20/04/2024 - Edição 540

Cultura e Entretenimento

Para além de Manoel

Publicado em 18/10/2019 12:00 -

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Grandes referências são fundamentais na arte. É a partir delas que muita gente boa “põe o pé na profissão”. Mas, elas também podem sufocar o novo. Em um Estado que tem em Manoel de Barros a referência máxima do dizer poético, o surgimento de novas vozes acaba sendo eclipsado nos espaços institucionais dominados por confrades e panelas.

Não à toa o professor Volmir Cardoso, coordenador do curso de Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) de Campo Grande, fez, em seu prefácio do livro “101 Reinvenções – um estudo sobre a influência do poeta Manoel de Barros sobre a criação literária do Estado de Mato Grosso do Sul”, organizado por Ana Maria Carneiro Bernardelli e Fábio Gondim, uma análise potente sobre – como disse o jornalista Dante Filho em recente e ácido artigo – “o fardo que representa a herança ‘manoelina’ sobre a poesia brasileira e mais ainda sobre a literatura sul-mato-grossense”. 

Para ele, essa herança “é um baú pesado, que pode impedir até mesmo o caminhar daqueles que tentam arrastá-lo consigo”. E vai além: “não é fácil fazer poesia depois de Manoel de Barros”.

“O legado de Manoel está garantido e seguro. O exemplo maior desse fato é que, após seu falecimento, uma nova geração de poetas começa a sair da chamada sombra ‘Manoelina’. Mas tem gente que não quer deixar. São os conservadores e sicários da criatividade alheia”, atira Dante.

Talvez, por isso, as ruas e redes tenham servido como solo mais fértil para o surgimento de flores raras na seara poética do Estado.

Mas, não. O campo fecundo do underground poético não é coisa nova no Mato Grosso do Sul. Lá nos anos 80, o douradense Emmanuel Marinho já estarrecia os incautos nas ruas do Rio de Janeiro com a trupe do “Pô,Ética” – seu poema “Érica”, dito em um boteco em Ipanema, até hoje é lembrado por este que aqui reflete sobre o tema. Mais recentemente, a jornalista Cristina Livramento levou as últimas consequências sua opção por um “viver poético” radical. Outro veterano na semeadura poética no Estado é Douglas Diegues, que circula entre Paraguai e Brasil com sua proposta de um portunhol selvagem.

Para Diegues, a poesia deve morrer e nascer todos os dias e não pode ficar dependente dos círculos oficiais. “Como dizia Manoel de Barros: ‘O que apresenta o poeta é a poesia que o poeta apresenta’. Ou seja, de nada servem prefácios, mainstreamnismos, orelhas escritas por autoridades, benção de críticos importantes, marketing etc e tal. Lo que tem vida própria, caminha com las próprias piernas”, dispara.

Sobre o atual cenário da poesia, ele diz que o momento é positivo. “Há muita coisa chata. Mas há muita coisa legal. Non existe poeta que não tenha pelo menos um verso bom. E penso que temos que enfiar a mão na montanha de mielda para extrair as pérolas que valem a pena. Tem muita gente ligada em poesia em Mato Grosso do Sul. Nas periferias de Campo Grande brota uma poesia intensa, renovadora e anti-oficialezca. Mas deve ter muito mais coisas que ainda desconheço”, finaliza o poeta, que hoje vive em Ponta Porã.

Mais recentemente ainda, a turma do Slam Campão mostrou que Mato Grosso do Sul tem, mesmo, gente muito boa escondida por aí. Suas performances públicas, em praças e coletivos, fazem ressurgir o espírito dos “atentados poéticos” de outras épocas, como os perpetrados pelo grupo “Boato”, no Rio de Janeiro, lá no início dos anos 90.

O fato é que a cena poética em Campo Grande está em pré-ebulição. Espocam aqui e ali iniciativas como a de Adriany Bueno, cujo projeto “Poesia de Rua MS” tenta levar poesia para fachadas de residências e empresas da cidade, ou eventos como o Convergência das Artes, organizado pelo poeta Rafael Belo, e o “Interação das Artes”, que reúne poetas, artistas plásticos e performers em um liquidificador cultural delicioso – o próximo evento acontece no dia 27 de outubro, lá no Genuíno.

