29/03/2024 - Edição 540

Poder

Laranjal do PSL chega a Bolsonaro

Publicado em 11/10/2019 12:00 -

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Reportagem do jornal Folha de S. Paulo aponta que o depoimento de um ex-assessor parlamentar do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e uma planilha apreendida em uma gráfica sugerem o desvio de recursos do esquema de candidaturas laranjas do PSL em Minas Gerais para as campanhas de Jair Bolsonaro à presidência da República e de Marcelo Álvaro a deputado federal. A prática configuraria caixa 2, movimentação de recursos de campanha sem declaração oficial à Justiça

O assessor parlamentar do ministro e coordenador de sua campanha no Vale do Rio Doce (MG), Haissander Souza de Paula, disse à Polícia Federal que “acha que parte dos valores depositados para as campanhas femininas, na verdade, foi usada para pagar material de campanha de Marcelo Álvaro Antônio e de Jair Bolsonaro”. Uma planilha apreendida pela PF, intitulada “MarceloAlvaro.xlsx”, se refere ao fornecimento de material eleitoral para a campanha de Bolsonaro com o termo “out”. Para os investigadores, a utilização da palavra em inglês significaria pagamento “por fora”.

No último dia 4, o ministro foi indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais acusado dos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa. Ele nega qualquer irregularidade.

O ex-assessor foi preso por cinco dias no final de junho. Em seu depoimento, Haissander afirma ainda que Lilian Bernardino, uma das quatro candidatas laranjas do PSL em Minas Gerais, não gastou os R$ 65 mil recebidos formalmente. Candidata a uma vaga na Assembleia Legislativa do estado, ela obteve apenas 196 votos. As quatro candidatas juntas receberam R$ 279 mil em recursos públicos do partido, mas não houve evidências de que tenham de fato realizado campanha.

De acordo com a investigação da PF, há indícios de que o dinheiro formalmente declarado para as quatro candidatas foi parar nas campanhas de outras candidaturas, como a do ministro do Turismo, parlamentar mais votado no estado nas eleições de 2018.

Em 17 de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que o ato de fraudar a cota de gênero nas eleições leva à cassação de toda a chapa eleita. Segundo a legislação, as coligações devem ter ao menos 30% de candidatas mulheres e os partidos devem destinar no mínimo 30% dos recursos públicos para estas candidaturas.

De acordo com a Folha, a defesa de Marcelo Álvaro Antônio, por meio de nota, afirma que a investigação das candidaturas laranjas do PSL não apontou nenhum ato irregular do ministro. A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto afirmou que não comentaria.

Jair Bolsonaro acusou o golpe. Após as denúncias ele foi às redes sociais e fez uma ameaça velada às empresas “que anunciam nesse jornaleco (sic)”.

Para o presidente, “a Folha de São Paulo avançou a todos os limites, transformou-se num panfleto ordinário às causas dos canalhas”. Ele afirmou ainda que “om mentiras, já habituais, conseguiram descer às profundezas do esgoto”.

Ao final, após inúmeras explicações, Bolsonaro diz: “o que mais me surpreende são os patrocinadores que anunciam nesse jornaleco chamado de Folha de São Paulo (sic)”.

Moro se compromete ainda mais

O fato do ex-juiz e atual ministro, Sergio Moro (Justiça), correr em defesa do chefe nas denúncias de caixa dois, dividiu agentes e delegados da Polícia Federal (PF).

Delegados dizem que o ex-juiz colocou a PF numa situação horrível ao sugerir que conhece inquéritos sigilosos e ainda fazer juízo de valor sobre os dados antes de a apuração ser concluída.

Os agentes, por sua vez, relativizam. Afirmam que há tentativa de criar tensão na gestão Bolsonaro, e que o ministro tenta apenas minimizar a pressão sobre o presidente.

As duas categorias concordam, no entanto, que Moro cruzou uma linha ao indicar que teve acesso a investigações sigilosas.

O ministro Sergio Moro (Justiça), a quem a Polícia Federal está subordinada, publicou em suas redes sociais uma enfática defesa do presidente, apesar de as investigações estarem sob sigilo.

“Jair Bolsonaro fez a campanha presidencial mais barata da história. Manchete da Folha de S.Paulo de hoje não reflete a realidade. Nem o delegado, nem o Ministério Público, que atuam com independência, viram algo contra o PR [presidente da República] neste inquérito de Minas. Estes são os fatos”, afirmou.

O diretor do The Intercept Brasil, Glenn Greenwald, afirmou nas redes sociais que carregar o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, está se “tornando impossível para todos”. Segundo ele, nem a Globo, em breve, conseguirá negar mais quem ele é.

Kennedy Alencar escreveu em seu blog: “Moro não tem competência legal para fazer manifestação de cunho jurídico sobre o caso. Ele criticou o trabalho da imprensa dizendo que a reportagem do jornal ‘não reflete a realidade’. Na prática, condenou a ‘Folha’, como tem o hábito de fazer quando a imprensa lhe desagrada”.

“Ora, numa democracia plena, um ministro da Justiça não pode opinar ou interferir em inquéritos da Polícia Federal. Delegados têm autonomia para fazer suas investigações. O Ministério Público e o Judiciário avaliam conclusões de inquéritos e tomam as medidas que julgam cabíveis e necessárias. Alguém precisa explicar a Moro como a coisa funciona”, diz Kennedy.

O líder da oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ), questionou a atitude de Moro. “E o laranjal do PSL? Moro, que é chefe da Polícia Federal, atuou como advogado de defesa de Bolsonaro. Na lambança, tudo indica que expôs informações às quais nem deveria ter tido acesso, colecionando críticas na área jurídica. Cadê o combate à corrupção?”, postou.

“Moro atesta seu compromisso político e parcialidade tosca ao sair em defesa acrítica de Bolsonaro no caso do caixa 2 em Minas. O ex-juiz é um militante de extrema-direita. Há tempos. Sua credibilidade deságua no mar do Queiroz, das milícias, fake news e das mutretas de Flávio”, disse o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP).

A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) também contestou o ex-juiz. “No caso do laranjal do PSL, Moro revela mais uma vez seu DNA de parcialidade. Saiu em defesa de Bolsonaro e deixou escapar que tem informações privilegiadas de um inquérito que corre em sigilo. E tem gente que se surpreende com o fato de Moro tornar-se funcionário de Bolsonaro!”


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