19/04/2024 - Edição 540

Mato Grosso do Sul

Com apoio de aeronaves, força-tarefa combate queimadas que já destruíram 50 mil hectares no Pantanal

Publicado em 30/10/2019 12:00 -

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Incêndios florestais em várias direções e em proporções nunca registradas consomem milhares de hectares no Pantanal de Corumbá, Miranda e Aquidauana, ocasionados pela estiagem e atos criminosos. Uma força-tarefa, sob o comando do Corpo de Bombeiros do Estado, combate os focos de calor, que, somente na região, chegaram a 74 no último dia 29, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Estimativa da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) e dos órgãos envolvidos na operação, como o Corpo de Bombeiros e o Grupo de Patrulhamento Aéreo (GPA) da Polícia Militar/MS, indica que pelo menos 50 mil hectares de vegetação nativa foram queimados desde o último dia 27, quando reacenderam as queimadas na região. O cenário é de devastação – e o fogo se expande, com a fumaça prejudicando o tráfego na BR-262.

A dimensão da intensidade dos focos de calor se mede a menos de 80 km de Campo Grande, em cuja distância da Capital a nuvem de fumaça vinda de incêndios ocorrendo a 220 km interferem nas condições de visibilidade reduzida para quem trafega na rodovia federal, até próximo à entrada da MS-450, em direção a Palmeiras e Piraputanga, entre Dois Irmãos do Buriti e Aquidauana. Logo depois, a fumaça se dissipa, conforme a direção do vento.

Operção Pantanal II

Uma grande operação, a Pantanal 2, está sendo preparada pelo Governo de Mato Grosso do Sul para entrar em ação neste fim de semana na área de focos de calor que atinge o bioma, entre os municípios de Miranda, Aquidauana e Corumbá, com a incorporação ao trabalho de combate de mais 95 homens e duas aeronaves..

Atendendo a novo pedido do governador Reinaldo Azambuja, o governo do Distrito Federal estará enviando 35 bombeiros e o avião Air Tractor, que tem capacidade para lançar até três mil litros de água nos alvos em queima. Também foi solicitado pelo Estado, numa articulação com o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres, um reforço de 60 brigadistas do Ibama e do Icmbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

O coordenador da Coordenadoria de Defesa Civil e MS (Cedec), tenente-coronel Fábio Catarinelli, informou que o combate aéreo terá ainda o apoio de um helicóptero do Ibama. O Grupo de Patrulhamento Aéreo da Polícia Militar (GPA) também estará atuando com o helicóptero Harpia 02, no transporte da tropa. Nesta quinta-feira, mais 30 bombeiros do Estado foram deslocados para o posto de comando da operação, na fazenda BR Pec, em Miranda.

“O contingente de brigadistas e as aeronaves de Brasília devem chegar nos próximos dias”, adiantou o coordenador, que solicitou apoio logístico do Comando Militar do Oeste (CMO) na área de comunicação terra-ar. O Exército também participa da ação com um caminhão-pipa para abastecer o Air Tractor cedido pelo Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, que está em operação há quatro dias, tendo lançado mais de 100 mil litros de água sobre os focos.

Fogo se desloca para os campos

O cenário que ficou ao longo da BR-262, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, depois da passagem do fogo por mais de 60 quilômetros no sentido Oeste-Leste-Sul em linha reta, é de um campo devastador. Sobraram cinzas e paus retorcidos onde era vegetação nativa, habitado por animais silvestres e uma grande variedade de aves. Mais de 50 mil hectares foram queimados durante cinco dias, um desastre nunca ocorrido antes.

Nesta quinta-feira, o dia amanheceu com uma névoa cinzenta cobrindo toda a região, enquanto o fogo avança pelos campos depois de queimar a borda da rodovia numa velocidade que surpreendeu bombeiros, brigadistas e os proprietários rurais. A fumaça se estendia por mais de 120 km, da localidade do Passo do Lontra (MS-184), região turística, a Miranda (200 km de Campo Grande). Havia pouca visibilidade nas estradas, mas o fogo deu uma trégua.

O tráfego na BR-262 ainda exige muita atenção devido à fumaça, que, dependendo da direção do vento, “fecha” a rodovia. Caminhões com cargas de carvão, que circulam diariamente pela via, estão sendo monitorados pela Polícia Rodoviária Federal. Uma das cargas, na quarta-feira, foi atingida por fagulhas e quase ocorreu um incidente. Quem passa pela rodovia percebe a extensão do desastre ambiental e a alta temperatura que permanece no solo queimado.

Fazenda atingida apoia a operação

Logo pela manhã desta quinta-feira, o Air Tractor do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso sobrevoou toda a área atingida pelas queimadas, apesar das dificuldades de voo com a falta de visibilidade. Havia, ao longo da faixa de vegetação queimada, alguns resquícios de foco, que foram debelados pontualmente pelos bombeiros e brigadistas. Duas áreas exigiram uma ação rápida, uma em uma reserva, e outra em um campo do Retiro Aroeira, da BR-Pec.

O capitão bombeiro Vinicius Barbosa Gonçalves, que está á frente das operações de campo, informou que os focos estão se concentrando mais ao Sul do Pantanal, devido a força do vento, com grande incidência ainda na BR Pec, que está dando todo apoio à operação. O diretor da fazenda, Anderson Vargas, disse que, além de 85 voluntários, a fazenda auxilia o combate com 23 tratores grandes e médios para fazer o aceiro e abertura de acessos na mata.

