29/03/2024 - Edição 540

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Publicado em 29/04/2020 12:00 - Victor Barone

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“E daí? Quer que eu faça o quê?”. Jair Bolsonaro chocou o país com essa mesmíssima reação após o incêndio do Museu Nacional, quando concorria à presidência. Já no governo, também lançou a indagação quando confrontado com dados que indicavam o aumento das queimadas na Amazônia. Mas nunca essas palavras tiveram um tom de deboche tão pesado quanto ontem, quando ele se referiu às pessoas que morreram por covid-19 no Brasil – e, por tabela, às milhares que ainda vão morrer. As palavras foram ditas em frente ao Palácio da Alvorada, em referência ao (novo) recorde de óbitos diários registrados no país.

No vídeo, ouvem-se risadas com “piada” que o presidente fez a seguir: “Eu sou Messias, mas não faço milagre”. Depois de ser informado de que sua entrevista estava sendo transmitida ao vivo, ele tentou parecer menos cruel, mas, convenhamos, nem assim foi bom: “Lamento a situação que nós atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, que a grande parte eram pessoas idosas. Mas é a vida”.

O escárnio é ainda maior porque, desde que a pandemia começou, tudo o que modelos matemáticos, especialistas de saúde pública, a OMS e até jornalistas fazem justamente é indicar sobre o que ele e outros chefes de Estado deveriam fazer. Bolsonaro prosseguiu sua “argumentação” ontem explicando que “o vírus vai atingir 70% da população, infelizmente é a realidade”. Mesmo que seja essa a realidade (o que ninguém tem certeza ainda), já estamos cansados de saber que 70% da população procurando atendimento de uma vez só é muito, muito diferente do que de forma escalonada.

Parece que, na cabeça do presidente, o melhor é que esses 70% (147 milhões de brasileiros) se infectem logo, que deixemos mesmo morrer na fila do hospital quem poderia ser salvo em condições adequadas e que tudo acabe o quanto antes porque ‘o Brasil não pode parar’. Ele ele voltou a dizer que está preocupado com a economia: “O próprio pessoal da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) de hoje disse que tem que ser retomado”. Antes, havia conversado com empresários da Firjan por videoconferência e garantiu a eles: “Hoje mesmo conversei com o ministro da Saúde e ele é favorável, vai emitir um parecer de modo que se volte com o futebol, com portões fechados (…). É, da nossa parte, o que nós podemos fazer, nós estamos colaborando com pareceres de modo que o comércio volte a funcionar o mais rápido possível”. Como já dissemos por aqui, o primeiro protocolo de reabertura no Brasil não foi feito pelo governo federal, mas pela Fiesp.

Por Outra Saúde

Numa tentativa de corrigir o estrago de seu “e daí?”, o presidente Jair Bolsonaro divulgou uma outra parte de sua fala se solidarizando com as vítimas. Só que essa fala solidária foi dita após saber que estava ao vivo pela imprensa. Na porta do Palácio do Alvorada, Bolsonaro reforçou que “vocês não vão botar no meu colo essa conta”. “Não adianta a imprensa querer colocar na minha conta essas questões que não cabem a mim. O Supremo (Tribunal Federal) decidiu que quem decide essas questões (sobre restrição) são governadores e prefeitos. Eu desde o início me preocupei com vidas e empregos”, afirmou. O presidente está preocupado em ser responsabilizado pela pandemia e não em ajudar a salvar os brasileiros.

Por Equipe BR Político

ANIMADOR DE CERCADINHO

Jair Bolsonaro abdicou de sua condição de presidente para assumir as funções de animador do cercadinho do Palácio da Alvorada. Como presidente, Bolsonaro deveria liderar o combate à crise do coronavírus. Como animador de cercadinho, ele se dedica a criar crises laterais que dificultam o gerenciamento da crise principal. A ação do animador potencializa os efeitos da inação do presidente. Hoje, o país divide suas atenções entre o cercadinho de Brasília e os cemitérios. Logo, os cadáveres serão tantos que as pessoas começarão a perceber de forma mais intensa a falta que faz um presidente.

