18/04/2024 - Edição 540

Entrevista

Controle total

Publicado em 24/10/2019 12:00 -

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Eduardo Bolsonaro é, ao menos no momento, o líder do PSL na Câmara dos Deputados. Mas a “guerra civil” do partido está longe de terminar. Pelo contrário. A batalha, até então resumida aos gabinetes do PSL, deve ser levada pelo momentaneamente ex-líder Delegado Waldir para a CPMI das Fake News, um dos redutos “hostis” ao governo no Congresso. Mais do que isso, Waldir diz que não vai poupar ninguém. Em entrevista ao BRP, o deputado afirma ter sido “traído” pela ala bolsonarista da legenda, que Bolsonaro quer a chave do cofre para “comprar quem quiser” e promete ir atrás de todos os que o ameaçaram nas redes sociais.  

 

Qual a situação atual da briga do PSL? O senhor gravou um vídeo abrindo mão da liderança e depois voltou atrás. O ministro Luiz Ramos negou que houve um “acordo”.

Havia um diálogo. Nós já estávamos tendo esse diálogo há cerca de uma semana para que eu deixasse a liderança, mas não se aceitaria Eduardo Bolsonaro. Era o “acordo” que estava sendo construído. Na manhã de segunda-feira (21) eu conversei com o ministro Ramos, depois o presidente (do PSL, Luciano) Bivar conversou com ele e isso foi tratado e combinado. Na política o combinado não sai caro. Para nossa surpresa, o líder do governo Vítor Hugo apresentou uma lista tornando Eduardo líder. A partir de então entendemos que o diálogo estava rompido.

Hoje o Eduardo é líder, como o senhor vê isso?

Hoje o Eduardo é líder. Meu vídeo é independente do acordo rompido. Eu não menciono o nome do Eduardo. Mas eu aceito tranquilamente, mesmo em um ato de traição, de descumprimento de palavra.

O senhor foi gravado em uma reunião do PSL. Sente que vocês estão sendo traídos?

Na verdade, o que a gente vê é um ataque ao Congresso. Quando um parlamentar grava outro dentro da Câmara ele não comete um ato contra o Delegado Waldir. Comete um ato contra o Parlamento. A gente percebe a beligerância do grupo comandado por Eduardo Bolsonaro. Pode pesquisar nas minhas redes sociais. Não tem um ataque a ninguém. Mas, diariamente minha secretária recebe dezenas de centenas de ataques direcionados. Eu nas minhas redes sociais da mesma forma. No meu telefone particular também. Se você pegar, hoje tem um print da Joice (Hasselmann, ex-líder do governo no Congresso) que mostra a determinação dos grupos de parlamentares para que as milícias virtuais ataquem os parlamentares do lado do presidente Luciano Bivar e ao meu lado na liderança.

Foi protocolado pelo senador Rogério Carvalho (PT) e aprovado pela CPMI das Fake News um convite para o senhor prestar depoimento na comissão, o senhor estará presente?

Estou à disposição da CPMI. E vou mostrar tudo. Mostrar que fui vítima. Acho que o Brasil precisa desse esclarecimento. A gente sabe que o próprio PT teve sua milícia virtual, mas o País precisa saber se na campanha do presidente Bolsonaro houve milícia digital. Houve, eu tenho certeza que houve. Eu fui vítima nos últimos dias desses ataques virtuais. E vou colocar a disposição da CPI para que utilize minhas contas, minhas redes sociais como base de qualquer investigação.

Como seu depoimento pode ajudar a CPMI?

Nesse momento, eu vou fazer questão, como delegado de polícia, de ajudar a CPI, a PF, quem quer que seja, como vítima que estou sendo, ao combate às milícias virtuais. A tecnologia é espetacular, mas tem que ter ferramentas de controle. Nenhum cidadão pode ser vítima da ação de quadrilhas, organizações criminosas instaladas em cada Estado da Federação. Neste momento, chovem ataques contra as minhas assessoras de gabinete, que não têm nada a ver com isso. Eu tenho casco duro, pode me ameaçar. São tão homens. Vem me ameaçar pessoalmente. Estou esperando eles aqui. Mas são covardes. Estão atrás de computadores tentando destruir a honra de qualquer pessoa. E eu vou ajudar a achar eles. É o meu recado. Sou delegado. Vou usar o restante do meu mandato para achar cada um que me atacou. E foram centenas, talvez milhares. Vou atrás e vou destruir essa milícia virtual. Seja de esquerda, seja de direita. 

