23/04/2024 - Edição 540

Cultura e Entretenimento

Confronto militar em Campo Grande (MS) envolveu 140 pessoas

Publicado em 30/01/2014 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Embora a maioria dos moradores de Campo Grande (MS) não tenha sido alertada, a cidade foi palco de um enfrentamento bélico de consideráveis proporções em dezembro passado quando, nas imediações da Avenida Gury Marques, em uma área ocupada por mata e dois antigos motéis abandonados, cerca de 140 homens e mulheres combateram ininterruptamente por 24 horas. Foram milhares de disparos efetuados, que romperam o silêncio da madrugada, em confrontos que envolveram inclusive um helicóptero.

Apesar da violência dos enfrentamentos, ninguém saiu ferido. É que ao invés de projéteis de verdade, os “soldados” disparavam bolinhas de tinta com seus armamentos. Estamos falando da Operação Cavalo de Aço, um dos maiores eventos de Paintball Real Action do país, que reuniu quase duas centenas de participantes de todo o Brasil em Campo Grande.

Organizado pela empresa Assault Paintball, o evento, em sua segunda edição, transformou a cidade na capital do Paintball Real Action durante o final de semana dos dias 7 e 8 de dezembro. Jogadores de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Brasília, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná invadiram as dependências da Assault para um desafio físico e psicológico que despendeu muita adrenalina e terminou em congraçamento.

Confira abaixo o vídeo da missão com um helicóptero durante a Operação Cavalo de Aço 2013

Ridan Elias dos Santos, proprietário da Assault Paintball em parceria com Thiago Medeiros, explica o evento. “A Operação Cavalo de Aço foi idealizada no fim de 2011, pela necessidade de um grande evento na modalidade Real Action no Mato Grosso do Sul. Realizamos um planejamento detalhado para colocar em prática essa iniciativa de forma que pudéssemos proporcionar ao jogador um evento diferente, com desafios muito além de um simples jogo, um evento que desse ao jogador orgulho de ter completado 24 horas de operações continuadas com a máxima proximidade de um combate real. Vencer o cansaço, o sono, conhecer seus limites em missões que exigiam raciocínio, liderança, espírito de equipe, rusticidade e flairplay foram os objetivos principais dos jogadores neste evento. Em 2012 realizamos a primeira edição e em 2013 a segunda.”

Gente de todo o Brasil

Mais da metade dos participantes da Operação Cavalo de Aço 2013 vieram de outros Estados. É o caso do administrador de empresas carioca Mario Augusto Soares Junior. “Para todo desportista de Paintball, não há nada mais emocionante do que esperar o final de semana para colocar o coturno, a farda, pegar seu marcador e ir para o campo jogar. Jogo Paintball desde 2008, mas foi na Operação Cavalo de Aço que tive um divisor de águas nestes meus cinco anos de esporte. Trata-se do melhor evento de Real Action do país. São 24 horas de pura adrenalina, várias missões, uma organização impecável. Voltei para o Rio de Janeiro muito feliz por ter participado deste evento”, afirmou.

O advogado Lucas Fioravante e o corretor Bruno Marrafon moram em Presidente Prudente (SP) e encararam 500 km de estrada para participar do evento. “Valeu muito a pena. A organização e estrutura foram impecáveis, tornando a simulação o mais real possível, inclusive com a participação de um helicóptero. A melhor parte, no entanto, foi fazer novas amizades e trocar experiências com pessoas que possuem a mesma paixão pelo Paintball”, disse Lucas. Para Bruno, “só quem participou sabe como é bom superar seus limites físicos e psicológicos”.

Outro que não se acovardou diante da distância foi o publicitário Diogo Veiga, de Brasília. Foram mil quilômetros e quase 20 horas de viagem com os companheiros da equipe Piratas do Lago, “um cansaço que foi recompensado quando chegamos e vimos toda estrutura e recepção dos amigos do MS, e de outras regiões do Brasil.” Para Diogo, a participação na terceira edição do evento é garantida. “Especialmente pelas amizades feitas, companheirismo, respeito e boas risadas. Isso não tem preço”, resume.

“Foi inesquecível e o mais próximo possível de uma operação real. Exigiu grande condicionamento físico e mental para sobreviver às 24 horas de missões continuadas em um ambiente totalmente voltado ao combate. Voar em um helicóptero sobrevoando uma área hostil durante o combate foi algo para se guardar para sempre”, disse o funcionário público, e presidente da Federação de Real Action de MS (FRAMS), Adriano Scandola, que comandou a Força Alpha durante o evento, tendo sob sua responsabilidade 70 jogadores.

No comando da Força Bravo, também comandando 70 “soldados”, estava o advogado campo-grandense Ricardo Cândido. “Participar como comandante de uma das forças de combate no evento foi mais que uma honra, foi um marco de vida. E se um dia me perguntarem com quem eu escolheria ir à guerra, ao campo de batalha real, eu diria: com todos os cavalos de aço”.