Antigamente, a criação de crises era atribuição de oposicionistas. Agora, Bolsonaro se encarrega de informar que ele próprio esteve na bica de atear na conjuntura uma crise institucional. No seu esforço para animar o cercadinho, Bolsonaro transformou-se em caçador de bruxas. Um caçador de bruxas não precisa acreditar em nada. Nem em bruxas. A bruxa é uma caça abundante, porque qualquer coisa é uma bruxa. Basta o caçador de bruxas apontar o dedo e dizer: "É uma bruxa".

Para Bolsonaro, a temporada de caça às bruxas dura o ano inteiro. Mas algumas fases são mais propícias. Quando o caçador de bruxas se sente ameaçado, seu dedo endurece naturalmente. Ora aponta para os governadores, ora para a cúpula do Congresso. No momento, Bolsonaro enxergou uma bruxa no ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Alega que esfregará na cara da bruxa um recurso contra a liminar que o impediu de colocar um amigo da encrencada família Bolsonaro no comando da Polícia Federal. Isso é conversa mole.

A nomeação do amigão da família foi desfeita. E não se pode recorrer para manter um ato administrativo que já não existe. Afronta-se a lógica porque Alexandre de Moraes tornou-se uma bruxa conveniente. Ele cuida no Supremo de dois inquéritos que roçam em Bolsonaro e nos filhos dele. Sabendo que pode virar caça, Bolsonaro se apressa em apontar para a bruxa do Supremo. Avalia que ninguém dará crédito às conclusões penais de uma bruxa. O problema de todo esse teatro de horrores é o seguinte: à medida que a pilha e corpos aumenta, as pessoas começam a se perguntar: o que faz o presidente? E Bolsonaro: "Não tenho nada a ver com nada. Estou caçando bruxas." O caçador logo terá de se abaixar. O tiroteio contra ele será intenso.

POPULARIDADE

A última pesquisa do Datafolha mostrou que segue estável o número de brasileiros que apoiam Jair Bolsonaro, considerando seu governo bom ou ótimo. Mas, ao longo da pandemia, o perfil dos bolsonaristas está mudando. Segundo a Folha, parte dos mais ricos e escolarizados se afastou da base do presidente, enquanto entraram nela pessoas mais pobres e mais dependentes das políticas públicas. Justo os mais prejudicados pela crise do coronavírus. Em relação à pesquisa de quatro meses atrás, no segmento com renda maior que cinco salários mínimos a aprovação do presidente caiu 11%, enquanto cresceu 8% entre pessoas com até dois salários mínimos, assim como entre trabalhadores autônomos e informais que ganham até três salários.

IMPEACHMENT

O Datafolha ouviu 1,5 mil brasileiros. Segundo o instituto de pesquisa, a abertura de um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro tem o apoio de 45% da população e é reprovada por 48%. O percentual de pessoas que desejam a renúncia do presidente subiu em relação à pesquisa anterior, feita no início de abril. Antes, 37% desejavam a renúncia. Agora, são 46%. Para 52%, a versão apresentada por Sergio Moro, de que o presidente quer intervir na Polícia Federal por motivos escusos, é a verdadeira. Apenas 20% disseram acreditar na explicação (se é que podemos caracterizar assim) dada por Bolsonaro. Um número grande – 19% – não sabe em quem acreditar

Mas o fato é que a base de apoio bolsonarista, ao que tudo indica, continua estável na comparação com dezembro passado, quando ninguém sonhava com pandemia. Lá atrás, 30% avaliavam Bolsonaro com “bom ou ótimo” – agora são 33%. O número daqueles que o acham “ruim ou péssimo” também ficou na margem de erro da pesquisa, de três pontos: eram 38% em dezembro, são 36% agora.  

