26/04/2024 - Edição 540

Saúde

O que se sabe sobre o coronavírus?

Publicado em 04/02/2020 12:00 -

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O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciou que o governo decretará emergência em saúde pública devido ao novo coronavírus. A mudança no nível de alerta ocorre mesmo sem a comprovação de casos no país, para viabilizar a repatriação de brasileiros que estão em Wuhan, na China.

Mandetta disse que o aumento do nível de alerta de perigo iminente para emergência em saúde pública, que geralmente ocorre quando há casos confirmados no país, é necessário para possibilitar a repatriação dos brasileiros e a montagem da área de quarentena onde o grupo ficará. Com essa declaração, o governo pode dispensar processos de licitação para dar uma resposta ao caso.

"Sem o estado de emergência eu não consigo ter medidas de agilidade para lidar com uma situação dessas. O estado de emergência vai servir, inclusive, para viabilizar essa operação de repatriamento, que vai ter custos não previstos", acrescentou Mandetta.

De acordo com o ministro, 40 brasileiros demonstraram vontade de sair de Wuhan, mas os números finais ainda estão em aberto. "Vamos trazer as pessoas que estão em Wuhan porque a cidade está em estado de bloqueio determinado pela autoridade de saúde da China", acrescentou.

O governo enviará ao Congresso uma medida provisória (MP) com os critérios da quarentena. O ministro adiantou que o grupo será submetido a exames antes de embarcarem para o Brasil e que aqueles que apresentarem os sintomas da doença não poderão deixar Wuhan. Eles ficarão isolados por 18 dias ao voltar para o país.

O Ministério da Defesa coordenará o voo e o Itamaraty os trâmites juntos à China para a repatriação. Mandetta disse que ainda não foi definido o local da quarentena. Anteriormente, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse à que as cidades de Anápolis, em Goiás, Florianópolis, em Santa Catarina, ou uma localidade no Nordeste estão entre as cogitadas.

"Existe uma base militar, em Anápolis, que tem vantagens. Pela proximidade com o Hospital de Forças Armadas em Brasília, com leitos que podem ser separados", comentou Mandetta. O ministro afirmou também Florianópolis teria condições de receber o grupo.

Inicialmente, o presidente Jair Bolsonaro vinha rejeitando uma possível repatriação de brasileiros, nos moldes das operações implementadas por outros países, e também descartando o envio de aviões da Força Aérea à China.

Na semana passada o presidente dissera que não mandaria buscar cidadãos até que o Congresso promova uma lei que garanta a proteção dos brasileiros que estão no Brasil, incluindo a garantia de que cidadãos retornados passem por uma quarentena.

O governo voltou atrás e anunciou a repatriação depois de um grupo de brasileiros na China gravar um vídeo apelando ao governo de Bolsonaro por auxílio na retirada de cidadãos do país em meio ao surto do novo coronavírus.

O Ministério da Saúde divulgou também nesta segunda-feira que há 14 casos suspeitos no país. Metade dos pacientes está em São Paulo. Há suspeitas também no Rio Grande do Sul (4), Santa Catarina (2) e Rio de Janeiro (1). Até agora nenhuma infecção por coronavírus foi confirmada.

Iniciado em dezembro em Wuhan, na China, o surto da doença é causado por um novo tipo de coronavírus, semelhante ao da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que matou quase 800 pessoas em todo o mundo durante uma epidemia ocorrida entre os anos 2002 e 2003 e que também começou na China.

O que prevê o projeto do governo brasileiro sobre coronavírus

O Senado aprovou no dia 5 um projeto de lei que estabelece medidas para o combate ao novo coronavírus e as regras para a repatriação de brasileiros que estão em Wuhan, na China, o epicentro do surto. O texto havia sido aprovado pela Câmara na véspera.

A proposta, que agora segue para a sanção do presidente Jair Bolsonaro, havia sido enviada ao Congresso pelo governo brasileiro em regime de urgência na terça-feira. No mesmo dia, o Ministério da Saúde declarou estado de emergência em saúde pública devido ao surto.

A mudança no nível de alerta ocorreu mesmo sem a comprovação de casos no país e foi necessária para viabilizar a repatriação dos brasileiros. Com essa declaração, o governo pode dispensar processos de licitação para dar uma resposta ao caso.

Entre as medidas previstas no projeto de lei estão o isolamento de pessoas infectadas para evitar a propagação do vírus e a quarentena para casos suspeitos. A proposta estabelece ainda a realização compulsória de exames, tratamentos médicos e vacinação, além do direito ao tratamento gratuito.

A medida também abre caminho para a importação temporária de produtos sem registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que estejam registrados no exterior ou previstos em atos do Ministério da Saúde.

O projeto de lei ainda dispensa processos licitatórios durante o período de emergência em saúde pública para a compra de bens, serviços e medicamentos utilizados no combate ao coronavírus.

