24/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Eu torço pela reeleição de Trump

Publicado em 04/03/2020 12:00 - Rodrigo Amém

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Num mundo justo, Donald Trump seria derrotado nas urnas, processado em Nova York e passaria o resto dos seus miseráveis dias esquecido em uma cela fria em algum lugar em Guantânamo.

Não vivemos em um mundo justo. Vivemos em um mundo onde a melhor solução para o planeta é a reeleição do palhaço-em-chefe dos Estados Unidos. Vem comigo que eu te explico:

É quase que certo que o candidato do partido democrata à presidências será Joe Biden, ex-vice de Barack Obama. Biden é um liberal da velha guarda, bonachão, cujo peso da idade se faz sentir em discursos mais longos que dez minutos. Já foi mais conservador, mais racista. Por outro lado, demostra esboços de evolução de posicionamento progressista. O mais próximo no nosso acervo político teria sido, sei lá, Ulysses Guimarães. 

O que eu estou tentando dizer é: Biden não tem uma personalidade inspiradora. Não é aquele candidato apaixonante. Mas é o candidato de centro-esquerda (?) que pode derrotar Trump. E é tudo que os Democratas querem, no momento. 

O pré-candidato que ainda disputa a vaga com Biden é Bernie Sanders. Um dois últimos dois americanos a se auto-entitular socialista. Falando assim, parece que se trata do Boulos gringo. Nem de longe. É quase um Brizola light. Então é isso: os EUA terão que escolher entre Ulysses e Brizola para derrotar o Trump. E Biden, por não carregar o título de socialista (altamente tóxico para o povo do outro lado do muro), deve levar. 

Isso será trágico para os EUA a longo prazo. 

A economia norte-americana é uma bomba-relógio prestes a explodir. Tudo, absolutamente tudo que o governo Trump fez em termos de política econômica até o momento foi, além de desnecessário, perigoso. A bonança econômica deixada por Obama poderia ser tranquilamente surfada sem que Donald tirasse a mão de dentro do balde de galinha frita. Mas não. Para mostrar ao seu eleitorado que ele é "durão", entrou numa guerra de tarifas com a China. Para mostrar pra base racista que também é "xenófobo", reprimiu a imigração ao sul com direito à muro, crianças em jaulas morrendo de febre, famílias divididas. Para agradar os amigos investidores, aboliu as normas de controle do mercado financeiro implantadas para evitar uma nova tragédia de precatórios, como a de 2008. Essas ações, pela natureza do jogo de xadrez que é a economia mundial, não dão resultados (e efeitos colaterais) imediatamente. Leva um, talvez dois anos. 

Para os meses após a eleição presidencial, as perdas da guerra fiscal chinesa (e mais as do Coronavírus) vão bater à porta. O maior beneficiário da política anti-imigração na fronteira com o México foi, veja só, o México, que começa a ver parte do mercado agropecuário texano e californiano simplesmente migrar para o outro lado do muro, onde a terra e o clima são essencialmente os mesmos e a mão-de-obra continua barata. Muitos economistas atestam que há uma bolha de crédito estudantil educativo prestes a explodir. Do mesmo tamanho – senão maior – que a bolha do crédito imobiliário. 

O ano de 2020 ainda será tranquilo para a economia do Tio Sam, mas o presidente de 2021, seja quem for, vai assumir o olho de um furacão. 

Como eleitorado com memória de peixe dourado não é privilégio exclusivo do Brasil, os americanos também se esquecerão do responsável pela crise, a menos que o mesmo se encontre na Casa Branca. E se um democrata estiver lá, levará uma geração inteira até que um novo progressista consiga ser eleito Comandante em Chefe. E, aí sim, os prejuízos para os EUA (e para o resto de nós, mortais) será incalculável. 

Em outras palavras, no mundo em que vivemos, talvez a reeleição do Trump seja a nossa melhor chance de vê-lo sofrer as consequências por seus atos pelo menos uma vez na vida. Ainda que custe a ruína de uma das maiores economias da história. 

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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