19/04/2024 - Edição 540

Comportamento

O que dizer a um amigo que está sempre reclamando do próprio corpo

Publicado em 03/03/2020 12:00 -

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“Nossa, eu sou enorme. Minhas coxas parecem troncos de árvore nesses shorts.”

Quando um amigo começa a criticar o próprio corpo, é difícil saber o que dizer. Seu instinto pode ser dizer que eles são loucos por pensar isso. Ou talvez você se sinta inclinado a entrar nesse papo e começar a falar mal do seu próprio corpo para fazer que ele se sinta melhor.

Mas essas respostas, por mais bem-intencionadas que pareçam, podem realmente fazer mais mal do que bem. Pedimos a um terapeuta do transtorno alimentar e a um professor de psicologia que explicassem por que o envolvimento nesse tipo de conversa negativa sobre o corpo pode ser tão prejudicial e como lidar com isso.

Os efeitos negativos do ‘body shaming’

Quaisquer comentários negativos sobre peso corporal, forma, tamanho ou hábitos alimentares e de exercício podem ser considerados “gatilhos”. Essas críticas podem ser feitas sobre nós mesmos (“Meus braços são enormes”) ou sobre outra pessoa (“Ela não tem o corpo para usar esse vestido”).

Esse tipo de conversa está diretamente ligado ao aumento do body shaming, ou seja, aquela atitude que vai além da insatisfação com o próprio corpo e se torna uma humilhação, e até desencadeia comportamentos de transtornos alimentares, de acordo com Renee Engeln, professora de psicologia da Northwestern University, autora de Doente de beleza: como a obsessão cultural pela aparência prejudica meninas e mulheres.

Em um estudo de 2012 com 87 meninas universitárias de peso saudável, Engeln e sua colega descobriram que apenas ouvir alguns amigos praticarem o body shaming fazia que as meninas se sentissem mais incomodadas com os seus próprios corpos.

“Ouvir esses tipos de comentários também aumentou os sentimentos de culpa e vergonha das mulheres”, disse Engeln. “Encontramos um padrão semelhante quando estudamos homens – ouvir outro homem se envolver em conversas de body shaming aumentou a insatisfação corporal deles”.

Significa que quando você fala mal sobre seu próprio corpo, isso não apenas afeta negativamente você, mas também as pessoas ao seu redor. Isso pode ser especialmente prejudicial quando você considera que a pessoa que critica sua aparência física está dentro dos padrões que a sociedade considera como “um corpo magro”.

“Se as coisas que você diz sobre seu próprio corpo sugerem que você acha pessoas gordas nojentas, como uma pessoa gorda pode confiar em você para tratá-la com respeito?”, questionou Engeln. “Quando você critica as formas em seu próprio corpo, também critica o corpo de outras pessoas – quer você queira ou não.”

Ela acrescentou: “Essas mensagens não apenas fazem as pessoas se sentirem mal, mas também propõem uma discriminação real contra pessoas que são gordas”.

Como responder a tudo isso?

Valide seus sentimentos.

Dê um abraço mental nele e depois diga algo como: “Sinto muito por você estar tão insatisfeito com o seu corpo, acho que deve ser difícil. Podemos fazer algo para tirar o foco disso?”, sugeriu Torri Efron, terapeuta especializado em distúrbios alimentares.

Não participe da conversa listando coisas que você não gosta no seu próprio corpo.

Lembre-se da cena das “Meninas Malvadas”, onde todos estão se olhando no espelho: Karen diz que seus quadris são enormes, Gretchen diz que odeia a perna, Regina lamenta os ombro todas olham para Cady para conversar? Como Cady, você pode se sentir obrigado a usar algumas de suas próprias inseguranças para fazer seu amigo se sentir melhor, mas isso só reforça o ciclo negativo de conversas sobre o corpo, disse Engeln.

“Quando criticamos nossos próprios corpos dessa maneira, sugerimos às pessoas ao nosso redor que não há nada de errado em focar nos corpos das pessoas e fazer comentários negativos sobre elas”, disse ela. “Em vez disso, vamos enviar a mensagem de que temos coisas melhores para conversar do que o tamanho e a forma dos nossos corpos”.

Não tente convencê-los de que estão errados.

Quando um amigo está falando mal do corpo, você pode sentir o desejo de dizer que suas questões são loucas, ilusórias ou simplesmente erradas. Mas essa tática pode sair pela culatra, tornando seu amigo menos propenso a se abrir com você sobre as lutas deles no futuro.

“Por exemplo, se um amigo está reclamando que é gordo, não é útil convencê-lo de que não é, pois você corre o risco de isolá-lo”, disse Efron. “Em vez disso, envolva-se em palavras gentis e distrações”

Mude o assunto.

Afaste o tema da conversa sobre seu próprio corpo e sugira um tema mais produtivo.

“Por exemplo, você poderia dizer: ‘Essa cultura só faz com que as mulheres passem a odiar os seus corpos’”, disse Engeln. “Então você está mudando o foco das falhas corporais percebidas para os elementos tóxicos do nosso mundo social que alimentam esse tipo de conversa”.

Ou você pode mudar de conversa para algo mais positivo. Pergunte a eles sobre um sucesso recente no trabalho, uma viagem divertida que planejaram ou como está sua sobrinha ou sobrinho.

Tente um exercício de gratidão.

Quando um dos clientes ou amigos de Efron se sente desanimado com uma área específica do corpo, ela pede que pensem em alguma outra parte que eles realmente gostem. Isso ajuda a destacar a função do corpo, e não apenas sua aparência.

“Por exemplo, se um amigo está reclamando que tem coxas gordas, você pode ajudá-lo a se lembrar de algo que suas coxas possibilitam, como caminhar sempre que quiser”, disse ela.

Converse em separado sobre por que você não participa mais desse tipo de conversa.

Dependendo de quão perto você está dessa pessoa, inicie uma discussão – de preferência não logo após o body shaming – sobre por que você deseja evitar comentários negativos sobre o corpo daqui para frente. (Essa é provavelmente uma conversa reservada a um bom amigo ou membro da família, e não a um conhecido casual.)

“Você pode deixar claro que esse é um objetivo que você tem, explicar por quais razões e pedir ao seu amigo para ajudá-lo, mantendo-se longe das conversas negativas sobre o corpo quando estiver por perto”, disse Engeln.

Se seu amigo parecer excessivamente preocupado com a imagem corporal, incentive-o a procurar um profissional.

De acordo com a Associação Nacional de Distúrbios Alimentares, pessoas com altos níveis de insatisfação corporal “são mais propensas a sofrer de sentimentos de depressão, isolamento, baixa auto-estima e distúrbios alimentares”.

Se você está preocupado com a obsessão de um amigo por seu corpo, dieta ou rotina de exercícios, ajude-o a encontrar um terapeuta, nutricionista ou médico que possa ajudá-lo a lidar com seus padrões ou comportamentos prejudiciais.

Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês


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