28/03/2024 - Edição 540

Saúde

Relatório aponta aumento de 21% em novas infecções por HIV no Brasil em oito anos

Publicado em 14/01/2020 12:00 -

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No Brasil, em oito anos, houve um aumento de 21% no número de novas infecções por HIV, de acordo com relatório da UNAIDS, Programa das Nações Unidas para o HIV/Aids. Os dados apontam que o contágio do vírus na América Latina cresceu 7% entre 2010 e 2018. Esse aumento vai na contramão da tendência mundial, em que há diminuição de casos. O relatório aponta ainda que, para diminuir o índice, é necessário focar as políticas de prevenção para os homens homossexuais e as mulheres transsexuais, que estão no grupo de maior vulnerabilidade.

Segundo Manuela Brito, psicóloga e doutoranda em Psicologia Social, esse aumento não é diluído na população. “A gente tem populações chaves que são mais vulneráveis e é entre elas que está se dando o aumento. A exemplo de jovens gays, travestis e transexuais. Esse aumento é desigual. A população geral continua estável no número de novas infecções. Por isso, na hora de tirar a média, dá essa tendência ao aumento, mas o aumento é ainda maior nessas populações vulneráveis”, elucida.

O HIV é a sigla em inglês de um retrovírus que afeta células específicas do sistema imunológico e, quando não tratado, pode levar o organismo à incapacidade de lutar contra infecções e doenças, podendo desenvolver a AIDS, que é a síndrome da imunodeficiência adquirida, quando a pessoa adquire doenças oportunistas.

O vírus pode estar presente no sangue, sêmen, secreção vaginal ou leite materno. Podendo ser transmitido por meio de relações sexuais sem camisinha, mãe (portadora do vírus) para o filho durante a gestação, o parto ou a amamentação; compartilhamento de agulha ou seringa; transfusão de sangue; ou ainda instrumentos diversos (hospitalares, piercing, manicure) não esterilizados. A descoberta e tratamento imediato são fundamentais e pode prolongar a vida da pessoa infectada pelo HIV, além de diminuir as chances de transmissão.

No que se refere à prevenção, Manuela ressalta que, hoje em dia, o foco não está somente no uso do preservativo masculino e feminino e no gel lubrificante, que são os insumos de prevenção. “A gente tem a profilaxia pré-exposição [PrEP], então as pessoas que são de casais sorodiscordantes, que não usam o preservativo ou que se envolve em comportamentos mais vulneráveis, podem tomar o medicamento antirretroviral antes. Tem a profilaxia pós exposição [PEP], que são para pessoas que avaliam que ficaram em algum risco para infecção de HIV. Além dos insumos, da PrEP, PEP, também os materiais informativos fazem parte da Mandala da Prevenção. Há também o tratamento como prevenção, ou seja, se a pessoa está infectada mas com a carga viral indetectável, ela não transmite o vírus”, pontua.

A psicóloga explica que todas as pessoas que descobrem a infecção pelo vírus do HIV são logo encaminhadas para tratamento. “São agendadas para o médico infectologista, psicólogo, assistente social, e dado o tratamento com medicação, que ela vai retirar em uma das farmácias que disponibilizam a medicação retroviral. Regularmente ela vai ter consulta com os profissionais quanto tempo ela precisar, além de receber as informações de serviços sociais”, conclui.

Manuela afirma que a onda de conservadorismo político e moral no Brasil e no mundo é um desafio, pois esses discursos mais conservadores criminalizam e estigmatizam as pessoas que vivem com HIV. “A gente ainda precisa fazer a discussão sobre esse conservadorismo e a vulnerabilização das pessoas, e fazer uma análise de raça, gênero e classe das pessoas que estão mais vulnerabilizadas para que a política reflita, combata e enfrente essas desigualdades sociais que se refletem também nas políticas de HIV”, finaliza.


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