25/04/2024 - Edição 540

Saúde

Como o uso excessivo de antibióticos leva a explosão de superbactérias

Publicado em 07/04/2020 12:00 -

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Entrar em contato com superbactérias não significa, necessariamente, adoecer. Esses microrganismos costumam ser oportunistas, ou seja, acabam afetando especialmente quem está com o sistema imunológico comprometido, como internados em UTIs, pacientes em tratamento contra câncer, portadores de HIV, transplantados, crianças e idosos. Para ajudar essas pessoas, a produção de novos antibióticos não tem sido suficiente. Criar remédios leva muito tempo — em descompasso com o ritmo com que as superbactérias avançam.

Mas como chegamos a esse ponto? Por que, afinal, algumas bactérias simplesmente pararam de responder aos antibióticos? De acordo com a OMS, a resistência acontece naturalmente ao longo do tempo, geralmente por meio de alterações genéticas. Só que o uso inadequado e excessivo de antibióticos agilizou esse processo. “Qualquer exposição a antibiótico vai desencadear uma busca frenética, por parte das bactérias, de algum modo de sobreviver à ação desses fármacos. Em termos simplistas, o antibiótico é uma agressão à bactéria, portanto, ela vai buscar um meio de sobreviver”, explica o professor Plínio Trabasso, chefe da disciplina de infectologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, no interior paulista.

E não pense que são apenas os humanos que utilizam esses remédios, acelerando a seleção das bactérias mais resistentes. Atualmente, segundo a OMS, cerca de 80% do consumo total de antibióticos se dá no setor animal, especialmente na pecuária, onde são empregados para promover o crescimento de bichos saudáveis — uma prática controversa e não recomendada.

Entenda a seguir como fazenda e granjas podem contribuir para o problema:

1. Jeitinho
Antibióticos só deveriam ser dados a animais doentes, mas também são usados nos saudáveis para promover seu crescimento.

2. Demanda
As Nações Unidas estimam que 60 mil toneladas de antimicrobianos sejam utilizadas no setor da pecuária por ano no mundo.

3. Só cresce
Segundo estudo da Universidade de Princeton, nos EUA, esse uso deve dobrar até 2030 nos países emergentes.

4. Diferença
Estudo canadense concluiu que a restrição do uso na pecuária diminui em até 39% as bactérias resistentes.

5. Vai além
Após o uso nos animais, resíduos dos antibióticos se espalham — no esterco, por exemplo, o que leva o problema adiante.

6. Até nosso prato
Pesquisadores da USP já identificaram a presença de resíduos no solo de plantações que utilizam esterco.

SITUAÇÃO PRECÁRIA

Hospitais inadequados e remédios falsificados aumentam o risco em países mais pobres

Entre os humanos, o que contribui para a proliferação das superbactérias muitas vezes é a ausência de atitudes simples, como fazer bem a higiene das mãos, principalmente em locais com aglomeração de pessoas doentes. Na realidade dos hospitais públicos brasileiros, a superlotação e a falta de estrutura e de insumos básicos (como sabão, álcool, luvas etc.) podem facilitar a propagação desses microrganismos.

No entanto, para além dos problemas na prevenção, o tratamento em locais precários também pode ser motivo de preocupação. Um relatório da OMS estima que, nos países de baixa e média renda (como o Brasil), um em cada dez produtos médicos seja de baixa qualidade ou falsificado. Isso significa que as pessoas vêm usando medicamentos que não são capazes de propiciar tratamentos eficazes.

Além de colocar a vida em risco e de ser um desperdício de tempo e dinheiro, o mais alarmante quando se pensa em antibióticos é que substâncias falsificadas representam uma ameaça à resistência antimicrobiana. Mais fracas, essas substâncias “piratas” deixam viver justamente as bactérias mais ameaçadoras.

De acordo com a OMS, o problema é global, já que os falsificadores dividem partes da produção em diversos países. Por isso, recomenda-se que as nações trabalhem em conjunto para evitar o tráfico desse tipo de produto.


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