A proposta estabelece a comunicação obrigatória, por parte de todos os brasileiros, de casos suspeitos e possíveis contatos com infectados, além da circulação em áreas de contaminação. Essas informações devem ser compartilhadas entre órgãos municipais, estaduais e federais.

O projeto destaca que as medidas serão aplicadas somente "com base em evidências científicas e em análises sobre as informações estratégicas em saúde" e devem ocorrer em prazo restrito. O Ministério da Saúde será responsável por definir as regras para a aplicação das ações previstas no texto, incluindo a quarentena para os brasileiros que serão repatriados.

Nesta quarta-feira, Bolsonaro afirmou que os militares brasileiros que participarão da missão de evacuação dos brasileiros em Wuhan também ficarão em quarentena numa base militar em Anápolis, Goiás.

"E o pessoal chegando, inclusive nosso pessoal da Força Aérea, mais de uma dezena de militares, quando voltar também vão passar o Carnaval em quarentena. Então, é responsabilidade acima de tudo trazendo esse pessoal de lá para cá", disse o presidente em Brasília.

Na segunda-feira, o ministério anunciou que a quarentena seria de 18 dias. O Ministério da Defesa confirmou nesta terça-feira que eles ficariam isolados na base militar.

Ao menos 29 pessoas, incluindo quatro chineses cônjuges ou pais de brasileiros e sete crianças, retornarão ao país no sábado. Eles estão atualmente em Wuhan, a cidade que foi isolada na China para evitar uma propagação maior do vírus, que já infectou mais de 28 mil pessoas e deixou 563 mortos.

De acordo com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, os brasileiros que apresentarem os sintomas da doença antes do embarque não poderão ser repatriados.

O grupo será trazido em dois aviões reservas da frota presidencial que não costumam ser usados por Bolsonaro. As aeronaves partiram nesta quarta-feira à China.

Atualmente, o Brasil investiga oito casos suspeitos no país, informaram autoridades brasileiras no dia 6. São três pacientes em São Paulo, três no Rio Grande do Sul, um em Santa Catarina e um no Rio de Janeiro. Até agora nenhuma infecção por coronavírus foi confirmada, e 24 casos suspeitos foram descartados.

Iniciado em dezembro em Wuhan, na China, o surto da doença é causado por um novo tipo de coronavírus, semelhante ao da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que matou quase 800 pessoas em todo o mundo durante uma epidemia ocorrida entre os anos 2002 e 2003 e que também começou na China.

Os sintomas são febre e cansaço, acompanhados de tosse seca e, em muitos casos, dificuldades respiratórias.

O que se sabe sobre a doença

O novo coronavírus, batizado provisoriamente de 2019-nCoV pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda está sendo estudado. O primeiro alerta para a doença foi emitido pela OMS em 31 de dezembro de 2019, após autoridades chinesas notificarem casos de uma misteriosa pneumonia na cidade de Wuhan.

A China afirma que uma vacina está em desenvolvimento e que uma cepa do vírus já foi isolada com sucesso. Os coronavírus foram descobertos na década de 1960, e o nome deriva de seu formato, semelhante a uma coroa. São vírus de RNA extremamente adaptáveis e geneticamente diversos. Eles podem se espalhar facilmente e infectar espécies diferentes.

Enquanto alguns coronavírus provocam resfriado comum, outros podem evoluir para doenças mais graves, causando dificuldade de respirar, pneumonia e até morte.

Em 2002 e 2003, por exemplo, o agressivo coronavírus SARS-CoV levou a uma epidemia em 30 países. No mundo, mais de 8 mil foram infectados e cerca de mil morreram. Em 2012, o Coronavírus da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) foi descoberto na Península Arábica.

Como o vírus é transmitido?

Já foi confirmado que o novo coronavírus pode ser transmitido entre humanos, mas ainda não está claro como. Embora muitos outros coronavírus sejam transmitidos por tosse e espirros, ainda não se sabe se esta também é a forma de transmissão do novo vírus.

O que se sabe é que ele pode se espalhar antes mesmo de aparecerem os primeiros sintomas e que o tempo de incubação varia de um a 14 dias. Segundo o ministro da Comissão Nacional de Saúde da China, Ma Xiaowei, a capacidade de transmissão está se fortalecendo, e por isso o número de infecções pode continuar aumentando. 

As primeiras infecções foram detectadas na cidade chinesa de Wuhan e remontam a um mercado de animais selvagens e peixes, que foi fechado. O vírus pode ter sido transmitido através do contato direto entre humanos e animais, ou simplesmente através do ar.

Os vírus que podem se espalhar entre humanos e animais causam as chamadas doenças zoonóticas. Eles podem ser transmitidos quando humanos consomem carne ou produtos de origem animal, por exemplo, se não forem suficientemente aquecidos ou se preparados em ambiente insalubre.

Quais são os sintomas?

Os sintomas são, em muitos casos, parecidos com os de uma gripe, como febre, cansaço e dificuldade de respirar. O vírus também pode causar pneumonia. 

