19/03/2024 - Edição 540

Entrevista

A volatilidade das classes médias que, pelos seus privilégios, elegem e depois se escandalizam com Bolsonaro

Publicado em 29/06/2020 12:00 -

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Para o professor Adalberto Cardoso, quando se vão analisar classes sociais brasileiras atualmente, é preciso, primeiro, levar duas coisas em conta: a classe média é múltipla – daí classes médias – e não foi ela quem elegeu Jair Bolsonaro sozinha. “Dos pouco mais de 55% dos votos que ele teve no segundo turno, 20 pontos percentuais vieram das classes médias e altas. Isto é, 36% de todos os votos no capitão vieram dessas classes. Isso quer dizer que os outros 64%, a grande maioria, vieram das classes populares, rurais e urbanas. Mas sem o voto das classes médias ele não teria sido eleito”, detalha, na entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.

Assim, é possível concluir que nem toda classe média aderiu ao bolsonarismo. Para Adalberto, tão interessante quanto compreender quem é essa classe média que aderiu é observar por que aderiu. É um grupo mais de classe média alta, conservadora e com forte anti-igualitarismo, que logo se converte em antipetismo. “Parte expressiva das classes médias conservadoras votaram em Bolsonaro guiadas por seu antipetismo. Era a alternativa disponível, e pagou para ver”, completa. Além disso, esse grupo que não é dado à igualdade insiste em manter seu posto diante de outros segmentos. “As classes baixas interessam como servidoras das classes médias. São garçons, atendentes, serviçais domésticos etc. Gente que deveria estar ali para servi-las, não para ocupar o mesmo banco que elas no avião, tomar o mesmo vinho, comer a mesma comida”, destaca.

No entanto, parte desse grupo tão significativo para a vitória de Bolsonaro tem considerado sua aposta alta demais. “A parcela que o elegeu apenas para afirmar seu antipetismo ficou, primeiro, desconfiada com a nomeação de ministros olavistas radicais”, observa. Ele acrescenta que o grupo ficou ainda mais temeroso “com o descalabro da gestão da Amazônia. Então, ficou assustada com os maus modos do presidente, ‘passável’ se ficasse apenas nisso. Depois, sentiu-se traída com os episódios envolvendo a demissão de Sérgio Moro. Por fim, amedrontada com a gestão genocida da pandemia da covid-19”, conclui.

Adalberto Cardoso é doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo – USP e professor e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Suas pesquisas incluem temas da sociologia do trabalho, desigualdades sociais e teoria social. Entre suas publicações, destacamos À beira do abismo: uma sociologia política do bolsonarismo (Rio de Janeiro: Amazon, 2020), A construção da sociedade do trabalho no Brasil: uma investigação sobre a persistência secular das desigualdades (Rio de Janeiro: FGV, 2010), As normas e os fatos: desenho e desempenho das instituições de regulação do mercado de trabalho no Brasil (Rio de Janeiro: FGV 2007), com Telma Lage, e Classes médias e política no Brasil (Rio de Janeiro: FGV, 2020).

 

Como compreender a classe média brasileira?

Em primeiro lugar, devemos usar sempre “classes médias”, no plural, porque não se trata de um grupo homogêneo. Defino classes médias não pela renda das famílias, como é usual no debate brasileiro sobre a “classe C”, por exemplo, mas pela posição das pessoas (homens e mulheres) na divisão do trabalho.

A classe média baixa é composta por ocupações não manuais de rotina (trabalhadores de escritório pouco qualificados), vendedores de loja, caixas de banco etc. A classe média intermediária inclui ocupações como serviços técnicos especializados, professores do ensino médio, profissionais intermediários da saúde e da educação etc. E a classe média alta inclui profissionais liberais assalariados das empresas, trabalhadores com diploma superior em funções superiores no serviço público e nas empresas (exceto altos gerentes) etc. Esses grupos estão claramente apartados das classes populares urbanas e rurais, e também do operariado, e estão apartados das classes superiores (proprietários empregadores, altos gerentes de empresas, profissionais liberais donos de seu negócio etc.).

