19/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Gentili não é ignorante, Luciana Genro não é Hitler

Publicado em 18/09/2014 12:00 - Rodrigo Amém

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Luciana Genro, candidata do PSOL à Presidência, deu entrevista no programa do humorista Danilo Gentili, no SBT. Lá pelas tantas, o Roger, guitarrista da banda de apoio, desfila esta pérola: “O socialismo é uma ideologia que já matou 80 milhões de pessoas no mundo inteiro.” Luciana respondeu com uma diferenciação entre regimes totalitaristas e filosofias políticas que foi recebido com muxoxo pelos músicos do programa. Mais à frente, Danilo fez questão de retornar ao argumento de os pobres sem teto do capitalismo pelo menos “não estavam no paredão de fuzilamento”. Luciana também insistiu no “não é bem assim” e encerrou esta discussão com um deselegante “se você estudar um pouquinho, vai ver que não é assim”.  

Não vamos entrar na tragédia de erros de argumentação. “A história prova que a sua ideologia matou milhões de pessoas”, por exemplo, é um argumento tão válido para falar do socialismo quanto da igreja católica. Mas ninguém espera que o Roger dirija esta observação ao seu colega Fábio de Melo. Não é essa a questão.  

Quanto maior o índice de informação e conhecimento científico de uma pessoa, maior é a chance de que suas visões sejam radicais.

Eu quero focar no “você precisa estudar mais” da Luciana Genro, resposta torta que parece ter magoado profundamente Gentili. No dia seguinte, ele publicou uma montagem comparando Luciana a Hitler. Uma associação que, no embate político, é o equivalente a chamar o adversário de “Feio, bobo e cara de meleca”.  Reações tardias e imaturas à parte, o comentário foi indelicado da parte da candidata. Ela quis dizer que a visão radical de Gentili sobre o socialismo é fruto de ignorância política. E isso simplesmente não é verdade.

Ellen Peters é professora de psicologia na Ohio State University. Ela faz parte de um grupo de pesquisa chamado Projeto de Cognição Cultural, que estuda como o público se relaciona com questões polêmicas.

Uma das conclusões da pesquisa de Peters é que, quanto maior o índice de informação e conhecimento científico de uma pessoa, maior é a chance de que suas visões sejam radicais. Parece um contrassenso, mas uma possível explicação é que nossos posicionamentos impactam diretamente como a minha comunidade me vê. Logo, eu busco fontes de informação que reafirmam minha posição de referência e rechaço qualquer coisa que contrarie essa condição.

Gentili tem razão em se ofender com a acusação de ignorância. Manter sua visão de mundo numa posição de prestígio entre seus pares exige tempo e dedicação. Radicalismo raramente é ignorância. Quase sempre é contexto, seja ele qual for. Em outras palavras, não é uma questão de estudo. É uma questão de ressonância social.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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