Saúde
Publicado em 06/11/2020 12:00 -
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Um dos cientistas brasileiros mais reconhecidos internacionalmente, o médico Miguel Nicolelis projetou, em julho, que o número de mortes por covid-19 no Brasil, então cerca de 90 mil, deveria dobrar até o fim do ano. A menos de dois meses de 2021, o Brasil já passa dos 160 mil óbitos decorrentes do coronavírus e caminha para confirmar a estimativa feita por ele. Em entrevista exclusiva em vídeo ao Congresso em Foco, Nicolelis diz que o Brasil repete erros primários na prevenção ao vírus.
Para o neurocientista, o país deveria fechar seu espaço aéreo imediatamente para evitar o avanço de uma segunda onda do vírus, o que deve se agravar, segundo o cientista, com as eleições e a chega das festas de fim de ano. Nicolelis acredita que, além de aumentar assustadoramente o número de casos e óbitos, uma nova onda de covid-19 pode tornar inevitável a decretação de lockdown – versão mais radical de confinamento –, a exemplo do que tem ocorrido na Europa.
“Faltou uma estratégia nacional para deter a invasão do vírus. Nossos aeroportos ficaram abertos por um mês. Erros de manejo. Permitiu-se que o vírus se espalhasse pelas rodovias. Se tivessem fechado o espaço aéreo, feito lockdown, controle de veículos, testes em massa, poderíamos ter achatado a curva”, observa o cientista. “Vamos cometer os mesmos erros”, acrescenta diante das atuais perspectivas.
Na entrevista, Nicolelis critica a manutenção das eleições em 2020 e a politização da vacina no país. De acordo com o professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, a vacina deve ser desenvolvida até o fim do primeiro semestre do próximo ano. O cientista considera que a política externa adotada pelo Brasil é uma ameaça à chegada do imunizante ao país, com a reação de outras nações ao discurso negacionista do governo brasileiro e de restrições à China.
Para Nicolelis, a pressão de setores econômicos contra a política de isolamento social foi determinante para que a pandemia alcançasse a atual dimensão. “As vidas que poderiam ter sido poupadas foram colocadas em segundo plano. Só que sem gente não existe economia. “A ortodoxia econômica está levando a humanidade a um precipício. A pandemia é só um exemplo das fragilidades dos movimentos de crescimento sem limites”, afirma.
O neurocientista acredita que a pandemia só não causou mais estragos no Brasil por causa da eficiência e abrangência do Sistema Único de Saúde (SUS). “O SUS foi o grande herói brasileiro, mas segue sem ser prestigiado como deveria ser”, considera. “Foi uma grande barreira que impediu que a tragédia no Brasil fosse ainda maior”, ressalta, lembrando que países que não têm um sistema público universal, como os Estados Unidos, têm sofrido mais.
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