28/03/2024 - Edição 540

Poder

Ficha de Bolsonaro ainda não caiu na Educação

Publicado em 13/12/2019 12:00 -

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Nomes importantes do Ministério da Educação (MEC) deixaram a pasta nos últimos dias numa indicação, segundo fontes, de que o ministro Abraham Weintraub vai sair do cargo. O próprio Weintraub inicia um período de férias nesta sexta-feira, 13, emendando com os recessos, e muitos acreditam que ele não volta em 2020 ao cargo de ministro de Educação. Na quinta-feira, 12, a exoneração da sua principal assessora, a jornalista Priscila Costa e Silva, foi publicada no Diário Oficial da União.

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) do MEC, um dos órgãos mais importantes do MEC, Alexandre Lopes, também não está mais dando expediente desde a semana passada. Ele está sendo substituído em eventos e coletivas por Camilo Mussi, diretor de tratamento e disseminação de informações educacionais do Inep. As informações são de que Lopes também vai emendar férias e recesso de fim de ano.

Na semana passada, dois coordenadores da área de Alfabetização do MEC, Renan Sargiani e Josiane Toledo Silva, também deixaram o MEC. Sargiani era o principal cientista na pasta, com currículo elogiado e especializado na área. Segundo fontes, de perfil técnico, ele teve dificuldades em implementar projetos por disputas internas com alas mais burocráticas e ideológicas. Sargiani foi o responsável pela Política Nacional de Alfabetização, que até hoje não saiu do papel. Segundo fontes, Weintraub é malvisto tanto pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, quanto pelo secretário-geral da Presidência, Jorge Antonio de Oliveira Francisco, que avaliam que suas polêmicas são desnecessárias e prejudicam o governo. Na Economia, reclama-se ainda do fato de ele pensar em projetos e sequer comunicar a área econômica, como o Future-se, que previa criação de fundos.

O ministro também não tem apoio de ninguém da área educacional e é conhecido entre reitores como “o ministro da educação que não gosta de educação”. No último dia 11, em audiência na Câmara, disse mais uma vez que há plantações de maconha em universidades federais.

Mais baixas

Outro que deve deixar a pasta é o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Anderson Correa. Ele se candidatou ao processo seletivo para reitor do Instituto Tecnológico de Aeronática (ITA) e foi o escolhido. A comunicação oficial será feita em janeiro.

Procurada, a agora ex-assessora de Abraham, que o acompanhou nesta quarta em audiência na Câmara, disse que o “tempo no MEC foi de muitos aprendizados e grandes realizações”.

“Agradeço a toda a minha equipe pelo empenho e dedicação nesse período que passamos juntos. Ao ministro, em especial, por ter sido um chefe maravilhoso que sempre me deu autonomia e acreditou no meu trabalho. Foi gratificante! Agora é hora de trilhar novos caminhos”, completou Priscila, cuja exoneração foi a pedido. Além de ter se tornado muito próxima do ministro, ela comandava a área de comunicação do MEC.

O Inep informou, em nota, que Alexandre Lopes está em férias entre 10 e 27 de dezembro. Ele assumiu o cargo em maio, depois de dois outros que foram demitidos. Segundo o Inep, o período de férias “é referente ao exercício de 2018, uma vez que Lopes é servidor público de carreira desde 1999”.  A nota ainda diz que o presidente do Inep “segue acompanhando os trabalhos do instituto, que permanecem em pleno andamento sob a gestão de seu substituto, Camilo Mussi”.

A conhecidos, Weintraub tem dito que sua família é ameaçada e que mulher e filhos vão se mudar para o Canadá. Atualmente, há dois oficiais armados dentro do gabinete do ministro.

O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, também tem pedido nomes para substituir Weintraub no MEC a congressistas. Ele, no entanto, também negou ontem pelas redes sociais que tenha “descontentamento com o MEC”. Pela afinidade ideológica com o presidente, no entanto, há possibilidade de que ele continue no governo, em outro órgão. O ministro também pensa em se candidatar nas próximas eleições.

Deputados aprovaram o relatório final da comissão especial da Câmara que analisou o MEC e identificou paralisia nas atividades. O texto tem 273 páginas e avalia o planejamento e a gestão do ministério como “muito aquém do esperado e insuficientes para dar conta dos desafios educacionais que se apresentam no País”. Um dos argumentos é que ainda não foi apresentado um Planejamento Estratégico para o ano de 2019, e diversas metas do Plano Nacional de Educação (PNE) estão atrasadas.