Os diferentes estratos médios têm oportunidades de vida muito distintas. A classe média baixa é mais vulnerável em termos de renda e estabilidade no emprego, estando mais sujeita às intempéries do mercado de trabalho. Por isso luta com unhas e dentes para manter o que conquista e transferir melhores condições aos filhos. A classe média intermediária é mais estável em suas posições, parte considerável é composta de servidores públicos ou trabalhadores em serviços sociais, mesmo que privados. São também trabalhadores qualificados da indústria e dos serviços (como contramestres e pequenos gerentes). Consegue poupar, tem vida cultural mais intensa etc. E a classe média alta tem propriedade, a maioria tem ensino superior, cultiva estilos de vida mais exclusivos do que as outras duas camadas, viaja mais frequentemente ao exterior e tem mais segurança socioeconômica, horizontes mais estáveis etc.

No Brasil, quando se fala em classe média no singular, em geral se está referindo a esse estrato das classe médias, mas ele é apenas uma parcela, e minoritária.

Quais as questões de fundo que orientam a visão política das classes médias brasileiras?

As classes médias são plurais, e assim também sua orientação política. Elas compõem as fileiras das diversas correntes de opinião que cortam a sociedade brasileira. Mas é possível distinguir pelo menos duas posições bem marcadas, ou dois polos, que dividem e opõem os segmentos mais mobilizados das classes médias. Primeiro, o que Flávio Pierucci chamou, em seus estudos sobre a nova direita paulista dos anos 1980, de anti-igualitarismo. Ele inclui adesão a uma ética burguesa do trabalho que tem na meritocracia seu elemento estruturante.

Julgando-se, em geral, “vencedora” pelos próprios méritos, é competitiva e contrária a qualquer política pública de promoção da igualdade, ou de redução “artificial” das desigualdades, por meio, por exemplo, de políticas públicas de transferência de renda, ações afirmativas de qualquer tipo e outras que visem a mitigar injustiças. A aversão à corrupção tem a mesma matriz anti-igualitarista e meritocrática: o Estado é visto como perdulário, os servidores públicos como preguiçosos e/ou corruptos por natureza, que não chegaram ali por méritos próprios, e uma vez no emprego, fingem que trabalham.

Por isso valoriza-se o mercado, o empreendedorismo, o investimento em si mesmos etc. Uma visão de mundo conservadora politicamente, antiestatista, americanizada. Pode se associar (mas isso não é necessário) ao conservadorismo nos costumes, mas parcela significativa não vê problemas no homossexualismo, no feminismo, no uso controlado de drogas, alguns podem mesmo apoiar o aborto. Logo, o conservadorismo político não necessariamente se choca com certo liberalismo no campo dos costumes.

No outro polo temos o oposto: o igualitarismo como marca mais importante, uma ética do trabalho de tipo solidarista, que valoriza a ação coletiva, a organização para a luta por direitos e interesses, o apoio às ações do Estado para redução de desigualdades, incluindo as ações afirmativas para negros e vulneráveis. Boa parte é composta por servidores públicos ou os tem entre os familiares, ou são pessoas do mundo da cultura e da vida intelectual, com forte valorização das coisas nacionais (sem necessariamente serem nacionalistas), como a música, o cinema, a literatura e mesmo um mítico “povo brasileiro” que as políticas públicas deveriam amparar.

São menos ou mais estatistas, em todo caso nunca antiestatistas, e veem com olhar crítico o polo oposto e sua meritocracia, que teria elementos de má-fé, já que não são poucos os que herdaram dos pais a posição que ostentam. Mesmo a aversão à corrupção não resistiria ao menor escrutínio sobre as práticas cotidianas que, competitivas, usam de meios nem sempre consistentes com o mérito para garantir privilégios e proteger os filhos das intempéries da vida.