Está decepcionado com o governo do presidente Jair Bolsonaro após toda essa situação?

Sou defensor da verdade, eu não tenho como comungar com o que acontece hoje de errado em um governo que eu ajudei a eleger. Eu ajudei a eleger um governo que, neste momento, para indicar o advogado-geral da União, recebe indicação do (ministro do STF, Dias) Toffoli, que foi indicado por Lula. Não posso aceitar que o governo enfraqueça nesse momento a PF. O governo interveio na PF. Não posso aceitar o enfraquecimento do Coaf. Não posso aceitar calado a não investigação da rachadinha no Rio de Janeiro. Não posso aceitar enfraquecimento do ministro Sérgio Moro, da Lava Jato. É o que vem acontecendo neste governo. Que não é um governo independente, mas dos filhos do presidente.

Como vê a atuação dos filhos do presidente Jair Bolsonaro no governo?

Um filho interfere na comunicação do Palácio do Planalto. Outro filho interfere querendo ser embaixador. Outro no Poder Judiciário, evitando que se prossiga com investigações. Tem acertos na questão da privatização, no avanço da reforma da Previdência, queremos a reforma tributária, concordamos com a reforma administrativa. Mas não vou me calar. Não tem como tapar o sol com a peneira. A interferência agora do Executivo no Parlamento, na eleição do Eduardo como líder, usando a máquina pública, o gabinete do presidente, de ministros. A oferta de cargos, oferta de Fundo Partidário, cargos na liderança. Não posso comungar. Tudo isso foi bandeira que nosso presidente defendeu. Prometeu que não ia fazer igual.

Esperava virar “inimigo” dos filhos do presidente Jair Bolsonaro?

Eu convivi muito pouco com eles. E a traição você não sabe de onde vem, de onde vai vir. E realmente me surpreendi. Esperava fidelidade. Não convivi muito tempo com eles, não. Não sabia da personalidade deles, mas sabia que eles eram intolerantes. Infelizmente ajudei a eleger esse governo

Infelizmente?

Infelizmente. Perdi muito do meu carinho e da minha confiança nesse projeto político quando ele se afastou do combatente à corrupção. Os filhos hoje derrubam ministros. Arrumam conflito com o exterior. Arrumam atritos com o Parlamento. Se você pegar a “live” que o Eduardo fez esta semana, ele ataca em dois momentos o Congresso. Na “live”, ele humilha os deputados do PSL. Diz: ‘Vocês já ganham R$ 33 mil. Têm R$ 108 mil em cargos”. Como se isso caísse no bolso do deputado. Ele humilha todos os deputados do PSL. Bolsonaro tem uma participação. Mas se todos os parlamentares aqui devessem seu mandato ao presidente, ele não teria eleito 52 deputados, mas 513. Ele não elegeu.

O problema todo é o controle do Fundo Partidário? Quem vai ter mais controle dos recursos?

Eles querem o controle total. Não mais controle. Controle total. E esse absurdo que eles querem transparência é uma mentira deslavada. Desculpe ser tão sincero. Transparência teve o presidente Bolsonaro quando indicou o (Gustavo) Bebianno. Ele foi lá verificou todas as contas do partido. Ele teve acesso a todas as contas do partido. E fica a minha pergunta: qual partido em que o presidente esteve que ele pediu a prestação de contas? Então isso é um grande 171, uma grande conversa fiada. Ele quer a chave do cofre. Não satisfeito em lá atrás ter utilizado o partido para ser candidato à Presidência, hoje está chutando a mãe dele, que é o partido. Agora quer pegar a pensão da mãe para torrar. Quer ter o controle para comprar o que ele quiser, quem ele quiser. Não é justo o presidente tomar de assalto o cofre do PSL. Ele não construiu o Fundo Partidário.

O senhor vê possibilidade de pacificação entre estas duas alas?

As feridas são muito grandes. Hoje eu teria, pessoalmente, asco de olhar para a cara de alguns parlamentes aqui do PSL. 


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