29/03/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Popularidade de Bolsonaro também é vítima do vírus

Publicado em 02/04/2020 12:00 - Victor Barone

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Para 51% da população, a atuação do presidente Jair Bolsonaro mais tem atrapalhado do que ajudado no combate à pandemia do novo coronavírus. A informação foi divulgada nesta sexta-feira, 3, pelo Datafolha.

O resultado da pesquisa é fruto das ações atabalhoadas do presidente, que, insistindo na tese da “gripezinha”, tenta salvar seu mandato – e a almejada reeleição – preservando a economia em detrimento da via das pessoas.

O repertório de absurdos do presidente é vasto. Hoje cedo, na porta do Palácio da Alvorada, serviu o mesmo cardápio de todos os dias desta semana: fãs orando fervorosamente pelo presidente, pedidos para que o presidente dê ordens para que o comércio volte a funcionar totalmente, críticas a governadores e o presidente agindo de forma receptiva às demandas “do povo”. O xingamento à imprensa veio de sobremesa, “esses urubus”, disse o presidente. Segundo seus cálculos, “esse vírus é igual uma chuva, vai molhar 70% de vocês, certo? Isso ninguém contesta. Toda a nação vai ficar livre de pandemia quando 70% (da população) for infectado e conseguir os anticorpos. Ponto final”, afirmou. Ele disse, contudo, que uma “pequena parte da população”, os mais idosos, iriam “ter problema sério” depois.

Durante a semana, em entrevista à Jovem Pan, o presidente cometeu três erros. Chutou três vezes. E nas três vezes fez gol contra.

1) Carbonizou Henrique Mandetta. Um presidente cuja rotina incorporou uma trilha sonora de panelaços entra em processo de autocombustão quando desmerece um ministro que coleciona elogios como representante do seu governo na frente de batalha contra o coronavírus.

2) Disse que pode abrir "numa canetada" o comércio fechado por governadores. Presidente que desqualifica ministro e ameaça governar por decreto sem tirar a caneta do bolso simula uma força que, na verdade, já não possui.

3) Atacou governadores e prefeitos poucos dias depois de ter formulado em rede nacional uma proposta de pacto. Um presidente tão errático talvez devesse firmar um pacto consigo mesmo: o de parar de atirar contra o próprio pé.

Por Josias de Souza

Jair Bolsonaro fez novas críticas ao seu ministro da Saúde, em entrevista concedida à Jovem Pan. De acordo com o presidente, que trata a crise sanitária nos mesmos termos que uma briga de condomínio, Mandetta quer fazer as próprias vontades, lhe “falta humildade” e, “em alguns momentos”, o ministro teria que “ouvir um pouco mais o presidente da República”. “A gente está se bicando há algum tempo”, afirmou, acrescentando que nenhum ministro é indemissível.

Perguntado sobre as declarações do presidente, Mandetta rebateu que não teve tempo de assistir a entrevista: “Estou trabalhando aqui”. Segundo a coluna Painel, o ministro confidenciou a aliados que gostaria de deixar o cargo. Mas voltou a reafirmar que o ônus da saída terá que ser de Bolsonaro. 

QUESTÃO DE TEMPO

É só uma questão de tempo, concordam auxiliares de Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde. Depois do que disse sobre ele o presidente Jair Bolsonaro, assim que passe a crise do coronavírus ou mesmo antes, Mandetta será demitido.

Presidentes demitem ministros que não funcionam, embora esse não seja o caso de Mandetta. Demitem ministros que funcionam, mas que perderam sua confiança – é o caso de Mandetta. Alguns demitem depois de fritarem o ministro publicamente.

Mas jamais se viu por aqui um presidente forçar a demissão de um ministro do modo como Bolsonaro faz com Mandetta. “Estamos nos bicando há muito tempo”, revelou ele. “Mandetta extrapola. Falta-lhe humildade. Não ouve o presidente como deveria”.

Mandetta não pedirá demissão. Se pedisse seria acusado de desertar em meio “ao maior desafio da nossa geração”, como afirmou Bolsonaro ao ensaiar um recuo logo cancelado porque ele não consegue fingir por muito tempo ser o contrário do que é.

Por Ricardo Noblat

Mandetta tem sido apoiado a permanecer, nos bastidores, pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, pelos ministros generais e pela chamada ala “técnica” do governo, composta, entre outros, por Paulo Guedes (Economia), Sérgio Moro (Justiça), Tarcísio Freitas (Infra-Estrutura) e Tereza Cristina (Agricultura). Nas conversas com Mandetta, os ministros adotam tom entre preocupado com o que pode ser da crise caso ele seja substituído por alguém mais ideológico, afinado com a disposição de Bolsonaro de relaxar as recomendações de isolamento social, e condescendente em relação aos arroubos presidenciais contra o auxiliar, dizendo se tratar do “jeito” de Bolsonaro, e que esses surtos costumam passar caso o alvo dê tempo ao tempo e não “provoque”.

O ministro também teme ser alijado, aos poucos, do comando do manejo da crise, o que poderia fazer com que fosse engolfado caso o número de casos e mortos e a situação dos hospitais saiam de controle. Auxiliares de Mandetta reclamam da exposição desnecessária do ministro em um momento tão grave, como a decisão de exclui-lo de uma reunião com profissionais de saúde e a entrevista com críticas abertas a ele.

O ministro e Bolsonaro devem voltar a conversar ao longo do fim de semana. Aliados temem que, se o presidente encorajar ou de alguma maneira participar de manifestações previstas para domingo (5), seja a gota d’água para Mandetta.

Por Vera Magalhães

“PEÇO COMPARTILHAR”

A essa altura, todos sabemos que o principal meio de comunicação de Jair Bolsonaro com a população é o Twitter. Por lá, ele colocou mais lenha na fogueira, ao pedir para que seus mais de seis milhões de seguidores compartilhassem um vídeo em que uma apoiadora, daquelas que ficam plantadas na porta do Palácio da Alvorada todos os dias, pede que o presidente “coloque os militares na rua” para obrigar comércios e outros serviços a voltarem a funcionar. A mulher se diz professora da rede particular e ataca a mídia, o governador do DF e até a renda básica emergencial de R$ 600 (chamada de esmola do governo). A certa altura, Bolsonaro diz a ela: “você fala por milhões”. Pouco depois descobriu-se que a moça é uma empresária com vasta passagem pelas hostes bolsonaristas.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, ele provocou: “Para abrir comércio, eu posso abrir em uma canetada. Enquanto o Supremo e o Legislativo não suspenderem os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto”. De acordo com Bolsonaro, já há um texto pronto, reconhecendo como atividade essencial “toda aquela exercida pelo homem e pela mulher através da qual seja indispensável para levar o pão para casa todo dia”. O presidente falou que recebe “ameaça” para não assinar o decreto – incluindo acenos de impeachment. E fez um apelo: “Eu estou esperando o povo pedir mais porque o que eu tenho de base de apoio são alguns parlamentares. Tudo bem, não é maioria, mas tenho o povo do nosso lado”. 

A ex-aliada e deputada estadual pelo PSL de SP, Janaína Paschoal – que já defendeu o afastamento de Jair Bolsonaro antes – respondeu ontem à publicação do vídeo da professora nos seguintes (e perigosos) termos: “Se o senhor não parar com essas postagens, os militares vão para a rua para retirar o senhor, com base no artigo 142 da Constituição Federal”. O dispositivo é aquele famoso, que dá às Forças Armadas o papel de garantir ‘a lei e a ordem’, desde que por iniciativa de algum dos poderes constitucionais, neste caso, Legislativo ou Judiciário.  

Longe de chamar os militares, os ministros do Supremo Tribunal Federal têm dado variados sinais de que limitarão qualquer ação do governo que vá contra o isolamento social recomendado pela OMS e pelo Ministério da Saúde. A Folha resgatou toda a movimentação da Corte nesse sentido, começando no dia 24 de março pela decisão de Marco Aurélio de manter a legalidade de todos os decretos estaduais e municipais que estabelecem quarentenas até a determinação de Alexandre de Moraes, de 1º de abril, dando 48 horas para que o presidente explicasse suas ações, no âmbito da ação movida pela OAB. O prazo acaba hoje, aliás. 

Mas, no caso, o militar que mais se beneficiaria do afastamento de Bolsonaro voltou a defender que a “política de isolamento”. De acordo com o vice-presidente Hamilton Mourão, as medidas precisam ‘atravessar’ abril para que se enfrente em melhores condições o pico da covid-19. A declaração foi dada em uma entrevista ao vivo transmitida pelo banco de investimento BTG Pactual. 

Por Outra Saúde

A mulher do ministro Sérgio Moro, Rosângela Moro, apagou uma postagem no Instagram de quinta, 2, em que dizia “In Mandetta I trust” (em Mandetta eu confio). “Entre ciência e achismos eu fico com a ciência. Se você chega doente em um médico, se tem uma doença rara você não quer ouvir um técnico?”, indagou ela, apagando a mensagem logo em seguida.

QUEM TEM UM OLHO

Em governo de cegos, quem tem um olho, como o doutor Mandetta, não diz a ninguém que o rei está nu. Prefere enxergar problemas na imprensa. Na contramão do que recomendara o seu ministro da Saúde no sábado, Bolsonaro trocou o isolamento do Alvorada por um passeio pela periferia de Brasília. O presidente, 65, compõe o grupo de risco do coronavírus. A despeito disso, foi às ruas e ao comércio. Atiçou aglomerações. Pregou contra o confinamento.

Na véspera, Mandetta soara compreensivo com a suposta agonia do chefe para religar as fornalhas da economia.  "O presidente está certíssimo quando diz que a crise da economia vai matar as pessoas. E somos 100% engajados de achar as soluções junto com a equipe da economia." Mandetta pedira "calma". Bolsonaro deu de ombros. Ameaçou reabrir o comércio na marra, liberando os confinados para trabalhar via decreto presidencial. Para adular o chefe, Mandetta injetara num encontro com repórteres um ataque à imprensa —aquela que Bolsonaro acusa de transformar "gripezinha" em "histeria."

"Desliguem um pouco a televisão", aconselhara o ministro da Saúde no sábado. "Às vezes ela é tóxica demais." Quem desligou a tevê perdeu as cenas em que Bolsonaro humilhou Mandetta, ignorando-o.  As imagens estavam disponíveis também nas redes sociais. Mas o Twitter apagou. Considerou que elas intoxicam as regras das autoridades sanitárias.

"Os meios de comunicação são sórdidos, porque eles só vendem se a matéria for ruim", queixara-se Mandetta.  "Nunca você vai ser um jornal falando assim: 'Uma pessoa estava sorrindo hoje na rua'", dissera o ministro. Neste Fim de semana, Mandetta encontrará na primeira página dos jornais, ao lado da notícia sobre os cadáveres, um Bolsonaro que sorri para a pandemia. O doutor terá, então, a oportunidade de responder para si mesmo uma indagação incômoda: O que é mais degradante, ministro cego ou presidente infeccioso?

Por Josias de Souza

MARGINAL

O ex-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT-CE) chamou o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, de “marginal” e cobrou a cassação do parlamentar por divulgar fake news sobre o novo coronavírus.  “Isto é um marginal! O Congresso não fazer nada para cassar um bandido deste vai explicando porque nosso povo tem dificuldades para ter respeito pelo parlamento”, escreveu Ciro no Twitter.

AS REDES REAGEM

Cada vez mais distante do Congresso, da imprensa, e de lideranças políticas do Brasil e de outros países, Jair Bolsonaro (sem partido) foi rejeitado também nas redes sociais. O presidente brasileiro viu o Twitter, o Facebook e o Instagram apagarem vídeos de sua conta oficial que o mostravam passeando pelas ruas de Brasília (DF), em meio à pandemia do coronavírus.

Nos vídeos, Bolsonaro aparece circulando nos comércios de Taguatinga e Sobradinho, interagindo com a população local e recomendando que se utiliza, em caso de contaminação por coronavírus, a hidroxicloroquina, medicamento que ainda está em fase de testes e que não teve sua eficácia no combate ao vírus comprovada.

As empresas entendem que as publicações do presidente causam “desinformação” e provocam “danos reais às pessoas”. Os passeios de Bolsonaro ferem as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde e de infectologistas, epidemiologistas e médicos do mundo inteiro, que seguem recomendando o isolamento da população para frear a curva de crescimento do coronavírus.

Na contramão de governantes de todo o mundo, Bolsonaro tem insistido com o “isolamento vertical”, que, segundo o mandatário, significa restringir o acesso às ruas somente do grupo de risco, composto por idosos e doentes crônicos. A ideia do presidente foi condenada, inclusive, por Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde.

Em nota, o Twitter afirmou que "as publicações do presidente foram apagadas pois ferem regras recentes da empresa, que não permitem conteúdos que forem eventualmente contra informações de saúde pública orientadas por fontes oficiais e possam colocar as pessoas em maior risco de transmitir Covid-19."

O Facebook e o Instagram optaram por excluir o vídeo em que o presidente conversava com um vendedor ambulante em Taguatinga, no Distrito Federal. "Removemos conteúdo no Facebook e Instagram que viole nossos Padrões da Comunidade, que não permitem desinformação que possa causar danos reais às pessoas", informou o Facebook em nota. A empresa declarou que as postagens de Bolsonaro violaram as regras de uso da plataforma por potencialmente "colocar as pessoas em maior risco de transmitir covid-19".

A relação do presidente com notícias falsas parece ser um caso de amor. Bolsonaro disparou a aliados por WhatsApp um vídeo que questiona as mortes por coronavírus. Na primeira cena do vídeo, um italiano diz que a mortalidade da covid-19 é em parte motivada pela idade avançada dos cidadãos e em parte por um cálculo estatístico do número de doentes.

“É provável que algumas dessas mortes… não é como na Alemanha, onde todos os mortos são verificados um por um, algumas dessas mortes podem ser atribuídas ao coronavírus, sem que o coronavírus seja a causa direta da morte”, diz trecho do vídeo.

Em uma segunda parte, outra pessoa corrobora essa tese de que há um erro no cálculo de mortes por covid-19. “Numa reavaliação do Instituto Nacional de Saúde apenas 12% dos certificados de óbito mostram uma casualidade direta do coronavírus”, diz. “12%”, insiste. “Isso é insano! Isso significa que os italianos estão sobrestimando as duas mortes, em níveis insanos!”

Segundo ele, isso significa que “não estamos olhando para 8.165 mortes, mas em vez disso: 980 mortes”. A gravação reforça que esse índice é alinhado com o que é visto no resto do mundo. O vídeo também questiona se estão diferenciando as mortes por influenza e por covid-19.

Fazendo escola: no último dia 1º, foi a vez da secretária de Cultura do governo, Regina Duarte, ser desmentida pelo Instagram. A rede social colocou um alerta de “informação parcialmente falsa” em uma postagem feira pela ex-atriz.  A postagem se tratava de uma foto de Bolsonaro com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que trazia a informação falsa sobre a suposta liberação da cloroquina para o tratamento da Covid-19. “Liberação da cloroquina/hidroxicloroquina pela Anvisa, já com posologia para tratamento da Covid-19”, diz o texto da imagem. Na legenda, Regina escreveu: “Vou ser responsável. Vou tomar todas as precauções mas não vou deixar que o MEDO da COVID-19 possa ser mais forte que a minha ESPERANÇA !”. O Instagram, entretanto, além de “borrar” a imagem para que o internauta escolha se quer abrir a postagem ou não, esclareceu que a autorização concedida pela Anvisa sobre a cloroquina foi para pesquisa, e não para tratamento.  Procurada pela imprensa, Regina Duarte disse que não se manifestará sobre a informação falsa.

As páginas de Jair Bolsonaro nas redes sociais transformaram-se em sucursais eletrônicas da Casa da Mãe Joana. Num dia, o presidente —ou alguém a quem ele cedeu a sua senha— posta um vídeo com edição marota de uma fala do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS). Noutro dia, horas depois de um pronunciamento em rede nacional no qual o presidente propõe um pacto contra o coronavírus, aparece nas suas redes sociais um vídeo cujo conteúdo vale por uma canelada nos governadores. Falava de desabastecimento de alimentos no Ceasa de Belo Horizonte. Descobriu-se rapidamente que o vídeo é mentiroso. E a postagem foi apagada das redes sociais.

Francamente, isso não é coisa de gente séria. Fica difícil levar a sério a proposta de pacto feita por Bolsonaro em rede nacional. No domingo passado, depois de afrontar todas as orientações do Ministério da Saúde num tour pela periferia de Brasília, Bolsonaro declarou que é preciso enfrentar o coronavírus "como homem, não como moleque." Como definir a mania de postar meias verdades e mentiras integrais nas redes sociais senão como uma molecagem?

O problema não está nas mensagens que saem no Twitter, no Facebook ou no Instagram do presidente. O mais dramático é perceber que a exclusão das postagens depois da repercussão negativa não apaga o que está gravado na cabeça de Bolsonaro e do seu filho Carlos Bolsonaro, a quem o presidente às vezes terceiriza o seu quintal virtual. Bolsonaro acredita mesmo que é um proprietário da verdade absoluta sobre todas as coisas, obrigado pelas circunstâncias a lidar com inimigos inescrupulosos. No momento, os inimigos de ocasião são os governadores.

Sob influência de Mãe Joana, Bolsonaro ainda não se deu conta de um detalhe: pode-se ganhar uma eleição pelas redes sociais, mas não se pode governar apenas com elas. Na campanha, submetido a um eleitorado de saco cheio, bastava ao então candidato chutar o balde na internet para ganhar votos. Agora, num instante em que uma pandemia vira do avesso os projetos do mundo, descobre-se que às vezes é preciso desligar as redes sociais para conversar um pouco. Conversa de gente séria, não de moleque.

Por Josias de Souza

CAI, NÃO CAI

A possibilidade do impeachment de Bolsonaro não parece estar realmente no horizonte, ao menos para um futuro próximo — o presidente da Câmara, Rodrigo Maia declarou que o tema não está na pauta do Congresso nesse momento. Mas a cúpula militar já está alerta. Segundo o El País, reuniões estão sendo feitas para debater cenários hipotéticos para o médio e longo prazo, e os participantes estão preocupados que o agravamento da situação brasileira seja “vinculado ao discurso negacionista” do presidente,e que ele possa “soar insensível” quando sugere a volta à vida normal. Assim, como se o presidente pudesse estar sendo apenas mal interpretado.

Mas além disso também circula em Brasília a tese de que Bolsonaro poderia decretar estado de sítio ou de defesa, suspendendo garantias constitucionais e restringindo liberdade e comunicação. Ele nega, ao mesmo tempo em que deixa muita coisa no ar: “Quem quer dar o golpe jamais vai falar que quer dar”, disse, na Band, quando perguntado sobre se pretendia dar um golpe e fechar o país.

Daí que os militares começaram a se aproximar do general Mourão. Isso num momento em que as relações entre o presidente não estão na sua melhor forma. “Com todo o respeito ao Mourão, ele é muito mais tosco do que eu”, disse Bolsonaro na sexta, também na Band.

Em entrevista à Folha, o mesmo Mourão criticou a “falta de coordenação” nas ações do governo federal contra o coronavírus. “Vamos lembrar que somos uma federação. Aquilo que é do município é do município. Se extrapola o município, aí é do estado. Se extrapola do estado, é da União”, disse. Comentando o dilema entre parar ou não parar as atividades econômicas,  declarou que “talvez  chegue o momento de, em uma conversa entre a área técnica da medicina e a econômica, buscar posição onde determinadas atividades possam de forma progressiva retomar”. Não detalhou muita coisa sobre isso, porém.

Por Outra Saúde

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) recomendou em tuíte a “remoção” do presidente Jair Bolsonaro. “Esperar racionalidade de insensatos é o pior desatino. Se há uma pedra no caminho é imperioso removê-la antes que o mal maior não possa ser atalhado”, escreveu ele na rede. “O obscurantismo mata mais. Não basta ignorar. É hora de cooperação e de ouvir a sociedade sobre a crise dentro da crise”, finalizou o ex-presidente do Senado.

OLAVO X JANAINA

A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) usou sua conta no Twitter para atribuir a Olavo de Carvalho grande parte da responsabilidade pelo “inegável fracasso do único governo de direita no Brasil”.

“Da mesma maneira que Lula foi o principal responsável pelo Governo Dilma e seu fracasso; Olavo de Carvalho é o grande responsável pelo inegável fracasso do único governo de direita no Brasil. Não adianta criar narrativas para dizer que avisou e tinha (como sempre tem) razão”, escreveu a deputada.

“Qualquer pessoa observadora sabe dizer quem controla e quem é o fantoche. O demônio da Virgínia anda nervoso. Anda nervoso porque sabe que aqueles que, hoje, o aplaudem não têm competência para ler nem a primeira página dos seus livros. São leitores de manchetes e nem entendem”, criticou Janaina.

A deputada foi mais além nas suas críticas. “Mas não é só. O demônio da Virgínia também está nervoso por saber que os poucos que leram e compreenderam seus livros logo perceberam ser ele uma fraude. Denunciou o totalitarismo dos petistas, mas não se intimidou ao tentar instituir o seu. Traidor da própria obra!”, escreveu. E acrescentou: “O demônio da Virgínia, que não quer o certo, quer estar certo, também se ressente, pois na lista de suas frustrações, agora se soma mais uma”.

Por fim, Janaina admite até que pode estar “sendo má”. Mas afirma que “ele merece”. “Ele já era um fracasso acadêmico e econômico, dependente da caridade dos que se iludiram com ele. Agora é também um fracasso político e quem o leu e conhece sabe. Estou sendo má? Talvez! Mas ele merece”, diz.

Por Marcelo de Moraes

“Um filme bom para o momento atravessado: O Poço! Solidariedade espontânea! Um dos protagonistas parece muito com Olavo de Carvalho. Ele, inclusive, diz muito que tudo é óbvio e gosta de enfatizar que tem razão. Assistam! Vocês vão ver o lixo que são!”, escreveu a deputada.

O guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, respondeu as provocações de Janaína Paschoal. O astrólogo escreveu no Facebook que Janaína encontrou o nome de seu filho no lixo. “Nhonhoína: se é verdade que eu sou um lixo, foi no lixo que você achou o nome que deu ao seu filho. Vá correndo ao cartório e mude para Dorianinho”, escreveu o astrólogo, também citando o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Em outras publicações, Olavo criticou os governadores do país e pediu para que o Exército reaja contra a “divisão do Brasil em republiquetas independentes”, no que diz respeito às políticas adotadas contra o coronavírus. “Se os generais não reagirem agora contra essa divisão do Brasil em republiquetas independentes, quem poderá ainda confiar no patriotismo retórico que eles ostentam tão felizinhos?”, questionou o guru. “Generais: os senhores vão atender ao clamor do povo ou à sugestão diabólica da Nhonhoína Pascoal?”, continuou.