Para Collor, impeachment virá.

NA FOGUEIRA

Reportagem da Piauí conta os detalhes da campanha bolsonarista contra os 27 cientistas brasileiros que conduziram um estudo que apontou os riscos da cloroquina – perigos que, desde a semana passada, levaram os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA a desaconselharem sua prescrição no tratamento a pessoas com covid-19. Voltando, o repórter Allan de Abreu recupera a linha do tempo dos ataques: em 11 de abril, os resultados da pesquisa brasileira foram divulgados num repositório de artigos. No dia 12, o chefe da divisão de farmacologia clínica da Universidade de Toronto citou o estudo em uma reportagem do New York Times. A matéria chamou atenção de uma ativista da direita norte-americana, Michael Coudrey, que  acusou os cientistas brasileiros. Isso serviu para que os bolsonaristas fossem atrás dos perfis de Facebook dos pesquisadores e o site Conexão Política publicasse suas fotos e alguns prints em que declaravam apoio aos candidatos de oposição Fernando Haddad e Ciro Gomes. A “notícia” foi replicada por Eduardo Bolsonaro. O deputado federal pediu investigação. No dia 22, três procuradores federais ligados ao bolsonarismo abriram um inquérito civil com 32 perguntas aos cientistas brasileiros, que no período já haviam sido ameaçados de morte. O coordenador do estudo, Marcus Lacerda, agora anda com escolta policial. “Desde o fim da ditadura militar, nenhum cientista passou por isso no Brasil”, alertou o infectologista.

E a produção de cloroquina pelo Exército está a toda. O Laboratório Químico militar produzia 250 mil comprimidos a cada dois anos. No último mês e meio, já foram produzidas 1,2 milhão de cápsulas. A instituição divulgou que pode ampliar ainda mais a produção para 1 milhão de comprimidos por semana. Tudo – a pedido do Ministério da Saúde, influenciado pelo presidente Jair Bolsonaro – e sem respaldo da ciência.

CONFUSÃO

A desnomeação de Alexandre Ramagem para o posto de diretor-geral da Polícia Federal, nas pegadas da decisão do Supremo Tribunal Federal, serve de moldura para um período de 13 dias marcantes —13 dias que não deveriam ter acontecido. Nesse período, foram praticados atos que pioraram um governo que já é ruim. Afastaram-se do governo dois ministros populares: Henrique Mandetta, da Saúde; e Sergio Moro, da Justiça. Ambos realizavam um trabalho bem avaliado pela clientela. Mandetta e Moro foram substituídos por personagens que estariam mais bem-postos se continuassem exercendo suas atividades anteriores. Como consultor da área de Saúde, o oncologista Nelson Teich não estaria submetendo o Brasil ao vexame de assistir à movimentação de um ministro sem norte em meio a uma guerra sanitária que já produziu mais de 5 mil cadáveres. "E daí?", pergunta o presidente. Como Advogado-Geral da União, o doutor André Mendonça não viveria o constrangimento de enfiar em sua biografia o título de ministro da Justiça de meia-tigela, sem o controle da cumbuca da Polícia Federal.

O ideal seria que todos os atos que o Planalto enviou para o Diário Oficial nos últimos 13 dias fossem desfeitos. Mas não há como reverter certas tolices. E mesmo a sandice desfeita por uma liminar do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, pode ser ressuscitada, pois Jair Bolsonaro disse que não abandonou o "sonho" de acomodar Ramagem, o amigo dos filhos investigados, na chefia da Polícia Federal. Por uma questão de protocolo, a confusão é chamada de presidente. Afinal, a confusão foi eleita por 57,7 milhões de eleitores. Mas o fato de todos chamarem a confusão de presidente não faz de Bolsonaro nada além de um personagem confuso. Nas últimas duas semanas, o Brasil foi presidido pela confusão. O presidente fez opção preferencial pela confusão. Confundindo general com generalidade, recusou conselhos das fardas que o cercam. Confundindo presidente com divindade, atropelou o interesse público. Confundindo obsessão com legalidade, violou a Constituição. Confundindo cargo com propriedade, Bolsonaro acha que pode fazer o que bem entende. Não pode.

