28/03/2024 - Edição 540

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Políticos da extrema direita aproveitam o coronavírus para promover a xenofobia anti-imigrantista

Publicado em 10/03/2020 12:00 -

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O alastramento do coronavírus está levando as autoridades de saúde a temer a possibilidade de uma pandemia global. Mas, ao mesmo tempo em que governos e organizações internacionais tomam medidas para barrar o avanço do vírus, políticos da extrema direita europeia estão ansiosos por explorar a situação.

Populistas radicais de direita como o italiano Matteo Salvini e a francesa Marine le Pen vêm aproveitando o medo e a incerteza em torno do vírus, que teria se originado na China, para defender o fechamento de fronteiras e as políticas anti-imigrantistas. São mensagens enganosas, que induzem ao pânico e que, segundo avisam autoridades de saúde, podem acabar dificultando os esforços para combater o vírus.

Na Itália já há centenas de casos do Covid-19, a doença provocada pelo vírus, com múltiplas cidades sob quarentena e 17 mortos. Salvini, líder do partido de extrema direita Liga Norte, já atacou o governo várias vezes pelo modo como vem enfrentando a crise. Sem base nos fatos, ele vincula o surto do vírus na Itália à chegada de migrantes africanos, pedindo a blindagem das fronteiras nacionais e acusando o primeiro-ministro Giuseppe Conte de não defender o país.

As alegações que Salvini faz não têm fundamento: a África não registrou nenhuma morte por coronavírus. Mas as declarações incendiárias do político italiano são um exemplo rematado da tática tão frequentemente empregada pela extrema direita de associar migrantes a doenças – um discurso pejorativo que vem sendo uma constante notável na crise dos migrantes na Europa.

Esses e outros ataques, feitos enquanto as autoridades se esforçam para conter o vírus, estão colocando pressão adicional sobre o ideal de livre deslocamento dentro da União Europeia. Apesar de as autoridades de saúde questionarem a eficácia que essas medidas poderiam ter, Salvini está propondo que a Itália suspenda o Acordo de Schengen, que permite viagens entre países da UE sem controles ou apresentação de passaportes nas fronteiras dos países.

O Partido da Liberdade austríaco ecoou os chamados de Salvini por controles de imigração e sugeriu que o governo falhou ao não impedir o surto de coronavírus. O Partido Popular da Suíça quer “a adoção imediata de controles rígidos de fronteira”. (O ministro da Saúde austríaco respondeu apresentando o parecer da Organização Mundial de Saúde e de especialistas da UE, segundo os quais fechar as fronteiras “não faz sentido”.)

Na França, Marine Le Pen, líder do partido de extrema direita Rassemblement National (antes conhecido como Frente Nacional), pediu a adoção de controles de fronteira e acusou a UE falsamente de guardar silêncio sobre o Covid-19. (As autoridades europeias vêm emitindo declarações reiteradas sobre o vírus e anunciaram a liberação de verbas de centenas de milhões de euros para a saúde.) Le Pen também entrou em choque com o premiê italiano Giuseppe Conte quando sugeriu que torcedores de futebol italianos sejam impedidos de entrar na França. Na Espanha, o líder do partido de extrema direita Vox, Santiago Abascal, também atribuiu o vírus às fronteiras abertas.

Os partidos de extrema direita tendem a se fortalecer quando estão na oposição, onde sua falta de experiência de governo e suas políticas extremistas não são postas à prova, permitindo que distribuam críticas livremente para angariar apoio. E se alimentam dos períodos de incerteza e turbulência, conforme foi visto com seus esforços para disseminar o medo em torno de fatos dos anos recentes como a crise de migrantes e os ataques terroristas relacionados ao Estado Islâmico. O surto de Covid-19 oferece a esses partidos uma oportunidade de retratar os governos como sendo ineficazes e defender as políticas anti-imigrantistas que eles enxergam como panaceias para todos os problemas da sociedade.

Enquanto isso, países em que governos de extrema direita estão no poder vêm adotando uma postura um pouco diferente, em grande medida descartando a gravidade do vírus e alegando que tudo está sob controle.

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, declarou que, embora o vírus esteja chamando a atenção do mundo, as pessoas não devem esquecer que o verdadeiro perigo é a migração. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump contradisse as autoridades de saúde e deu uma coletiva de imprensa recheada de informações falsas, enquanto na sexta-feira o secretário de Estado Mike Pompeo se recusou a dizer que o vírus não é uma notícia falsa.

Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês


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