É exatamente neste encontro entre as diversas expressões artísticas que o jornalista e poeta Victor Barone encontra inspiração. Carioca, Barone vive em Campo Grande desde 2000, cidade em que lançou seu primeiro livro, “Outros Sentidos”, em 2009, e o segundo, “Poemas de Amor e Fúria”, em fevereiro passado. Ambos apostando no diálogo entre a palavra e a imagem. No primeiro livro, o poeta trouxe a parceria com a publicitária Nanci Silva e com a Fotógrafa Elis Regina Nogueira, cujos desenhos digitais e fotografias acompanharam os poemas. No segundo livro, a parceria aconteceu com o artista plástico Isaac de Oliveira, falecido precocemente neste ano.

“Penso que a interação entre a poesia e demais expressões artísticas fortalece o sentido mais profundo da arte, reforça sensações. Por isso procuro estabelecer parcerias neste sentido”, afirma Barone, que terá alguns poemas seus performatizados pelo ator Godoy no próximo “Interação das Artes”.

Performance do Grupo Casa durante o lançamento de “Poemas de Amor e Fúria”, segundo livro do jornalista e poeta Victor Barone.

Organizador do evento, o jovem poeta, ator e produtor e cultural Vini Willyam ressalta a importância da poesia que “vem das ruas”. “Temos grandes movimentos literários na cidade que permanecem periféricos. Confunde-se, ainda, o sentido da escrita com o sentido institucionalizado de ser escritor. Em tempos de redes sociais, é preciso olhar para o que está surgindo. Do contrário, continuaremos reconhecendo poetas apenas após suas mortes”, afirma. 

Autor do livro “Retalhos”, Vini diz ter encontrado na poesia uma forma de se comunicar consigo mesmo e com o outro. “Em 2018 decidi assumir minha produção literária e lancei o livro, que traz uma colagem dos poemas escritos entre o período da adolescência e entrada na vida adulta”.

Leia AQUI um poema de Vini.

Entre as poetisas que têm surgido na nova safra sul-mato-grossense, um destaque é a jornalista e professora Moema Vilela. A autora publicou, em 2017, a obra "Quis dizer", além de poesias em antologias, como a do Mulherio das Letras e a antologia poética da Revista Eutomia, e teve participações em revistas como La Pecera (argentina), Raimundo, Estrago, Escriva, no Jornal Opção, entre outras.

"Quis dizer" foi um livro feito artesanalmente, em cartonera, com a capa bordada. Ele foi lançado em uma pequena tiragem de 50 exemplares que se esgotou. A 2ª edição, com 100 exemplares, foi feita também com capa bordada, miolo colorido e em papel pólen, e foi distribuída em livrarias menores e independentes em Porto Alegre, Campo Grande e pela internet. Esse ano pretendo fazer novamente 100 exemplares”.

Assim como Barone, Moema também brinca com palavras e imagens. "Quis dizer" traz uma convivência entre a poesia em versos e uma poesia visual, incluindo poemas com imagens, fotografias, desenhos, colagens. Um exemplo: há um poema feito de recortes de uma embalagem de vinho tinto.

Leia AQUI alguns poemas de Moema.

Na rede

Tradicional patinho feio do mercado editorial, a poesia sempre foi vista como “algo que não vende”, “gênero difícil”, alvo de desconfiança. “Livro de poesia vende pouco e de poeta desconhecido não vende nada. Nenhum editor, em seu juízo perfeito, entra nessa fria”, escreveu Ferreira Gullar, há alguns anos. E lembrou que até o futuro imortal Manuel Bandeira pagou do próprio bolso a edição de seu primeiro livro, lá em 1917.

Se fosse vivo, Gullar, que morreu em 2016, levaria um susto com a lista de mais vendidos nos últimos anos. Entre os dez primeiros na categoria ficção de 2018, por exemplo, três eram de poesia. Entre os 50 mais, em todas as categorias (incluindo autoajuda, religião e youtubers), havia quatro títulos de poesia.

Agora, portanto, poesia vende. Mas quem puxa o fenômeno não são clássicos ensinados nas escolas, figurões ou autores premiados, e sim poetas jovens, alguns no primeiro ou segundo livro, que ficaram famosos espalhando nas redes sociais versos curtos, simples e diretos.