“Toda a nossa área é 100% monitorada por satélite e mantemos nosso pessoal treinado. O fogo surgiu no domingo na beira do rio (Miranda) e ao longo da rodovia (BR-262)”, explicou Vargas. “Estou aqui (na região) há pouco tempo, mas quem é morador antigo fala que nunca houve um fogo tão intenso como esse. Tivemos uma área muito grande queimada, mas ainda não dimensionamos a extensão e os prejuízos”, prosseguiu.

“Moro aqui há 30 anos e nunca teve um fogo tão intenso com esse”, afirma o catador de iscas Antônio Carlos Oliveira Roman, 34 anos, que mora na beira da BR-262, próximo ao Buraco da Piranha (100 km de Miranda), com a mulher, Ceyla, 27, e dois filhos menores. “Estava distraído catando caranguejo num brejo quando vi o mato estralando, era o fogo chegando. Tive que sair correndo para não morrer queimado. Levei um susto medonho”, narra o nativo.

Apoio de fazendas e pousadas

Segundo o capitão Vinicius Barbosa Gonçalves, que coordena o combate aos focos, a prioridade da ação é proteger a unidade de conservação ambiental da Estrada-Parque. Ele informou que o objetivo também é evitar que o fogo chegue a algumas propriedades da região, como pousadas e hotéis, a maioria com lotação completa de turistas em razão da proximidade do encerramento da temporada de pesca nos rios do Pantanal.

“É um fogo em grandes proporções, que demanda estratégias de combate muito bem coordenadas, cujas dificuldades são extremas pelas condições climáticas, como altas temperaturas, baixa umidade e ventos que chegam a 30 km/h”, informou Vinicius. A força-tarefa, conta com a participação de voluntários das propriedades e apoio logístico da Pousada Morro do Azeite e Fazenda BR Pec, base operacional da aeronave de Mato Grosso.

A ação diária é desenvolvida a partir de sobrevoos do Helicóptero Harpia 01, do GPA, na área afetada pelo fogo, logo ao amanhecer. As aeronaves estão com dificuldades operacionais por conta da intensidade da fumaça, que também colocou em alerta a Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao longo a BR-262, entre Miranda e Corumbá. Em vários trechos da rodovia não há mínima visibilidade, ocasionando a interrupção do tráfego em algumas situações mais críticas.

Dificuldades de combate aéreo

O fogo brota nas margens da rodovia e forma uma cortina, tornando em noite um dia com temperatura acima de 40 graus, como nesta terça-feira. As labaredas chegam a mais de dez metros de altura, assustando quem transita pela região, se aproximando dos linhões de transmissão de energia. Em nota, a PRF recomendou aos motoristas não trafegarem à noite nesse trecho crítico, entre Corumbá e Miranda: 20 focos foram registrados na margem da rodovia.

Para os oficiais do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso que operam o Air Tractor AT-400, acostumados a grandes operações na Amazônia, a progressão e a variação do fogo nessa região do Pantanal de Mato Grosso do Sul é “algo impressionante”, diz o piloto tenente-coronel Flávio Gledson Vieira Oliveira, com mais de 12 anos na atividade. “É um ano atípico, mas os ventos fortes e o acúmulo de biomassa estão causando todo esse incêndio”, observou.

A aeronave de apoio de Mato Grosso, somente na terça-feira, realizou 18 voos sobre os focos de calor na região da Estrada-Parque, despejando 50 mil litros de água, durante 7h20. Estas ações necessitam de coordenação com as equipes de solo para surtir efeitos, contudo as dificuldades de acesso por terra aos pontos de focos tem sido um dos obstáculos. A equipe do Air Tractor é integrada ainda pelo piloto tenente-coronel Jean Oliveira.

Reforçando o combate

O Governo do Estado ampliou o número de militares do Corpo de Bombeiros para conter os focos de incêndio que se alastram no Pantanal nos últimos dias. Além dessa medida, com o apoio do Ibama, foram concentradas as brigadas do PrevFogo de Corumbá e Miranda e direcionadas aeronaves para auxiliar com combate ao fogo e na fiscalização das propriedades.

As medidas foram decididas em reunião na Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura, Familiar), que contou com a presença do Imasul, Corpo de Bombeiros, Ibama, Defesa Civil, Prevfogo, PMA, “A situação é bastante séria na região do Pantanal. O número de focos de incêndio na região cresceu muito entre os dias 22 e 29 de outubro”, comentou o secretário Jaime Verruck, da Semagro, referindo-se aos dados do monitoramento feito pelo Governo do Estado com base nas imagens de satélite divulgadas pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

“A reunião foi chamada na Semagro para que nós fizéssemos uma coordenação das nossas ações, dada a gravidade em que a situação se apresenta. Definimos como os órgãos podem colaborar entre si e intensificar o uso de cada uma das estruturas. Estamos utilizando uma aeronave do Ibama, que veio para demonstração no Wildfire e já foi colocada no combate aos incêndios no Pantanal”, informou o titular da Semagro.

Foram definidas ações de cooperação entre os órgãos em questões como alimentação e estadia. “Estamos nos articulando para levar essas pessoas para combater o fogo, mas elas precisam de infraestrutura, alimentação, local para dormir e combustível para os veículos e aeronaves. A área da PMA já foi colocada à disposição e temos alguns proprietários que já estão nos ajudando. Estamos criando uma base de operação na região de Miranda, como foi feito em Aquidauana”, acrescentou.


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