28/03/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Vexame Internacional

Publicado em 25/09/2019 12:00 - Victor Barone

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Para dizer o que disse na abertura de mais uma Assembleia Geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro não precisaria ter voado a Nova Iorque, arriscando a própria saúde depois de ter sido operado pela quarta vez desde setembro último.

Ele falou por lá o que costuma falar por aqui – à saída diária do Palácio da Alvorada, em reuniões com evangélicos e parlamentares da bancada da bala, em comícios nos quartéis sob o disfarce de solenidades militares. Nada de diferente.

Muito se escreverá na tentativa de entender o que está por trás do discurso que ele fez. Perda de tempo. Bolsonaro foi apenas o que é. Nada tem a oferecer ao mundo de diferente do que ofereceu aos brasileiros para se eleger. Por aqui, bastou.

Foi um discurso de fundo de quintal. Uma colcha de retalhos costurada pelo ódio. Ódio aos que divergem dele. Ódio às limitações impostas pela democracia. Ódio à liberdade de imprensa. Ódio a tudo que contraria sua visão estreita de mundo.

O chamado “gabinete do ódio” do seu governo, pilotado pelo garoto Carlos Bolsonaro, integrado, entre outros, pelos ministros Augusto Heleno e Ernesto Araújo e o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, ganhou mais uma. E assim será.

A sorte de Bolsonaro é que o sucedeu na tribuna da ONU o presidente Donald Trump – que, por sinal, não teve tempo para lhe conceder alguns minutos de atenção, embora tenha estado durante duas horas no hotel onde a comitiva brasileira se alojou.

O discurso de Trump foi tão medíocre e voltado para seu público interno quanto o do capitão. Mas ele é presidente do país mais poderoso do mundo. O que ele disser sempre repercutirá, apagando o que foi dito antes da sua fala.

Por Ricardo Noblat

Bob Fernandes fez uma bela análise

Tradicionalmente, o microfone da ONU dá voz a discursos diplomáticos. Sobretudo, na abertura da Assembleia-Geral, quando mandatários brasileiros inauguram o evento. Mas na estreia do presidente Jair Bolsonaro foi diferente. Faltou diplomacia e sobrou ataques a torto e a direito. O chefe do Executivo do Brasil reduziu a ONU a uma extensão de seu Twitter. O presidente perdeu a oportunidade de fazer um discurso para acalmar os ânimos da comunidade internacional. Preferiu fazer aquilo que faz nas redes sociais: atacar e criar novas polêmicas.

Segundo o embaixador aposentado Rubens Ricupero, nenhum presidente brasileiro jamais fez um discurso desse tipo fora do Brasil. “É como lavar a roupa suja fora de casa, de maneira escancarada”, disse em entrevista ao Estadão. “Os acordos que o Mercosul tinha assinado com a União Europeia e a Área de Livre Comércio Europeu já estavam praticamente mortos”. E segue: “Ele inviabiliza, no futuro previsível, qualquer esforço de boa vontade para apresentar esses acordos à aprovação dos diversos parlamentos europeus. Isso vai afetar muito as perspectivas do agronegócio brasileiro, da exportação do Brasil em geral”, diz o diplomata que tem mais de 40 anos de carreira no Itamaraty.

O professor de relações internacionais da FGV Matias Spektor segue na mesma linha. Entre as nações europeias, com destaque para a França, as pautas ambientais – um dos abordados de maneira controversa por Bolsonaro na ONU – têm sido usadas como pretexto para justificar uma política protecionista. “Mas a fala do presidente servirá como um desempate aos países que ainda não haviam decidido sobre eventuais sanções”, disse ao Valor.

Por Cassia Miranda

O discurso de Jair Bolsonaro na 74ª Assembleia-Geral da ONU também repercutiu nos principais jornais do mundo.

O The Guardian classificou o discurso de Bolsonaro como “combativo”, destacando ainda que a fala do presidente sobre a questão ambiental foi “insana” e “conspiratória”. O jornal inglês também ressaltou que se esperava uma posição mais branda na cúpula da ONU, uma vez que o Brasil luta para “reparar sua imagem no exterior” após a crise da Amazônia. O periódico também chamou de “controversa” a opinião do chefe de Estado sobre os povos indígenas.

O New York Times colocou Bolsonaro no mesmo balaio dos presidentes Abdel Fattah el-Sisi, do Egito, e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, afirmando que os três, além de terem discursado no mesmo dia que o presidente norte-americano, Donald Trump, possuem uma postura similar à do líder americano. O jornal também apontou a contradição entre a fala do presidente da República sobre sua suposta política de tolerância zero com crimes ambientais e os dados apresentados pelo Inpe, que registraram mais de 40 mil focos de incêndio na região nos primeiros oito meses do ano.

O Washington Post deu destaque às falas de Bolsonaro sobre o índios, ressaltando que a maioria dos povos indígenas no Brasil não endossa o discurso do presidente. O jornal ainda deu espaço para a declaração da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que classificou o discurso do presidente como sendo “recheado de meias verdades e negação de verdades inteiras”.

Já o espanhol El País afirmou que as tendências autoritárias de Bolsonaro, bem como sua afeição pela ditadura e sua política ambiental, impediram a criação de pontes tanto com investidores quanto com outros líderes mundiais para além de Trump. Ainda de acordo com o diário, o presidente do Brasil está “longe de tentar romper o isolamento internacional que seus nove meses de mandato se submeteram ao Brasil”.

O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, disse que o presidente do Brasil sofre de “delírio” e tem “saudade dos tempos da ditadura militar”. “Eu rejeito categoricamente as calúnias de Bolsonaro sobre Cuba. Ele está delirando e anseia pelos tempos da ditadura militar. Ele deveria cuidar da corrupção de seu sistema de Justiça, governo e família. Ele é o campeão do aumento da desigualdade no Brasil”, escreveu Rodríguez no Twitter.

VEJA OS ATAQUES DE BOLSONARO E ALIADOS JÁ FEITOS À ONU

A ONU nunca esteve na lista de entidades preferidas do presidente Jair Bolsonaro. Em passado recente, a entidade foi alvo de suas várias críticas, bem como de um dos filhos e aliados. Confira alguns momentos de ataque explícito de Bolsonaro à entidade.

Em agosto de 2018, o então candidato à Presidência afirmou que tiraria o Brasil do colegiado caso eleito após o conselho se colocar a favor da participação do ex-presidente Lula na disputa presidencial. Na ocasião, Bolsonaro também criticou a oposição da ONU em relação a Israel. Dois meses antes, ele comemorara a saída dos EUA do conselho.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também compartilha o mesmo sentimento de repulsa à entidade. O filho 03 do presidente da República, indicado por Bolsonaro para ocupar o cargo de embaixador do Brasil no EUA, já afirmou que a organização dificilmente tomaria alguma atitude contra o governo de Nicolás Maduro, pois pregava a igualdade “igual ao socialismo”, além de afirmar que a organização usava a “estratégia” do aquecimento global para igualar as nações.