Durante a sessão de ontem na Câmara, o deputado federal Idilvan Alencar (PDT-CE) pediu que ele deixasse o cargo e disse que “nem o pessoal altamente mais drogado” acredita o ministro está fazendo “uma revolução na educação”, em referência a uma frase do próprio Weintraub. “Pelo contrário, sua função no MEC é meramente ideológica, para disseminar ódio, criticar as pessoas. O senhor não condição técnica para estar nesse cargo, não é respeitado por políticos, professor, estudante, reitores. Acho que o senhor deveria aproveitar esse Natal e pegar o beco”, completou o deputado, que foi secretário de Educação no Ceará. A expressão é usada no Ceará, segundo ele, para “ir embora”. O ministro disse que a colocação foi grosseira.

Contramão

Na contramão das críticas feitas por Weintraub, Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC) mostrou nesta semana que sete em cada dez (68%) universidades federais têm desempenho nas faixas 4 e 5 no Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC). Essas são as mais altas taxas de desempenho.

O IGC é um indicador de qualidade mensurado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão que faz parte do Ministério da Educação.

Cada universidade é avaliada com nota de 1 a 5. Ela é baseada em dois critérios: a nota que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) atribui à cada curso de pós-graduação da instituição e a média de cada curso do Conceito Preliminar de Curso (CPC), que também é mensurado pelo Inep.

O CPC também é uma reunião de diferentes variáveis: o Conceito Enade tem 20% do peso; a porcentagem de professores com mestrado ou doutorado corresponde a 30% da nota; a percepção do estudante resulta em 15% do índice; e, por fim, o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD), que mede a evolução do aluno comparando a nota dele do Enem com a do Enade, tem 35% de peso no CPC.

As 13 federais que conquistaram a nota máxima (5) no IGC são as universidades de São Carlos, Viçosa, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo e Lavras, além do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o Instituto Militar de Engenharia (IME), a Fundação de Ciências da Saúde de Porto Alegre e a do ABC.

Entre as universidades privadas com fins lucrativos, 18% estão nesses patamares, enquanto as sem fins lucrativos tiveram 24% das instituições com esse desempenho.

Considerando apenas a nota dos cursos de graduação, essa diferença entre as universidades federais e as privadas cai, mas as públicas ainda mantém larga vantagem.

De acordo com as notas do CPC, 56,8% dos cursos das universidades federais têm notas 4 e 5. Nesses mesmos patamares, estão 18,4% dos cursos das particulares com fins lucrativas e 33,4% das privadas s em fins lucrativos. 

Análise

Formou-se no interior do governo uma torcida pela demissão do ministro Abraham Weintraub, da Educação. Mas a ficha de Jair Bolsonaro ainda não caiu. De acordo com um auxiliar do presidente, três coisas seguram Weintraub no cargo: 1) A hesitação de Bolsonaro; 2) A ausência de um substituto; e 3) A resistência do presidente de tomar decisões sob pressão do noticiário.

Bolsonaro elegeu-se presidente da República com um discurso conservador. Sabia-se que nomearia uma equipe conservadora. Mas o capitão entregou pedaços do seu governo ao atraso. A opção preferencial pelo arcaísmo é ainda mais nítida nas áreas da cultura e da educação, dominados por apadrinhados do polemista Olavo de Carvalho.

No Ministério da Educação, o olavista Weintraub apaixonou-se pelo caos. E vem sendo totalmente correspondido. É crescente o desconforto dentro do governo com o estilo do personagem, que oscila entre o folclórico-cômico e o ideológico-raivoso.

Os parafusos da cadeira de Weintraub estão frouxos. Mas o ministro comporta-se como se dispusesse de estabilidade no emprego. Reagiu ao noticiário sobre sua fragilidade com soberba e ira.

O ministro anotou no Twitter: "Diante dos resultados positivos que começam a aparecer e de minha total intransigência com o errado e o malfeito, esquerda e monopolistas entram em desespero. A mídia podre defende tais interesses e espalha mentiras. O ladrar desses cães é prova que estou no caminho certo."


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