É no que aposta outro poeta que surge no ambiente virtual sul-mato-grossense, Cassio Rodrigues, cujos haicais frequentam com assiduidade as timelines do Facebook. Para quem não conhece, uma explicação: o haicai é uma forma de poesia curta, de três versos, criada no Japão. “Creio que o haicai é uma forma poética adequada para o veículo que mais difunde e populariza a poesia atualmente: a internet, em particular as redes sociais. A poesia curta se destaca em tempos de excesso de conteúdo e rapidez de informação. Mesmo sem querer o leitor termina lendo (e na maioria das vezes, se encantando). É a força do inusitado”, opina.

Cassio pretende publicar um livro em breve e empreende na área. Em 2019 lançou – em parceria com uma pequena empresa de confecções – o projeto de economia criativa chamado "Cabide de Poesia". “Dentro desta mesma proposta, participei ainda do projeto ‘Poesia na Rua MS’, onde tive dois poemas expostos na cidade, um na mochila de um moto-entregador e outro num bairro de periferia de Campo Grande”.

Cassio vê um cenário positivo para a poesia no estado. “As redes sociais nos colocam hoje em contato com vários trabalhos autorais de qualidade, de jovens poetas que buscam seu espaço e estão aprimorando sua produção literária”, complementa.

Leia AQUI alguns haicais de Cássio.

Veterana na cena poética no Estado, a bela-vistense Tânia Souza já publicou um solo, “Desamores e outras ternurinhas”, e participou de três antologias só neste ano: "Poetrix 20 anos", reunindo poetas de todo o Brasil em comemoração aos 20 anos da criação dessa forma minimalista de fazer poesia (Poetrix), "A mulher o livro, uma relação em prosa e verso”, lançado na Feira de Paraty, e “Poetrix – Mulherio das Letras”, que será lançado em novembro, no III Encontro Nacional do Mulherio das Letras, em Natal (RN). Anteriormente, Tânia já havia participado de outras 14 antologias de crônicas, contos e poesias. 

“Comecei a escrever por acaso, em blogs e depois em antologias, algumas como convidada, outras enviando textos e torcendo para ser selecionada. Graças à internet conheci, ainda que virtualmente, escritores, editores e eventos literários de várias partes do Brasil.”, explica. Para ela, a cena literária sul-mato-grossense está em expansão. “Publicações independentes, zines, quadrinhos; criação de coletivos; eventos que reúnem artistas de diferentes expressões são ações que fortalecem o movimento. A literatura não precisa pedir permissão para existir e todas essas vozes estão conquistando espaço e público”.

Leia AQUI um poema de Tânia.

“Se me perguntam por que escrevo, respondo que é para incomodar. Eis o que entendo por literatura”, afirma o professor e poeta Henrique Pimenta. Nesse sentido, seus únicos incômodos poéticos publicados em livro chamam-se “99 sonetos sacanas e 1 canção de amor”. Nesse trabalho, de 2012, em um misto de erotismo e escatologia, Pimenta brinca com a tradição lírico-amorosa lusofônica. “Aparentemente, o livro foi ignorado pela crítica literária, e encontrar um volume dele para comprar é, hoje, bastante raro”, afirma.

Para continuar azeitando a máquina da lira bugra, no próximo mês Pimenta lançará seus poemas de vertente contemporânea, que recebem o seguinte título: “Alcácer-Quibir”. São textos que foram primeiramente publicados em seu blogBar do Bardo” e radicalizam, com sarcasmo, a experiência pós-moderna.

“Quanto à poesia alheia, produzida em Mato Grosso do Sul, dos livros que tive oportunidade de ler, devo confessar três coisas, (1) interessam-me por demais os poetas Renato Suttana e Douglas Diegues, (2) agradam-me diversos poemas de Luciano Serafim, (3) nutro uma gigantesca curiosidade estética acerca da obra de Flora Thomé. Resumindo, esses quatro poetas me incomodam”, avisa.

Leia AQUI um poema de Henrique Pimenta.

