24/04/2024 - Edição 540

Poder

Bolsonaro empata com Lula no 1° turno; Moro supera com folga o petista

Publicado em 13/12/2019 12:00 -

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Enquanto Bolsonaro e seu círculo mais próximo lembram fantasmas autoritários enxergando no horizonte a possibilidade de protestos radicais como os que ocorreram nas últimas semanas no Chile (a repetição disso por aqui representa uma miragem, diga-se), Lula saiu da cadeia justamente convocando a população a ir reclamar nas ruas contra o governo. Assim, os dois extremos vão se retroalimentando, tática que parece funcionar entre boa parte dos eleitores, conforme mostra a nova rodada de pesquisa eleitoral VEJA/FSB. Ambos representam as principais forças do momento, à direita e à esquerda.

O primeiro levantamento com o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois de ele ter deixado a prisão em Curitiba mostra o petista empatado tecnicamente com o candidato da situação no primeiro turno, seja ele o presidente Jair Bolsonaro, seja ele o ministro Sergio Moro (Justiça). Nos dois cenários, Lula tem 29% das intenções de voto, contra 32% dos dois adversários — a margem de erro é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos.

A pesquisa anterior, feita em outubro, com a inclusão de Lula, ainda preso, apenas em cenário de segundo turno, mostrava que o petista já era a maior ameaça ao bolsonarismo: ele possuía 38%, enquanto Bolsonaro tinha 46%. Na mesma simulação da nova pesquisa, ambos oscilam dentro da margem de erro: 40% para Lula e 45% para Bolsonaro. A polarização espreme os candidatos de centro, que ostentam porcentuais longe de levá-­los ao segundo turno — Ciro Gomes (PDT), Luciano Huck (sem partido), João Amoêdo (Novo) e João Doria (PSDB) chegam a perder para “nenhuma das alternativas”.

“Essa polarização interessa a Lula e a Bolsonaro, mas não à maior parte da sociedade”, afirma o cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, que alerta sobre o risco de uma nova onda de abstenções e votos nulos e brancos caso o cenário persista, a exemplo do que ocorreu em 2018. “Há as polarizações boas, que contribuem para a democracia, que precisa viver um pouco do conflito. Só que existe a polarização de baixa qualidade, e é isso que estamos vivendo”, diz. Para os especialistas, será difícil alterar o quadro, uma vez que o PT lidera a oposição às agendas econômica e política do governo, enquanto o bolsonarismo se fortalece com o enfrentamento com o petismo. “A política é dual, você é contra ou a favor de um projeto. No mundo político, é muito difícil mesmo circular fora de alguma dualidade”, avalia Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria Integrada.

A possibilidade de Fernando Haddad ser de novo o candidato petista, uma vez que Lula continua inelegível em razão da Lei da Ficha Limpa, é uma esperança para outras candidaturas, já que o ex-prefeito tem a maior rejeição: 60% não votariam nele de jeito nenhum — Lula tem 56%. Moro é o que melhor aparece nesse quesito, com 35%, condição que ajuda o ministro a conseguir o feito de empatar numericamente com Bolsonaro no segundo turno e derrotar Lula com vantagem maior que a de seu chefe. Já o presidente é rejeitado por 48% do eleitorado, o que pode não ser empecilho à reeleição, como lembra Marcelo Tokarski, diretor do Instituto FSB Pesquisa. “Sempre afirmaram que um candidato com rejeição superior a 40% era inviável. Mas na última eleição Bolsonaro desconstruiu essa tese. Às vésperas do primeiro turno, ele possuía uma rejeição de quase 50%. Um ano depois, o patamar permanece igual, e ele se mantém competitivo”, afirma. Muita água ainda vai rolar até 2022, mas o bolsonarismo e o petismo vão continuar insistindo no mesmo jogo da radicalização, que rende frutos até o momento.

Uma urna no caminho

Em entrevista à  Folha, Sergio Moro falou sobre 2022. Procurou não parecer o que é, para não passar a impressão de que é o que parece. Teve o cuidado de não excluir a hipótese de ser e parecer.

Perguntou-se a Moro: Não mexe com sua vaidade ser uma peça até favorita para 2022?

Para não parecer o que é, o ministro declarou: "Não tenho esse tipo de ambição."

Para que Bolsonaro não diga que é o que parece, Moro emendou: "Eu brinco que já tenho problemas suficientes para lidar".

Para não excluir a hipótese de ser e parecer, tascou: "Como ministro do presidente seria absolutamente inconsistente eu não apoiar a reeleição dele em 2022."

