Erundina, claro, dá autoridade à chapa. Daí ontem, bem quando a gente o elogiava, ele soltou outro disparate sobre previdência…

Bruno Covas parece ser o favorito, por tudo o que sabemos: o domínio e enraizamento que tem o tucanato na cidade, a gestão relativamente bem avaliada, a simpatia extra advinda da luta contra o câncer etc. Mas lembremos que a cidade é pródiga em surpresas. Só a minha geração, para não ir mais longe, viveu duas: Jânio e a própria Erundina, em 1988.

Ao contrário da eleição do Rio, a de São Paulo tem apoiadores das duas chapas frequentando a página, então lembro-lhes que, por favor, não agridam ao coleguinha. Mas pode defender seu candidato, sim.

Para mim, como disse acima, o legado que esta eleição da megalópole maior pode deixar para o país são os rudimentos de outro registro retórico para se fazer política, aos quais quem sabe a gente possa acudir quando passar a devastação do bolsonarismo.

Espaço aberto aí para vocês conversarem sobre SP.

FUTEBOL

Assisti aos pênaltis de América-MG x Internacional com o manto verde-negro, camisa clássica do Coelho.

Foi emocionante: Coelhão, pela primeira vez entre os quatro melhores da Copa do Brasil.

PS: Eu sei que americanos odeiam que atleticanos [ou cruzeirenses] torçam por eles, mas o Mecão do Lisca está irresistível; que venha o Palmeiras!

PSTU: vejam as bizarrices do futebol. A Polly Ferreira, que como flamenguista odeia o Galo, está com certeza celebrando, como eu, o querido Coelhão, por quem sempre torço contra times não mineiros.

ELEIÇÕES

Curto muito o período de eleições municipais no Brasil e sempre as comentei, as de 2004 e 2008 no mundo blog, e as de 2012 e 2016 no mundo redes sociais. Sempre votei nas municipais e me lembro de cada um dos meus votos em Beagá desde 1985. Este ano, infelizmente, a pandemia impediu. Nós, expatriados, podemos votar em consulados, mas só nas nacionais, não nas municipais.

No entanto, uma coisa que tenho orgulho de nunca ter feito é desqualificar o voto de alguém que mora em outra cidade, na qual eu tenho uma preferência, mas não tenho domicílio eleitoral. É muito chato e deselegante. Há que se ter um jeitinho para pedir voto nestas situações.

Não acho absurdo que alguém endosse um candidato fora de sua cidade. Já fiz isso e faria de novo se fosse o caso. Mas é o fim da picada que alguém do Recife, que nunca pôs os pés em Belo Horizonte, que não sabe a diferença entre o Barreiro e a Savassi, venha com dedos na minha cara por eu ter objeções ao fato de que Áurea Carolina estava, pela terceira vez consecutiva, pedindo voto sem ter concluído o mandato que lhe foi dado pelo povo. Faço questão de dizer isso só agora, para não correr o risco de tê-la atrapalhado.

Eu, que sou belo-horizontino, que votei nela em 2016, ouvirei desaforos e acusações estapafúrdias porque algum militante do PSOL, na Vila Madalena ou em Laranjeiras, quer “construir o partido” e só se importa com números, não com a realidade dos meus parentes abaixo da linha da pobreza em Beagá? É desaforo demais, vocês não acham?

Não seja essa pessoa. Se você vai mesmo ser cabo eleitoral em cidades que não são a sua, Google Maps é seu amigo. Aprenda um pouco sobre a cidade para pedir o voto e não ataque o coleguinha que vota em outrem. Acredite: amanhã os dois políticos estarão juntos e você perdeu um amigo à toa. Além do que, aprender sobre a realidade na qual você está pedindo voto é o mínimo que você, que decidiu atrelar o seu discurso a algum político, deve ao eleitor comum.

Grato.

OBAMA

A conversa do Pedro Bial e da Flávia Barbosa com o Obama foi boa. Cabem duas observações:

1. É quase impensável hoje ver um presidente falar desse jeito, com esse grau de nuance.

2. É fato que Obama zera todas as definições de carisma, mas UMA perguntinha crítica seria muito pedir? Meia hora de entrevista e nenhuma pergunta crítica, dura?

Exemplos do que poderia ser perguntado:

a) Presidente, o que o Sr. tem a dizer em defesa de um governo que triplicou o número de bombas na cabeça dos paquistaneses?

b) Presidente, o que tem a dizer em defesa da sua desastrada intervenção na Líbia, que Hillary queria e Biden não queria? Por que não bancou o seu vice-presidente? Está contente com o resultado?

c) Presidente, o Sr. deportou mais imigrantes indocumentados que o governo Bush. O que tem a dizer em defesa dessa política cruel de deportações?

etc. etc. etc.

****

Mas pedir isso ao jornalismo brasileiro, especialmente com alguém como Obama, já seria pedir demais, sabemos disso.

Em todo caso, vejam aí, ficou bom. Deslumbrado, mas bom.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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