23/04/2024 - Edição 540

Eles em Nós

Nossas prioridades: bater no minúsculo e no supremacista branco

Publicado em 19/08/2020 12:00 - Idelber Avelar

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As prioridades aqui são e sempre foram bater no minúsculo e no supremacista branco, eleger Biden-Harris contra o supremacista branco nos EUA em 2020 e eleger alguém que não o minúsculo no Brasil em 2022, já que derrubá-lo antes disso virou utopia.

A prioridade é essa, e é por isso que alguns toques devem ser dados ao pessoal do nosso lado. A premissa desses toques é que, do jeito que as coisas andam em algumas comarcas progressistas do Brasil, a reeleição do minúsculo será facilitada.

Direto ao ponto? Talvez uma pessoa cujo cotidiano não foi substancialmente alterado nos últimos 150 dias (como eu, por exemplo, que sempre passei a vida trancado em casa lendo romances) esteja em posição ligeiramente melhor para perceber que tem uma galera pirando na gritaria, no polemós das redes sociais, no bate-boca e na guerra discursiva, na sinalização de virtude moral e na distribuição de culpas e responsabilidades, em geral, para piorar, sem muita bibliografia.

Conto dois causos; o primeiro aconteceu ontem, o outro há 20 ou 40 dias, não me lembro bem.

Ontem, resolvi ler um texto (progressista) sobre um crime, uma violência terrível que havia sido cometida por uma pessoa que não sei quem é, contra uma pessoa que não sei quem é. Ao fim do segundo parágrafo, o texto já havia me acusado de ser cúmplice ou corresponsável de tantas formas que desisti da leitura. Pensei “uai, peralá, nem sei o que aconteceu, estou tentando me informar”. Larguei o texto.

Algumas dezenas de dias atrás, não sei quantas, o Cristovam Buarque fez a besteira de ir à selva do Twitter e perguntar aberto “onde foi que nós erramos?". Tô nem aí para o Cristovam, mas foi bizarro ver a avalanche de tuítes do tipo: “quando você se aliou aos golpistas,” com aquela certeza que só têm os que estão engatinhando em suas primeiras leituras, e como se a raiz de todos os males do Brasil fosse o que o Cristovam fez em 12 de agosto de 2016. Do dia em que Cristovam foi expulso da UFMG a gritos pelos lulistas, impedido de lançar um livro, claro, os autores das replies não se lembraram.

Quer xingar o seu parente que votou no Bolsonaro ou que votou nulo? Beleza, tenho nada a ver com isso. Mas cada eleitor do Bolsonaro tem uma responsabilidade que é do seguinte tamanho: um cinquenta e sete milhões de avos. Pelamor, considere a possibilidade de consultar um matemático sobre o que é um cinquenta e sete milhões de avos, e depois considere a possibilidade de mergulhar na história brasileira dos últimos 20 anos e ver a responsabilidade de alguns outros LÍDERES POLÍTICOS sobre a catástrofe que nos aconteceu.

A retórica das forças progressistas no Brasil, ainda fortemente hegemonizada pelo lulismo, é uma retórica agressiva, culpabilizadora, sinalizadora de virtude moral e por demais convencida de sua própria superioridade ética, não sustentada pela evidência empírica da história brasileira dos últimos 20 anos.

É o que vejo daqui, mas estou aberto a que alguém me corrija com argumentos se achar que estou errado.

#FREEBRUXO

Vivemos tempos tão absurdos e surreais que o brasileiro mais importante do século XXI ou, pelo menos, o único brasileiro que, por duas vezes seguidas neste século, chegou ao estrelato mundial sendo escolhido o melhor do mundo no que faz, encontra-se PRESO NO PARAGUAI, há mais de cinco meses, e isso já nem é notícia.

Sei que os gremistas o detestam e muitos rubronegros têm um pouco de despeito, mas você não irá a lugar nenhum na compreensão do Brasil do século XXI se você se permitir odiar o Bruxo. O Gaúcho é o puro suco de Brasil: o único cidadão a ser capaz de chegar ao estrelato mundial e, ao mesmo tempo, inventar o crime de falsificação no Paraguai.

Esta é a última foto que temos de Ronaldinho, no saguão do hotel de luxo onde ele se encontra em prisão domiciliar, e segundo o jornal Hoy fazendo umas festinhas de vez em quando. O Gaúcho deve voltar ao Brasil agora, no dia 24, porque os próprios procuradores assim o pediram – manter o Bruxo preso deve estar custando, sei lá, uns 5% do PIB do Paraguai.

