28/03/2024 - Edição 540

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CPI das Fake News aproxima bolsonaristas do esquema de disseminação de mentiras na rede

Publicado em 13/03/2020 12:00 -

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Apontada como uma das contas no Instagram usadas para disseminação de fake news e ataques a adversários do presidente Jair Bolsonaro, a página “snapnaro” foi editada por seu administrador na rede de computadores do Senado entre fevereiro e maio de 2019. É o que revelam dados encaminhados pela rede social à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News no Congresso.

A “snapnaro” foi citada no depoimento da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder de governo Bolsonaro no Congresso, ao colegiado em 4 de dezembro de 2019. No mesmo dia, poucas horas depois do fim da oitiva da parlamentar, a conta foi apagada. A página havia sido criada em maio de 2017. Segundo documento enviado pelo Facebook, dona do Instagram, o autor se chama Arthur da Motta. A empresa não informou o CPF do usuário, que usou o e-mail [email protected] para criar a conta.

Foram feitos 95 acessos pela rede do Senado, cujo o IP é o 201.54.48.198, durante os quatro meses citados. Nas publicações apagadas, o perfil divulgava notícias de blogs elogiosos a Bolsonaro e atacava parlamentares que romperam com o presidente. O vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) já interagiram com a conta e repercutiram suas publicações.

A lista enviada à CPMI — que traz outros milhares de acessos ao perfil, inclusive em outras cidades, como São Paulo, São Luís (MA), Saquarema (RJ) e Alegre (ES) — não detalha o que o usuário fez ao entrar na conta. Segundo Joice Hasselmann, a página integrava o “SECRETO2 G.O”, um grupo privado de conversas no Instagram do qual participavam outras cinco contas. A deputada acrescentou que todas as páginas foram usadas para difamar adversários de Bolsonaro. Ela própria, depois de romper com o presidente e ser retirada da liderança do governo, virou alvo do grupo. A parlamentar entregou aos colegas cópias de conversas e laudos que atestariam sua autenticidade.

Segundo Joice Hasselmann, além da “snapnaro”, faziam parte do grupo a “presidentebolsonarobr”, a “bolso_feios”, a “bolsolindas”, a “carlosopressor” e a “bolsoneas”. Na semana passada, outro documento encaminhado pelo Facebook à CPMI revelou que o perfil “bolso_feios” foi criado com um e-mail usado por Carlos Eduardo Guimarães, funcionário do gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). A conta foi acessada pela rede de computadores da Câmara. A página saiu do ar na semana retrasada.

Em uma das conversas entregues pela deputada à CPMI, que teria ocorrido em meio ao racha do PSL em outubro do ano passado, o usuário “snapnaro” diz que é preciso “pegar pesado com os traidores”. A página “bolso_feios” responde: “Amanhã é o Julian”. A referência é ao deputado Julian Lemos (PSL-PB). A conta “snapnaro” escreve, então: “canalhas”.

Oposição consegue assinaturas para prorrogar a CPI

Os trabalhos da CPI serão prorrogados até o final de outubro. Nesta semana, congressistas conseguiram mais do que o mínimo exigido de assinaturas para adiar o fim dos trabalhos investigativos por mais 180 dias.

"Nós colhemos mais que mínimo de assinaturas tanto no Senado, quanto na Câmara. O pedido de prorrogação deve ser lido pela mesa diretora", disse Natália Bonavides (PT-RN).

O governo, porém, tem aplicado manobras para impedir a leitura deste documento, que já estava pronto para ser lido na sessão de quarta-feira (11). "O documento deve ser lido na semana que vem, até lá o governo vai tentar atuar para impedir a prorrogação, mas com o tanto de assinaturas que nós conseguimos, nós acreditamos que vai ser feito a leitura e a CPMI vai ser sim prorrogada", declarou Bonavides.

Para a deputada, o prolongamento dos trabalhos da CPI mista é necessário, pois os congressistas tiveram acesso somente agora a documentos que pediram há meses. "Houve um amplo entendimento aqui no Congresso de que a CPMI precisa ter os trabalhos prorrogados, afinal, agora que nós temos recebido documentos que nós tínhamos pedido desde o ano passado e esses documentos estão sendo fundamentais para os trabalhos da CPMI,  vide o caso recente divulgado de que o gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro é um dos locais de onde saem esses ataques com notícias falsas e com discurso de ódio", declarou.

O caso citado por Natália, se refere a página Bolsofeios, que foi criada por um assessor do filho do presidente da República, de dentro do gabinete. A comissão está com documentos sigilosos enviados pelo Facebook que, em grande parte, têm potencial de implicar a família Bolsonaro no disparo de notícias falsas e de mensagens de ódio.

Os documentos fornecidos pela rede social para a CPI mista estão sob sigilo, mas uma fonte que teve acesso aos documentos afirmou ao site Congresso em Foco que tem "muito mais coisa com poder de implicar muito mais gente". Além destes documentos, Natália ressalta que outros foram solicitados. "Há mais documentação para chegar que já está solicitada e nós precisamos desse tempo para fazer essa análise e ter no final desse inquérito um relatório que tenha conclusões consistentes", disse.


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