26/04/2024 - Edição 540

Poder

Ministro do TSE ironiza Bolsonaro: ‘Não confia em urna e reclama da corda!’

Publicado em 19/06/2020 12:00 -

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No jogo de gato e rato que trava com o Judiciário, Bolsonaro decidiu voltar suas baterias para o Tribunal Superior Eleitoral. Um dos ministros da Corte eleitoral ironizou as críticas do presidente ao julgamento de processo que pede a cassação da chapa que formou com o vice- Hamilton Mourão.

"O presidente Bolsonaro vê fraude até nas urnas em que ele prevaleceu", disse o magistrado, entre risos. "Imagine quantos pedidos de cassação do mandato da chapa adversária ele teria protocolado no TSE se saísse derrotado! É curioso ver que alguém que não confia nas urnas queira reclamar da corda esticada."

Ao comentar um dos pedidos de cassação da chapa que formou com o vice Hamilton Mourão, Bolsonaro considerou "inadmissível" que o processo não tenha sido arquivado. Afirmou que a continuidade do julgamento alimenta uma crise política "que não existe".

Julga-se neste caso um ataque hacker a uma página de mulheres anti-bolsonaristas, em 2018. "Me julgar por uma página que ficou fora do ar por menos de 24 horas para cassar a chapa Bolsonaro-Mourão? É inadmissível isso aí", afirmou Bolsonaro. "Isso, no meu entender, é começar a esticar a corda."

Ao jornalista Josias de Souza, o ministro do TSE fez alusão a um discurso proferido por Bolsonaro, em 9 de março, para a comunidade brasileira em Miami. Nesse encontro, o presidente disse: "Eu acredito que, pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu tinha sido, eu fui eleito no primeiro turno, mas no meu entender teve fraude. E nós temos não apenas palavra, nós temos comprovado, brevemente eu quero mostrar."

Decorridos mais de três meses, não há vestígio das "provas" que Bolsonaro se comprometera a apresentar.

O ministro do TSE arrematou: "O presidente pode ficar tranquilo com a Justiça Eleitoral. Não vamos puxar cordas, iremos virar páginas de processos. A chance de realizarmos julgamento político é zero. Teremos com o presidente uma responsabilidade que ele jamais teve com a Justiça Eleitoral. Decerto não encontraremos provas que justifiquem cassação."

O ministro Luís Roberto Barroso afirmou também que não acredita em um golpe de Estado por parte dos militares. No entanto, o magistrado criticou o posicionamento público dos militares na atual gestão.

“Nada disso aconteceu no governo Fernando Henrique, nos dois governos Lula, no governo Dilma, no governo Temer. Portanto, não vou fazer de conta que não está acontecendo alguma coisa. Mas acho que a gente tem que colocar essa questão dentro de uma perspectiva. Não acho que se possa dizer que as Forças Armadas estão no governo, porque isso não existe”, afirmou.

“Acho que as Forças Armadas, nesses 32 anos de democracia, têm tido comportamento exemplar, de modo que eu, verdadeiramente, não temo golpe”, completou Barroso.

O ministro foi questionado sobre o julgamento, pelo TSE, de ações que pedem a cassação da chapa formada pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo vice Hamilton Mourão.

“Onde eu estiver nesta vida, se faz a coisa certa. De modo que, no Tribunal Superior Eleitoral, não há nenhum risco de o presidente ser perseguido nem há nenhum risco de ele ser protegido. Nós faremos o que é certo dentro do direito. Somos atores institucionais, não atores políticos. O que tiver que ser feito, vai ser feito”, alertou.

Barroso ainda revelou ter sido procurado por uma pessoa do governo para saber se o presidente deveria se preocupar com o julgamento no TSE. “Só se tiver feito uma coisa errada, eu respondi”, contou.

Desajustados

O ministro Luís Roberto Barroso afirmou que os bolsonaristas que atacaram o prédio da corte são “desajustados”, mas “poucos e irrelevantes”.

“É importante circunscrever esse tipo de manifestação ao que eu tenho chamado de um gueto pré-iluminista, pessoas que têm muita dificuldade de aceitar o outro, de aceitar a diversidade, de aceitar a pluralidade, mas é um grupo reduzido”, afirmou Barroso.

“Alvejar simbolicamente com petardos, ainda que de artifício, o Supremo é uma imagem muito feia e muito triste de uma incapacidade de viver a vida em democrática. Vi com tristeza, com preocupação simbólica, mas com pequena preocupação real. Acho que são muito pouco e são irrelevantes.”

“Quando eu digo pré-iluminista, o iluminismo significa razão, ciência, humanismo, processo social, capacidade de aceitar o outro, a compreensão de que a verdade não tem todo, de que a vida democrática é feita de argumentos, e não do uso de violência e de ameaça. Por tanto, acho que são pessoas desajustadas e em quantidade irrisória”, completou.


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