28/03/2024 - Edição 540

Poder

O que defende o partido em gestação por aliados de Eduardo Bolsonaro

Publicado em 11/10/2019 12:00 -

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Ao alimentar a crise interna no PSL e aventar uma mudança de sigla, o presidente Jair Bolsonaro abriu outra discussão: para onde irá. Uma das possibilidades é uma nova legenda para permitir que correligionários possam seguir os seus passos.

Mesmo que essa seja uma hipótese pouco provável, por causa de todo o procedimento que envolve a criação de um partido, já existe até uma possível opção: o partido Conservadores, com estatuto em fase final de elaboração. São aliados do filho 03, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que trabalham nisso.

Nas premissas a serem adotadas, há destaque para “a moralidade cristã como o respeito à vida, à família e à liberdade”. No capítulo intitulado “Dos fundamentos”, delimita-se uma série de preceitos a serem seguidos pelos filiados ao partido e colocam-se como “direitos humanos fundamentais” o “direito à legítima defesa individual”, a “primazia da autoridade familiar frente ao Estado”, o “combate à sexualização precoce de crianças”, o “combate à apologia da ideologia de gênero”, e a “defesa do legado da moralidade cristã e da civilização ocidental”.

O estatuto defende ainda a “liberdade plena do cidadão na relação de emprego”, falando “de participação de um sistema previdenciário”, de investimento da totalidade de sua renda”, “de não sindicalização e de não associação”, “de negociação direta entre produtores e consumidores de emprego” e “direito à profilaxia da tirania, combatendo qualquer estatuto ou política de desarmamento ou centralização de poder”.

Há ainda ressalva para a “educação básica livre de doutrinações, como fundamento da cidadania” e mais uma vez menção à legítima defesa, desta vez com destaque ao direito de porte de “todos os meios adequados para combater o agressor”.

No texto que aliados do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) estão elaborando, fala-se também de um “ambiente social livre de drogas” e que os futuros filiados ao Conservadores devem concordar e repudiar “qualquer política de cota baseada em critérios biológicos ou raciais”.

O estatuto veda “subsídios ou propagandas governamentais na mídia”, “alianças ou coligações com partidos da esquerda bolivariana”.

O texto, que serviria de orientação para eventuais filiados, candidatos ou eleitos do possível partido político, coloca essas questões como fundamentais e diz que “temas não listados como fundamentos essenciais do partido serão de livre posicionamento”, exigindo ainda que cada um reitere “publicamente os princípios conservadores, especialmente nos períodos eleitorais”.

Reacionários

O presidente gostaria de ter um partido que se chamasse "Conservadores". Diz O Globo:

"[O jornal] teve acesso à minuta da nova sigla, cujas premissas a serem adotadas vão da 'moralidade cristã, a vida a partir da concepção, a liberdade e a propriedade privada'. O texto defende ainda o direito à legítima defesa individual, combate à sexualização precoce de crianças e a apologia da ideologia de gênero e defesa do legado da 'moralidade cristã e da civilização ocidental'. Filiados estarão proibidos de fazer alianças com partidos da 'esquerda bolivariana'."

Poderia ser um relatório psiquiátrico daquelas personagens do seriado "Criminal Mind". A propósito: o paganismo greco-romano entra ou não na "civilização ocidental"? Por acaso há gente no PSL que discorde dessa maçaroca de conceitos mal digeridos? Ocorre-me perguntar: esse movimento todo não representa, no fundo, uma ambição ainda mais vulgar e mesquinha do que as piores expectativas a respeito? Não se trata de um teste para ver se a Justiça Eleitoral transfere para o controle desses insurgentes de araque, a começar do próprio presidente, uma boa parcela da bolada milionária a que terá direito o PSL — coisa em torno de R$ 600 milhões (há quem anteveja ainda mais do que isso)?

Parece-me ser essa a hipótese mais provável. Afinal, ninguém manchou mais a reputação de Bolsonaro entre seus fanáticos nas redes sociais do que… o senador Flávio Bolsonaro, não é mesmo? Provavelmente seguiria o pai.

E o momento da estupefação: "Conservadores"??? Ora, os conservadores, nas democracias, conservam instituições, não iniquidades. Nos valores e nos costumes, podem ser tão ou mais "progressistas" — emprego a palavra como provocação — do que os esquerdistas mais radicais. Têm, sim, na economia de mercado um dos pilares de sua visão de mundo, mas o outro, se houvesse apenas dois, seria o respeito ao molde institucional do regime democrático, que vem a ser precisamente o que Bolsonaro e seus seguidores desconhecem.

O nome da legenda, é evidente, teria de ser "Reacionários". Os "conservadores" não têm nada a ver com essa pantomima. Ao contrário: são avessos a ela até por pudor.


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