26/04/2024 - Edição 540

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Datafolha: Reprovação do governo Bolsonaro sobe para 38%

Publicado em 06/09/2019 12:00 -

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De acordo com pesquisa nacional divulgada pelo Instituto Datafolha no último dia 2, a reprovação ao governo do presidente Jair Bolsonaro (índice de pessoas que consideram a administração ruim ou péssima) chegou a 38% um aumento percentual de cinco pontos em relação ao último levantamento divulgado pelo instituto, em julho. Uma parcela de 30% dos entrevistados classifica o governo como “regular” e 29% o consideram “bom” ou “ótimo”.

O Datafolha ouviu 2.878 pessoas com mais de 16 anos em 175 municípios. Na comparação com o último levantamento do tipo, a aprovação do presidente diminuiu – dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para ou mais para menos -, de 33% em julho para 29%. Já a avaliação do governo como regular ficou estável: de 31% para 30%.

Em recortes populacionais, os declarados “ateus” são o grupo que mais rejeita Bolsonaro (76% dos entrevistados) e chamam a atenção os índices de rejeição entre moradores do Nordeste (52%), desempregados (48%) e mulheres (43%).

Já entre os grupos que mais aprovam o governo, destacam-se empresários (48%), evangélicos neopentecostais (46%), moradores do Sul e Centro-Oeste (37%) e homens (33%).

Entre os que declararam voto a Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018, uma parcela de 57% creem que o governo é “bom” ou “ótimo”. Entre quem votou em Fernando Haddad (PT), 69% reprovam a atual administração.

Núcleo duro do bolsonarismo é de 12% da população

Uma análise assinada pelo diretores do Datafolha, Mauro Paulino e Alessandro Janoni, revela que o núcleo duro de apoio a Jair Bolsonaro é de 12% da população, abaixo das previsões da Fórum, que estimava em 15% esse número.

Segundo o texto, foram utilizadas na análise três variantes: o voto declarado no segundo turno da eleição do ano passado, a avaliação que o eleitor faz da atual administração e o grau de confiança nas palavras do presidente.

Com o cruzamento desses dados, os bolsonaristas “heavy”, como propõe o Datafolha a partir de nomenclatura usada em pesquisas de opinião, seriam aqueles que votaram em Bolsonaro, classificam sua gestão como ótima ou boa e dizem confiar muito nas suas declarações – que estaria refletido nesses 12% mostrados no levantamento.

No extremo oposto, são classificados como críticos “heavy” do atual presidente 30% dos brasileiros. São entrevistados que não votaram nele, reprovam sua gestão e nunca confiam no seu discurso.

Brancos e aposentados

De acordo com a análise, como prova da fidelidade a Bolsonaro, a maioria dos que compõem esse subconjunto, ao contrário de todos os outros, concorda majoritariamente com as frases de conteúdo pejorativo proferidas pelo presidente nos últimos meses. A única que não consegue aderência tão expressiva é a que sugere o “cocô dia sim, dia não” para combater a poluição ambiental.

São na maioria homens, com participação masculina superior em seis pontos percentuais à média de eleitores bolsonaristas. São mais velhos do que o total da população —metade tem mais de 35 anos e quase um terço possui 60 anos ou mais.

Projeções

Há dados que podem servir de estímulo para prováveis candidatos no campo da centro-direita em 2022, como o governador de São Paulo João Doria (PSDB).  A nova pesquisa mostra que o presidente está perdendo fôlego em sua "fortaleza" durante a campanha do ano passado. Entre os eleitores mais escolarizados, com ensino superior, o índice dos que classificam a gestão do presidente como ruim ou péssima passou de 35%, em abril, para 43%. Entre os mais ricos teve queda acentuada caindo de 52% em julho para 37% agora. Na região Sul, considerada reduto bolsonarista, a avaliação negativa de seu governo aumentou de 25% para 31%. 

Se o movimento de reprovação aumenta, a avaliação direta sobre como Bolsonaro anda se portando ainda não é suficiente para dizer que o presidente perdeu todo o apoio que tinha. Pelo contrário, 55% disseram que nunca ou na minoria da vezes ele se comporta de maneira inadequada. Outros 42% dizem que isso ocorre sempre ou na maioria das ocasiões. Retrocedendo no tempo, esses dois percentuais se assemelham aos votos que o candidato Bolsonaro recebeu no segundo turno das eleições de 2018.

Embora esteja em queda desde janeiro, o presidente ainda mantém a fidelidade de uma base que costuma ser suficiente para levar políticos a segundos turnos de eleições. Foi desta forma, com apoio de cerca de 30% do eleitorado, que o PT conseguiu se manter competitivo nas últimas corridas ao Planalto. É justamente essa a aposta de Bolsonaro para os próximos anos: manter a polarização para enfrentar novamente, na reta final, um nome da esquerda.

Desmatamento de imagem

A popularidade de Jair Bolsonaro passa por um fenômeno muito parecido com um desmatamento. O mais inusitado é que a derrubada na popularidade do presidente aconteceu sem o auxílio da oposição. Bolsonaro devasta o próprio prestígio sozinho. Submete sua popularidade a um processo de autocombustão.

Há focos de incêndio conhecidos, que Bolsonaro não conseguiu debelar. Cresce a aversão ao presidente, por exemplo, entre as mulheres, os brasileiros mais pobres e os moradores do Nordeste. Para piorar, acenderam-se focos novos de desgaste. O prestígio de Bolsonaro arde também em nichos do eleitorado que ajudaram decisivamente a levá-lo ao Planalto. Por exemplo: homens, moradores da região Sul e brasileiros de alta renda e escolaridade.

Bolsonaro mantém relativamente preservada uma reserva de apoiadores mais fieis. Somavam 33% em julho, somam 29% agora. Quer dizer: mesmo nessa bolha o viés é de baixa. O presidente já se definiu como capitão motosserra. Quem opera o equipamento é sua língua. Ela fala dez vezes antes que o dono consiga pensar. Fez isso ao comentar os resultados do Datafolha: "Você acredita em Papai Noel?", perguntou a língua ao repórter que inquiriu o presidente sobre o tema.

A boa notícia é que o governo está apenas começando. A má notícia é que, tomado por sua capacidade de produzir crises do nada, Bolsonaro não oferece muitos motivos para quem deseja avaliá-lo de forma positiva. O mais trágico é que, ao devastar a lógica e o bom senso ao seu redor, Bolsonaro cria um ambiente de instabilidade econômica que mantém acesas as chamas que consomem o seu prestígio.


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