Por Josias de Souza

MAIS FAKES

O presidente Jair Bolsonaro acusou a Organização Mundial da Saúde (OMS) de incentivar masturbação e a homossexualidade entre crianças. Bolsonaro publicou uma mensagem sobre o assunto no Facebook, mas depois a apagou. "Essa é a Organização Mundial da Saúde (OMS) que muitos dizem que eu devo seguir no caso do coronavírus", afirmou. A entidade prega o isolamento social como medida mais eficaz na prevenção à covid-19. Recomendação fortemente criticada pelo presidente brasileiro. "Deveríamos então seguir também diretrizes para políticas educacionais?", questionou.

Segundo ele, a OMS faz a seguinte observação sobre a prática da masturbação em crianças de zero a quatro anos: "Satisfação e prazer ao tocar o próprio corpo (masturbação); expressar suas necessidades e desejos por exemplo, no contexto de 'brincar de médico'; as crianças têm sentimento sexuais mesmo na primeira infância", escreveu, sem citar a fonte utilizada em seus comentários.

Há um guia publicado pelo Centro Federal de Educação em Saúde da Alemanha, em conjunto com o escritório europeu da OMS. O documento não é dirigido às crianças, mas aos pais, com o intuito de ajudá-los na educação dos filhos. De acordo com o texto das duas entidades, crianças de dois e três anos são curiosas em relação aos seus próprios corpos e passam a ter noção do que é ser menino ou menina.

A mensagem foi apagada depois que alguns usuários do Facebook classificaram as informações do presidente como fake news. Este não é o primeiro ataque feito pelo presidente contra a OMS. As críticas também têm sido dirigidas ao seu diretor-presidente, Tedros Ghebreyesus. O presidente deturpou falas de Ghebreyesus para embasar seu discurso contra o distanciamento social em ao menos dois momentos para tentar desqualificar o discurso da organização em favor do isolamento social.

O NOVO NAVEGANTE ESTÁ À DERIVA

Durou mais de cinco horas a audiência do ministro da Saúde Nelson Teich com os senadores ontem, feita por videoconferência. Convidado a prestar esclarecimentos sobre as ações da Pasta em meio à pandemia do coronavírus, desde o início da conversa ele foi pressionado pelos parlamentares a deixar clara a orientação sobre isolamento social.

A pressão não surtiu muito efeito. Teich disse que não podia oferecer respostas simples a perguntas complexas… Mais uma vez citou a intenção de alterar a diretriz atual, orientando o isolamento só para as regiões mais críticas e só para algumas pessoas, como idosos, casos confirmados e aqueles que tenham tido contato com doentes. “Ficar em casa é genérico demais. Ficar em casa vai ser a melhor opção para algumas pessoas, não para todas. Vamos trabalhar isso de forma mais específica”, afirmou, sem citar o já mal-afamado termo “isolamento vertical”.

“Estou estarrecido. Com todo respeito, mas acho que é uma dubiedade muito séria. Por favor, seja firme e claro nessa posição. Dê o recado à nação como líder da Saúde no país. Não pode haver dubiedade, especialmente quando o presidente da República está dando sinais contrários”, disparou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Kátia Abreu (PP-TO) também engrossou: “Não estou satisfeita com as suas respostas. Respeito seu currículo, sua história, mas sinceramente eu quero saber: isolamento ou não isolamento? Se o senhor for defender o não isolamento, temos respiradores para atender a todos que vão precisar? O senhor sabe o que fazer? Se não sabe, vamos seguir com o isolamento”. Teich tirou o corpo fora: “O Ministério nunca se posicionou para saída do distanciamento. Tem que ficar muito claro. Nunca”, afirmou.

Mentira, não é. Só faltou dizer, evidentemente, que esse foi o ponto central na discórdia entre Bolsonaro e o defenestrado ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, e que os sinais enviados pelo presidente nesse sentido para os estados e municípios – e, pior, para a população – não poderiam ser mais diretos. Teich, é óbvio, não quis comentar as falas e atitudes de Bolsonaro, mas lamentou os números. “A gente sofre com as vidas que estão sendo perdidas. A gente não é indiferente às mortes das pessoas”, garantiu, completando: “Não vou discutir aqui o comportamento, mas eu posso dizer que ele está preocupado com as pessoas e com a sociedade”. Estamos vendo…

O ministro admitiuque não faz ideia de quando será o pico de casos do coronavírus no país. Não tinha mesmo como ser diferente, já que inexistem informações precisas sobre o número de infectados e de mortos, tornando nebuloso o cálculo da taxa de infecção. “Não sabemos qual o percentual da sociedade acometida pela doença, quantos são assintomáticos, e se essas pessoas transmitem tanto quanto as mais graves. Os testes que a gente faz não permitem hoje saber essa realidade. Sem esse conhecimento, estamos literalmente navegando às cegas, essa é a verdade”, afirmou.

Teich disse ainda que está discutindo apenas os “critérios para que haja uma flexibilização do momento certo” e que “é importante que já tenha um planejamento prévio quando isso acontecer”. Não é que seja errado planejar saídas do isolamento. Na verdade tem que haver planejamento mesmo, ou não há a menor chance de dar certo. O que ainda não ficou claro – e que bem já poderia ter sido adiantado pelo ministro – é se as diretrizes que ele pretende anunciar em breve vão exigir que se tenha esse tal “conhecimento” real sobre a curva de contágio no país antes que se possa tirar a reabertura do papel. Ou se, ao contrário, estados e cidades deverão tomar essa decisão a partir dos seus precários registros (como alguns já vêm fazendo). Além do mais, não deixa de ser estarrecedor que a energia do Ministério da Saúde esteja sendo dispendida nesse tipo planejamento enquanto as mortes no país seguem numa escalada monumental.

PREOCUPANTE

Em péssimo momento, o governo federal decidiu adiar para 2021 a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados, que estabelece regras para que empresas e o poder público usem e compartilhem nossos dados pessoais. Ela começaria a valer agora no meio de ano. No meio da pandemia, quando vemos vários países se apoiando em informações geradas por aplicativos para conter o coronavírus, seria importantíssimo ter essa lei protegendo a população; aqui no Brasil, estados e municípios já fizeram parcerias com empresas para monitorar a localização das pessoas. O Congresso vinha conversando há tempos sobre esse adiamento. Mas a decisão acabou sendo arbitrária: veio por uma medida provisória assinada ontem por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes.

CHACRA E O TERRAPLANISTA

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi às redes sociais para atacar o comentarista da GloboNews, Guga Chacra, que o chamou de “pior chanceler da história” após comparar o distanciamento social em meio à pandemia a campos de concentração nazistas.

“Ou Guga Chacra leu meus textos e não entendeu (portanto é um analfabeto funcional) ou criticou sem ler (portanto é um preguiçoso) ou leu e distorceu (portanto é um mau-caráter). Se tivesse lido, entendido e fosse honesto, não diria tanta asneira. Pior comentarista da história”, escreveu Araújo.

Neste mesmo texto em que cita a comparação do isolamento a campos de concentração, o ministro alerta sobre um “plano comunista”, o qual ele chama de “comunavírus”, de apropriação da pandemia do Covid-19 para “subverter a democracia liberal”.

Em resposta aos ataques de Ernesto Araújo, Chacra lembra que o ministro também foi criticado pela Confederação Israelita do Brasil (Conib) e que deve a ela uma retratação pelo insulto às vítimas do holocausto.

“Caro ministro, obrigado pela leitura. Críticas ao meu trabalho são bem vindas e lido bem com elas. E o Sr já fez a retratação demandada pela Conib (Confederação Israelita do Brasil), mais importante entidade judaica brasileira? Eles interpretaram o texto como eu”, escreveu o jornalista.

GENTE DE BEM 1

Diagnosticado com Covid-19, o apresentador bolsonarista da Rede TV, Sikêra Jr., deu uma entrevista ao vivo de sua casa para o programa “Alerta Nacional” para comentar sobre seu estado de saúde. Emocionado, o apresentador chorou e disse que errou ao subestimar a doença.  “Não subestimem a doença, não façam o que eu fiz. É mais sério do que eu imaginava, se cuidem. Não vou voltar tão cedo, não vou colocar em risco os meus colegas, a emissora inteira”, disse Sikêra Jr., que foi contra e até chegou a ironizar o isolamento social.

GENTE DE BEM 2

Um vídeo do filho 04 do presidente Jair Bolsonaro, Jair Renan, passou a circular nas redes sociais. Nele, o jovem repete as palavras do pai e afirma que a pandemia do coronavírus é apenas uma invenção da mídia para “trancar as pessoas dentro de casa” e que a Covid-19 é “só uma gripezinha”.  Chamar a doença de “gripezinha” e “histeria” foi uma estratégia adotada pelo presidente logo no início do surto no Brasil para evitar a implementação do isolamento social. Na época, no entanto, o país já tinha um número elevado de pessoas infectadas e anunciava seus primeiros mortos pela doença. “Que pandemia, mano? Isso aí é história da mídia para trancar vocês em casa, para achar que o mundo tá acabando. É só uma gripezinha, irmão. Peguei, passou. Prefiro morrer tossindo do que morrer transando”, diz o 04 no vídeo.

Jair Renan virou piada nas redes sociais na última semana depois que o presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer, em seu discurso após a demissão do ex-ministro Sergio Moro, que o filho “saiu com metade do condomínio” Vivendas da Barra, no Rio, e que não se lembra de ter namorado a filha de Ronnie Lessa. O ex-PM é um dos principais envolvidos na morte da vereadora Marielle Franco.

FRASES DA SEMANA

“Faça a coisa certa, sempre”. (Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça. Dita por ele três vezes ao se despedir do cargo, a frase está em cartazes e faixas que saúdam sua volta a Curitiba)

“A crise é da saúde. Não pode alguém achar, no momento em que fomos baleados, caímos no chão, tá uma confusão danada e temos que ajudar a saúde, alguém vem correndo, bate a nossa carteira e sai correndo. Isso não vai acontecer.” (Paulo Guedes, ministro da Economia)

“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre“. (Jair Messias Bolsonaro, presidente da República, no dia em que o Brasil ultrapassou a China em número de mortos por coronavírus 

“Meu Deus do céu. Isso é liberdade de expressão. Vocês deveriam ser os primeiros a ser contra a CPI das Fake News. O tempo todo o objetivo da CPI é me desgastar”. (Jair Bolsonaro, para quem notícia falsa e livre manifestação de pensamento são a mesma coisa)  

“Tenho visto uma campanha de fake news nas redes sociais e em grupos de whatsapp para me desqualificar. Não me preocupo; já passei por isso durante e depois da Lava Jato. Verdade acima de tudo. Fazer a coisa certa acima de todos.” (Sérgio Moro, ex-ministro) 

“Ele quer uma Polícia Federal que chame de sua, a seu serviço, a serviço das ações criminosas dele e de sua família”. (Randolfe Rodrigues, líder da oposição no Senado)

Com informações de Leonardo Sakamoto, Josias de Souza, Ricardo Noblat, Reinaldo Azavedo, Carta Capital, Outra Saúde, Sul 21, o Globo, BR-18, Folha de SP, Fórum, Veja, Dora Kramer, BRPolítico, Vera Magalhães, Marcelo de Moraes e Radar

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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