20/04/2024 - Edição 540

Auau Miau

Motoristas de aplicativo trocam passageiros por pets

Publicado em 16/06/2020 12:00 -

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"Olá, aceita uma água? E um petisco?"

Sentado no banco de trás, o labrador Bartô encosta a cabeça no ombro do motorista e dá algumas lambidas enquanto retorna para casa, em vídeo enviado à reportagem.

Desde o início da pandemia de coronavírus, o motorista de aplicativos José Carlos dos Santos Júnior, de 47 anos, deixou de transportar prioritariamente passageiros para levar cães a pet-shops ou creches.

Outros passaram a entregar refeições, fazer compras para pessoas que não podem sair de casa e realizar entregas em geral. Tudo para tentar compensar a queda na oferta e faturamento das corridas tradicionais.

Conversamos com diversos motoristas de aplicativos que trabalham na Grande São Paulo e Rio de Janeiro para saber o que eles fizeram para continuar levando dinheiro para casa. Alguns voltaram para suas áreas originais de trabalho, mas a maioria continuou nos aplicativos.

O motorista José Júnior disse que a mudança entre deixar de transportar pessoas para transportar cães é gradual e ainda não ocorreu completamente. A ideia surgiu quando o rendimento despencou com as corridas da Uber no Rio de Janeiro.

"Eu recebia uma viagem antes de terminar a outra e trabalhava em sequência o dia todo por conta da minha nota ser alta na plataforma e eu ter preferência. Mas aeroporto e rodoviária fecharam, e a vantagem de furar a fila virtual se tornou irrelevante. Eu ainda instalei o aplicativo da 99, mas meu rendimento continuou caindo", relata o motorista.

Amigos indicaram que ele também fizesse entregas. Ele estudou todos, mas escolheu o PetDriver.

"Pelo fato de eu ter cachorro em casa, eu pensei que aquele era o meu perfil. Fiz uma entrevista na empresa, um curso online e depois fui aprovado para começar a trabalhar", afirmou.

Ele ganhou capa para o banco, uma focinheira e produtos de limpeza para higienização dos bancos.

"É outra vida. Posso dizer que até agora 100% dos usuários do aplicativo são alto astral. As viagens também são curtas e muito divertidas. Às vezes, passo o caminho recebendo umas lambidas porque o cachorro geralmente está feliz porque sabe que está indo para o clubinho ou parquinho. Quando precisam ir ao veterinário, precisam estar acompanhados dos donos", afirmou.

'Prefiro cachorro'

José Carlos dos Santos Júnior também conta que as viagens com pets são bem mais lucrativas em relação ao transporte de passageiros por aplicativo. Enquanto o valor de uma viagem mínima para levar passageiros é de R$ 6, para levar um cão é de R$ 17.

"Os dias que mais tem viagem são sábado e domingo. Quando eu faço cinco viagens, ganho em média três vezes mais que na Uber. A maior parte das viagens são agendadas e no horário que eu coloco que estou disponível", conta Júnior.

A plataforma PetDriver afirma que possui mais de 700 motoristas cadastrados — a maior parte são mulheres — que atendem 30 mil pessoas cadastradas nas regiões metropolitanas do Rio e de São Paulo.

Durante a pandemia, eles dizem ter registrado um aumento de 35% das corridas para levar pets para tomar banho e tosar.

Se pudesse escolher, Júnior disse que trabalharia apenas com o aplicativo de pets.

"A chance de encontrar o dono de um cachorro bêbado é zero. É a mesma possibilidade de o dono de um pet vomitar no seu carro. Também não existe dono de pet que vai querer falar de política e te roubar no fim da viagem. Ou cinco pessoas querendo entrar no carro. São coisas que você vai eliminando. Quero ficar livre disso".


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