Eduardo, que acompanha o pai na comitiva à sede da ONU, também criticou Bachelet na ocasião em que ela entrou em rota de colisão com Bolsonaro. Em seu Twitter, o deputado federal compartilhou uma notícia de que a comissária teria tido seu nome citado na operação Lava Jato, afirmando que o Brasil necessitava apenas do dinheiro que a chilena havia “roubado” do País.

Outro que estará ao lado de Bolsonaro em Nova York, o assessor internacional da Presidência, Filipe G. Martins, não fica de fora da torcida contra a ONU. Em setembro do ano passado, ele afirmou que a ONU era “mais aparelhada que universidade pública” e que, por isso, seria “jeca” citá-la em qualquer documento.

LOVE YU

Depois de discursar por pouco mais de 30 minutos na abertura da 74ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, Jair Bolsonaro aguardou cerca de 1 hora para se encontrar com o presidente americano Donald Trump. No entanto, o encontro entre o fã e seu ídolo foi extremamente breve e sem grandes colocações. Quando Trump apareceu, deu apenas 17 segundos a Bolsonaro, um aperto de mão e uma foto. “Ótimo discurso”, disse Trump ao presidente brasileiro, já logo o dispensando novamente. Trump não assistiu presencialmente à fala de Bolsonaro, pois ficou em um saguão externo, dando entrevistas.

O local do encontro entre os dois dignatários chama-se, de acordo com a coluna de Lauro Jardim, “sala GA-200”. Lá, Trump aguardava para fazer o seu discurso. Segundo diplomatas que testemunharam a cena, Bolsonaro disse a Trump: — I love you. E, como resposta, ouviu: — Que bom te ver de novo. O diálogo ficou nisso.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista ao diretor de redação de Opera Mundi, Haroldo Ceravolo Sereza, que a postura do presidente Jair Bolsonaro em relação aos EUA "é uma coisa humilhante" e que essa postura prejudica o próprio governo porque "ninguém gosta de lambe-botas". As declarações foram feitas de em uma entrevista exclusiva, na sede da Polícia Federal, em Curitiba, onde o petista está preso há mais de um ano. Opera Mundi autoriza e estimula a utilização destas imagens em outros canais, desde que não sejam feitas edições que alterem, deturpem ou descontextualizem o sentido original das afirmações.

DIGNOS DE PENA

A ex-presidente do Chile e atual comissária para Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, afirmou em entrevista para uma TV local que sente “pena pelo Brasil” ter Jair Bolsonaro (PSL) como presidente da República. A fala é uma resposta ao ataque feito pelo presidente brasileiro a ela no início do mês. “Então se alguém diz que em seu país nunca houve ditadura, que lá nunca houve tortura…bem, então deixe ele dizer que a morte do meu pai por tortura garantiu que o Chile não se transformasse em uma Cuba. A verdade é que eu sinto pena pelo Brasil”, afirmou Bachelet à emissora TVN.

DESAPROVAÇÃO

Pela segunda vez, a fatia dos que desaprovam o governo Bolsonaro é superior à dos que o aprovam em pesquisa realizada neste ano. O índice dos descontentes oscilou de 48% em junho para 50% este mês, enquanto a aprovação passou de 46% para 44% no mesmo período, segundo mostra pesquisa feita pelo Ibope e divulgada nesta quarta-feira, 25, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Desde janeiro, a aprovação do governo vem caindo na série do Ibope: era de 67% em janeiro e caiu 23 pontos. A desaprovação, por outro lado, subiu 29 pontos: foi de 21% para 50%.

A confiança no presidente segue mesma tendência, 42% dos entrevistados disseram confiar no presidente, enquanto 55% não confiam. Na última edição, 46% dos brasileiros confiavam no presidente, enquanto 51% não confiavam. A segurança pública segue como área mais bem avaliada do atual governo, aprovada por 51% dos brasileiros, seguida da educação (44%), de combate à inflação (42%) e meio ambiente (40%).

Para 43% dos entrevistados, atual administração é melhor que a de Michel Temer (2016-2018) – a parcela era de 47%, em junho. A pesquisa mostra, ainda, que 33% dos ouvidos consideram os governos iguais e 20% a avaliam como pior, ante 17% na última edição.

O Ibope ouviu 2 mil pessoas em 126 municípios entre 19 e 22 de setembro. O levantamento anterior havia sido realizado de 20 e 26 de junho. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para cima e para baixo.

Por Equipe BR Político

TORCER CONTRA BOLSONARO É TORCER PELO BRASIL

O projeto de despolitização promovido pelas forças do obscurantismo só tem sido possível, dentre outras coisas, graças à infantilização de adultos das mais variadas formas. E haja adulto nessa condição em todas as arenas sociais.

A idiotice mais comum e emblemática é aquela segundo a qual precisamos ser “otimistas” e "torcer pelo Brasil" porque análises críticas do momento político apenas colaborariam para que o “país não dê certo”. Imbricada a essa noção rasteira da política está a ideia de que as críticas ao governo revelariam, na verdade, disposição contra o desenvolvimento do país. Coisa de comunista ou petista.

Esta infantilização corrobora – por silêncio e conivência – ideias que nos condenam ao retrocesso político e social, que nos guiam, cegos, para a vitória da barbárie, do autoritarismo e do senso comum sobre a cidadania, a democracia e a ciência.

Afinal…

Como torcer por um governo que atua pelo enfraquecimento de garantias e direitos dos trabalhadores?

Como torcer por um governo que propõe uma previdência que atinge diretamente os mais pobres, privilegiando as camadas mais favorecidas da população?

Como torcer por uma política ambiental baseada no misticismo, na devastação de florestas e na negação da ciência?

Como torcer por uma política educacional que elenca a educação pública como inimiga?

Como torcer por uma política de saúde que elenca a saúde pública como adversária?

Como torcer por um governo que menospreza a ciência e a pesquisa em detrimento do senso comum?

Como torcer por um governo que trata os povos originários como um estorvo?

Como torcer por um governo que discrimina aqueles cuja sexualidade diverge da heteronormatividade vigente?

Como torcer por um governo que prega a violência?

Como torcer por um governo que trata a política externa como bate boca desqualificado de botequim?

Como torcer por um governo que prega a despolitização e alienação da juventude?

Como torcer por um governo que enfraquece a participação popular?

Como torcer por um governo que prega a tortura e a barbárie?

Como torcer por um governo que espezinha o Estado Laico.

Como torcer por um governo que nega a história do próprio país.

Como “torcer” por um governo cujas ideias pregam a exclusão?

Como…?

Às vezes, torcer contra é torcer a favor.

O INCRÍVEL MUNDO COR DE ROSA DO BOLSONARISMO LIGHT

Em debate: a ideia de que o voto em Bolsonaro não significaria, necessariamente, o apoio as suas políticas.

Sei perfeitamente que milhões de brasileiros votaram em Bolsonaro como uma resposta ao que consideravam inaceitável: a maligna política petista de corrupção. Que o PT não é diferente de partido algum, é óbvio, sempre foi óbvio para mim. Mas que ele tenha criado a corrupção e a aperfeiçoado é de uma imbecilidade de dar dó.

Mas a questão aqui não é o PT, mas o bolsonarismo: esta “ideologia” surgida como panaceia para “tudo o que está aí”, especialmente “a esquerda” (que esquerda?), e que transformou-se na base de uma série de ações que flertam com o neofascismo que hoje surge na Europa e em parte dos Estados Unidos.

Resumindo: quem votou em Bolsonaro apoia suas políticas?

Bom… tenho certeza absoluta de que boa parte dos brasileiros que votaram em não apoiam estas ideias. No entanto, ao votarem em Bolsonaro, as corroboram.

E não, este argumento não tem similaridade com o voto no PT. Pois a corrupção pode ser combatida com uma nação na qual a democracia viceja, onde o estado democrático de direito seja reconhecido e respeitado. A corrupção jamais pode ser enfrentada, de fato, em um estado que combate o próprio estado democrático de direito, como é o caso do estado bolsonarista.

Portanto, se você não compreende o que está aqui exposto ou insiste em colocar-se em uma posição “a cavaleiro” em relação ao que acontece no país, tendo depositado seu voto na opção bolsonarista, de duas uma: ou você é hipócrita e faz vista grossa ao neofascismo, ou observa o mundo a partir de lentes cor de rosa. A última opção é menos pior, mas não te isenta de responsabilidades.

BOLSONARO CONTRA ONGS ALEMANHA E MACRON

Como demonstrado durante o discurso na ONU na última terça-feira, 24, o presidente Jair Bolsonaro não pretende baixar o tom contra seus rivais internacionais. Em entrevista ao programa Frente a Frente, da TV Rede Vida, gravada logo após ele falar na abertura da Assembleia-Geral, Bolsonaro voltou a criticar o presidente da França, Emmanuel Macron, disse “desafiar” a Alemanha em relação ao Fundo Amazônia, e sugeriu que o dinheiro para reflorestamento tenha sido desviado por ONGs.

“Eu até desafio quem tem doado dinheiro para nós ao longo de tanto tempo que me mostrem uma árvore só plantada por ONGs que pegam (sic) metade desse recurso”, disse Bolsonaro, após ser perguntado se tinha a intenção de retomar relações com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com Macron. Como de costume, ele não citou nenhum indício que aponte para os desvios sugeridos. Bolsonaro ainda avaliou o discurso na ONU como “contundente, mas não agressivo”.

Ainda, segundo o presidente, “a floresta Amazônica não pega fogo. Ela é úmida. E com um grau de umidade muito grande. O que pega fogo é a periferia”, disse, ao defender que a média de focos de incêndio na Amazônia está abaixo da média dos últimos anos. De acordo com nota técnica elaborada em agosto pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o aumento no número de queimadas na região amazônica tem relação com a ação humana e a prática de “limpar” áreas recém-desmatadas e outros tipos de terreno. O estudo indica que o desmatamento é o provável fator responsável por este cenário, e não a estiagem.

Por Equipe BR Político

ATO FALHO

"Um cara me disse, lá na imprensa, não sou eu que estou dizendo, um cara me disse: assim, como no passado, as Malvinas estavam para a Argentina, hoje a Alemanha está para o Brasil. Tirem as suas conclusões, não fui eu quem disse isso! Ninguém disse ainda, estou dizendo pela primeira vez aqui." Esse angu em forma de texto foi proferido por Jair Bolsonaro, nesta quinta, na porta do Palácio da Alvorada. Ele queria fazer um alerta para supostos interesses estrangeiros sobre a Amazônia. Acabou fazendo uma alerta sobre a importância do aprendizado da língua portuguesa.

As Malvinas passaram para o controle da Inglaterra no século 19 e os argentinos perderam feio ao tentar retomá-las em 1982. O presidente soltou "Alemanha", quando – provavelmente – queria falar "Amazônia", alimentando as teorias conspiracionistas de que o mundo está de olho gordo em nosso território.

Bolsonaro consegue se comunicar com setores da sociedade de forma direta e carismática, é reconhecido por muitos como "gente como a gente" – o que lhe garantiu popularidade. Contudo, ao falar de improviso comete lapsos e "gases", sistematicamente. Seria apenas constrangedor se fosse o "tiozão" no almoço de domingo da família. Mas ele é o presidente da República.

Isso pode parecer bobagem diante de tantos problemas, mas o que diz alguém em sua posição é de interesse público. Pode derrubar o dólar ou a Bolsa de Valores, atrapalhar o comércio internacional, criar cizânias com os vizinhos, mostrar que somos governados por alguém que não reflete antes de se expressar.

O ideal – para ele, para a economia, para o país, para o futuro do planeta – seria Bolsonaro falar menos. Como o presidente acredita que o segredo do seu sucesso junto aos fãs é estar o tempo inteiro falando algo (normalmente, de forma beligerante, contra alguém), recomendar isso a ele seria pregar no deserto.

O pior é que, ao invés de reconhecer que soltou bobagem e pedir desculpas, ele prefere acusar a imprensa de distorcer suas palavras. Isso quando elas são realmente uma gafe e não são propositadamente distorcidas para encobrir algo. Não é papel da imprensa tentar descobrir o que está por trás de falas confusas de um adulto antes de publicá-las, trocando "aquilo que ele disse" por "aquilo que ele talvez quis dizer".

A fé cega dos fãs chega a tal ponto que já circulam pela rede tentativas de provar que ele está certo e que era a Alemanha mesmo. Ou seja, o problema é Bolsonaro tomar gosto pela coisa e entrar na loucura. 

Portanto, na impossibilidade técnica, política ou psíquica do presidente mudar seu comportamento, talvez seja prudente arranjar um assessor com coragem para dar um toque nele. Do tipo que chegasse ao ouvido e dissesse: "presidente, o senhor errou, seria bom se corrigir" – para que não se irrite com terceiros pelas bobagens que ele mesmo produz.