Renatto Suttana vive em Dourados, e começou a escrever bem cedo, lá na década de 80. Seu primeiro livro – "Visita do fantasma na noite" – foi publicado em 2002, quando o autor tinha 36 anos de idade. Mais tarde, escreveu sobre bichos, livros de temática existencial e livros de poesia política e satírica. “Entre estes últimos, destaco a epopeia cômica ‘Opinionautas’, cuja primeira parte fiz imprimir em 2010 (em dois volumes) e cuja segunda parte (também em dois volumes) foi impressa recentemente, em 2019 (e ainda não teve evento oficial de lançamento)”.

Alguns de seus livros existem apenas em formato digital e podem ser baixados e lidos a partir de seu site. Atualmente, Suttana tem no prelo um volume de poemas intitulado "Fora de alcance", que terá evento de lançamento em Salvador ainda neste mês. “Esse livro, de certo modo, dá continuidade àquela poética existencial da qual, suponho, é possível destacar publicações como ‘Qualquer um’, ‘Conversa de espantalhos’, ‘Rapinário’ e os recentes ‘Quando me abriram portas’ e ‘Altiplano’ – que, para quem se interessar, podem ser adquiridos pela internet, em sites de vendas.

Sobre a poesia sul-mato-grossense, ele destaca Raquel Naveira, já consagrada, Emmanuel Marinho e Henrique Pimenta. “Há também o movimento dos jovens, que fazem por aí as suas tentativas, ajudando a movimentar o mercado da leitura e a fomentar o interesse pela lírica. Mas sinto falta de um espaço mais amplo de divulgação e acesso a coisas que venham de outros rincões do Estado, para além de Dourados e Campo Grande”, reflete.

Leia AQUI um poema de Suttana.

Um trabalho gráfico prá lá de caprichado e uma escrita elegante. É o que se encontra na obra poética de outro jovem talento de MS, Leonardo Triandopolis Vieira. Com dois livros publicados – “Trabalho de Luto” e “Obscenográfica” – o autor nasceu e cresceu em Campo Grande, onde reside com a esposa e um casal de gatos. “Meu primeiro livro de poesias, ‘Trabalho de Luto’, fala do momento em que o luto precisa ser trabalhado. Trabalho de lápide. Lapidado. Seja no choro ou na prosa. No silêncio ou no verso. No abstrato ou no sentimento. O luto por quem vai para nunca mais voltar ou de quem chega ao que muitos acreditam ser o poder. Poder sobre os outros. É aí que o luto se transforma em luta e a luta, mesmo sob o peso do luto, precisa continuar. Aqui um pouco do choro do poeta, mas também luta, luto, luta, luto…”. O segundo livro, “Obscenográfica”, é uma coletânea de poemas e ilustrações eróticas sobre a fragilidade de uma sociedade heteronormativa e a importância de amar sem tabus.

Leia AQUI um poema de Leonardo.

O maceioense Luciano Serafim vive em Dourados (MS) desde 1994. Descobriu bem cedo a literatura. Para adivinhar-se poeta, foi um pulo. “A minha relação com a poesia começou na infância. Minha mãe me levava para ouvir os repentistas nas feiras de Alagoas e ela sempre comprava cordéis, que decorava e recitava para eu e minha irmã, antes de dormirmos. Morávamos em fazendas e não havia televisão nem livros. No máximo, um rádio velho. Minha mãe e minha avó contavam muitas histórias e causos. Quando eu tinha 9 anos de idade, mudamos para uma cidade e passei a frequentar a escola, aprendi a ler, descobri a biblioteca e aí os horizontes se expandiram”.

Membro do Grupo Literário Arandu, Serafim fundou – junto com Fernanda Ebling, cantora e escritora de Dourados – a editora Arrebol Coletivo, que já tem no catálogo 20 títulos de autores sul-mato-grossenses. Na poesia, o autor publicou “Eu, entre nós” (poemas, 2002), “Mordendo as lábias” (poemas, 2006), “Raiz transeunte” (poemas, 2013) e “Sururu com Coca-Cola” (poemas, 2016).

Para ele, Mato Grosso do Sul é um celeiro de bons escritores e poetas. “Além de Ebling, outros poetas que admiro são Fernanda Campos, de Campo Grande, que lançou “Nós de mim” em 2016, Sá Junior da Cruz Lopes, autor de “Só não disse” e “Soubecoisas Sobrecoisas”, e o rapper e poeta Jean Ribeiro.

Leia AQUI alguns poemas de Serafim.

“Escrevo para o múltiplo que há em mim e para o múltiplo do mundo. Entendo que a poesia é um grito primeiro de compreensão e transformação do dentro de mim para então compreender e contribuir para transformar o entorno de mim. Entendo que fui chamada à uma responsabilidade social maior ainda ao ser tocada pela poesia”, diz a educadora e poeta Eva Vilma, que no ano passado publicou o livro “Incômoda”.

Leia AQUI um poema de Eva Vilma.

Nas ruas

Nem só de veteranos e “maduros” faz-se a nova poesia sul-mato-grossense. Há, também, uma meninada talentosa, especialmente ligada à poesia de rua.

Os movimentos de Slam (competições de poesias faladas que surgiram em Chicago, nos Estados Unidos, em meados dos anos 80, na mesma época do hip-hop) começaram a tomar força em Campo Grande há alguns anos.

O Slam Campão nasceu em junho de 2017 e desde então leva a poesia para espaços públicos e eventos, como a Feira Literária de Bonito e a Mostra Literária Glória de Sá (no SESC Morada dos Bais). O Slam Camélias reúne poetisas de rua e o Slam Manoel de Barros teve início neste ano.

Maria, Slampiã da noite na 2ª Edição do Slam Campão em 2017.

Todos viraram referência regional quando o tema é “Poesia Falada”, principalmente entre jovens, e tem revelado gente boa, como Renzzo Escobar.

“Comecei a fazer parte da cena de poesia em Campo Grande no começo de 2018, quando recebi um convite para ir em um Slam. Participei de várias rodas de poesia pela cidade e notei que de 2018 para cá o cenário poético de Campo Grande aumentou muito. Infelizmente sinto uma grande falta de investimento em eventos voltados para o lado mais poético e artístico da cidade”, afirma.

Leia AQUI um poema de Renzzo.

“Há muita sinceridade no que digo ao fazer um poema e tento, através da minha ótica sobre o mundo, ser lente para o outro, porque é assustador o quanto as pessoas sentem mas não sabem expressar e cabe não apenas ao poeta e sim ao artista procurar alguma maneira de florescer o peito de quem entra em contato com sua arte”, diz João Vicente Ramalho, que vê no movimento Slam uma forma de os jovens poetas mostrarem seu trabalho. Para ele, é preciso que os poetas “ocupem seu local de fala como artistas”. “Estamos cercados de ‘poetas de gavetas’”, afirma.

Leia AQUI um poema de João.

A rua é, para o poeta e jornalista Marcelo Huet Bacellar um local de criação. Um dos fundadores do grupo “Boato”, o autor carioca diz que a poesia sempre encontra brechas. “Não precisa de portas, nem janelas. Líquida ela é improviso e ocupa os espaços possíveis. Ela é inevitável. Se não há saída, ela escorre pelos cantos ou derruba a porta com a força do verbo”.

Segundo Celão – alcunha que marcou sua insurgência poética nos anos 90 – a intervenção da palavra falada e do corpo do(a) poeta causam ignição, ligação, contato e reação. Assim ele define a força da poesia que brota das ruas.

“Poesia é pólvora nos livros. Na rua, ela bomba. Falar poesia é colhê-las dos livros e colocá-las em ação nas bocas e ouvidos das pessoas. É soltar no mundo. É fazer ela agir e se transformar. Falar poesia é invadir o espaço público levando seus truques e belezas nos bolsos, como mágicos que fazem surgir versos e palavras livres. Poesia falada é integração. Mas ela também incomoda. Invade. É contato intenso num mundo separado. Ela toca no nervo, provoca riso e reflexão, faz dançar, capta olhares e ouvidos atentos. Mas também provoca dores. Esse é o seu papel. Salve todos os poetas! Os que falam através de canetas, do corpo, da fala ou do espírito, em músicas, vídeos ou filmes. Onde ela estiver, a poesia é movimento e transforma. É difícil ser indiferente à poesia quando ela chega em você”.


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