Dificuldades e futuro

Realizar um evento deste porte, atraindo jogadores de todo o Brasil não é fácil. Mas, segundo Ridan, as barreiras não são intransponíveis. “A principal delas é buscar os patrocinadores. Este ano conseguimos atrair a atenção de algumas grandes empresas, inclusive de fora do Estado (Confira AQUI a relação das empresas que apostaram no evento). Além disso, tivemos um apoio espetacular da Prefeitura de Campo Grande na figura do prefeito Alcides Bernal, a quem agradeço imensamente.”

Apesar das pedras no caminho, especialmente no que se refere ao custeio do evento, a Assault Paintball pretende realizar a terceira edição do Cavalo de Aço em 2014. “Este é um evento especial, que tem planejamento de aproximadamente 10 meses, necessita de uma equipe de organização que não tenha medo de trabalhar em prol do evento. É preciso uma logística muito grande. Esse ano nós adiantamos a reunião da organização de maio para fevereiro, quando decidiremos a realização de mais uma edição da Operação Cavalo de Aço, que com certeza será melhor que a de 2013.”

Nada de Violência

O Paintball é o esporte de aventura que mais cresce no mundo. São 12 milhões de praticantes pelo globo. Por suas características, o esporte permite a participação de homens e mulheres de qualquer idade. Os jogadores podem estar com qualquer condicionamento físico, mas, óbvio, um bom preparo vai influenciar significativamente na experiência de jogo.

A primeira coisa que um novato aprende no mundo do Paintball é que o equipamento usado para disparar as bolinhas de tinta não se chama arma, mas marcador. Trata-se do primeiro passo para desvincular o esporte de qualquer ideia de violência.

Os marcadores, embora disparem de verdade, atiram bolas de um material gelatinoso, semelhante às capsulas de medicamentos, que ao acertar o “inimigo” marca-o com tinta, eliminando-o do jogo.

Nos bons campos, há toda uma preocupação com a segurança. A começar pelos equipamentos. Máscaras, coletes e uniformes minimizam os impactos das bolinhas, ajudam a vestir o personagem e criar o espírito de grupo, fundamental para cumprir o objetivo.

É claro que os marcadores exigem o mesmo manuseio, respeito e manutenção regular que seria necessário a uma arma. Mas é um equipamento não letal, projetado com toda preocupação de ser seguro aos jogadores.

No Paintball, a agressividade fica do lado de fora do campo, não há contato direto entre os jogadores. Lesões são raras, e ocorrem mais por quedas ou esforço para se desvencilhar de obstáculos e fugir dos tiros, ou pelo desrespeito as regras básicas como jamais tirar sua mascara em campo, nem atirar em pessoas fora do jogo e sem proteção. Ações que levam a expulsão de qualquer jogador.

Apesar do caráter “militar” do esporte, o público do Paintball é muito variado. Homens e mulheres de todas as idades e profissões se misturam no campo de batalha, uma válvula de escape para as tensões do dia a dia. “São profissionais de diversas áreas, professores, advogados, médicos, empresários, autônomos, militares, jornalistas, enfim, pessoas que procuram um esporte diferente que desenvolve não só uma preparação física, mas também diversos atributos como liderança, coragem, espírito de equipe, honestidade e etc”, explica Ridan.

Modalidades

Existem três modalidades de Paintball: Speed, Cenário e Real Action. No Speed, mais acessível aos iniciantes, o campo de jogo é permeado com barreiras infláveis ou sucata, como carcaças de carros, etc. A principal característica da modalidade é que a área de combate é pequena, normalmente as equipes conseguem se ver antes de começar a partida, são times pequenos (de 3 a 8 jogadores de cada lado) e gasta-se muita munição.

Confira no vídeo a final do Campeonato catarinense de Paintball Speed 2013.

Na modalidade Cenário, o jogador simula um cenário de combate real, com duas ou mais equipes (de tamanho variável, de acordo com a missão) e uma hierarquia de comando, em situações como – por exemplo – captura de líder, defesa de território, captura de bandeira, terror e antiterror, operações especiais, libertação de reféns, antibomba etc. As possibilidades são virtualmente infinitas.

No vídeo abaixo, momentos de uma partida de Paintball Cenário em Araçariguama (SP).

O Real Action (ou simplesmente RA) – modalidade do Cavalo de Aço – busca uma proximidade quase teatral com a realidade de um confronto militar e possui regras mais elaboradas. Nos Estados Unidos, a modalidade é chamada de Milsin (Militar Simulation). Dentre os principais diferenciais do RA, pode-se destacar uma maior complexidade da missão, períodos de jogos mais extensos, limitação de munição (180 disparos divididos em 30 já carregados e mais 5 carregadores de 30 tiros), presença de especialistas que possuem funções específicas no jogo como o líder de equipe, o atirador de elite, SAM (jogador com munição de 150 unidades), médico, armeiro e engenheiro.