Por fim, valeria a pena investigar se o lapso não foi um ato falho, o que mostraria que a Alemanha ronda os pensamentos do presidente – e, certamente, não é por conta do fatídico 7 a 1. Vale lembrar que a primeira-ministra Angela Merkel bateu de frente com ele por conta do aumento no desmatamento da floresta por aqui. A Alemanha contribuía com o Fundo Amazônia e foi alvo de ataques de Bolsonaro ao lado da França.

"Para a psicanálise, ato falho acontece porque há uma cadeia de pensamentos, inconsciente, que se encontra suprimida e emerge revelando um fragmento da verdade queremos suprimir a nós mesmos", afirma Christian Dunker, psicanalista e professor titular do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. 

"Um processo típico aos atos falhos é que eles tendem a se repetir enquanto seu sentido não for aceito ou negado de modo ainda mais intenso."

O psicanalista explica que atos falhos são muitas vezes incompreensíveis aos outros, pois dependem de fantasias e recalques de cada um. Mas Freud dá exemplos de atos falhos "transparentes" que são, por assim dizer, sua própria interpretação. Dunker usa como exemplo um diretor que vai dar início a uma sessão, na qual se tratarão de assuntos contrários aos seus interesses, e anuncia: "Declaro encerrada a sessão" ao invés de "Declaro aberta a sessão".

Incomodado com o que avalia sendo interferência externa, Bolsonaro pode estar manifestando isso em sua fala. Ou seja, encarando realmente um teoria conspiratória como realidade.

Por Leonardo Sakamoto

NOVE CRIANÇAS

“O governador e o governo do estado lamentam profundamente todas essas mortes. Essas e todas as outras que possam acontecer”. A declaração do secretário de governo do Rio de Janeiro Cleiton Rodrigues aconteceu no mês passado, depois que seis pessoas inocentes foram mortas e um bebê foi ferido em apenas cinco dias de operações policiais. No Intercept, Cecília Olliveira e Luiz Antonio Simas escrevem que é como se o governo estivesse pedindo desculpas antecipadas inclusive pela morte de Agatha Vitória Sales Félix, de oito anos, atingida nas costas quando estava junto com o avô em uma kombi na semana passada. Não parecem só desculpas antecipadas, notam os autores, mas profecias – ou ameaças. Este ano, já foram cinco crianças mortas e quatro feridas pela “mais extrema barbárie que deveria levar [o governador] Wilson Witzel aos tribunais”. Suas vidas são tão ignoradas pela imprensa que não se encontram fotos nem o nome de algumas delas, mas o texto descreve os casos a partir da Plataforma Fogo Cruzado.

Desde o início, a função da Polícia Militar foi proteger a propriedade e as camadas dirigentes “contra as gentes perigosas e de cor”, lembra o texto. A corporação foi criada no Rio por D. João  ainda início do século 19, quando a revolução do Haiti apavorava nossas elites pelo poder de inspirar movimentos similares. “Portanto, não adianta dotar esta polícia de um – teoricamente – ‘perfil cidadão’, ensinado em algumas aulas, e pensar que está resolvido. A PM foi criada para matar e morrer. Nesse sentido, é uma das instituições mais bem sucedidas do Brasil: mata e morre. Muito”. Daí que “única solução para a PM – que é em seus quadros também majoritariamente pobre e preta, também vitimada por uma violência absurda – é sua extinção como a conhecemos hoje e sua refundação. Como fazer isso? Não há resposta pronta. Mas é fato que é uma discussão necessária e urgente. A barbárie nada de braçada nas nossas praias”. 

Enquanto centenas de pessoas seguiam em comitiva em direção ao cemitério onde a menina Ágatha Vitória Sales Felix, de oito anos, foi enterrada, em Inhaúma, na Zona Norte do Rio de Janeiro, um policial militar agredia Felipe Gomes, organizador do Marcha das Favelas. O integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) Gabriel Monteiro desferiu um soco contra o jovem durante uma discussão. Monteiro afirmou, pelas redes sociais, que usou a “legítima defesa” contra “um elemento que me xingava e agredia”. Ainda, ele cita que tentava fugir de um “aglomerado de pessoas”. Um vídeo do momento da agressão foi publicado pelo próprio policial e mostra os dois discutindo sobre a violência no Rio de Janeiro. Quando Monteiro compara o número de mortes no estado neste ano com apreensões de fuzis, o jovem se altera e levanta a voz para o PM — em resposta, ele desfere um soco contra a face de Felipe, entra em um carro e foge.

No dia em que as redes sociais se voltaram para lamentar a morte da garota Àgatha Vitória Sales Félix, por um tiro de fuzil nas costas na Fazendinha, Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, um post do deputado federal Eduardo Bolsonaro chamou a atenção. O 03 da família Bolsonaro republicou um vídeo do Tenente Santini, no qual aparece ao lado de seu filho, orientando o menino, que tem uma arma de brinquedo nas mãos, a como inspecionar ambientes, em uma brincadeira de polícia e ladrão. No post original, o tenente escreve: “Eu brinquei de polícia e ladrão e não virei bandido. O exemplo arrasta!”. Ao endossar o vídeo, Eduardo Bolsonaro escreveu: “quando criança também brinquei de polícia e ladrão e não virei bandido. Como diz o Padre Paulo Ricardo temos que ensinar nossos filhos a serem guerreiros do bem”.

LACOMBE FASCISTINHA

A apresentadora Silvia Poppovic deu mais um puxão de orelha no jornalista Ernesto Lacombe, que divide com ela a bancada do “Aqui na Band”, da TV Bandeirantes. O ex-global tentou defender a política de segurança do governador Wilson Witzel diante da morte da menina Agatha Félix, de 8 anos, atingida por tiro de fuzil da PM no Complexo do Alemão.

O ex-deputado federal Jean Wyllys usou sua conta do Twitter para dar uma “aula de jornalismo” a Ernesto Lacombe, apresentador do “Aqui na Band”, da TV Bandeirantes. Mais cedo, ao comentar o caso do assassinato da menina Ágatha, vítima de um tiro de fuzil supostamente disparado pela polícia no Complexo do Alemão (RJ), Lacombe saiu em defesa do governador Wilson Witzel e minimizou as críticas com relação à atuação da polícia. “É muito complicado a gente acusar sempre a polícia”, disse, pouco antes de ser “detonado” por sua companheira de bancada, Silvia Poppovic.

Confira, abaixo, a sequência completa.

SEM INCENTIVO

Apenas três dias após o assassinato da menina Ágatha Félix: um decreto assinado por Wilson Witzel (PSC) acabou com o incentivo à redução de mortes por policiais no Rio de Janeiro. A partir de agora, os homicídios não entram no cálculo de um bônus salarial oferecido semestralmente a policiais militares e civis de batalhões e delegacias. Deram lugar ao número de roubos de carga. Segundo Pablo Nunes, da Universidade Cândido Mendes, isso quer dizer mesmo o que você está pensando: menos chance ainda de reduzir a letalidade da polícia.

LULA

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alcançou, no último dia 23, um sexto da pena a que foi condenado no processo do tríplex do Guarujá, o que lhe permite reivindicar o direito à progressão de regime e cumpri-lo no semiaberto. Mas o petista não quer o benefício. Preso desde 7 de abril de 2018 na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, ele teve sua pena reduzida pelo Superior Tribunal de Justiça em abril, quando a corte diminuiu o tempo de prisão de 12 anos e 1 mês para 8 anos, 10 meses e 20 dias.

ALTERADO

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) compartilhou nesta segunda-feira (23) um vídeo em que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, aparece visivelmente alterado cantando paródias de músicas dos Beatles com letras que ironizam a prisão de Lula, confirmando mais uma vez a obsessão de ambos com o ex-presidente.

FAKE

Não é verdade que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito pela revista inglesa The Economist em agosto de 2017 o governante mais corrupto da história, como afirmam publicações que circulam nas redes sociais (veja aqui). A imagem difundida como capa do periódico não consta em seu arquivo de edições passadas e é uma montagem feita com a foto do ex-presidente. A peça de desinformação começou a ser compartilhada há dois anos e voltou a circular nas redes sociais na última semana.

PERSEGUIÇÃO

Após a publicação de uma reportagem com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde sobre aborto, o site AzMina sofreu perseguição de internautas, com intimidação da equipe a partir da extração de informações pessoais. E, mais grave: a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves afirmou sexta via Twitter que denunciou o veículo de imprensa por “apologia ao crime”. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo apelou, em nota, para que os ministérios públicos Federal e de SP não deem seguimento a eventuais representações criminais contra as profissionais e a revista, pois isso significaria um retrocesso enorme em relação à liberdade de expressão. 

BOULLOS E DEMOCRACIA

Há método e estratégia na loucura de Bolsonaro. Ele não age como todos os outros presidentes da Nova República que tentaram construir governabilidade e maioria social, mas sim dirigindo-se a uma minoria extremista, com o objetivo de radicalizá-la e para alimentar um tensionamento constante na sociedade. No fundo, Bolsonaro quer uma saída autoritária e uma ruptura institucional no país. A avaliação é de Guilherme Boulos, candidato do PSOL à presidência da República em 2018 e uma das lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Em entrevista ao Sul21, Boulos faz um balanço dos oito primeiros meses do governo Bolsonaro, chama a atenção para as táticas militares usadas pelo atual presidente em sua ação política (como a do bombardeio de saturação) e aponta o que considera ser o principal desafio para a esquerda e a oposição em geral nos próximos meses:

REAÇÃO

Durante show realizado no último dia 21 em Curitiba, a cantora Maria Gadú decidiu fazer um desabafo e condenar as prisões do ex-presidente Lula, da apresentadora Preta Ferreira, além de criticar a ação de policiais militares paranaenses contra uma moradora de rua. A artista foi interrompida por um homem que mandou ela voltar para o Rio de Janeiro e respondeu. Um pequeno grupo deixou o show após o comentário. Pelas redes sociais, usuários declararam que a apresentação seguiu com força.

DERAM SINAL VERDE

Apesar de Augusto Aras não estar na lista tríplice, os senadores deram sua benção e o aprovaram como novo Procurador-Geral da República. Foram 68 votos a favor, dez contrários e uma abstenção à sua indicação. O escolhido de Bolsonaro vai assumir um dos mais importantes cargos do país por um mandato de dois anos. Durante a sabatina no Senado, temas como aborto, maconha e até “cura” gay foram levantados. Aras assinou um compromisso com a Associação Nacional de Juristas Evangélicos, que aceita a tal “cura”, restringe o conceito de família como a união de um homem e uma mulher, e por aí vai. O senador Fabiano Contarato (Rede-ES), que é gay, casado e tem filhos, perguntou a ele: “O senhor não reconhece a minha família como família?” Aras respondeu que assinou o documento sem ler. Ótima credencial para a PGR…

Augusto Aras não deixou de acenar para os conservadores ao afirmar que assuntos da pauta de costumes devem ser atribuição do Congresso. Ele citou como exemplos a descriminalização do aborto e da maconha, dois assuntos que estão em pauta no Supremo Tribunal Federal. Vai ser triste ver a PGR alinhada à AGU defendendo as posições do governo.

CARLUCHO QUEIMA ROSCA

O filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ), o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) insinuou pelo Twitter, ao elogiar investimentos do governo em pesquisas na indústria automobilística, que os cursos de Ciências Humanas “ensinam como queimar a rosca sem sentir dor”. Entre parênteses, Carluxo acrescentou que o que dizia não era piada, mas sim fato. “Isso sim é investir nos cérebros brasileiros e pensar no bem do país!”, encerrou. “

DA VANGUARDA AO ATRASO

Acompanhado por representantes do, Iraque, Guatemala, Polônia e Hungria, o ministro Mandetta participou de um momento perigoso e constrangedor. Liderado pelo secretário de saúde dos EUA, Alex Azar, o grupo pressionou as Nações Unidas a não usar nos documentos políticos termos e expressões caracterizados como “ambíguos”, caso, vejam só, dos “direitos sexuais e reprodutivos”. “Não apoiamos referências a termos e expressões podem minar o papel crítico da família e promover práticas como o aborto em circunstâncias que não gozam de consenso internacional, o que pode ser mal interpretado pelas agências da ONU “, disse Azar em seu discurso, com Mandetta e os demais atrás. Ele prosseguiu: “Não há direito internacional ao aborto e esses termos não devem ser usados ​​para promover políticas e medidas pró-aborto (…). Além disso, apoiamos apenas a educação sexual que aprecia o papel protetor da família nessa educação e não tolera riscos sexuais prejudiciais para os jovens.”

Segundo Azar, eles estavam falando não apenas em nome de seus países mas de outros, como República Democrática do Congo, Egito, Haiti, Hungria, Líbia, Nigéria, Polônia, Rússia, Arábia Saudita, Sudão, Emirados Árabes e Iêmen. Aqui, a transcrição da fala inteira. 

Em julho, o governo Trump enviou uma carta ao Brasil e a outros países pedindo que estabelecessem uma ‘aliança’ para vetar resoluções positivas da Assembleia em relação a direitos sexuais e educação sexual. A informação é do jornalista Jamil Chade, no UOL, e foi confirmada pelo Itamaraty. 

A fritura de Luiz Henrique Mandetta pode estar vindo de um Partido Progressista ressentido de ter perdido a Saúde. Segundo Bela Megale, há uma articulação em curso para tirar o ministro do DEM da Pasta. E ela foi confiada a Hélio Lopes (PSL-RJ), conhecido como Hélio Negão, fiel escudeiro e amigo de Jair Bolsonaro. Ele estaria tentando influenciar o presidente a colocar o deputado Hiran Gonçalves (PP-RR), presidente da frente parlamentar de Medicina, no cargo. Um dos combustíveis para a fritura seria o fato de o DEM estar direcionando para si próprio muitas verbas e cargos no Ministério da Saúde, numa divisão injusta com as outras siglas. De acordo com O Globo, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, chegou a manifestar a mesma opinião que o PP em conversas com deputados. 

TUDO IGUAL (E RUIM)

Se desde o massacre de Carandiru o domínio das facções sobre o sistema prisional só cresceu, mudando a dinâmica nas prisões e fora delas, em termos de política de saúde, a população carcerária continua na mesma, desassistida. Essa é a análise de Drauzio Varella nesta entrevista ao jornal O Globo:

“Do ponto de vista da saúde, não houve muita diferença porque sempre foi muito difícil. O estado nunca conseguiu organizar o sistema de saúde. Primeiro, porque não é fácil, especialmente nessas cadeias superlotadas. Se já não é fácil organizar a saúde fora, de quem está em liberdade, imagina nessas condições, quando há celas que têm 20, 30 pessoas com problemas sérios de disseminação de doenças infecciosas. E não tem médicos, simplesmente porque eles não gostam de trabalhar em cadeia. Não querem ter esse tipo de trabalho. Nós temos vários CDPs (Centro de Detenção Provisória) aqui em São Paulo e não tem médico nenhum. É zero. Imagina pelo Brasil afora? Quando temos um caso agudo, de alguém passando muito mal ou correndo risco de morte, precisamos levar para um pronto-atendimento fora da cadeia. Como leva? Precisa de procedimento de escolta, pois por lei não pode levar um preso para fora da cadeia sem escolta. A gente leva muitas horas até conseguir uma escolta. É sempre precária. Sempre tivemos dificuldade em organizar o sistema de saúde dentro das cadeias. Primeiro pela falta de médicos, porque abre-se concurso e ninguém comparece. Segundo pela dificuldade mesmo de transporte dos doentes para hospitais especializados.”

DESQUALIFICADO

Única brasileira que já foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz, Fernanda Montenegro foi alvo de ataques do diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Roberto Alvim. Usando sua página do Facebook, o diretor do órgão federal chamou-a de “mentirosa” e “sórdida”, além de ter dito sentir “desprezo” pela atriz. O texto foi publicado após Fernanda ter sido capa da Revista Quatro Cinco Um, na qual aparece caracterizada como bruxa prestes a ser queimada em uma fogueira de livros. “Um amigo meu, bem-intencionado, me perguntou hoje se não era hora de mudar de estratégia e chamar a classe artística pra dialogar. Não, absolutamente não. Trata-se de uma guerra irrevogável. A foto da sórdida Fernanda Montenegro como bruxa sendo queimada em fogueira de livros, publicada hoje na capa de uma revista esquerdista, mostra muito bem a canalhice abissal destas pessoas, assim como demonstra a SEPARAÇÃO entre eles e o povo brasileiro. Temos, sim, que promover uma RENOVAÇÃO completa da classe teatral brasileira”, escreveu Alvim, que apoia o presidente Jair Bolsonaro.

O texto de Alvim gerou repúdio da classe artística nas redes sociais. Além de atores e atrizes que homenagearam a veterana em postagens, a Associação dos Produtores de Teatro (APTR) emitiu uma nota criticando as afirmações do diretor. “A REDE DE TEATROS E PRODUTORES INDEPENDENTES vem manifestar seu integral repúdio à postura e ao discurso do Sr. Roberto Alvim, inacreditavelmente diretor das Artes Cênicas da FUNARTE! Apoiamos Fernanda Montenegro em seu direito de expressar por nós a legítima indignação da classe artística, e sua decepção diante de um ofensivo e autoritário não – representante!”, publicou a associação.

De acordo com informações da coluna de Mônica Bergamo, o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões de SP (Sated-SP) protocolou uma ação judicial contra o diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte e ex-diretor teatral Roberto Alvim. O sindicato pede R$ 30 mil de indenização por danos morais coletivos contra a classe artística. Além de chamar a atriz Fernanda Montenegro de “sórdida” nas redes sociais, ele disse que a categoria “que aí está” é “radicalmente podre”, com “gente hipócrita e canalha”. Caso vença a causa, o Sated-SP doará os recursos para um fundo social voltado para a categoria de artistas e técnicos do estado de SP. O sindicato pede ainda a remoção das publicações e que o diretor publique em sua página os termos de uma eventual sentença. Alvim, por sua vez, afirmou que a ação é contra a “liberdade de expressão” e visa “enfraquecer o governo de Jair Bolsonaro”. “Se formos por esse caminho, eu e milhões de brasileiros poderíamos processar uma série de atores que comparam o presidente a Hitler”, afirma.

Logo após receber o prêmio Bibi Ferreira de melhor ator coadjuvante pelo espetáculo Dogville, o ator Fábio Assunção pediu à plateia um viva à Fernanda Montenegro e à menina Agatha. “Acho que chegou a hora da gente ultrapassar a fronteira do teatro e se colocar como cidadão”, disse sob aplausos o ator.

“O teatro é sim um espaço de resistência, eu comecei minha vida pelo teatro, tô no teatro até hoje, mas acho que chegou a hora da gente ultrapassar a fronteira do teatro e se colocar como cidadão. A gente faz a nossa arte, mas o país tá precisando que a gente se junte, porque, realmente, não tá dando pra enxergar tudo isso, então eu queria dar um viva a Fernanda Montenegro e queria dar um viva a Agatha, que faleceu na sexta-feira. Estamos juntos aqui e fora daqui.”

TUDO ERRADO, DAMARES…

Quando lançou o programa ‘Abrace o Marajó’, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos disse que as meninas do arquipélago são estupradas porque não usam calcinha. E uma de suas propostas para corrigir a situação era… uma fábrica de calcinhas no local. Não é preciso ter muitas luzes para sacar que o problema não está no vestuário. Andrea Dip, da Agência Pública, investigou a violência sexual por lá e descreve a realidade marajoara que deve ser conhecida para entender a questão.

Dos 16 municípios do Marajó, 14 estão na lista dos menores IDHs do país; Melgaço, conhecido por reportagens que denunciam a exploração de meninas em balsas de carga, está em último lugar no ranking nacional. Pela primeira vez, o Ministério Público do Pará está fazendo um levantamento sobre exploração sexual e violência sexual contra crianças especificamente na região. Além da miséria empurrando as meninas para isso, não há equipamentos públicos suficientes para protegê-las nem para receber denúncias e investigar os crimes. 

 “As nossas crianças sobem naquelas balsas e muitas descem com pequenos objetos, às vezes com pequenos alimentos, um litro de óleo diesel, em troca da exploração do seu corpo. Eu conversei bastante com as duas meninas que foram encontradas nessa balsa [num caso específico em 2016]. A de 18 disse que desde os 5 anos de idade era explorada sexualmente em troca de comida. Hoje ela diz que é ‘prostituta da balsa’ e que seu sonho é casar com um gaúcho pra sair da miséria [as balsas de cargas muitas vezes atravessam o país, então passam por lá homens de todas as regiões]. A menina de 9 anos disse que subia desde que se entendia por gente, pra ganhar comida”, conta a irmã Henriqueta, que trabalha no combate a essa exploração desde 2008. 

Vale muito a pena ler também a entrevista com a juíza Elinay Melo, que julgou o flagrante de 2016 mencionado por Henriqueta. Entre muitas coisas, ela conta da visita que fez a uma escola na comunidade de Antonio Lemos. “Eu perguntei: ‘O que vocês querem ser quando crescerem?’. De 20 crianças, apenas uma levantou a mão. Ela disse: ‘Professora’. Ainda perguntei: ‘Ninguém quer ser médico? Engenheiro? Nada?’. Eles riram e ficamos assim. Aquela cena ficou na minha cabeça. Eles não sonham”. 

BINGO…

Nas redes sociais, circulou uma cartela de bingo feita pelo Intercept Brasil em que constavam temas que deveriam fazer parte do discurso de Jair Bolsonaro na ONU ontem, como “ONGs estrangeiras” e “somos o país que mais preserva o meio ambiente”. Em 20 minutos, ele não decepcionou os ‘apostadores’. De acordo com Jon Lee Anderson, da New Yorkerfoi uma experiência “surreal” ouvi-lo. Principalmente a defesa que o presidente fez das políticas ambientais do governo, já que nas palavras dele as florestas estão “praticamente intocadas” e sua destruição é fake news da “mídia sensacionalista”. Não faltaram ataques a Emmanuel Macron e ao Partido dos Trabalhadores. Sobrou até para o cacique Raoni, candidato ao Nobel da Paz, e as Nações Unidas que, segundo Bolsonaro, respaldaram “verdadeiro trabalho escravo” dos profissionais cubanos no Programa Mais Médicos. 

DALLAN NA MIRA

O procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, deve sofrer derrota inédita no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), segundo informa a coluna de Mônica Bergamo. A previsão é que, nas próximas semanas, um processo disciplinar seja aberto contra ele por 10 votos a 2. Sete conselheiros já votaram para que Dallagnol responda à acusação de fazer campanha nas redes sociais contra o senador Renan Calheiros (MDB-AL) quando ele disputava a presidência do Senado. Três dos sete conselheiros que costumam votar a favor do procurador surpreenderam e foram contra. Outros três devem fechar o placar negativo nos próximos dias. A coluna informa ainda que o CNMP passa por ampla reformulação: o Senado, que aprova os conselheiros, vetou a recondução de dois deles, ameaça rejeitar um terceiro e aprovou novos nomes para integrarem o colegiado. Com isso, o placar, que foi sempre de 8 a 6 a favor da Lava Jato, pode virar.

FROTA NO ATAQUE

O deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP), expulso do PSL por criticar o presidente Jair Bolsonaro, declarou no plenário da Câmara dos Deputados que irá entregar à CPI das Fake News uma espécie de dossiê sobre as milícias virtuais comandadas pelo Palácio do Planalto. Frota denunciava a ação coordenada de linchamento virtual – contra políticos e seus parentes – realizada por perfis que utilizam fotos em estilo vaporwave. “Nós sabemos que faz parte desta milícia digital que está instalada no Palácio abaixo da sala do presidente Jair Bolsonaro”, declarou o ex-bolsonarista. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, é um dos que usam fotos de perfil neste estilo, em referência aos fóruns de Chan.

LACOMBE DE NOVO

Luis Ernesto Lacombe voltou a causar polêmica no programa “Aqui na Band”, da TV Bandeirantes. Depois de ter tomado um puxão de orelha de sua companheira de bancada, Silvia Poppovic, por comentário sobre a morte da menina Agatha Félix, de 8 anos, o ex-global disse que “não compra” a ativista ambiental Greta Thunberg. A declaração de Lacombe veio logo depois da jornalista Marina Machado, apresentadora do “Notícias da Redação”, dizer que ficou “arrepiadíssima” com o discurso de Greta. “Realmente, essas frases não saem de mim”, disse. Com a cara fechada, o ex-global respondeu: “Marina, eu não compro essa menina, você me desculpa”.

O deputado federal e possível futuro embaixador do Brasil nos EUA, Eduardo Bolsonaro, utilizou sua conta no Twitter para atacar a adolescente Greta Thunberg. A sueca, que é ativista ambiental, fez um discurso na Assembleia Geral das Nações unidas sobre as mudanças climáticas que viralizou por todo o mundo. O problema é que, ao criticar a atitude da ativista, o deputado compartilhou em seus redes uma falsa montagem com a sueca, no qual ela aparece comendo em frente de crianças africanas.

Além da imagem falsa, Eduardo compartilhou uma “matéria” falsa dizendo que Greta é financiada pelo multimilionário George Soros. A informação, que não é verdadeira, partiu de uma foto manipulada de Greta, em que a cabeça de Soros foi colocada no lugar do rosto de Al Gore, ao lado de quem a jovem realmente pousou. A imagem original data de dezembro de 2018 e foi publicada nas redes sociais pela própria garota, que agradecia Al Gore por ser “um verdadeiro pioneiro” da causa ambiental.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Lunch in Denmark.

Uma publicação compartilhada por Greta Thunberg (@gretathunberg) em


Durante o program “3 em 1” da Jovem Pan, o comentarista político Rodrigo Constantino fez ataques pesados contra a ativista ambiental Greta Thunberg. Constantino que a jovem sueca é uma “retardada” explorada por adultos e ainda comentou sobre a ameaça do socialismo que partidos como o Cidadania (Ex-PPS), de Roberto Freire, representam.

O radialista Gustavo Negreiros, que fez ataques misóginos contra a ativista sueca Greta Thunberg, foi demitido da rádio 96FM, do Rio Grande do Norte.

QUEM MAIS PERDEU

Um estudo do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA apontou que os programas federais direcionados a populações vulneráveis foram os mais afetados pelos cortes orçamentários entre 2014 e 2017. Nesse período, as reduções em áreas como assistência social, educação e moradia chegaram a R$ 60,2 bilhões. A pesquisa, publicada no British Medical Journal, usou dados disponibilizados ao público pelo Senado Federal. Os maiores cortes foram nos programas segurança alimentar e nutricional (-85%), habitação decente (-82%), enfrentamento ao racismo e promoção da igualdade racial (-79%) e políticas para as mulheres (-64%). 

AMOSTRA GRÁTIS

Uma manifestação de convocada pelo movimento Vem Pra Rua que pedia intervenção militar, foi dissipada com uma intervenção da Polícia Militar do Distrito Federal, que atirou bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Eles se concentravam em frente ao prédio da Suprema Corte, em Brasília. O motivo para a ação da PM teria sido o fato de que manifestantes teriam atirado tomates contra painéis representando os ministros do STF e também objetos para além do cordão de isolamento.

RELHO NELE

Denunciado por diferentes crimes, entre eles fraude em licitação, desvio de verbas públicas e organização criminosa, o prefeito de Bagé, Divaldo Vieira Lara (PTB), foi afastado em ação do Ministério Público do Estado, por meio da Procuradoria de Prefeitos, em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime OrganizadoGaeco (Gaeco). Lara deve permanecer fora do cargo por pelo menos 180 dias. Divaldo Vieira Lara, irmão do presidente da Assembleia Legislativa, Luís Augusto Lara (PTB), é o mesmo que em 2018, durante a caravana do ex-presidente Lula pelo Estado, afirmou que “Lula e a sua quadrilha tiveram em Bagé aquilo que mereciam ter em todas as cidades deste país. Em Bagé se trata corrupto com relho, se trata corrupto desta forma”. Bagé foi a primeira parada na caravana do petista, e local também do primeiro protesto de ruralistas que marcaria a viagem do ex-presidente pelo sul do Brasil, culminando com tiros contra o ônibus da caravana no Paraná.

PAULO COELHO NELES

Em seu apartamento, em Genebra, o escritor Paulo Coelho disse, em entrevista à BBC, o que pensa sobre Jair Bolsonaro. Para ele, criticar o presidente é um "compromisso histórico". "O compromisso histórico é não ficar calado. Eu tenho que falar. Vou perder leitores? Vou. Tenho perdido? Devo estar perdendo? Não sei. Eu não fico contabilizando", diz.

VETOS

Jair Bolsonaro avalizou em privado a derrubada de vetos que ele aplicara à lei de abuso de autoridades com grande estardalhaço. Com essa manobra, o presidente converteu Sergio Moro num ministro tipo exportação. No estrangeiro, em discursos como o que proferiu nas Nações Unidas dias atrás, o ex-juiz da Lava Jato é vendido pelo chefe como "símbolo" do "novo Brasil" supostamente inaugurado com a posse do governo Bolsonaro. No escurinho dos acordos de bastidor, porém, Bolsonaro atropela o ministro para conceder sinal verde à banda arcaica do Congresso. Libera a derrubada de vetos que o próprio Moro havia sugerido.

MATADOR

O ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, confessou que planejou matar o ministro Gilmar Mendes, do STF. Ao Estadão, Janot disse que chegou a ir armado ao Supremo para atirar em Gilmar e na sequência suicidar-se. “Não ia ser ameaça não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele (Gilmar) e depois me suicidar”, afirmou Janot. O motivo teria sido uma história que supostamente Gilmar teria inventado sobre a filha de Janot. “Foi logo depois que eu apresentei a sessão (…) de suspeição dele no caso do Eike. Aí ele inventou uma história que a minha filha advogava na parte penal para uma empresa da Lava Jato. Minha filha nunca advogou na área penal… e aí eu saí do sério”, disse. Janot teria encontrado Gilmar no cafezinho do Supremo, sozinho, mas a “mão de Deus” teria impedido de concretizar o crime.

Procuradores da República, entre os quais alguns que integraram o Grupo de Trabalho da Lava Jato em Brasília na gestão de Rodrigo Janot, reagiram prostrados à divulgação de trechos da autobiografia do ex-procurador-geral da República e às entrevistas em que ele reforça o conteúdo bombástico do livro. A avaliação dos ex-auxiliares é que Janot demonstra desequilíbrio, expõe a equipe que trabalhou com ele, leva uma aura de suspeição de vingança pessoal às decisões do Ministério Público e dá munição às campanhas de desmoralização da instituição que grassam no Congresso e no próprio Supremo. Há, entre os ex-assessores, quem duvide da veracidade do relato do ex-chefe. Procuradores disseram que ele ficou muito irritado, de fato, na época em que foram publicadas reportagens insinuando ligações de sua filha com advogados da OAS, e relacionando sua atuação na PGR à intenção de beneficiá-la, mas dizem nunca ter ouvido dele intenção ou mesmo relato de que tivesse ido armado ao Supremo para tentar assassinar o ministro Gilmar Mendes.

Por Vera Magalhães

JORNALISMO SOB ATAQUE

“O jornalismo está sob ataque em quase todo o mundo, numa ofensiva de proporções e intensidade inéditas na história. Trata-se de um fenômeno particularmente dramático por ocorrer não apenas em países com escassa tradição de liberdade, mas também em nações que se orgulham de seu patrimônio democrático. Há um sem-número de países cujos governantes vêm se empenhando em desacreditar a imprensa e os jornalistas de forma sistemática, numa campanha que tem como propósito aniquilar o entendimento comum sobre o que é a verdade e o que é a realidade. O objetivo, a esta altura óbvio, é desqualificar as críticas aos que exercem o poder e dar a esses líderes condições de construir sua própria “verdade” – com a qual todos têm de concordar, sob pena de serem considerados “inimigos do povo”.”

Diz trecho de editorial do Estadão desta sexta-feira, 27.

Com informações de Carta Capital, Outra Saúde, Sul 21, o Globo, BR-18, Folha de SP, Leonardo Sakamoto, Josias de Souza, Fórum, Veja, Dora Kramer, BRPolítico, Vera Magalhães, Marcelo de Moraes, Radar e Ricardo Noblat

Leia outros artigos da coluna: Ágora Digital

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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