A doença é mais comum em idosos. Segundo o Comitê Nacional de Saúde da China, homens com mais de 50 anos e com algum problema de saúde anterior representam boa parte das vítimas.

Como será feito o diagnóstico no Brasil em caso de suspeita?

Embora ainda não haja casos registrados no Brasil, há um protocolo a ser seguido em caso de suspeita. Primeiro, é feita a coleta de duas amostras de materiais respiratórios com potencial de aerossolização (aspiração de vias aéreas ou indução de escarro). As amostras são encaminhadas com urgência para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). Uma das amostras é enviada ao Centro Nacional de Influenza (NIC) e a outra, para análise de metagenômica.

Para ser considerado um caso suspeito do novo coronavírus, o paciente precisa apresentar sintomas da doença, além de estar enquadrado numa das seguintes situações: ter viajado nos últimos 14 dias antes do início dos sintomas para a cidade de Wuhan, ou tido contato próximo com um caso suspeito ou confirmado. Até o momento, as autoridades de saúde identificaram 16 casos suspeitos em todo o país.

O Ministério da Saúde orienta que casos suspeitos devem ser mantidos em isolamento enquanto houver sinais e sintomas clínicos. Casos descartados laboratorialmente, independente dos sintomas, podem ser retirados do isolamento. O órgão também instalou o Centro de Operações de Emergência (COE) – coronavírus, um comitê para preparar a rede pública de saúde para o atendimento de possíveis casos no Brasil.

Que países e territórios já registraram a doença?

Além da China, que concentra a imensa maioria dos infectados, há casos confirmados em mais de 20 países, entre eles França, Estados Unidos, Austrália, Canadá, Alemanha, Rússia, Itália, Inglaterra, Finlândia, Índia, Emirados Árabes Unidos, Hong Kong, Taiwan, Tailândia, Japão, Malásia, Cingapura, Coreia do Sul, Nepal, Camboja, Vietnã, Filipinas e Sri Lanka.

Neste domingo, autoridades das Filipinas confirmaram que um homem de nacionalidade chinesa morreu no país vítima de uma grave pneumonia causada pelo novo coronavírus, marcando assim a primeira morte relacionada à doença fora da China.

O que está sendo feito para interromper o surto?

Passageiros vindos das regiões afetadas são vistoriados e examinados em aeroportos americanos e europeus e em vários centros de transporte público na Ásia.

Como o surto foi declarado uma emergência internacional de saúde pública, isso pode significar restrições a viagens internacionais, verificações mais rigorosas nas fronteiras e criação de centros de tratamento especiais, além de áreas de quarentena.

A grande maioria dos infectados se concentra em Wuhan. Por isso, a cidade está construindo um novo hospital, com mil leitos, especialmente para tratar infectados pela doença. Ele deve começar a funcionar já no começo de fevereiro.

Atualmente os infectados estão sendo isolados e tratados em 61 hospitais. Quase 6 mil médicos de todo o país foram enviados à província de Hubei para reforçar a luta contra o surto.

Wuhan e outras cidades de Hubei estão em quarentena. As ligações de transportes públicos foram amplamente cortadas, afetando cerca de 56 milhões de cidadãos. O governo chinês prorrogou até 2 de fevereiro o feriado do Ano Novo Lunar, cujo término estava previsto para 30 de janeiro.

Universidades, colégios e creches em todo o país adiarão a abertura do semestre. Parte da Grande Muralha da China e outros famosos pontos turísticos foram fechados, assim como a Disney em Xangai. O Cirque du Soleil cancelou seus shows em Hangzhou até segunda ordem. O Campeonato Mundial de Atletismo Indoor, que seria realizado na China em março, foi adiado para 2021. 

Em Xangai, as autoridades impediram os navios de cruzeiro de entrarem e saírem de seu porto. Várias províncias chinesas proibiram viagens para outras regiões. 

A Mongólia, que faz fronteira com a China, decidiu fechar os pontos de travessia rodoviária para evitar a propagação do novo coronavírus. As ligações ferroviárias e aéreas ainda estão abertas. As Filipinas suspenderam a emissão de vistos para a China para evitar que o surto chegue ao país.

As autoridades chinesas também proibiram indefinidamente o comércio de animais silvestres em mercados, supermercados, restaurantes e em plataformas de comércio eletrônico, já que a possível fonte do vírus foi um mercado de animais silvestres e peixes.

Países como Alemanha, Estados Unidos, França, Portugal, Reino Unido e Japão estão retirando seus cidadãos da região de Wuhan. As empresas aéreas British Airways, Air France, KLM, Iberia e Lufthansa, entre outras, anunciaram que suspenderam seus voos para e da China continental.

A OMS declarou o surto do novo coronavírus uma emergência de saúde global, mas ressalvou não haver necessidade de se limitarem as viagens e o comércio com a China. Esta é a sexta vez em sua história que a entidade declara esse nível de emergência.


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