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Frutose em excesso pode levar ao acúmulo de gordura no fígado, diz estudo

Publicado em 26/11/2019 12:00 -

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Segundo um novo estudo feito por pesquisadores do Joslin Diabetes Center, da Faculdade de Medicina da Universidade Havard, ingerir alimentos com alto teor de frutose prejudica o metabolismo do fígado, órgão que controla os níveis de glicose e desintoxica o organismo. 

Embora a frutose seja conhecida como "o açúcar das frutas”, isso não é motivo para culpar a maçã, a banana ou o abacaxi – e deixar de comê-los. Ronald Kahn, que contribuiu para a pesquisa, conta que o mais importante é evitar os adoçantes industriais com altas doses de frutose.

“A maioria dos alimentos industrializados são adoçados com um tipo de xarope de milho que tem teor de frutose mais elevado do que a quantidade natural [do açúcar] que está presente nas frutas”, explica o pesquisador.

Kahn se juntou a outros cientistas do Joslin Diabetes Center e descobriu que a frutose pode inibir a capacidade do fígado de metabolizar gordura. Isso pode ser um problema, pois o órgão acaba armazenando essa gordura e fica inflamado.

O perigo, segundo Kahn, é a pessoa desenvolver doença hepática gordurosa, mais conhecida como esteatose hepática. Essa enfermidade tem sintomas como fadiga e dor na parte superior direita do abdômen. “Se isso ocorre por muito tempo, pode danificar as células, causar cirrose e até aumentar os riscos de câncer de fígado”, afirma o especialista.

Efeito oposto

Os pesquisadores também viram que a glicose, outro açúcar com o mesmo valor calórico que a frutose, pode melhorar a função de queima de gordura no fígado. “Costumávamos dizer que uma caloria é uma caloria, mas quando falamos de glicose e frutose, elas podem ter a mesma quantidade de calorias, porém o corpo lida com ambas de modo diferente”, conta Kahn.

Para entender como esses dois açúcares agem, os pesquisadores alimentaram ratos com dois tipos de dieta: a regular, à qual os bichos já estavam acostumados, e outra rica em gordura. Em ambas as rotinas alimentares, eles introduziram altos níveis de glicose ou de frutose.

Os resultados mostraram que havia menos gordura no fígado dos animais em dietas com alto teor de glicose. O órgão era mais afetado quando havia muita frutose e, pior ainda se houvesse muita gordura.

A explicação para isso, segundo o cientista de Harvard, é que a frutose em excesso danifica as mitocôndrias, organelas presentes nas células e que têm como função produzir energia. Para isso, elas usam como "combustível" a gordura do fígado. Acontece que, sem funcionarem direito, as mitocôndrias não conseguem fazer esse trabalho. Resultado: mais gordura acumulada.

Mudanças na indústria

O estudo ainda não chegou em testes clínicos em humanos, mas Kahn já adianta que a descoberta sobre os malefícios da frutose para o metabolismo do fígado pode contribuir para melhorar a alimentação como um todo e a fabricação de alimentos. Ele recomenda que sejam desenvolvidos adoçantes com menos frutose ou com glicose, em vez da frutose.

O pesquisador acredita que será possível desenvolver, no futuro, uma droga para bloquear a enzima responsável por metabolizar a frutose no fígado. Com isso, o açúcar não causaria danos às células e, consequentemente, ao órgão. 

Para prevenir problemas ao fígado, a recomendação dos especialistas é controlar o número de calorias e evitar comidas gordurosas. E tudo com equilíbrio: você não precisa cortar os doces da sua dieta. Só cuidado para não exagerar.

O pesquisador veio ao Brasil para participar da Nature Conference, encontro promovido pelo Instituto Serrapilheira entre os dias 15 a 18 de outubro. No evento, cientistas de oito países discutiram descobertas científicas na área do metabolismo.


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