O primeiro polo compreende majoritariamente a classe média alta, e o segundo, a classe média intermediária e também parte da alta (mundo da cultura, intelectuais, serviço público qualificado). Entre esses dois encontram-se os outros segmentos das classes médias, sendo que é mais provável encontrar nas classes médias baixas o conservadorismo moral (nos costumes), o apoio a políticas violentas de repressão à criminalidade, à pena de morte, e ao mesmo tempo um individualismo que Robert Castel chamou de “regressivo”, fruto não do investimento do indivíduo no autoaperfeiçoamento, mas da perda de laços sociais em razão da precariedade das condições de vida.

Esses segmentos, junto com parcela expressiva da classe média alta conservadora, foi compor as bases do bolsonarismo, que, contudo, arrebanhou adeptos em todas as camadas médias, com exceção obviamente do polo mais à esquerda, ou solidarista.

Qual a sua análise acerca dos movimentos da classe média brasileira na ascensão e queda de governos petistas?

No livro mostro longamente que a fissura no âmago das classes médias entre antipetistas (isto é, os que queriam o PT fora do governo federal) e anti-antipetistas (os que se opunham ao impeachment de Dilma Rousseff, sem necessariamente serem petistas, sendo portanto contrários ao outro polo) estruturou o político como campo de disputa entre posições não apenas excludentes, mas irreconciliáveis. A polarização que teve início em junho de 2013, aprofundou-se na campanha eleitoral de 2014 e se radicalizou nas mobilizações pró e contra o governo em 2015 e 2016, não é compreensível sem menção ao processo de construção de identidade das classes médias, que se deu tendo por referência o exercício do poder de Estado, e opôs as duas visões de mundo que mencionei.

Os antipetistas eram também anti-igualitaristas, ou contrários às políticas de promoção dos mais pobres durante os governos do PT, visão de mundo traduzida, ou travestida na linguagem da anticorrupção. Os anti-antipetistas recusaram a simbologia trazida às ruas pelos antipetistas (a camisa da CBF, o pixuleco de Lula, o pato amarelo da Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], as imensas bandeiras pelo impeachment), e defendiam sobretudo as regras da convivência democrática, mas defendiam também os legados político (grande avanço na defesa dos direitos humanos, aprofundamento dos direitos do trabalho, democratização do processo decisório) e socioeconômico do governo (em particular a redução da miséria e da pobreza e as políticas de promoção dos mais pobres).

Esses campos se constituíram como irreconciliáveis, o outro visto como o inimigo a destruir, não como um adversário com direitos à participação no jogo democrático. A imprensa empresarial, as redes sociais e seus algoritmos, e também o sistema judiciário tiveram grande importância nesse desfecho, mas ele não é compreensível sem menção aos processos de construção de identidades desses segmentos antagônicos das classes médias.

Jair Bolsonaro foi eleito pela classe média brasileira? Por quê?

No meu livro À beira do abismo: uma sociologia política do bolsonarismo, mostro que, dos pouco mais de 55% dos votos que ele teve no segundo turno, 20 pontos percentuais vieram das classes médias e altas. Isto é, 36% de todos os votos no capitão reformado do Exército vieram dessas classes. Isso quer dizer que os outros 64%, a grande maioria, vieram das classes populares, rurais e urbanas. Mas sem o voto das classes médias ele não teria sido eleito. Bastaria que 6 pontos percentuais dos votos dessas classes fossem para Haddad para sagrar o petista vencedor. No livro sobre o bolsonarismo, mostro que o voto das classes médias em Bolsonaro decorreu:

(i) do antipetismo, que é uma síndrome de significados, incluindo a corrupção, o anti-igualitarismo, o ressentimento pelo “abandono” das classes médias pelo PT (a renda dessas classes caiu enquanto a das classes populares cresceu muito), dentre outros;

(ii) da afinidade de segmentos dessas classes com o discurso violento de Bolsonaro, em particular sua necropolítica (armar a população, descriminalizar o assassinato de “bandidos”);

(iii) da afinidade de outros segmentos com o conservadorismo nos costumes, de fundo religioso ou não (contra o aborto, condenação do homossexualismo etc.).

Como compreender a resistência de setores da classe média a temas como as reduções das desigualdades, ascensão social dos mais pobres e reformas sociais com ampliação de proteção assistencial?

Muito já foi respondido, mas acrescentaria o seguinte: as classes médias altas (que mais resistiram às políticas de promoção dos mais pobres) têm sua identidade social fortemente marcada pela ideia de distinção. Ao longo de dois séculos foram protegendo suas posições da competição no mercado de trabalho, por exemplo fechando-o por meio do reconhecimento das profissões de nível superior. Engenharia e direito foram reconhecidas ainda no século XIX, e a medicina foi regulamentada em 1922. Mas odontologia foi reconhecida em 1951, mesmo ano da economia. Os arquitetos lutaram por décadas para ter sua profissão reconhecida e com isso sair das asas da engenharia, e isso ocorreu em 2010.

O reconhecimento das profissões de nível superior é apenas um aspecto da luta das classes médias por garantir e ampliar suas posições, assegurando renda diferenciada, estilos de vida menos ou mais exclusivos, padrões de consumo distintivos etc. A ascensão social dos mais pobres, sua ocupação de shopping centers, aeroportos, resorts, destinos internacionais etc., e também universidades, solapou esse elemento distintivo, constitutivo da identidade mesma das classes médias mais abastadas, cuja relação com os mais pobres é de dominação: as classes baixas interessam como servidoras das classes médias. São garçons, atendentes, serviçais domésticos etc. Gente que deveria estar ali para servi-las, não para ocupar o mesmo banco que elas no avião, tomar o mesmo vinho, comer a mesma comida. Pode-se nomear essa atitude de racismo de classe, ou preconceito contra pobre.

No que consiste a relação entre o bolsonarismo e a classe média brasileira?

Parte expressiva das classes médias conservadoras votaram em Bolsonaro guiadas por seu antipetismo. Era a alternativa disponível, e pagou para ver. A ida de Sérgio Moro para o Ministério da Segurança Pública contemplou esse segmento de classe, para quem o então ministro, que prendeu Lula e contribuiu para alijar o PT do poder no golpe parlamentar de 2016, é um herói.

Antiestatista e anti-igualitarista, esse segmento apoiou também as medidas de destruição do Estado encetadas por Paulo Guedes e seu neoliberalismo radical; e de enfraquecimento e/ou criminalização dos centros de reprodução de lideranças de esquerda (como os sindicatos e os movimentos sociais). Parecia, pois, que a aposta havia sido premiada. Mas o governo não disse a que veio, como respondo em seguida.

A classe média brasileira desembarcou do bolsonarismo? Por quê?

Adalberto Cardoso – Uma parte dela sim. A parcela que o elegeu apenas para afirmar seu antipetismo (e que pesquisas recentes vêm mostrando que o fariam de novo se em 2022 tivermos novamente Bolsonaro e um/a petista no segundo turno) ficou, primeiro, desconfiada com a nomeação de ministros olavistas radicais (terraplanistas, antiglobalistas). Essa parcela das classes médias é cosmopolita, tem propriedades em Miami ou Paris, fala línguas, tem um verniz de civilização, obviamente manchado por seu racismo de classe e sua aversão aos mais pobres. Depois, temerosa com o descalabro da gestão da Amazônia. Então, ficou assustada com os maus modos do presidente, “passável” se ficasse apenas nisso. Depois, sentiu-se traída com os episódios envolvendo a demissão de Sérgio Moro. Por fim, amedrontada com a gestão genocida da pandemia da covid-19.

Bolsonaro mantém a fidelidade de parcelas das classes médias que culpam a mídia e as esquerdas por seu mau desempenho (“não deixam o homem governar”), e agora culpam a pandemia. O presidente tem um exército de militantes que inunda cotidianamente o mundo virtual com interpretações divergentes dos fatos, chame-se de pós-verdade ou de fake news, e essa guerra de versões convence parte substancial de seus apoiadores de que há um complô contra ele na sociedade organizada e na opinião pública. Logo, ele é visto como vítima do “sistema” que decidiu combater e destruir. Essa base de apoio tende a permanecer com ele, não importam as intempéries.

Qual o compromisso da classe média brasileira com a democracia, em seu conceito pleno?

A parcela progressista, ou mais à esquerda, é majoritariamente democrática (uma parcela minoritária prega a revolução socialista). A democracia é valorizada em si mesma e por si mesma, tanto em termos formais (como o melhor mecanismo de escolha dos governantes) quanto substantivos (promoção do bem-estar da maioria).

A parcela conservadora não tem compromisso senão com seu próprio bem-estar, mesmo que às expensas do bem-estar da maioria. Portanto, dá pouco valor aos aspectos substantivos da democracia, a menos que em seu próprio favor, e se os aspectos formais levam à escolha de governantes mais alinhados com os mais pobres, ou com o projeto contra o qual se opõe tenazmente, está e sempre esteve disposta a se bater contra as regras democráticas.

A partir de 1945, o Brasil viveu processo de lenta mas persistente incorporação eleitoral dos mais pobres, à medida que se alfabetizavam (o voto do analfabeto só foi permitido a partir de emenda constitucional de 1985). Na primeira eleição competitiva no Brasil, a de 1945, o voto das classes médias urbanas foi decisivo. Mas já em 1950 os trabalhadores urbanos levaram Getúlio Vargas de volta ao poder pelo voto direto.

A cada nova eleição o voto popular foi se tornando mais decisivo, e as classes médias, antes senhoras do jogo político em aliança com as oligarquias agrárias, viram-se reféns das “massas incultas” e manipuláveis por líderes “populistas”. No livro Classes médias e política no Brasil, faço uma crítica ao termo populismo, mostrando que ele qualificou, no Brasil, políticos que, com o acirramento da competição eleitoral (inexistente antes de 1945), passaram a buscar o voto popular e formular políticas públicas que favoreciam parcelas empobrecidas e/ou trabalhadoras.

Era um termo, nesse sentido, demofóbico, elitista e preconceituoso em relação às massas que eram acolhidas no jogo eleitoral. Essas classes médias conservadoras e elitistas apoiaram vivamente o golpe de 1964, que colocou no poder uma elite militar com a qual se identificaram.

Por fim, há um segmento pragmático no âmbito das classes médias, que apoia a democracia se ela lhe traz segurança socioeconômica: emprego, renda, crescimento, esperança de melhoria de vida. Essa parcela não é propriamente democrática, já que a democracia é associada ao governante de plantão, seu sucesso ou fracasso em garantir segurança socioeconômica. É arregimentável, nesse sentido, por discursos de direita, mas também de esquerda, já que a credibilidade de um ou outro discurso está muito rente à conjuntura e ao desejo de mudar o rumo atual das coisas, se for julgado ruim.

O que é possível construir como alternativa, dada a ameaça autoritária de nosso tempo? Qual o papel da classe média nessa construção?

Não há alternativa fora da democracia. Qualquer caminho que se queira construir deve partir dessa premissa básica. Neste momento, estão surgindo movimentos de unidade de todas as forças democráticas, ou melhor, antifascistas, na tentativa de constituir uma frente ampla para salvar o país da catástrofe que virá das crises sanitária, ecológica, econômica e política. Tirar do poder o atual presidente e sua trupe alucinada é absolutamente crucial para que possamos iniciar o processo de reconstrução do país, que vai ser longo, doloroso e letal para uma parcela da população.

As classes médias democráticas precisam estar nesse movimento. Sua participação é sempre crucial, tendo em vista seu enorme poder de influência na opinião pública, nos círculos de tomada de decisão, nos núcleos formuladores de interpretações sobre o país, enfim, na construção da inteligibilidade de nosso processo histórico. Mesmo as classes médias conservadoras, historicamente avessas à democracia, precisam compreender que está em jogo algo muito mais profundo: está em jogo a nossa existência como nação civilizada. Jair Bolsonaro é um agente anticivilizatório, e não estaria no poder não fosse o voto de parcela expressiva das classes médias. A alternativa é esta: tirar Bolsonaro do poder. E convocar novas eleições, agora sem casuísmos para excluir quem quer que seja da disputa.


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