20/04/2024 - Edição 540

Saúde

Estudo indica que imunidade contra covid-19 pode durar apenas três meses

Publicado em 26/06/2020 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Um estudo comandado por cientistas chineses apontou que os anticorpos desenvolvidos pelo corpo humano contra a covid-19 após uma infecção podem durar apenas dois ou três meses. Dessa forma, a imunidade contra a doença pode não ter um efeito de longo prazo, de acordo com informações publicadas no periódico científico Nature Medicine e reproduzidas no último dia 22 pela imprensa chinesa.

Tal quadro também pode vir a afetar as possibilidades de aplicação das novas vacinas em desenvolvimento e levanta dúvidas sobre estratégias como a dos "passaportes de imunidade" para pessoas que já se curaram.

Além disso, o estudo indicou que pacientes assintomáticos infectados pelo Sars-Cov-2 podem ter uma resposta imunológica mais fraca do que aqueles que desenvolveram os sintomas, que incluem febre e tosse.

O estudo da Universidade de Medicina de Chongqing, no sudoeste da China, intitulado "Avaliação clínica e imunológica de infecções assintomáticas por Sars-Cov-2", comparou os resultados da detecção de anticorpos no sangue de 37 pacientes sintomáticos e 37 assintomáticos, sendo homens e mulheres com idades entre 8 e 75 anos.

O estudo constatou que a maioria dos infectados produziu anticorpos para o novo coronavírus, especificamente IgG e IgM. Este último, o primeiro anticorpo que o organismo produz para combater uma nova infecção, apareceu geralmente em primeiro e com a menor duração.

Por sua vez, o anticorpo IgG, que aparece mais tarde e dura mais tempo, é o anticorpo mais abundante no corpo e fornece proteção contra infecções bacterianas e virais, mas pode levar tempo para se formar após uma infecção.

O estudo revelou que, dentro de três a quatro semanas após a infecção, em sua fase aguda, o grupo de pacientes assintomáticos apresentava uma taxa de IgM de 62,2% e uma taxa de IgG de 81,1%. No grupo com sintomas, a IgM foi de 78,4% e a IgG foi de 83,8%.

Assim, o estudo conclui que as infecções assintomáticas apresentam níveis mais baixos de anticorpos que os casos confirmados, embora sejam semelhantes nos dois grupos.

No entanto, o nível de anticorpos da maioria das pessoas infectadas mostrou uma diminuição significativa de dois a três meses após a infecção.

Os níveis de anticorpos IgG em 93,3% do grupo assintomático e 96,8% do grupo sintomático começaram a diminuir precocemente no período de reabilitação, ou seja, oito semanas após a alta.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório científico em 24 de abril no qual assegurou que "não há evidências" que possam provar que os anticorpos produzidos após a infecção pelo coronavírus possam proteger o organismo de uma segunda infecção.

No entanto, o professor de virologia Jin Dong-Yan, da Universidade de Hong Kong – que não participou do grupo de pesquisa, mas que analisou as conclusões –, disse que o estudo não nega a possibilidade de outras partes do sistema imunológico poderem oferecer proteção.

"A descoberta neste estudo não significa que o céu está desabando", disse Dong-Yan, enfatizando ainda que o número de pacientes estudados foi pequeno.

Taxa de infectados seria de 43% para imunidade de rebanho, diz estudo

Matemáticos da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, e da Universidade de Estocolmo, na Suécia, concluíram que 43% da população precisa ser infectada pelo novo coronavírus para atingir imunidade de rebanho. A pesquisa, publicada no último dia 23 na Science, se baseia em um modelo que categoriza as pessoas considerando sua idade e nível de atividade social.

A imunidade de rebanho ocorre quando um certo número de pessoas em uma comunidade se tornam imunes a uma infecção, reduzindo sua propagação. Isso acontece quando grande parte da população já teve a doença ou foi vacinada, diminuindo a cadeia de transmissão do patógeno.

A pesquisa adota uma nova abordagem matemática para estimar a taxa de imunidade de rebanho de uma população a uma doença infecciosa, como a atual pandemia de Covid-19. Este nível é definido como a fração da população que deve se tornar imune para que a propagação da doença diminua, permitindo que todas as medidas preventivas sejam abandonadas, como o distanciamento social.

Em estudos anteriores, outros cientistas concluíram que a imunidade de rebanho para o novo coronavírus só seria atingida quando 60% das pessoas fossem infectadas. Essa taxa, por sua vez, é baseada em pesquisas sobre outras doenças e consideram o nível de pessoas que devem ser vacinadas.

A nova pesquisa pondera, entretanto, que a mesma taxa não pode ser considerada em circunstâncias como a pandemia de Covid-19, pois ainda não existe uma vacina para a doença. "Ao adotar essa nova abordagem matemática para estimar o nível de imunidade de rebanho a ser atingido, descobrimos que ela pode ser reduzida para 43% e que essa redução se deve principalmente ao nível de atividade e não à estrutura etária [da população]", explicou Frank Ball, pesquisador da Universidade de Nottingham e coautor da pesquisa, comunicado.

Segundo Ball, quanto mais ativo socialmente alguém é, maior sua probabilidade de ser infectado e de infectar outras pessoas. Logo, a taxa da imunidade do rebanho é mais baixa quando a a disseminação da doença se dá naturalmente, e não pela vacinação. "Nossas descobertas têm consequências potenciais para a atual pandemia de Covid-19", explicou o especialista. "Ela sugere que a variação individual (por exemplo, no nível de atividade de cada um) é algo importante a ser incluído nos modelos que orientam as políticas públicas."

Febre, tosse, fadiga: estudo confirma sintomas mais comuns da Covid-19

Um estudo conduzido por universidades do Reino Unido e da Bélgica confirma os sintomas mais comuns da Covid-19: tosse persistante, febre, fadiga, perda do olfato e dificuldade para respirar. Publicado no Plos One no último dia 23, o artigo ratifica os sinais já listados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde o começo da pandemia. "O estudo dá confiança ao fato de termos acertado na identificação dos principais sintomas e pode ajudar a determinar quem deve fazer o teste", afirma Ryckie Wade, cirurgião e pesquisador clínico da Universidade de Leeds, no Reino Unido, que supervisionou a pesquisa.

Para chegar à lista de sintomas, os pesquisadores revisaram 148 estudos e identificaram os mais comuns entre 24.410 pacientes de nove países: China, Singapura, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Itália, Reino Unido, Países Baixos e Estados Unidos.

No geral, 78% dos pacientes apresentaram febre, 57% tiveram tosse, 31% sofreram de fadiga, 25% perderam o olfato e 23% relataram dificuldade para respirar. Ao analisar os dados por país, os pesqusiadores encontraram diferentes porcentagens em cada região. Em Singapura, por exemplo, 72% apresentaram febre, enquanto apenas 32% dos coreanos disseram ter esse sintoma. Quando o assunto é tosse, os pacientes da Coreia do Sul também relataram menos: apenas 18%, sendo que nos Países Baixos a porcentagem de infectados com tosse chegou a 76%. Segundo os especialistas, essas variações se devem, em parte, à forma como os dados foram coletados em cada país.

Entre os pacientes que precisaram de tratamento hospitalar, 19% foram atendidos em uma unidade de terapia intensiva (UTI), 17% necessitaram ajuda não invasiva para respirar, 9% precisaram de ventilação invasiva e 2% usaram oxigenação por membrana extracorporal (um "pulmão artificial").

Os pesquisadores também reconhecem que uma grande porção dos infectados pelo novo coronavírus não apresentou sintoma algum.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *