25/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Meu lado coxinha

Publicado em 09/10/2014 12:00 - Rodrigo Amém

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O Brasil atingiu sua adolescência política. O que significa que, especialmente no Facebook, todo mundo tem opiniões definidas, certeza absoluta e todos os outros que não concordam são uns otários, mano.

Eu evito analisar política com a mesma lente que alguém escolhe Ramones ou Molejo. Acho que toda ideia tem que ser analisada por seu valor, não por seu autor. Isso gera dois problemas. Primeiro: dá trabalho. É mais fácil decidir no atacado. Segundo: dependendo do assunto, eu sou mais coxinha ou mais caviar. Hoje, confessarei meu alinhamento mais capitalista. Afinal, estou de viagem marcada para Disney, companheiros. Semana que vem, a luta continua.

Fim da subvenção cultural

Por alguma razão, equivalemos cultura com saúde, educação, segurança pública no discurso político nacional. Se não disponibilizarmos “acesso à cultura”, ela morre, tadinha. Está implícito neste discurso que a população é incapaz de reconhecer, criar e valorizar cultura por seus próprios meios, o que é um absurdo. A cultura é exatamente o que emana de um povo. Se o povo reconhece o Leandro Hassum como um patrimônio cultural, a Globo pode produzir e distribuir seus filmes sem precisar de subvenção fiscal. Se a filarmônica de São Paulo não consegue sem manter sem dinheiro público, talvez São Paulo não devesse ter uma filarmônica. Isso vai significar uma cultura nacional povoada de batalhas de passinhos, funks, Michel Telló e Ivete Sangalo? Pode ser (francamente, não seria uma realidade alternativa tão diferente assim do que vivemos hoje). Pode ser que a sociedade civil adoradora das “altas artes” se organize pra fomentar a sua “cultura de verdade”? Palmas pra eles. O que não dá é pra usar o meu dinheiro pra produzir o que você acha que é culturalmente relevante.

Fim da subvenção cultural, fim do protecionismo de mercado, enxugamento da máquina administrativa. Eu votaria num candidato de direita que tivesse uma plataforma assim. De direita, mas coerente.

Fim do protecionismo de mercado

Nada é mais marxista do que proteger o trabalhador do meu país de seus terríveis concorrentes internacionais. Talvez charutos e boinas, apenas. Mas, todo capitalista que se preza sabe que a mão livre do mercado é soberana. A concorrência é fundamental para garantir a qualidade e a oferta dos nossos produtos. Eu concordo com eles. Por isso apoio o fim de todas as barreiras alfandegárias. Vamos tirar a Polícia Federal desse inglório trabalho de combate à muamba e de volta ao tráfico internacional de armas, drogas e exploração sexual, onde ela é tão necessária.

O único problema é que quase nenhum outro liberal capitalista apoia essa ideia. Pelo menos não na prática. Os EUA, por exemplo, no que diz respeito à proteção dos seus produtores de milho, deixariam Kim Jong-un com inveja. Pergunte à bancada ruralista brasileira. E, durante esse bate-papo, pergunte o que eles acham do fim do protecionismo agrícola no Brasil.

Enxugamento da máquina administrativa

Todo eleitor do Aécio cita esse exemplo de aparelhamento do Estado: “Ministério da Pesca, imagine você!” Com certeza. 39 ministérios é muita coisa. Falta até prédio na Esplanada. Tem que cortar uns 2/3 disso, mas não dá pra parar por aí. Governo só deve cuidar do estratégico. Procurar petróleo não é estratégico. Regular e fiscalizar a exploração do petróleo, sim. Vendamos a Petrobrás. Privatizemos ferrovias, portos, universidades. Sim,universidades. Ensino superior público só serve para garantir graduação grátis para quem não precisa. Seria mais barato e eficiente financiar o estudo de alunos de baixa renda em instituições privadas.

Isso é claro, vai criar um impacto e tanto. Especialmente na classe média, que vai ver a carreira de concurseiro murchar entre as opções do Júnior e da Jéssica. Mas a ideia também é essa. Emprego público tem que deixar de ser um “Brazilian Dream”. Um Estado mais enxuto pode desonerar e estimular a produtividade, aumentar a oferta de empregos na iniciativa privada. E até o combate à corrupção fica mais fácil, com menos torneiras abertas.

Eu votaria num candidato de direita que tivesse uma plataforma assim. De direita, mas coerente.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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