Confira abaixo uma série de vídeos capturados durante a Operação Cavalo de Aço 2013

Origem do Paintball

A história do Paintball remete a criação das bolinas de tinta, e das armas (marcadores) para dispará-las, nos Estados Unidos, nos anos 60, ainda que seu criador sequer imaginasse sua utilização atual naquela  época. As bolinhas de tinta foram criadas por Charles Nelson e sua empresa a “Nelson Paint Company”, a pedido o departamento florestal para marcar árvores em locais pouco acessíveis.

Os equipamentos utilizados na época, pistolas que esguichavam tinta, não eram práticos para o trabalho. A solução encontrada por Nelson (uma pequena cápsula, utilizada para tratamento de animais, preenchida com tinta e disparada de uma pistola de pressão adaptada), mostrou-se não só satisfatória para o uso nas matas como em outras funções como marcar gado. Nasceu assim a pistola marcadora.

Anos depois, um grupo de amigos em Henniker (New Hampshire), Bob Gurnsey, Hayes Noel e Charles Gaines encontrou mais uma função para o marcador. Nascia o jogo, primeiramente chamado de National Survival Game (NSG), antepassado direto do Paintball, segundo Lionel Atwill, um dos jogadores originais e autor do livro “The Official Survival Game Manual”, a primeira publicação sobre o esporte.

O primeiro jogo aconteceu em julho de 1981, quando um grupo de amigos se reuniu num campo enorme, ainda com as pistolas Daisy Splotchmarker, também comercializadas por Nelson como Nel-Spot 007. Uma curiosidade é que a pistola marcadora Nel-Spot foi testada num voluntário, Shelby, filho de Charles, que disse que as bolas não machucavam muito.

As regras eram bastante próximas das atuais, envolvendo a captura da bandeira, mas em uma área de 80 acres. Havia 12 jogadores divididos em dois times, quatro bases de bandeira, cada uma com 12 bandeiras da mesma cor, uma para cada jogador. Às 10 da manhã, com os jogadores dispostos equidistantes em torno do campo e um juiz, atualmente chamado de Ranger, com um apito em cada base de bandeira, foi iniciada a partida.

Apesar da fuzilaria que se seguiu, este jogo foi ganho por Ritchie White, morador das florestas de New Hampshire, que não disparou nem um tiro sequer; ele rastejou através da floresta, base por base, pegando as bandeiras enquanto os outros se distraiam na troca de tiros.

Um ano depois, em 1982, Charles Gaines usou como marketing do Paintball o tema Jogo Nacional de Sobrevivência, ou National Survival Game (NSG), criando o Paintball como o conhecemos, inclusive seus aspectos comerciais, abrindo franquias, revendendo marcadores e bolinhas de tinta. Pouco depois, Caleb Strong abriu o primeiro campo comercial em Rochester, Nova Iorque.

A partir deste ponto, a evolução foi rápida, ditada por avanços tecnológicos que criaram marcadores exclusivos para a prática do esporte e pelo interesse dos organizadores de tornar o jogo mais competitivo. Os campos e a duração dos jogos foram ficando menores e a tinta também mudou, ficando solúvel em água. Em 1983, o jogo ultrapassou as fronteiras dos EUA, com um campeonato disputado no Canadá e se expandiu para outros países de língua inglesa e a Europa. Chegou ao Brasil em 1990.

Em 1998 foi fundada a International Paintball Players Association (IPPA), entidade sem fins lucrativos dedicada à organização, crescimento e segurança do Paintball. No mesmo ano, Russ Maynard levou ao estabelecimento do limite de velocidade das bolinhas em 300 pés por segundo (fps em inglês). Padrão até hoje usado na ASTM (equivalente ao INMETRO) no Paintball.

No dia 21 de julho de 1990 foi aberto o primeiro campo de Paintbal no Brasil, o Wargames Paintball.

O que preciso para começar a jogar?

Os campos de Paintball oferecem material de segurança e marcadores para aluguel (veja AQUI onde jogar em Campo Grande). A Assault Paintball, por exemplo, disponibiliza um pacote para quem não possui equipamento. O valor, que inclui equipamentos de segurança, marcador e 100 tiros para 2 horas de jogo custa R$ 30 reais.

Para quem quer se equipar por conta própria, o custo da tralha completa varia em torno de R$ 800 a RS 2 mil, mas esse valores podem aumentar de acordo com o tipo e quantidade de material que o jogador tenha interesse em adquirir, além dos equipamentos básicos que são o marcador, cilindro, loader e máscara. Há ainda a opção de adquirir muitos outros equipamentos que são utilizados por praticantes do esporte como uniforme, luvas, rádio, fone tático, coturno, colete, filmadora, joelheiras, enfim muitas outras possibilidades para melhorar a segurança e o desempenho em campo.

E aí? Vai encarar?


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *