Entrevista
Publicado em 11/06/2020 12:00 -
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O deputado federal Fábio Trad (PSD-MS) considera que a democracia brasileira está sob ameaça. Em sua análise, o presidente Jair Bolsonaro e seu governo flertam com o autoritarismo. Para ele, a militarização do poder é um sinal de desespero político e “desperta sérias suspeitas de que, ao formar um governo de militares, está se blindando para aventuras inconstitucionais”.
O Brasil vive uma crise democrática sem precedentes, com ameaças constantes ao estado democrático de direito. O senhor teme a quebra da ordem democrática?
Temo. Fosse apenas um ato isolado do contexto, não teria receio. Ocorre que a análise da conjuntura me leva a acreditar que existe sim uma forte tendência governamental para a ruptura. A questão é saber como as forças comprometidas com a ordem jurídica estabelecida devem agir.
A democracia representativa está em crise?
Está, mas ela precisa resistir e ser fortalecida. O sufrágio eleitoral é o caminho e a sociedade terá que aprender com seus erros nas escolhas dos representados. Jamais abolir ou enfraquecer a representatividade, porque a democracia direta, embora desejável e útil em alguns casos, não protege os direitos das minorias e não tem como ser operada na rotina política.
O país vive a maior polarização política desde a redemocratização. Como o senhor analisa este fato?
O mundo está polarizado. Aliás, quase sempre o foi, mas agora – como em algumas outras vezes – a polarização está carregada de ódio e potencializada pela densidade das redes sociais que a todos submete e aproxima. Creio que o caminho é lutar para civilizar o debate, demarcando limites infranqueáveis para que a política seja expressão coletiva de consensos e dissensos. Para além da democracia, qualquer discurso ou postura política deve ser combatida e renegada.
Quais suas expectativas para a eleição deste ano no que se refere a participação do eleitorado?
Tudo dependerá do comportamento dos números de infectados pela covid-19. Esta é uma incógnita que nos angustia a todos. Teremos que ter muito discernimento para decidir o melhor caminho: garantir eleições livres e seguras sem ampliar chances de contaminação dos eleitores. Um desafio e tanto.
Quais os maiores desafios do poder público diante da pandemia?
Esta pandemia fulminou o discurso do estado mínimo. Fulminou. É preciso reconhecer que se não fosse o SUS, estaríamos hoje em situação calamitosa com corpos insepultos em casas e ruas. Por isso, o desafio maior é mudar a política econômica para fortalecer o Estado e os serviços públicos em especial aos mais vulneráveis.
Como o senhor analisa a dicotomia entre a manutenção da vida e da economia durante a pandemia?
Não vejo dicotomia, pois nenhuma economia prospera com mortes se multiplicando. Trata-se de um falso dilema artificialmente criado por setores para quem vidas valem tanto quanto moedas.
Pesquisadores indicam que o Brasil ainda não atingiu o pico da covid-19. Que providências o poder público pode tomar para se preparar para o pior diante das dificuldades de pessoal e de EPI´s?
Acho que é tarde. Não me parece mais possível evitar. E a culpa é exclusiva de Jair Bolsonaro. Ele dividiu o país na hora que mais precisava de União. Ele esculhambou as regras do jogo no combate à pandemia, fazendo papel de menino mimado que, por não ter ganho a partida, resolve desorganizar tudo. Uma postura pusilânime e inconsequente. Então é tarde. Milhares de mortes poderiam ser evitadas. A esperança está na sorte. Sim, na sorte. E que gestores estaduais e municipais enxuguem gelo com certa eficiência.
O pós-pandemia será uma época de dificuldades. Como o senhor analisa o porvir econômico e político que terá início após o achatamento da curva?
Será penoso, mas creio que em tempo menor que o estimado para a recuperação. O país tem muita força. E isto nos alavancará.
Considerações finais.
Ao agradecer o espaço, congratulo-me com o jornalista Victor Barone saudando toda a imprensa brasileira, hoje hostilizada por um governo hostil a democracia.
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