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Comentaristas do YouTube estão passando de canais da ‘dark web intelectual’ para canais da extrema-direita, diz estudo

Publicado em 05/09/2019 12:00 -

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Há um fluxo no YouTube que empurra alguns usuários para a extrema-direita, sugere um novo estudo que observou a seção de comentários da gigantesca plataforma de vídeos.

Usando 79 milhões de comentários de milhares de vídeos de usuários “controversos”, um grupo internacional de pesquisadores descobriu que um número “significativo” de comentaristas passaram de comentar em canais mais mainstream de direita do YouTube para comentar em conteúdo mais extremo.

“Outros jornalistas e pesquisadores pensaram que havia essa radicalização acontecendo no YouTube, mas ninguém tinha feito uma pesquisa quantitativa”, disse Manoel Ribeiro, candidato a Ph.D no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique e autor do estudo. “A ideia desse estudo era ver se a radicalização, essa migração, estava acontecendo realmente analisando apenas uma grande quantidade de dados de históricos.”

Ribeiro e seus cinco coautores começaram sua pesquisa identificando youtubers de todo o espectro da direita e os categorizando em “alt-right”, “alt-lite” e “dark web intelectual”.

A equipe definiu “alt-right” como um amálgama solto de usuários que “rejeitam o conservadorismo mainstream em favor de políticas que abraçam ideologias de racismo, antissemitismo e supremacia branca” (onde você encontra youtubers como Red Ice TV e Faith Goldys). A “alt-lite” era definida por usuários que abraçam nacionalismo cívico sobre nacionalismo racial, mas trocam figurinhas com a alt-right (pense em Steven Crowder, Rebel Media ou Paul Joseph Watson). E a “dark web intelectual” é um grupo autosselecionado de acadêmicos e podcasters que tendem a focar em tópicos controversos (como Jordan Peterson ou Quillette).

Ribeiro disse que os pesquisadores foram mais conservadores em suas categorizações e agruparam os canais com base em seu conteúdo, não nas crenças da pessoa.

Os pesquisadores então analisaram 79 milhões de comentários de 33.849 vídeos tirados de 360 canais, e descobriram que todos os “controversos” experimentaram um enorme crescimento de atividade nos últimos quatro anos.

“Mostramos que essas três comunidades cada vez mais compartilham a mesma base de usuários; que os usuários consistentemente migraram de conteúdo mais brando para conteúdo mais extremo; e que uma grande porcentagem dos usuários que consomem conteúdo 'alt-right' agora consumiam conteúdo da 'alt-lite' e 'DWI' no passado”, os pesquisadores explicam no artigo.

Para ver se realmente havia esse fluxo, Ribeiro e sua equipe observaram onde os usuários estavam comentando a cada ano. Segundo Ribeiro, em 2018 cerca de 40% de todos os comentaristas da “alt-right” tinham, nos anos anteriores, comentado exclusivamente em vídeos feitos pela “alt-lite” e “DWI”.

“Parece não só que eles estão nesse movimento consistente de migração, mas que esse movimento de migração é responsável por um número considerável de usuários que comentam na 'alt-right'”, disse Ribeiro.

A equipe também observou o sistema de recomendação do YouTube, e descobriu que conteúdo alt-right e alt-lite era “muito fácil de encontrar” por consumidores de conteúdo menos extremo, mas apontaram que isso pode não replicar recomendações pessoais.

Numa declaração, um porta-voz do YouTube disse que eles estão constantemente trabalhando para melhorar seus “algoritmos de busca e descoberta” e “que discordam da metodologia, dados e, mais importante, das conclusões feitas nessa nova pesquisa”. O porta-voz, além da informação fornecida no fundo, não abordou a maior parte do estudo, se focando apenas na parte que aborda recomendações de canais.

O artigo “Auditing Radicalization Pathways on YouTube” ainda não foi revisado por pares.

Nos últimos anos vem se falando muito sobre efeitos de radicalização das redes sociais modernas. Houve o mergulho abrangente em ligar influenciadores de direita no YouTube e como eles empurram seus seguidores ainda mais para a direita em Data and Society de Becca Lewis ano passado, além de várias evidências anedóticas, como uma matéria recente do New York Times sobre um jovem guiado para o extremismo pelos youtubers que consumia. Mas pesquisa quantitativa era limitada.

Ribeiro diz que é importante notar que enquanto os dados evidenciam a migração, eles não explicam por que isso está acontecendo. O grupo só conseguiu coletar informação dos usuários que pode rastrear, e Ribeiro acha que ainda há muito para estudar.

Como todo mundo que entra nessa linha de pesquisa, Ribeiro já está recebendo uma tempestade de ódio online, mas acredita que esse ainda um ramo válido para explorar.

“Acho isso que é parte de um debate maior que estamos tendo na sociedade, sobre o que está acontecendo no YouTube”, disse Ribeiro. “E acho que essa é a grande questão do nosso século: Como vamos lidar viver com as redes sociais?”


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