29/03/2024 - Edição 540

Eles em Nós

O Racismo

Publicado em 27/05/2020 12:00 - Idelber Avelar

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Quanto mais os protestos contra o racismo se disseminam, mais óbvio fica o racismo arraigado nas polícias dos EUA.

O que aconteceu com a equipe da CNN que cobria o amanhecer dos prédios queimados foi inacreditável. Compunham o time Omar Jimenez, que tinha microfone, identificação da CNN e uma máscara, e Josh Campbell, que também tinha microfone, identificação da CNN e uma máscara.

A única diferença entre os dois era a cor da pele.

Omar Jimenez foi abordado pela polícia, respondeu de forma extremamente educada, obedeceu o que lhe foi ordenado e mesmo assim FOI PRESO.

Josh Campbell, branco, identificou-se com a mesma carteirinha da CNN com que Jimenez havia se identificado e recebeu um "Ok, bem-vindo, você pode ficar aqui".

É descarado, eles nem disfarçam. É um projeto de ataque, acosso e violência incessante contra a população afro-americana mesmo. Um nojo total.

PESOS E MEDIDAS

Manifestantes brancos armados até os dentes invadindo o parlamento de Michigan para impor violação da quarentena: ok

Manifestantes negros pacíficos e desarmados, protestando contra um assassinato policial com tortura: presos.

QUEM É DEREK M. CHAUVIN?

* Policial de Minneapolis que assassinou GEORGE FLOYD em 25 de maio de 2020.

* A técnica de sujeição usada por Chauvin para assassinar Floyd NÃO ERA parte do treinamento do departamento de polícia.

* é representado por Tom Kelly, o mesmo advogado que conseguiu a absolvição do policial Jeronimo Yanez, que assassinou Philando Castille.

* foi suspenso em 2011 por disparos inapropriados contra o nativo americano do Alaska Leroy Martinez.

* atirou em Ira Latrell Toles, jovem negro desarmado de 21 anos em 2008.

* foi um dos policiais que assassinaram Wayne Reyes, homem latino, com 42 disparos, 16 dos quais perfuraram seu corpo.

* com outro policial, causou a morte de três pessoas ao perseguir um veículo em 2005, segundo relato das Comunidades Unidas Contra a Brutalidade Policial.

* há 12 queixas formais de brutalidade policial contra Cauvin no banco de dados da Secretaria de Conduta Policial de Minneapolis. Todas essas queixas estão listadas como “arquivadas”, “não públicas” e “sem disciplinamento”.

CINEMA

É bom voltar a uma grande obra do passado que a gente não conhecia, né? Acabo de ver, encantado, "The Shawshank Redemption", filme clássico de 1994 com Tim Robbins e Morgan Freeman, mas que eu não havia visto.

Perdi quase todo o cinema dos anos 1990, porque passei a década lendo umas 12h-16h por dia para criar uma biblioteca pessoal na memória, fazer tese e escrever meu primeiro livro. Com a exceção de alguns diretores que eu seguia obsessivamente (Atom Egoyan, Hal Hartley, Wim Wenders), não vi quase nada quando saiu. Com o tempo, fui recuperando a estrada perdida, mas ainda falta muito

[EDIT: depois de 250 comentários, vi que não estou tão mal na fita; devo ter visto uns 45 dos 60 filmes mais votados].

Mas continuo sempre pegando dicas com cinéfilos–é coisa que gosto muito de fazer. Abro este espaço, então, para quem quiser me sugerir filmes dessa época aí, velhos-pero-no-mucho, dos 1980s até o começo do século.

Sei que há muitas pérolas que não vi ainda. E aí monta-se uma coleção aberta de sugestões também, para quem quiser passar e recolher títulos para ver.

UM CLÁSSICO

Revivendo um clássico do zapistão de 2019 e que parte da Twitter-Zuckerlândia está descobrindo hoje. Com vocês, a melhor análise de conjuntura: "Ninguém vai falar mal do Ésse Tê Éfe".

O MINÚSCULO

Mais de 400 mil casos. Mais de 25 mil mortos e imensa subnotificação. E a preocupação do Minúsculo é apenas com seu mandato.

PORRADA

Agora traduzida ao português, a porrada monumental que levou Bolsonaro ontem no Financial Times. A cacetada é da lavra de Gideon Rachman, multi-premiado jornalista britânico, sem dúvida um dos maiores da ilha.

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"Em uma visita ao Brasil no ano passado, conversei com uma financista importante sobre os paralelos entre Donald Trump e Jair Bolsonaro.

'Eles são muito parecidos', ela disse, antes de acrescentar: 'Mas Bolsonaro é muito mais estúpido'. A resposta me chocou, porque o presidente dos Estados Unidos não costuma ser visto como exemplo de um grande intelecto. Mas minha amiga financista insistiu: 'Veja', ela disse. 'Trump dirigiu um negócio importante. Bolsonaro jamais passou do posto de capitão no exército'.

[…]

Não surgirá unidade nacional enquanto Bolsonaro for presidente. Ao modo populista clássico, promover a divisão política o ajuda a prosperar. O Brasil já é um país politicamente polarizado, no qual abundam teorias de conspiração. As mortes e desemprego causados pela Covid-19 são exacerbados pela liderança de Bolsonaro. Mas, perversamente, um desastre de saúde e econômico pode criar um clima ainda mais hospitaleiro para a político do medo e da irracionalidade."

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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