27/04/2024 - Edição 540

Poder

Fake news sobre coronavírus também mata

Publicado em 17/04/2020 12:00 -

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O deputado federal e ex-ministro da Cidadania Osmar Terra (MDB-RS) é o parlamentar que mais difundiu desinformação sobre o novo coronavírus no Twitter desde que a pandemia chegou ao Brasil, segundo levantamento do Radar Aos Fatos.

Assim como o presidente Jair Bolsonaro, Terra também é crítico às medidas de isolamento social, orientação recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e defende o uso da hidroxicloroquina no combate ao novo coronavírus, mesmo sem eficácia científica reconhecida.

A análise considerou os 1.500 tweets sobre o assunto com mais interações (ou seja, retweets e curtidas) publicados por deputados e senadores entre 20 de fevereiro e 8 de abril. No total, foram encontradas 159 postagens com desinformação veiculadas por 22 parlamentares e que somavam cerca de 1,58 milhão de interações no período.

Terra foi responsável por 38 desses posts (23,9%) e 522.485 dessas interações (32,9%). Vale lembrar que o Twitter aplicou uma sanção a um post de Terra que contrariava as orientações sanitárias, na qual ele dizia que a quarentena aumenta o número de casos do coronavírus.

Chama atenção a politização da discussão, com 19 dos 22 parlamentares que publicaram tweets com desinformação sendo da base do governo Bolsonaro (de partidos como PSL, PSC, Republicanos, Podemos, PSD e MDB). Veja abaixo a distribuição:

Osmar Terra usou a tática do presidente e chamou a imprensa de esquerdista ao ser confrontado com os dados. “Na opinião ‘isenta’ das publicações esquerdistas?”, ironizou Terra após um usuário do Twitter questioná-lo pelas frequentes informações inverídicas que o deputado tem repercutido.

O fato é que Terra, que já foi punido pelo Twitter por suas postagens carentes de evidência científica, mentiu sobre o isolamento social na Holanda e distorceu dados da Itália.

Terra já errou a previsão inicial que havia feito sobre a doença, quando disse que o número de mortos seria inferior ao da gripe no ano passado. Foram 1.109 mortes de gripe em todo o último ano e já são 1.736 óbitos provocados pelo coronavírus em menos de dois meses.

O parlamentar ainda compara com frequência a pandemia de Covid-19 com a de H1N1, em 2009, alegando que o novo coronavírus é muito mais brando. Durante o surto de 2009, foram registrados 2.160 óbitos no Brasil entre abril e janeiro do ano seguinte. 58.178 pessoas foram infectadas no país.

Oposição também desinforma

Entre a oposição, aparecem no levantamento três deputados do PT: Margarida Salomão (MG), Paulo Pimenta (RS) e Bohn Gass (RS). Duas peças de desinformação tiveram engajamento relevante: a de que Cuba havia desenvolvido uma vacina para o novo coronavírus – o que não aconteceu –, e a de que o presidente americano Donald Trump seria sócio de uma fabricante de hidroxicloroquina. Os conteúdos enganosos foram compartilhados pelos deputados petistas.

Fake mata

Respondemos uma consulta de uma pessoa que acreditava que gargarejo com soda cáustica diluída em água curava Covid-19. Não é só coronavírus. Fake news sobre coronavírus também mata."

Raísa Guimarães, coordenadora estadual do setor de saúde do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, também lembra de outros boatos menos perigosos que teve que desmentir desde que o MTST lançou um serviço, via WhatsApp, para tirar dúvidas e orientar a população mais vulnerável sobre o coronavírus.

"Alguns haviam feito bochechos com vinagre, Coca-Cola, chá quente e água morna, pois receberam, pelas redes, informações de supostos médicos que receitavam esses absurdos para prevenir a infecção", relata.

Inicialmente, o "Zap da Saúde" foi criado para atender aos trabalhadores do movimento acampados na capital paulista, em locais como o Grajaú, M'Boi Mirim, Paraisópolis, Cidade Tiradentes. Acabou dando tão certo que, de boca em boca, se espalhou.

São 15 profissionais de saúde voluntários, dentre os quais seis médicos, que tiram dúvidas a respeito da Covid-19, informam sobre formas de prevenção à doença e orientam sobre o momento de ir a Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou pronto-socorros de hospitais. O serviço começou a funcionar há três semanas e tem feito atendimentos por mensagens de texto ou ligações.

"Através da nossa orientação, muitos têm evitado ir a hospitais com sintomas leves. Registramos todos os que nos procuram e passamos a fazer um monitoramento, ligando para verificar a evolução do seu quadro", afirma a médica ginecologista Mayara Abdul Khalek Mendonça, que participa da iniciativa.

Também já ocorreu o contrário, casos em que as pessoas acreditavam não precisarem ir ao hospital, mas que o serviço recomendou que fossem imediatamente.

O Zap da Saúde está precisando de doações de máscaras e álcool gel para distribuir a quem apresenta sintomas de Covid-19 e precisa ficar em casa, em quarentena. Como o público-alvo é mais vulnerável, eles não contam com esses recursos para evitar o contágio entre membros da mesma família.

O número do serviço é (11) 98174-3094. A iniciativa é parte da Campanha "Enfrentando o Corona na Periferia", coordenada pelo MTST, com lideranças comunitárias. Seu fundo de emergência para sem-tetos afetados pelo coronavírus já arrecadou mais de R$ 565 mil em doações para a compra de alimentos e produto de higiene.


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