26/04/2024 - Edição 540

Poder

Miliciano ligado a Flávio Bolsonaro morre em confronto com policiais na Bahia

Publicado em 07/02/2020 12:00 -

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Apontado como o chefe do Escritório do Crime, o miliciano Adriano Magalhães de Nóbrega morreu após um confronto com policiais militares, na manhã deste domingo (9), na zona rural da cidade de Esplanada. Contra ele, havia um mandado de prisão expedido em janeiro de 2019.

O Escritório do Crime é o grupo de matadores de aluguel atuante no estado do Rio de Janeiro suspeito de ter ligação com o assassinato de Marielle Franco.

Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), o ex-policial militar carioca passou a ser monitorado por equipes do órgão, após informações de que ele teria buscado esconderijo na Bahia.

De acordo com a SSP, Adriano Magalhães de Nóbrega foi localizado por equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) Litoral Norte e da Superintendência de Inteligência (SI) da Secretaria da Segurança Pública em um imóvel.

A Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou que no momento do cumprimento do mandado de prisão o suspeito resistiu com disparos de arma de fogo e terminou ferido. Ele chegou a ser socorrido e levado para um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos.

Os policiais apreenderam com o foragido uma pistola austríaca calibre 9mm. Dentro do imóvel, as equipes encontraram mais três armas.

Adriano estava foragido há mais de um ano, após a Operação Intocáveis. Na ocasião, cinco foram presos acusados de grilagem de terra, agiotagem e pagamento de propina em Rio das Pedras, Zona Oeste.

Histórico do capitão

Adriano Magalhães da Nóbrega aparece nas escutas telefônicas do Ministério Público como "Capitão Adriano" ou "Gordinho".

Adriano é considerado por policiais e investigadores como um indivíduo violento. Ex-capitão da tropa de elite da PM, Adriano foi preso duas vezes suspeito de ligações com a máfia de caça-níqueis.

Em 2011, foi preso na Operação Tempestade no Deserto, que mirou a cúpula do jogo do bicho. Na época, a investigação apontou que ele era segurança de José Luiz de Barros Lopes, bicheiro conhecido como Zé Personal, morto no mesmo ano.

Segundo o MP, o ex-capitão também era o responsável pela segurança da esposa de Zé Personal, Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Waldomir Paes Garcia, o Maninho, morto em 2004.

Um ano antes, Adriano chegou a ser homenageado pelo hoje senador e então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Caso Queiroz

Adriano, segundo investigações do Ministério Público, era amigo do ex-PM Fabrício Queiroz, ex-funcionário do gabinete de Flávio Bolsonaro. A mulher e a mãe de Adriano, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega e Raimunda Veras Magalhães, trabalharam no gabinete de Flávio.

O ex-PM teria inclusive recebido repasses de duas pizzarias controladas por Adriano. Dois repasses vieram das empresas controladas por Adriano, de acordo com os investigadores:

– a Pizzaria Tatyara Ltda repassou R$ 45.330 mil

– o Restaurante e Pizzaria Rio Cap Ltda enviou R$ 26.920 mil

O MP suspeita que Adriano seja sócio oculto dos dois restaurantes. Formalmente, o ex-policial não aparece no quadro societário das empresas. Quem aparece é a sua mãe, Raimunda.

Os promotores investigam se o saque de R$ 202 mil das contas de Danielle e Raimunda foram entregues em mãos a Fabrício Queiroz, evitando assim qualquer rastro dos repasses.

Ostentação

Nóbrega havia alugado uma mansão em um condomínio de luxo na Costa do Sauípe, no litoral da Bahia, ao custo de R$ 1 mil por dia, onde fez sua festa de aniversário, no dia 14 de janeiro. Foi na mansão que a polícia realizou uma operação frustrada no último dia 1º para prender o miliciano, que teria fugido em meio à mata. No local, os policiais encontraram um carteira de identidade falsa que está sendo usada pelo miliciano, que teve mãe e ex-esposa empregada no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

No documento, Adriano adotava o nome de Marco Antonio Linos Negreiros e aparece de barba na foto. Na identidade, emitida em 9 de junho de 2016 pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, o ex-Bope aparece como natural de Fortaleza. Ele preservou o primeiro nome da mãe, Raimunda, e do pai, José, alterando apenas o sobrenome de ambos.

Segundo investigadores, Adriano contava com uma “rede de proteção” para continuar foragido. Há a suspeita de que a carteira foi realmente emitida pela órgão de segurança cearense a partir de uma certidão de nascimento falsa.

Fora da lista

Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro, havia deixado Nóbrega de fora da sua lista de criminosos. De acordo com o Ministério Público, o ex-PM controlava contas bancárias que foram usadas para abastecer Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador, suposto operador do esquema no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro. Queiroz é amigo do presidente da República. Nóbrega teve duas parentes nomeadas no gabinete de Flávio Bolsonaro, uma delas a sua ex-esposa, que foi demitida, após as investigações apontarem irregularidades financeiras.

Em resposta, o Ministério da Justiça disse que o ex-capitão não foi incluído porque “as acusações contra ele não possuem caráter interestadual, requisito essencial para figurar no banco de criminosos de caráter nacional”. Porém, há na lista, dois integrantes de uma milícia de outro bairro da zona oeste. Em seus perfis publicados na página da pasta, sua área de atuação indicada é apenas o Rio de Janeiro. Wellington da Silva Braga, o Ecko, e Danilo Dias Lima, o Tandera, seu braço direito. Os dois atuavam em Campo Grande.

A exclusão não faz bem à biografia do ministro Sergio Moro. Nesse episódio, o ex-juiz da Lava Jato está na posição de mulher de César: não basta parecer, é preciso ser honesto.

O capitão Magalhães, como era conhecido, ostentava o apelido de "Caveirão". Era um velho amigo de Queiroz, o 'faz-tudo' da família Bolsonaro. Duas parentes —uma filha e a mulher— fizeram escala na folha salarial tóxica do gabinete de Flávio Bolsonaro na época em que o Zero Um dava expediente na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.


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