BRINQUEDOTECA

A decisão de Jair Bolsonaro de abrigar o filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), em uma sala ao lado da sua, no terceiro andar do Palácio do Planalto tem sido motivo de preocupação e ironia dos militares alçados ao governo. “O palácio agora vai ganhar brinquedoteca?”, disse um dos militares, de forma anônima, à coluna Radar, da revista Veja.

LULA E DORIA

Adversários políticos históricos, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) e o ex-presidente Lula (PT) trocaram gentilezes pelo Twitter ao tratarem do assunto sobre o coronavírus. O petista havia feito um twitter elogiando o trabalho dos governadores e prefeitos e Doria respondeu dizendo que “agora não é hora de expor discordâncias”. “Nossa obsessão agora tem que ser vencer o coronavírus. Chegamos ao ponto do Dória ter que mandar a PM invadir fábrica pra pegar máscara. A gente tem que reconhecer que quem tá fazendo o trabalho mais sério nessa crise são os governadores e os prefeitos”, escreveu Lula. Doria respondeu ao ex-presidente: “Temos muitas diferenças. Mas agora não é hora de expor discordâncias. O vírus não escolhe ideologia nem partidos. O momento é de foco, serenidade e trabalho para ajudar a salvar o Brasil e os brasileiros”.

Sem citar nomes, o presidente Jair Bolsonaro criticou, pelo Twitter, a aproximação virtual entre Lula e Doria.

FRASES DA SEMANA

“Eu estou esperando o povo pedir mais, porque o que eu tenho de apoio são alguns parlamentares. […] Para abrir comércio, eu posso abrir em uma canetada. Enquanto o Supremo e o Legislativo não suspenderem os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto”. (Jair Bolsonaro)

“Agora, é lutar com as armas que temos”. (Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, depois de revelar que está difícil importar equipamentos para combater o coronavírus porque os Estados Unidos foram às compras. Ora, Trump e Bolsonaro não são amiguinhos? Peça ajuda a ele.) 

“O pronunciamento foi uma colcha de retalhos. Ele parece não saber a quem agradar. Aparentemente quis corrigir o erro grave daquele discurso absurdo da semana passada”. (Flávio Dino, governador do Maranhão, PCdoB, sobre a nova fala à Nação de Jair Bolsonaro)

“Eu fico triste ao ver o que o presidente da República está fazendo. […] O isolamento social é a única maneira de nos preservarmos e evitarmos uma sobrecarga do sistema de saúde. Eu estou trabalhando em casa; afinal, tenho 73 anos.” (Marco Aurélio Mello, ministro do STF) 

“Essa é uma realidade, o vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra. Não como um moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós iremos morrer um dia.” (Jair Bolsonaro, presidente do Brasil)  

“Estamos preparados para ver caminhões do Exército transportando corpos?” (Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, em conversa com o presidente Jair Bolsonaro, que não gostou do que ouviu) 

“A hora é crítica, afeta a vida das pessoas e todos os campos da vida nacional. A liderança exige percepção, calma e sensibilidade. Tem que ter bom senso, autoconfiança e humildade para tentar recuperar o tempo perdido.” (Carlos Alberto dos Santos Cruz, general e ex-ministro) 

Com informações de Leonardo Sakamoto, Josias de Souza, Ricardo Noblat, Reinaldo Azavedo, Carta Capital, Outra Saúde, Sul 21, o Globo, BR-18, Folha de SP, Fórum, Veja, Dora Kramer, BRPolítico, Vera Magalhães, Marcelo de Moraes e Radar

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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