Lembremos, então, 2020 como o ano em que o Paraguai fechou fronteiras com o Brasil (e não o contrário!), e essa nem foi a notícia mais bizarra a chegar de Assunção!

#FreeBruxo.

PÃO DE QUEIJO

Vamos dizer uma coisa séria aos co-irmãos, sem nenhum clubismo nem zombaria: não façam isso com o pão de queijo, pelo amor de Deus! Certas coisas têm que ficar da cor que sempre foram.

Vocês se lembram quando o Galo cismou de pintar o manto de Nossa Senhora? O manto de Maria, como sabe qualquer bom católico, é azul. Pintamos o babado de branco e preto e foram uns dois anos de maldição, até pintar de novo por cima, da cor original.

Amigos, eu sei que a segunda divisão deve estar dura, que estamos em pandemia, que deve ser horrível não poder escrever um cheque, que ser conhecido como caloteiro na praça não deve ser agradável, mas …

Azular o pão de queijo não vai resolver o problema! Plmdds, deem-se ao respeito, está ficando muito humilhante.

VIVA MÉXICO!

Vivendo paixão total pelo México no momento. Considerando que estou jantando sozinho, acho que exagerei no pedido né?

Molcajete: camarão, carne de boi, frango grelhado, molho de tomatinhos, arroz, feijão carioquinha batido em tutu, feijão preto batido com tortilhas, linguiça, cilantro e queijo.

Cerveja clara para acompanhar. Bom apetite a quem está jantando tarde no Brasil.

RESPOSTA BEM DADA

O escroto supremacista branco que preside a morte de mais de 170.000 americanos usou os NOVE casos que surgiram na Nova Zelândia para atacar o país. Nove casos! Isso deve ser menos que a subnotificação no meu bairro de New Orleans. Os EUA já ultrapassaram a barreira dos 5 milhões e meio de casos.

A resposta da Primeira-Ministra foi linda e contundente, com 91% de aprovação na sua república. Com vocês, a líder mais popular das nações democráticas neste século, Jacinta Ardern.

Classuda resposta.

POPULISMO E EXTREMA DIREITA

O populismo de extrema-direita do século XXI produz estragos inauditos, sem precedentes. É importante reiterar isso. O que a Presidência dos EUA fez com os correios nos últimos dias é inédito. No Brasil, houve pouca repercussão do fato porque, bem, o Brasil está vivendo seu próprio pesadelo.

Meu papel será publicar alguns lembretes de que o pesadelo estadounidense é determinante para o mundo, e que estamos aqui trabalhando para dar uma boa notícia ao planeta em novembro.

É inaudito que um chefe de um governo democrático acuse as eleições que O GOVERNO DELE MESMO VAI ORGANIZAR de serem fraudadas, baseado na lorota de que os correios, agência que nos EUA é federal, e que portanto é responsabilidade do Presidente da República, supostamente empilharia milhões de cédulas falsas a cada eleição.

Essa “fraude” dos correios é falsa, ela não existe, é uma pura invenção. As suspeitas de mortos votando, ou alguém votando duas vezes, totalizam 70 ou 80 casos em meio a centenas de milhões de cédulas contadas nas últimas eleições dos EUA. É algo da ordem dos 0,0004%. Não existe.

Existem, sim, legislações draconianas que desenham mapas eleitorais de forma a IMPEDIR que certas pessoas votem—em geral, pessoas pobres e negras. É por isso que muitos de nós, nos EUA, pegamos carros para ir a outros estados ajudar outras pessoas a votar. Sim, às vezes, para votar, você precisa de um carro. Especialmente se você for negro ou negra.

E o sujeito está lá, no pódio da Casa Branca, na coletiva que deveria ser sobre Covid, inventando a ficção de que há “fraude dos correios”, para criar um clima de chutar o tabuleiro e melar o jogo se perder (o que é o mais provável). Inacreditavelmente, o cara já cortou as verbas dos correios com essa ficção.

Não percam de vista o inaudito da situação: o Presidente do país mais poderoso do mundo falsamente acusa a agência de correios que é responsabilidade sua de fraudar eleições, como forma de disseminar o caos, a incerteza e a confusão.

Continuamos aqui, trabalhando para que o supremacista branco tenha em novembro uma derrota tão humilhante que torne impossível qualquer iniciativa sua de melar o jogo. Seria uma boa ajuda para a luta de todos nós no/pelo Brasil.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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