29/03/2024 - Edição 540

Entrevista

Um papo com Benett

Publicado em 20/02/2020 12:00 -

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Um breve perfil profissional. Como você começou, por onde passou e onde está agora.

Comecei batendo nas portas de jornais impressos, mostrando meu trabalho para os editores, como a maioria dos cartunistas da minha geração. Preparava uma pasta com charges e tiras e ficava sonhando em publicar algum desenho. E, melhor ainda, ser remunerado por isso. Em 1999 depois de terminar o curso de jornalismo, fui contratado por um jornal de minha cidade. Um ano depois estava na Gazeta do Povo, de Curitiba. E, em 2007, cobri férias do Angeli e do Glauco na Folha, onde acabei ficando.

Se inspirou em algum chargista?

Tenho uma lista de autores, como Schulz, Angeli, Laerte, Jaguar, Millôr, Steinberg, Charles Addams. A lista é imensa. Mas não é só chargista, não. A inspiração vem de escritores, cineastas etc.

Qual o papel da charge em um jornalismo preocupado com a construção de uma sociedade mais plural?

Hoje em dia ela tem vários papeis. Resistência, denúncia, sátira com objetivo de desconstruir um "mito", aí vale para aquele que se intitula o "mito". Ela (a charge) é uma das muitas vozes que se erguem contra a opressão. 

A charge é uma ferramenta carregada de “posicionamentos” que levam o leitor a refletir sobre determinado tema. Concorda com esta afirmação?

Carregada de posicionamentos e que depende de um contexto de notícias que, se o leitor não estiver familiarizado com os assuntos abordados, vai ficar sem entender. Ele não apenas não irá refletir como fará a interpretação mais rasa do que o desenho permite. No entanto, o contrário também pode acontecer. Uma charge rasa, feita por um cartunista que também não está familiarizado com os assuntos, vai deixar o leitor mais esclarecido com vontade de rasgar o jornal. Por isso, hoje em dia, apesar da profusão de assuntos, não tem sido tão fácil assim fazer charges.

Como o “mito” da imparcialidade se coloca para a charge? É possível ser “imparcial” diante do fascismo, do totalitarismo, do preconceito por exemplo?

Não, um autor que se pretende relevante não pode se omitir quando vê a República sendo demolida. Ele tem que ser o primeiro que pega os ancinhos e tochas e vai até a casa do monstro para ver o que está acontecendo. Há um mito de que o chargista é quase um bobo da corte, que brinca com assuntos de adulto e depois se esconde por trás da imagem de "palhaço". Acho que para ocupar o espaço que ocupa em um jornal o chargista tem que ter convicções claras das bandeiras civilizatórias que ele defende. A saber: democracia, liberdade de imprensa, defesa de minorias, liberdade de expressão, e por aí vai.


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