19/04/2024 - Edição 540

Campo Grande

Especialistas comentam sobre perspectivas de Campo Grande para os próximos dez anos

Publicado em 26/08/2020 12:00 -

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Na última quarta-feira (26), Campo Grande completou 121 anos de emancipação. Para celebrar a data especial da capital sul-mato-grossense, conversamos com especialistas de saúde, educação, segurança, transporte, meio ambiente e geração de empregos para apontar o que deve mudar nos setores na próxima década, na Cidade Morena.

SAÚDE

De acordo com o Dr. Marcelo Santana Silveira, presidente do Sindicato dos Médicos de MS (SINMED/MS), o grande desafio para a saúde na capital é o investimento na atenção básica, especialmente na saúde da família.

"Saúde é um setor que está em constante transformação. Então com certeza teremos nos próximos dez anos uma melhoria tecnológica muito grande. Ainda assim, o atendimento presencial é muito importante e precisamos olhar com carinho para a atenção básica. Precisamos ter coberturas acima de 90% nessas unidades de saúde e investir nos profissionais, investindo em medicina preventiva, menos onerosa para os cofres públicos e mais segura para a população.

Também vejo em alguns anos a rede pública de saúde de Campo Grande ampliando o atendimento em Unidade de Pronto Atendimento (UPAs) e PSFs, além da criação de um hospital municipal, para ampliarmos leitos hospitalares gerenciados pelo município. Outra medida para melhorarmos o atendimento na capital seria educarmos as crianças com relação ao trânsito para gerar adultos mais conscientes. Muitos acidentes envolvem motoristas mais jovens, e que acabam sobrecarregando os leitos hospitalares de Santa Casa e Hospital Regional, por exemplo".

EDUCAÇÃO

Segundo a doutora em educação Ângela Costa, a principal melhoria de Campo Grande na educação é o acesso das crianças às creches.

"O município é responsável apenas pela educação infantil e os primeiros anos do ensino fundamental. Então o que falta a Campo Grande é cumprir o dever de casa: creche a todas as crianças campo-grandenses. É um direito constitucional da criança, opção dos pais e dever do estado, e que deveria já estar sendo cumprido. Infelizmente temos uma parcela muito pequena de crianças sendo atendidas por escolas de educação infantil. Se o município cumprir com essa obrigação nos próximos anos, isso já vai ser um ganho fantástico social e econômico para a população".

MEIO AMBIENTE

Conforme Alcides Bartolomeu de Faria, biólogo e diretor executivo da ONG Ecoa – Ecologia e Ação, a grande qualidade de Campo Grande no ponto de vista ambiental é ser bem arborizada. A capital, porém, deve melhorar em preservação de microbacias, reciclagem e na mobilidade urbana.

"A arborização de Campo Grande contribui muito para a qualidade de vida. Porém, essa arborização da cidade precisa ser cuidada, já que as árvores são muito idosas, com muitas delas plantadas na década de 70. Outro ponto necessário no meio ambiente da capital é de que cuidemos melhor das suas microbacias, evitando enchentes e protegendo, além do meio ambiente, também as vidas das pessoas.

A mobilidade urbana também é uma questão. Precisamos de mais ciclovias, mais proteção aos pedestres, para as pessoas usarem mais bicicleta como meio de transporte e menos carros, tanto pelo espaço, quanto pela poluição. Mas para isso, precisamos deixar uma cidade segura para pedestres e ciclistas, implementando sinalizações e também conservando as já existentes.

A reciclagem de materiais também é importante, para processar os materiais em indústrias da cidade. Além de retirarmos lixo da cidade, geramos renda e empregos. Todos esses são planos plausíveis de serem executados em dez anos", afirma.

TRANSPORTE

Conforme o especialista em trânsito Carlos Alberto Pereira, três pilares são importantes para melhorarmos o transporte e trânsito na capital: fortalecer ações em bairros e periferias para diminuir a demanda por deslocamentos, investimento e incentivo de transporte em massa ou coletivo e ampliação de fiscalização no tráfego.

"Utilizando as experiências realizadas como base, precisamos atuar fortemente numa descentralização de polos de pessoas e veículos, com escolas, atividades, comerciais e bancárias em bairros e periferias, como uma forma de diminuir a demanda por deslocamentos. O poder público deve induzir para ofertar serviços públicos e privados nesses locais para reduzir a demanda por deslocamentos.

Mas isso tem um limite, e a partir daí necessitamos de outras ações, como transporte em massa. Não apenas o coletivo, mas também transporte realizado por empresas para seus trabalhadores, fortalecimento de transporte escolar e universitário e até mesmo estimulando trabalhadores públicos em transporte de massa em caronas ou vans. Boas experiências com a pandemia, como a redução de deslocamentos, com atividades online, trabalho em home office, também refletem em melhorias na infraestrutura de trânsito.

Ainda falando em transporte de massa, devemos dar continuidade a implantação de corredores e terminais de ônibus, estimulando e integrando uso de modais como ônibus, bicicleta, vans. Seria interessante ter, nesses terminais, estacionamentos para bicicletas, motos, para fazer um terminal intermodal de fato. Por fim, nesse sentido, precisamos buscar estratégias para o poder público subsidiar valores de tarifa para reduzir o valor da passagem, já que a tarifa cara repercute negativamente no uso da população.

Finalizando, devemos também ter controle de acesso de grandes veículos de carga e descarga na área central, acelerando a utilização do anel rodoviário que deve ser inaugurado, para que possamos ter um deslocamento melhor. O ideal é que também tenhamos depósitos às margens do anel viário para não carregarmos a área urbana. Nesse sentido, também precisamos de maior fiscalização para veículos de carga não entrarem na área urbana, ampliando a presença de agentes de operação de tráfego, para, em momentos de pico, intervir na via pública e auxiliar no tráfego.Com isso, podemos ter um transporte melhor na capital nos próximos anos".

SEGURANÇA

Para o advogado e consultor em segurança Edgar Marcon, o principal desafio da capital nos próximos anos é de realizar a integração das forças de segurança.

"O que tem que ser implantando um pouco mais é o auxílio da tecnologia, em termos de câmeras. Acredito que a guarda civil já aponta o caminho certo, mas o contato guarda civil com polícia militar precisa ser mais conjunto. E nos próximos dez anos devemos cada vez mais aproveitarmos da tecnologia para auxiliar os policiais, estendendo elas para os bairros, fora da zona central.

Isso em conjunto com sistemas de vigilância que agreguem todas as forças de segurança, com guarda municipal, polícia militar e polícia civil trabalhando juntos, com certeza teremos uma Campo Grande bem mais segura".

EMPREGO

De acordo com o economista Renato Prado, a capital de Mato Grosso do Sul deve continuar tendo, como principais atividades, os setores de serviços e comércio. "Mesmo com a vinda de indústrias e estabelecimentos agropecuários grandes são setores que tendem a se aprofundar e continuar crescendo. Como o estado não é muito povoado, há uma grande concentração de serviços especializados na capital.

Também creio que Campo Grande, pelos próximos 10 anos, vai ser uma espécie de cidade de passagem de pessoas que estão indo de um lugar para o outro, por estar no centro do estado, e com o crescimento de cidades como Porto Murtinho, por exemplo. A oferta de empregos deve aumentar nos segmentos em que haverá essas demandas.

A parte de empregos em indústrias vai crescer de forma natural, pois temos muitas pessoas aqui, de longe a cidade mais populosa do estado, devendo passar de um milhão de habitantes na próxima década. Com muita demanda de alimentos, produtos, então é natural termos industrialização também, mas o foco continuará sendo em serviços e comércio".


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