23/04/2024 - Edição 540

Poder

A dupla face de Mandetta na ONU

Publicado em 24/09/2019 12:00 -

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Nesta semana países da ONU aprovaram uma declaração política comprometendo-se a oferecer cobertura universal de saúde aos seus cidadãos até 2030. O foco, como havíamos adiantado, é fazer com que as pessoas não precisem empobrecer para acessar os serviços, e o documento gira em torno de priorizar a atenção primária. 

Nosso ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, esteve lá elogiando o SUS (“uma política social muito bem-sucedida que nós compartilhamos com vocês”) e propondo que se priorizem as ações de vacinação. “No Brasil intensificamos a vacinação e a vigilância em saúde nas fronteiras brasileiras, o que se estende por mais de 15 mil quilômetros. Mas, sozinhos não teremos êxito. Então talvez as ações de vacinação possam ser as primeiras atitudes referentes à cobertura universal de todos os países”, disse. Lendo assim, nem parece que o governo acaba de propor um corte nos recursos para imunizações no ano que vem. 

Para quem tem SUS, pensar em termos de cobertura universal de saúde é retrocesso: uma cesta de serviços cobertos pelos governos, não necessariamente prestados pelo setor público e não necessariamente gratuitos para todo mundo, é muito menos do que o sistema brasileiro sempre se propôs a fazer. Mas, pensando como a metade da população mundial que não tem serviços acessíveis, a coisa muda um pouco de figura. 

A matéria da Quartz lembra que a maior parte dessas pessoas está em países de média ou baixa renda… Ou nos EUA, único país rico que não oferece assistência universal. Embora o tema esteja fervendo nos debates eleitorais há um bom tempo, a declaração não se alinha de forma alguma com os planos do atual governo “É difícil não ver isso como um indicador de quão pouco o governo dos EUA se importa com os compromissos que faz com a comunidade internacional. Desde a criação da ONU, os EUA têm sido o principal ofensor quando se trata de não cumprir compromissos”, nota o texto.

Umas palavrinhas sobre filantrocapitalismo: Melinda Gates fez figura durante o encontro, dizendo que “é hora de começar o trabalho duro de transformar esses compromissos em resultados” e que “todos temos um papel a desempenhar”. Também na reunião, o professor Jeffrey Sachs, da Universidade da Columbia, disse que os bilionários precisam pagar mais para garantir que outras pessoas sobrevivam. Ele nomeou 15 dos mais ricos do mundo, incluindo Bill Gates, dizendo que eles poderiam facilmente acabar com a malária se quisessem. Mas, no Global Policy Watch, preocupações com a filantropia na saúde estão, entre outras coisas, nos problemas quanto a suas prioridades: “Embora grandes doadores venham cobrindo a lacuna no financiamento da OMS, eles também estão moldando os programas de saúde de acordo com as normas comerciais e marginalizando os programas de saúde pública”. Para quem quiser saber mais sobre a influência de Gates e outros super-ricos na saúde global, explicamos nesta reportagem.


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