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Cultura e Entretenimento

Na treva da pandemia e do conservadorismo, MPB4 e Kleiton & Kledir cantam esperança

Publicado em 21/10/2020 12:00 -

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Final dos anos 1970, início dos 1980. O Brasil ainda no meio do caminho para a volta a democracia. Já com seus 15 anos de estrada, o grupo vocal MPB4 tinha apresentado o espetáculo Bons Tempos, Hein?, escrito por Millôr Fernandes. Uma das músicas, Circo de Marionetes, era de dois irmãos gaúchos ainda pouco conhecidos, mas chamava a atenção pela letra contundente. Esse encontro musical se consolidaria no ano seguinte, em 1980, com uma canção que ainda hoje dá identidade ao conjunto e à dupla: Vira Virou. Quarenta anos depois, em tempos também difíceis, eles se juntam para cantar Paz e Amor.

Tanto o MPB4 como os irmãos Kleiton & Kledir lançaram discos naquele 1980, com essa faixa em comum. Quarenta anos e muitas histórias depois, eles se reencontram com uma canção composta sob a angústia da pandemia, mas que acabou saindo leve, como “uma luz no frio da escuridão”, como diz a letra escrita por Kledir.

“O Kleiton me mandou a música, ainda sem letra, e eu comecei a escrever exatamente no meio dessa pandemia”, conta o compositor, em um bate-papo virtual organizado pelo produtor Marcelo Cabanas, que foi ao ar em 23 de setembro. Há muito tempo com o MPB4, Cabanas vem promovendo encontros para contar a história do grupo. Um convidado recente nessas conversas foi Chico Buarque.

Kledir lembra do surgimento da música enviada pelo irmão. “As pessoas estão muito angustiadas, muita gente deprimida. Como se já não bastasse o mundo do jeito que está, com uma onda conservadora por todo lado”, diz. Nesse sentido, sobre o Brasil, segundo ele, nem existe uma palavra que possa definir “o que a gente está experimentando”.

Cético esperançoso

Ele conta que, ao se debruçar sobe a melodia, seu estado de espírito era de ceticismo em relação às possibilidades de mudança – de modo de vida, das pessoas. Ainda assim, mesmo cético, “saiu uma letra cheia de esperança”, que ganhou justamente o título de Paz e Amor.

Kleiton, por sua vez, ao conversar com Miltinho, do MPB4, disse que queria fazer o arranjo da forma que o quarteto quisesse. Mas o parceiro pediu para que ele fizesse o arranjo de vozes da forma que achasse melhor. O compositor afirma que quis, então, fazer “uma pequena homenagem” ao vocalista e arranjador Magro, que morreu em 2012. Dirigido pelo cineasta Tiago Arakilian, amigo dos gaúchos e residente em Paris, o clipe foi feito a partir de gravações dos músicos em seus celulares.

Confira o clipe de Paz e Amor

De Vira Virou a Paz e Amor

Kleiton mora na casa que já foi de Miltinho, no Rio de Janeiro. Kledir conta que o primeiro contato com o MPB4 foi assistindo o grupo na TV, cantando nos festivais dos anos 1960. No festival da V Record de 1967, em que Chico e MPB4 cantam Roda Viva, por exemplo, Kleiton tinha 16 anos e Kledir, 14. “Éramos dois fãs, a gente morava em Pelotas, depois em Porto Alegre.” Com o estouro de Vira Virou, o grupo e a dupla saíram em turnê pelo Brasil. “Partiram para viajar e nos levaram juntos, a tiracolo. Dois guris… A vivência com eles foi uma escola.”

Música de esperança no momento de angústia, Paz e Amor fala de solidariedade. “Essa ideia de amor ao próximo espero que continue”, diz Kledir, talvez um pouco menos cético.


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