Ficou subentendido que, se virar ex-ministro, Moro pode se oferecer como alternativa para embaralhar o jogo viciado que está na mesa.

A alturas tantas, indagou-se: Descarta ser vice de Bolsonaro em 2022? A resposta veio no mesmo formato.

"O que temos é um vice-presidente que respeito muito, Hamilton Mourão", afirmou Moro, para não parecer o que é.

Mourão é "um general consagrado, que colocou em risco a carreira em um determinado momento para defender o que ele pensava", acrescentou, para que o vice não diga que é o que parece.

"Acho que essa discussão não é apropriada no momento", arrematou, abrindo uma vereda para ser e parecer candidato noutro instante.

Faltando três anos para a sucessão, especular sobre a candidatura presidencial de Moro é exercício de quiromancia política.

Entretanto, seria ingenuidade fechar os olhos para a possibilidade de que isso ocorra.

O ex-juiz participará da próxima campanha presidencial. Falta definir em que condições.

Ausente, Moro apanhará indefeso. No figurino de candidato, pode se defender e partir para o ataque.

Como diria Drummond, há uma urna no caminho de Sergio Moro.

Da frigideira à chapa

Ministro mais popular da Esplanada, Moro ficou bem-posto na penúltima fotografia tirada pelo Datafolha. Conhecido por 93% dos brasileiros, Moro é aprovado por 53%. Está 23 pontos percentuais acima de Jair Bolsonaro, cuja taxa de aprovação é de míseros 30%. Os dados servem para explicar por que o ministro da Justiça foi retirado da frigideira do Planalto.

Há cinco meses, a orquestra do capitão executava para Moro uma partitura com muitos tambores e poucos violinos. Bolsonaro afastou Roberto Leonel, um pupilo do ministro, do comando do velho Coaf. Ameaçou destituir da direção-geral da Polícia Federal o delegado Mauricio Valeixo.

Em junho, numa das saidinhas do Alvorada, um repórter perguntou ao presidente se confiava em Moro. A resposta soou corrosiva: "Eu não sei das particularidades da vida do Moro. Eu não frequento a casa dele. Ele não frequenta a minha casa… por questão até de local onde moram nossas famílias. Mas, mesmo assim, meu pai dizia para mim: Confie 100% só em mim e minha mãe".

Decorridos cinco meses, a cabeça de Valeixo continua sobre o pescoço. E Moro foi transferido da frigideira do Panalto para a chapa de Bolsonaro na sucessão de 2022. O ex-juiz da Lava Jato ocupa informalmente o posto de opção para a vaga de candidato a vice-presidente da República.

Munido de suas próprias pesquisas, Bolsonaro se deu conta de que o excesso de tambores e a escassez de violinos poderia empurrar Moro não para a vice, mas para a cabeça de uma chapa rival.

Confiança

O número de brasileiros que confiam nas declarações do ex-presidente Lula é maior que o volume de brasileiros que confiam nas declarações do presidente Jair Bolsonaro. Pelo menos é isso que aponta a pesquisa Datafolha divulgada no último dia 10 pela Folha de São Paulo. O estudo diz que 25% da população sempre confia em Lula, enquanto 19% têm o mesmo sentimento em relação a Bolsonaro.

O Datafolha já havia revelado que 80% dos brasileiros desconfiam das declarações do atual presidente e, agora, afirmou que, quando se trata do ex-presidente Lula, esse percentual cai para 73%. É que, hoje, 19% da população diz que sempre confia nas declarações de Lula, 36% confiam às vezes, 37% nunca confiam e 2% não sabem. Os índices registrados por Bolsonaro foram 19%, 37%, 43% e 1%, respectivamente.

A pesquisa ainda revela uma mudança no sentimento da população em relação à condenação de Lula. Hoje, 54% dos entrevistados pelo Datafolha consideraram justa a soltura do ex-presidente, que saiu da prisão em Curitiba após o Supremo Tribunal Federal mudar o seu entendimento sobre a prisão em segunda instância. Em abril, porém, os mesmos 54% diziam que a condenação de Lula era justa. Em outubro, 51% disseram que ele deveria continuar na cadeia.

O apoio ao ex-presidente vem, sobretudo, do Nordeste, onde 71% afirmaram que sua libertação foi justa. O ex-presidente ainda tem boa aprovação entre os jovens de 16 a 24 anos e os brasileiros que estudaram até o nível fundamental.

A pesquisa Datafolha ouviu 2.948 pessoas, em 176 municípios, na semana passada. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.


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